quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Final de ano, Natal, ano novo e Dignidade com Solidariedade



Independendo das crenças individuais e das linhas religiosas, todos os seres humanos estão vivendo o limiar de um novo ano. As celebrações individuais, familiares, coletivas e sociais, em sua maioria, levam em conta a superação de um período e o surgimento de um novo. 2008 foi um ano em que tivemos crises, guerras, fome, injustiça, inundações, tsunamis, furacões, desabamentos, epidemias, avanços científicos, descobertas importantes, aumento da destruição ambiental, novos alimentos transgênicos, queimadas na floresta amazônica, fuzilamentos, saques, roubos, corrupção, muita corrupção, luta pelo poder, e para mais poder. Ou seja, tudo que vem comprovar que o ser humano é um ser vivo, que percorre o globo terrestre , a procura de um sentido para a vida. Somos todos dotados de uma característica única entre os seres vivos. Somos os únicos que sabemos que sabemos, que temos consciência de que temos consciência. Essa consciência reflexiva nos dá capacidades intelectuais importantes. Somos os únicos seres vivos que podemos mudar as condições objetivas à nossa volta. Somos os únicos seres vivos que podemos desenvolver artefatos que nos disponibilizam uma força inversamente proporcional ao nosso tamanho.
Somos capazes de enviar outros seres humanos para viagens espaciais, para construir estações extraterrestres, para enviar sondas intergaláticas para investigar o cosmo. Desenvolvemos uma tecnologia abundante e abrangente, que associada à universalização de meios de transmissão, nos coloca on-line e real-time com todas as realidades mundiais.
Mesmo assim, desconhecemos nossos vizinhos de condomínio, não sabemos como é a vida de quem cuida de nosso alimento, de quem arruma nossas camas e casa, de quem recolhe nosso lixo ou de quem nos dá segurança. Não sabemos quem são os professores de nossos filhos, não sabemos nem como estão nossos filhos, seja em sua infância com as babás eletrônicas, em sua adolescência com as fragilidades dessa fase ou em sua vida adulta com a necessidade de construir um futuro, num mercado com pouquíssimos novos empregos e com salários aviltados para os jovens. Conseguimos construir casas que duram duzentos anos e não sabemos como encarar nossas existências, muito menores. Somos seis bilhões de gafanhotos predadores, assaltando e dizimando tudo que a Mãe Terra nos oferece e não sabemos o que fazer quando a natureza, agredida, desprezada, destruída e abandonada, nos mostra suas vísceras, implorando atenção, pedindo um pouco de paz. Talvez este período em que estamos, dezembro de 2008, pudesse ser utilizado, por todos, para uma grande reflexão. Um pouco de contemplação do quadro mundial nos apontará alguns caminhos.
A observação da situação nacional poderá nos fornecer elementos de uma análise para que tracemos os planos para 2009 e 2010. Nossas realidades, regionais e locais, são excelentes para aguçar nossas sensibilidades e aprofundar exames sobre nosso futuro em nossas cidades. Quando preenchemos cartões de final de ano, desejando tudo de melhor para todos, sempre usamos palavras bonitas, que refletem as melhores intenções de nossas almas, abarrotadas de bons sentimentos. Olhando os diversos níveis de informação, que nos chegam, por todos os meios multimídia existentes, percebemos que duas palavras, das mais usadas nessas situações, refletem, talvez, o que os humanos mais necessitam: solidariedade e dignidade. A qualidade de vida desse ser vivo errante, que procura, freneticamente, um sentido para viver, pode receber significativa agregação de qualidade se as duas palavras se transformarem em balizas para suas ações nos próximos anos. Que todos possam alcançar estágios de felicidade, com dignidade e solidariedade.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Danilo Cunha Seminário Unisul Virtual















Publicado em 05/12/2008 às 03:58.
Seminário virtual provoca para fazer refletir
Seminário realizado pela UnisulVirtual na quarta-feira, ao fazer uma análise de fatos recentes, lança questões instigantes


Crises, estado, governo, genocidios, responsabilidade ambiental, guerras, poder e outras palavras semelhantes permearam todo o seminário “A governabilidade em tempo de crise: sociedade, Estado, governança e mediação”, realizado na quarta-feira à noite (dia 3 de dezembro) pela UnisulVirtual e que teve como palestrante o consultor e educador social Danilo Cunha.

A palestra e as intervenções dos professores presentes foram bastante instigantes. Também a participação dos alunos, que enviaram um grande número de perguntas, foi nesse mesmo tom, contribuindo para que o seminário, ao fazer uma rápida análise do momento atual, tanto do ponto de vista político como econômico e ambiental, fornecesse subsídios para muitas reflexões.

