sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

WALMOR CHAGAS



Walmor Chagas nos deixou.
Walmor Chagas morreu hoje à tarde.
Foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, pelo caseiro da fazenda onde vivia.
Ele foi um ator de teatro excelente, muito importante, que estrelou peças teatrais clássicas.
Foi casado com a também artista de teatro Cacilda Becker.
Cacilda morreu durante a apresentaçãom da peça "Esperando Godot"  de Samuel Becket.
Ela teve um acidente vascular cerebral, por um aneurisma.
Ficou trinta e nove dias em coma, e teve morte cerebral.
Walmor ficou com a filha pequena, Maria Clara, e continuou atuando em teatro, cinema e tv.
Ator completo, com elevados recursos intelectuais, muito exigente quanto às peças a interpretar e ao rigor dramático necessário.
Em sua última entrevista a um veículo especializado em arte, Walmor foi entrevistado pela inteligente e sensível Bianca Ramoneda, do canal Globo News.
Nessa oportunidade, em 2011, Walmor deixava transparecer uma tristeza, uma nostalgia, uma sensação de estar abandonado pelo Brasil, que ainda não aprendeu a valorizar, devidamente, seus ícones positivos, seus bons exemplos, e a transformar seus símbolos que deveriam ser cultuados como referenciais, como modelos para as novas gerações.
Walmor se queixava da mediocridade que tomou conta das artes em nosso país.
Ele se ressentia da mediocridade que vulgarizou a sociedade brasileira, americanizando nossas relações, nossas manifestações, nossas interações.
Os cantores passaram a usar os mesmos chapéus que o "cauntri" americano, e as músicas nacionais desse segmento, antes rejeitadas como bregas, foram endeusadas pela alienada juventude, que esqueceu, ou nunca se ligou nelas, das suas raizes.
A mediocridade  das programações de tv que atendem às gerações enclausuradas pela nova vida urbana brasileira, pobre intelectualmente, que consome todas as novidades midiáticas produzidas em outros países, mas que despreza sua história.
História, aliás, que foi mediocrizada pela ditadura de 64 a 85, que foi diminuida pela mudança constitucional para a reeleição, e que tem seu ápice em 2012, com a tragicomédia do mensalão, quando uma das maiores traições ideológicas foi constatada em nosso pobre Brasil.
Aquilo que se vendeu para os eleitores como uma salvação ética, como uma renovação política depois de 21 anos de ditadura militar, aplicou um tremendo golpe nas crenças que foram despertadas por sua inflexível pregação de moralidade.
Não passavam de mais ladrões do dinheiro público, não foram mais que medíocres assaltantes dos cofres da nação, e para que? Para mais poder, para mais ter, para tentar se eternizar no poder.
Enquanto isso a cultura brasileira agoniza, transformada em poucos filmes bons feitos por abnegados, e raras peças de teatro com grandes dificuldades de financiamento, ou que se vendem aos partidos políticos de plantão no poder, para poder se viabilizar.
Mesquinhos vales-cultura, de cinquenta reais mensais, excluindo aposentados, são distribuidos para jogar público nas filas de cinemas onde se come pipoca, se fala ao celular e onde não se valoriza a arte, somente os fortes ruidos, o sangue correndo solto, e altos roncos de motores.
E tudo isso dentro dos pouco brasileiros "Shoppings Centers".
Walmor Chagas participou de greves de artistas contra a ditadura, para protestar contra a censura, contra o amordaçamento do livre pensar, que é motivado pela manifestação artística genuina, autêntica, original.
Pode-se compreender perfeitamente o desencanto de um artista, aos 82 anos de idade, que não se sente mais em qualquer contexto, e percebe a sua hora de se retirar.
Que pena!
Que lástima!
Um país que dá as costas aos seus gênios, de qualquer área, é um país condenado à burrice, à alienação.
Artistas do tamanho de um Walmor Chagas jamais poderiam ser deixados na solidão de uma montanha do interior.
Eles deveriam esta sempre a serviço das universidades, de cursos de teatro e cinema, para passar suas magistrais experiências e estimular a formação de novas levas de artistas.
Afinal a arte é uma atividade necessária para as sociedades, pois dela partem visões críticas, novas elaborações, experimentações, que influem a inovação e a criatividade.
Todos os países tidos como de primeiro mundo têm vigorosas programações nas artes, valorizam seus ídolos em todos os níveis.
Vejam os grandes regentes das maiores orquestras do mundo, as grandes vozes, artistas com 80, 90 anos, ainda em ação, formando novos, influenciando novas correntes, dando aulas e palestras em diversos meios.
Enquanto essas sociedades reverenciam suas grandes figuras, de todos os segmentos, nosso país, hoje, ficou um pouco mais medíocre do que já é.
Perdemos Walmor Chagas!



Um comentário:

Unknown disse...

A solidão e o abandono são os sentimentos mais tristes que podem existir na vida de um ser humano.