Os participantes citaram fatos e números de um mundo em que a ONU, o grande parlamento criado para a união de todas as nações, não consegue impedir que um de seus membros, os Estados Unidos, ataque países como o Afeganistão e o Iraque, por exemplo. Ao mesmo tempo, provocou o palestrante, a FIFA (a federação internacional do futebol) consegue uma soberania sobre todas as nações e agrega mais países do que a ONU.

Danilo fez um rápido histórico sobre o papel do Estado em diversas épocas, desde sua criação, para estabelecer padrões e ordenações de condutas, até a situação atual, com os chamados estados transacionais - organismos multilaterais como a Comunidade Européia, a ONU e outros blocos de interesses comuns. Para ele, há o Estado formal, um segundo Estado paralelo constituído pelo mundo do crime e ainda um terceiro Estado – “na verdade, um conjunto de interesses apátridas, transacionais, sem rosto e sem CNPJ, que atua nos espaços de fragilidade dos Estados oficiais nacionais, ditando regras e absorvendo recursos”.
O que ele pergunta é como fica a governança democrática dessas nações, nas quais os seus cidadãos não são consultados sobre operações de salvamento de ações duvidosas – quando o Estado socorre bancos privados com grandes somas, socializando prejuízos e nunca dividindo os lucros.
O professor Itamar Bevilaqua lembrou que a crise econômica atual está sendo comparada à maior das crises já registradas no mundo, a de 1929 – mas com uma diferença. “Em 29, 80% da população vivia em áreas rurais, hoje esses números se inverteram, o que significa que estas pessoas que vivem nas cidades não precisam apenas de um trabalho, mas de um emprego”.

A uma pergunta de um aluno, que lembrou que a massa de desempregados da Alemanha na década de 30, que chegou a mais de 40% da população, fez surgir Hitler, Danilo foi incisivo: “E Bush, o presidente dos Estados Unidos, o que é? Porque ninguém ainda o comparou a Hitler? O que ele fez no Afeganistão e no Iraque não está longe do que o líder alemão fez”.

Danilo Cunha lembrou que a crise atual já vinha sendo anunciada há uns quatro ou cinco anos, quando começaram a ocorrer alguns grandes escândalos econômicos nos Estados Unidos. Agora, foi “mundializada”. Ele alertou para o fato de que o mundo todo não importe outra artimanha dos norte-americanos: para amenizar as estatísticas de mortos de seus soldados no Iraque e no Afeganistão, o governo dos Estados Unidos contrata soldados de uma empresa privada de segurança.

O coordenador do curso de Contabilidade, Nélio Herzmann, fez mais uma provocação: novamente está havendo um inchaço de arrecadação no Brasil, mas mesmo assim, como sempre, nunca sobra dinheiro para aplicar onde é necessário.

Para o palestrante, apesar de todas as novas tecnologias que permitem uma maior transparência dos governos, ainda há muitos segredos, o que gera a impunidade. E ele acrescentou: “Recentes reajustes salariais vão adicionar à folha de pagamento do governo a soma de R$ 9 bilhões para o pagamento do funcionalismo. E para Santa Catarina, que está passando por uma de suas maiores tragédias, há diversos impedimentos para que as pessoas atingidas retirem seu FGTS”.

O seminário foi uma promoção conjunta dos cursos de Filosofia, Administração Pública, Ciências Contábeis, Gestão da Segurança Pública e Gestão Financeira da UnisulVirtual e teve a participação de seus coordenadores – Marciel Cataneo, Onei Dutra, Nélio Herzmann, Itamar Bevilagua e Adriano Cunha. Palestrantes e professores estavam no estúdio da UnisulVirtual e puderam ser assistidos por todos os alunos, via internet.

Aproveitando o fato de que a audiência formada pelos alunos abrange praticamente todas as regiões, o professor Itamar agradeceu ao país que se mostrou tão prontamente solidário no atendimento e socorro às vítimas das chuvas em todo o Vale do Itajaí.Leia a íntegra da palestra e veja o vídeo do seminário na página da UnisulVirtual (a partir do dia 5)

NA FOTO ACIMA: ITAMAR BEVILAQUA, DANILO CUNHA E MARCIEL CATANEO

sábado, 6 de dezembro de 2008

Morte no Vale - A alienação e o futuro

Estive visitando Blumenau, depois de toda a cobertura que vi e li na imprensa de SC, e pude avaliar os impactos humanos que essa tragédia, das águas e da terra, causou.
Para lá chegar, vamos passando por Itajai, Ilhota, Gaspar. Estradas quebradas, casas destruídas, árvores arrancadas, campos enferrujados pela terra vermelha e seca.
Vi uma cidade embarrada, empoeirada, e pessoas, muitas pessoas. Todos tentando recomeçar, retomar suas vidas, reencontrar a normalidade, voltar a viver esse início de dezembro, com o qual o vale do Itajai sempre nos presenteou com seus enfeites de Natal, com suas decorações tão festivas e acolhedoras.
As enchentes sempre foram enfrentadas com coragem e muita disposição física de reação dos moradores. O capricho das casas, a limpeza das ruas, a simpatia das lojas foram elementos de beleza típica com que os visitantes eram recebidos. Agora, desta vez, algo estava muito diferente.
Eram as mortes, as muitas mortes. As mortes de muitas pessoas, as mortes de muitas árvores, as mortes de muitos sonhos e esperanças. Vi pessoas andando pelas ruas como se fossem zumbis.
Olhares fixos, alguns assustados, outros distantes, mas em todos a dor. A dor do que passou, a dor do medo, a dor da crueldade da situação.
Falei com pessoas que tudo perderam, mas que ainda mostravam dignidade e vontade de reação. Mas as pessoas que , além do todo material, ainda perderam seus amores, seus filhos, seus pais, seus maridos, suas esposas têm, e terão, enorme dificuldade para voltar.
Não só para os seus locais, muitos deles enterrados para sempre, sob as camadas de um barro, que um dia foi sua plantação, seu quintal, sua vida e seu futuro. Eles mostram a enorme distância, o abismo imenso, que terão de percorrer para voltar à sua normalidade.
Seus olhos injetados, sua aparente passividade, demonstra, denuncia, o desespero, a solidão da dor, a incomunicabilidade, a impossibilidade de expressar a ajuda humana de que precisam.
Eles podem receber novas moradias, novas roupas, novas bicicletas e novas cozinhas.
Mas onde encontrarão seus seres amados, com os quais dividiam seus dias, suas noites, suas alegrias e preocupações. Com quem falarão, ao final do dia, para perguntar se aprenderam as lições, se o dia de trabalho foi bom, se a namorada estava bem, se a gravidez está tranquila? De quem sentirão o perfume, para quem farão seus almoços e jantas, para quem trarão flores e presentes?
Esse vazio, essa imensa tristeza do nada, o buraco na alma, é que comove, que desespera, que aponta para um fim, que mostra a grande imobilidade diante da morte, da separação definitiva, da viagem sem volta. Os olhos das pessoas que tudo perderam, que perderam seus sentidos de vida, são as maiores fossas abissais jamais vistas.
Eles mostram, como projeções hipnóticas, para que todos possamos assistir, os ultimos momentos daquelas vidas que foram arrancadas, às vezes das mãos que tentatavam segurá-las, tentavam em vão salvá-las da torrente, da onda imensa, da lava de barro e água que as levou e soterrou.
Seus olhos mostram o espasmo, a estupefação, a impotência, diante da tragédia inesperada, frente à dantesca e avassaladora força de uma natureza alterada, imprevisível, desequilibrada e incontida.
E diante desses olhos, desses vazios, dessas dores ambulantes, dessas vidas sem esperança, o que nos resta, o que ainda podemos fazer? Que gesto executar, que palavra usar, que ação empreender? O apoio, a acolhida, o medicamento, o alimento, o abrigo ainda podemos suprir.
Mas e a alma, seus peitos vazios de amor, suas mãos crispadas por um sentimento que talvez, nunca consigam, nunca possam expressar, como podemos ajudar? Talvez, para muitos, o restante de suas existências se transforme num eterno lembrar, num sempre sonhar, com os dias que já não voltarão.
E nós, que assistimos a tragédia da destruição, de nossos lares seguros, o que poderemos fazer? Nós, que agora vemos o desespero das perdas, a dor das mortes de seus queridos, como podemos ajudar? Poderemos ir lá abraçá-los, ouvi-los, contemplá-los, dar-lhes carinho, um carinho que jamais se aproximará daquele que recebiam dos seres que perderam.
E, além dessa ajuda, temporária, passageira, uma verdadeira muleta humana e existencial, uma temporária tala de afeto para tentar recuperar essa fratura em suas almas, o que podemos fazer de mais duradouro, de mais permanente, não para recuperar seus amores, suas pessoas queridas, que foram levadas, arrancadas de suas vidas, pois essas não voltarão.
O que podemos fazer por outras vidas, por outras crianças, enfim, por nós mesmos? Se a tudo fomos condenados a assistir, se a essa tragédia fomos obrigados a aceitar, como um filme de horror, pronto e acabado, resultado de um roteiro de autor desconhecido, os próximos capítulos podem depender de nossa atuação. Podemos exercer uma crítica sobre o que vimos, sobre o que ocorreu.
Se não há um único autor da novela, viva e real, de terror que assistimos, podemos assumir, como num imenso e caricato reality show, a nossa co-autoria, a nossa cumplicidade, mesmo não desejada e consciente, nessas mortes, nessas separações, em tanta destruição. Somos cidadãos do mundo, de tudo sabemos, a tudo assistimos, estamos sempre atualizados. A tecnologia da informação está em nossas casas, em nossos quartos, em tudo.
Como então esse filme foi feito, montado e editado? De tudo sabíamos, com tudo concordamos, que "soma" tomamos, (parodiando Aldous Huxley em seu genial Admirável Mundo Novo), para nos anestesiarmos e permitirmos que o ambiente fosse agredido, que a natureza fosse alterada, que os rios secassem, que o desequilíbrio se instalasse?
Erramos! Erramos muito! Temos que reconhecer. Aos mortos devemos, aos sobreviventes nos obrigamos, aos novos temos que prometer, que tudo faremos, que nos transformaremos e que mudaremos o que foi o terreno fértil da destruição. O terreno da alienação da cidadania, o terreno do desprezo pelo berço da nossa vida, o terreno da insensibilidade, do egoismo, da frieza de quem se acha resolvido, em seus projetos mesquinhos e individuais e que abandonou o mundo nas mãos dos interesseiros, dos imediatistas.
Abandonamos o mundo nas mãos dos que dizem construir, mas destróem para lucrar.
Abandonamos o mundo nas mãos dos que emitem papéis sem valor, dos que criam alimento com o desmatamento, dos que queimam o verde e destroem o ar. Se agora sabemos, se agora vemos o resultado, tão próximo, da nossa preguiça, da nossa acomodação, como podemos reagir? Ainda há tempo? ainda é possivel?
Temos, talvez, algumas poucas oportunidades ao nosso alcance.
Existem pessoas que lutam, que se engajam, que propugnam novas ações pela vida. Pessoas que não se entregaram ao comodismo e que não se conformamser a vida um eterno consumir. Essas pessoas estão por todos os lugares. Precisam de mais pessoas para mudar essa verdadeira crônica da morte anunciada de nosso ambiente de vida. O que elas propõem é pouco, fácil, acessível, está em nossa mãos, nas mãos de todos. Vamos nos juntar, vamos somar nossas forças, vamos exigir nossos direitos, vamos respeitar os que já morreram e pelos quais nada fizemos.
Vamos fazer com que respeitem a natureza, vamos pedir tempo, muito tempo, para que se examinem leis, projetos, decretos, todos feitos com nosso nome, com nosso voto. Vamos recolher nossas procurações, vamos direto ao ponto, sem representantes, dizer, bradar que queremos respeito com o ar, cuidado
com a água, preservação para o todo. Vamos pedir tempo para pensar o que nossa terra precisa, o que nosso
solo requer, o que nossos rios clamam. Nossa vida deles depende. Se queremos viver não os podemos esquecer, ou abandonar nas mãos de quem não sabe o que fazer.
Ou que não tem a devida cosnciência.



quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O TERCEIRO ESTADO

-A sociedade contemporânea, a questão da soberania diante das novas relações de poder
-A governabilidade em tempo de crise
-Sociedade, estado, governança e mediação

-Roteiro de palestra apresentada aos alunos de Educação à Distância da Unisul, em 03.12.2008

OS CONCEITOS E A DISCUSSÃO SOBRE O ESTADO E SUAS FUNÇÕES, JÁ OCORREM DESDE A GRÉCIA ANTIGA. MUITAS FORAM AS DOUTRINAS ELABORADAS E AS FORMAS DE TESTÁ-LAS. DESDE AS CIDADES-ESTADO, DAS ASSEMBLÉIAS PARTICIPATIVAS E DELIBERATIVAS, O SER HUMANO BUSCA FORMAS DE ORDENAÇÃO E ORGANIZAÇÃO COLETIVAS.

CONTUDO, O CONCEITO DE ESTADO, PRÓXIMO DAQUILO QUE TEMOS HOJE, VEM DOS SÉCULOS 16 E 17, QUANDO GRANDES MUDANÇAS POLÍTICAS, ECONOMICAS E CONCEITUAIS, VOLTARAM A ENVOLVER AS SOCIEDADES, NA DISCUSSÃO DE COMO ORGANIZAR OS ESPAÇOS COLETIVOS, OS DIREITOS E OS DEVERES DE TODOS.

A SOCIEDADE HUMANA EVOLUIU DA FASE TRIBAL PRIMÁRIA, PARA A ORGANIZAÇÃO DA AGRICULTURA, PARA OS GOVERNOS FEUDAIS,
PARA OS REIS E, FINALMENTE, DOS REIS PARA AS LEIS.

ENTRE 1600 E 1700, A EXPERIÊNCIA DO PRIMEIRO ORÇAMENTO PÚBLICO, PARA LIMITAR O PODER DOS REIS NO USO DO DINHEIRO DOS IMPOSTOS, A URBANIZAÇÃO DECORRENTE DOS AVANÇOS INDUSTRIAIS, MUDARAM A PERCEPÇÃO DE LIMITES PARA O PODER.

A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA, SAINDO DA DISPERSÃO DO CAMPO E INDO PARA A CONCENTRAÇÃO DAS CIDADES E EMPRESAS MUDOU RADICALMENTRE OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO, AFASTOU O SER HUMANO DA VISÃO DO TODO E ALTEROU DEFINITIVAMENTE AS FORMAS DE RELACIONAMENTO, OBSERVAÇÃO E DELIBARAÇÃO COLETIVAS.

PODEMOS AFIRMAR QUE O ORÇAMENTO PÚBLICO COMO LEI, E A FIGURA DO ESTADO, COMO ORDENADOR DA CONDUTA HUMANA, FORAM OS MAIORES E MAIS SIGNIFICATIVOS PACTOS ÉTICOS JÁ CONSTRUIDOS.

O SER HUMANO, RECONHECENDO SUA SUBJETIVIDADE E A DIFICULDADE EM DEFINIR CONCEITOS QUE SIVAM PARA TODOS, CRIA E DESENVOLVE PACTOS E REGULAMENTOS, AOS QUAIS ADERE, CONSCIENTEMENTE, PARA RESPEITAR A “VONTADE DE TODOS” E NÃO SÓ A VONTADE DE ALGUNS.

ESSA É, TALVEZ, A PRINCIPAL QUESTÃO A SER DISCUTIDA COMO A FUNÇÃO DO ESTADO. SEU CONCEITO É UMA VIRTUALIDADE, É UMA CRIAÇÃO HUMANA. O ESTADO FOI CRIADO PARA SERVIR AO SER HUMANO, AOS CIDADÃOS E NÃO PARA SERVIR-SE DELES.

A NECESSIDADE DOS SERES HUMANOS DE CRIAR PADRÕES, CONCEITOS E PACTOS E A ELES ADERIR PARA GERAR ORDENAÇÃO DE SUAS CONDUTAS, NÃO SE BASTA EM CRIAR ESTADOS NACIONAIS.

CRIA-SE TAMBÉM OS “ESTADOS” TRANSNACIONAIS. ORGANISMOS BI-LATERAIS E MULTI-LATERAIS, COM FUNÇÕES ORDENADORAS EM DIFERENTES NÍVEIS, TAIS COMO A EXTINTA LIGA DAS NAÇÕES E A ONU, ATUALMENTE.

HOJE TEMOS OS BLOCOS ECONÔMICOS E OS TRATADOS DE COOPERAÇÃO, REGIONAIS E MUNDIAIS, QUE INICIAM UMA NOVA ETAPA NESSES CONCEITOS.

SEMPRE QUE FALAMOS EM ESTADO, A QUESTÃO DA SOBERANIA VEM À TONA. A FIGURA DE ESTADO SEMPRE SE CONFUNDIU COM TERRITÓRIO, AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA.

A FLEXIBILIZAÇÃO DESSAS CONCEPÇÕES, EM ALGUNS CASOS, TEM DEMONSTRADO QUE A EVOLUÇÃO CONCEITUAL JÁ ENCONTRA BASES REAIS PARA SER TESTADA.

A UNIÃO EUROPÉIA TEM SURPREENDIDO O MUNDO COM UMA ASSOCIAÇÃO DE VÁRIOS PAISES INDEPENDENTES, QUE MANTENDO SUAS SOBERANIAS E IDENTIDADES CULTURAIS, CONSTRÓI UMA FIGURA NOVA DE ESTADO TRANSNACIONAL, COM MOEDA ÚNICA, COM PARLAMENTO COMUM, QUEBRANDO ALGUNS TABÚS, PRINCIPALMENTE NO TOCANTE À INTEGRAÇAÕ COMPLETA NOS NÍVEIS POLÍTICO E ECONÔMICO.

É INTERESSANTE LEMBRAR QUE OS ESTADOS INDEPENDENTES EUROPEUS FORAM OS PRINCIPAIS CRIADORES DO CONCEITO DE ESTADO COLONIALISTA, QUE DOMINOU GRANDES TERRITÓRIOS TRANSNACIONAIS, USURPANDO-LHES , PORÉM, A INDEPENDÊNCIA E A SOBERANIA.

ISSO NOS MOSTRA COMO OS CONCEITOS MUDAM, EVOLUEM E PRECISAM SER REVISADOS, REESTUDADOS E RECOMPACTUADOS.

AS RELAÇÕES DE PODER DENTRO DOS ESTADOS NACIONAIS NEM SEMPRE GUARDAM SIMETRIA COM AS RELAÇÕES DE PODER ENTRE ESTADOS SOBERANOS E INDEPENDENTES.

UM EXEMPLO DISSO É O REGIME CAPITALISTA NORTE-AMERICANO, QUE MANTÉM UM CERCO ECONOMICO A CUBA, POR MAIS DE 40 ANOS, ALEGANDO O DESRESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS, PELO REGIME COMUNISTA DA ILHA.

ESSE MESMO ESTADO AMERICANO MANTÉM CORDIAIS E INTENSAS RELAÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS COM A CHINA, PAÍS QUE ATÉ AJUDA A FINANCIAR O DEFICIT AMERICANO E, NO QUAL, TEMOS UM ESTADO COMUNISTA, CENTRALIZADO, SOBRE UMA PLANTA ECONOMICA CAPITALISTA E PARTICIPANTE DA CHAMADA GLOBALIZAÇÃO.

OUTROS EXEMPLOS SÃO OS ACORDOS BI OU MULTI-LATERAIS, EM DIVERSOS NÍVEIS. MUITOS ESTADOS INDEPENDENTES REALIZAM ACORDOS MILITARES, ECONOMICOS, TECNOLÓGICOS, ABRINDO E COMPARTILHANDO SEGREDOS ESTRATÉGICOS, SEM PERDER A SUA SOBERANIA, MAS MANTENDO UMA RELAÇÃO DE PODER DIFERENTE DAQUELA QUE MANTÉM COM SEUS CIDADÃOS. MUITOS DOS ASSUNTOS RESERVADOS, QUE SÃO COMPARTILHADOS ENTRE ESTADOS, NÃO SÃO ABERTOS OU REVELADOS AOS CIDADÃOS DESSES MESMOS ESTADOS NACIONAIS.

A QUESTÃO ENERGÉTICA E DE RESERVAS ESTRATÉGICAS NOS REMETE PARA OUTRA DISCUSSÃO ORIGINAL. QUASE TODOS OS PAISES QUE DETÊM GRANDES JAZIDAS DE ENERGIAS E MATERIAIS ESTRATÉGIOS, SÃO NAÇÕES POBRES, COM GRANDES DESNÍVEIS SOCIAIS E INJUSTA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.

AS RELAÇÕES DE PODER DESSAS NAÇÕES COM OS ESTADOS DESENVOLVIDOS É UM TERRENO MINADO POR AÇÕES ENCOBERTAS, INTERESSES ESCUSOS E INFLUÊNCIAS POUCO RECOMENDÁVEIS, QUANDO NÃO É USADO O RECURSO DA VIOLÊNCIA EXPLÍCITA, DA OCUPAÇÃO MILITAR E DA GUERRA ABERTA, MESMO NÃO DECLARADA.

UM EXEMPLO ATUAL É O CONGO. PAÍS COM ENORMES JAZIDAS DE METAIS NOBRES E RAROS, QUE PARTICIPAM DA CONSTRUÇÃO DE AERONAVES, FOGUETES E MÍSSEIS, TEM SIDO ABASTECIDO DE ARMAS POR AQUELES PAISES MAIS RICOS DO MUNDO, QUE PRECISAM DAQUELES MATERIAIS RAROS. EM TROCA, OS ESTADOS PARTICIPANTES DA ONU VOTARAM E APROVARAM A IDA DE 10.000 SOLDADOS DE CAPACETES AZUIS, PARA NÃO PERMITIR AS LUTAS TRIBAIS E ÉTNICAS E O GENOCÍDIO.

A GUERRA CONTINUA, AS EMPRESAS QUE EXPLORAM AS RESERVAS LÁ OPERAM NORMALMENTE, O FORNECIMENTO DE ARMAS SEGUE SEU FLUXO CRIMINOSO E RELAÇÕES MULTI-LATERAIS, ENTRE ESTADOS SOBERANOS MANTÉM UMA NAÇÃO NA BARBÁRIE, NO ATRASO E SEM ACESSO A TODOS OS AVANÇOS QUE OS ESTADOS DEMOCRÁTICOS POSSUEM.

AI SURGE OUTRA QUESTÃO. A RELAÇÃO ESTADO/DEMOCRACIA/CONTROLE SOCIAL. NOS ANOS 70, VÁRIOS ESTUDOS FORAM ELABORADOS PARA AQUILATAR O QUE SERIA UMA DAS LINHAS DO FUTURO DO MUNDO: O GOVERNO DAS CORPORAÇÕES.

OLHANDO OS ESTADOS NACIONAIS SOBERANOS COMO VERTICALIDADES CONSTRUIDAS SOBRE TERRITÓRIOS E NAÇÕES AUTÔNOMOS, PERCEBEMOS ALGUMAS TRANSVERSALIDADES.

OS INTERESSES ECONÔMICOS, POLITICOS, MILITARES E TECNOLÓGICOS, SÃO ALGUMAS DESSAS LINHAS QUE, DEPENDENDO DA CORRELAÇÃO DE FORÇAS EXISTENTE, INTERFEREM MAIS EM DIFERENTES INTENSIDADES NO DESTINO DOS ESTADOS DEPENDENTES OU MENOS DESENVOLVIDOS.

QUANDO NO FINAL DA DÉCADA DE 80, A INTITULADA GLOBALIZAÇÃO FOI PROPUGNADA PELO CONSENSO DE WASHINGTON E APLICADA NOS LABORATÓRIOS INGLES E AMERICANO, SUA EXPANSÃO PARA E SOBRE OS PAISES DEPENDENTES, DEU-SE DE FORMA COMPLETAMENTE DIFERENTE DO QUE NOS DOIS PAISES MENTORES.

O EXCEDENTE DE CAPITAIS FINANCEIROS ADVINDOS DA PRODUTIVIDADE DAS ECONOMIAS MAIS RICAS BUSCAVA NOVAS VIAS DE APLICAÇÃO RENTÁVEL. OS PAISES MAIS EMPOBRECIDOS, MUITOS DELES SAINDO DE CRISES LONGAS E DESGASTANTES, POLITICAS, MILITARES E INSTITUCIONAIS, FORAM LEVADOS A PRIVATIZAR SUAS INFRAESTRUTURAS, COMO CONDIÇÃO DE INGRESSAR NUMA NOVA ORDEM MUNDIAL, ONDE AS EXIGÊNCIAS PRINCIPAIS ERAM: ECONOMIAS ABERTAS, ESTADO MÍNIMO, RECEPÇÃO DOS CAPITAIS ESTRANGEIROS E LIBERDADE PARA O MERCADO.

ESSE MESMO PACOTE CUNHOU O TERMO TERCEIRO SETOR, DELEGANDO PARA A SOCIEDADE CIVIL A MISSÃO DE DESENVOLVER SOLUÇÕES PARA AQUELA MANCHA AMORFA DEIXADA COMO SOBRA DE UM ESTADO MÍNIMO E DE UM MERCADO FOCADO EM LUCROS E GANHOS MAXIMIZADOS.

VEJA-SE AI, UM NOVO CONCEITO DE ESTADO. AS TRANSVERSALIDADES EXÓGENAS AGINDO SOBRE QUESTÕES INTERNAS, DOUTRINÁRIAS E IDEOLÓGICAS, DO QUE SERIA A SOBERANIA DAS NAÇÕES.

O ESTADO MÍNIMO, NOS PAISES DEPENDENTES, ERA CONFRONTADO COM O CONCEITO DE ESTADO NECESSÁRIO, NOS PAISES DESENVOLVIDOS.

A SOCIEDADE CIVIL, SEM CONDIÇÕES DE ESCALA E ABRANGÊNCIA PARA RESOLVER OS PROBELMAS SOCIAIS, ECONÔMICOS E POLÍTICOS RECEBE UMA MISSÃO, ILUSÓRIA E FRUSTRANTE, DE ELABORAR UMA SOCIEDADE JUSTA E IGUALITÁRIA.

AO MESMO TEMPO, PROCESSOS INTENSOS DE COOPTAÇÃO E DESVIO DE OBJETIVOS, JOGAM AS ORGANIZAÇÕES, CRIADAS PARA UM FIM NOBRE, NA MÃO DE PROCESSOS CORRUPTOS E CORRUPTORES, SURGINDO MUITO DINHEIRO ESTATAL, O MESMO QUE NÃO ERA UTILIZADO NOS ORÇAMENTOS PÚBLICOS, DO ESTADO FORMAL, PARA CUMPRIR AS SUAS PRERROGATIVAS LEGAIS.

UM ESTADO MINIMIZADO, ENFRAQUECIDO, COM GRANDE DOSE DE INTERVENÇÃO EXTERNA, UMA CIDADANIA ENTREGUE A UM TERCEIRO SETOR INCIPIENTE E DESESTRUTURADO, FORMA O QUADRO IDEAL PARA A AÇÃO PREDADORA E ESPECULATIVA DE UM MERCADO POUCO REGULADO E AMPARADO POR GROSSAS VERBAS PÚBLICAS.

ESSE QUADRO CHEGA AO ANO DE 2008 COM A GRAVE CRISE DOS MERCADOS PAPELEIROS, NÃO OS RECICLADORES, MAS AQUELES ESPECULADORES QUE EMITIRAM PAPÉIS SEM LASTRO, GRANHARAM ENORMES LUCROS E, QUANDO QUEBRARAM EM SUA PRÁTICA EXPECULATIVA, RECORRERAM AOS ESTADOS NACIONAIS, ALEGANDO RISCOS SISTÊMICOS E OBTIVERAM A COBERTURA, MAIS UMA VEZ, ESTATAL.

AGORA NOS DEFRONTAMOS COM UM OUTRO CONSENSO DE MERCADO. O ESTADO MÍNIMO ANTERIOR TEM QUE VOLTAR A UMA AÇÃO ABRANGENTE E PROTETORA E ESTATIZAR PREJUIZOS, ADQUIRIR PAPÉIS PODRES, COMPRAR EMPRESAS QUEBRADAS.

E TUDO FEITO A TOQUE DE CAIXA.

ESSA NOVA ESTATIZAÇÃO FINANCEIRA NÃO CONSULTOU OS CIDADÃOS DOS ESTADOS SOBERANOS, NÃO PEDIU LICENÇA POR ACORDOS BI OU MULTI-LATERAIS, MAS INVADIU PAISES, SE APROPRIOU DE RESERVAS NACIONAIS, TUDO A TÍTULO DE NÃO PERMITIR UMA QUEBRADEIRA EM SÉRIE DE BANCOS E EMPRESAS PRIVADAS.

E AI SURGE A FIGURA DE UM TERCEIRO ESTADO.
TEMOS O ESTADO FORMAL, CONSTRUIDO E MANTIDO PELOS HABITANTES DAS NAÇÕES SOBERANAS, UM SEGUNDO ESTADO, PARALELO, DO CRIME, DO TRÁFICO DE ARMAS, DROGAS E SERES HUMANOS E O NASCIMENTO DE UM "TERCEIRO ESTADO", NA VERDADE UM CONJUNTO DE INTERESSES APÁTRIDAS, TRANSNACIONAIS, SEM ROSTO, SEM CNPJ OU QUALQUER POSSIBILIDADE DE IDENTIFICAÇÃO POSITIVA, MAS QUE ATUA NOS ESPAÇOS DE FRAGILIDADE DOS ESTADOS OFICIAIS NACIONAIS, DITANDO REGRAS E ABSORVENDO RECURSOS ESSENCIAIS AO DESENVOLVIMENTO DAS SOCIEDADES.

A EXISTÊNCIA DOS SEGUNDO E TERCEIRO ESTADO SÓ FOI POSSÍVEL GRAÇAS A ALGUNS FATORES LIGADOS ÀS RELAÇÕES DE PODER INTERNAS E A PRESSÕES EXÓGENAS.

HISTÓRICAMENTE, O ESTADO FORMAL MANTEVE-SE AFASTADO DE ALGUMAS QUESTÕES SÓCIO ECONÔMICAS, QUE GERARAM SÉRIAS CONSEQUÊNCIAS: O INCHAÇO NÃO REGULADO DAS CIDADES, O APARECIMENTO DAS PERIFERIAS EMPOBRECIDAS, DEVIDO A ÊXODOS E MIGRAÇÕES INTERNAS, EM BUSCA DE TRABALHO E DIGNIDADE, PELOS EXCLUIDOS.

ASSIM, O ESTADO FORMAL, AO NÃO OCUPAR OS ESPAÇOS QUE LHE SÃO ATRIBUIDOS PELA SOCIEDADE, FICA PRESSIONADO ENTRE OS OUTROS "DOIS ESTADOS". ENQUANTO O ESTADO PARALELO DO CRIME AGE NAS CAMADAS MENOS FAVORECIDAS E ABANDONADAS PELO ESTADO FORMAL, OCUPANDO ESPAÇOS E PRESTANDO SERVIÇOS INFORMAIS E IRREGULARES, O "ESTADO PARALELO DAS FINANÇAS" AGE NAS CAMADAS MAIS ABASTADAS DA SOCIEDADE, NAS INSTÂNCIAS DE PODER, NOS NÍVEIS ELEVADOS DOS GOVERNOS E LEGISLATIVOS.

E COMO FICA A GOVERNANÇA DEMOCRÁTICA DESSAS NAÇÕES, NAS QUAIS OS SEUS CIDADÃOS NÃO SÃO CONSULTADOS SOBRE AS OPERAÇÕES DE SALVAMENTO DE AÇÕES DUVIDOSAS?

COMO FICA O ESTABELECIMENTO DE PRIORIDADES DOS GOVERNOS NACIONAIS DIANTE DO COMPROMETIMENTO URGENTE DE GRANDES SOMAS NÃO PREVISTAS?

E O CONTROLE SOCIAL E O PACTO ÉTICO QUE FUNDAMENTOU O CONCEITO DE ESTADO?

QUAL O PODER DE MEDIAÇÃO ENTRE ENTES DOS ESTADOS NACIONAIS, QUANDO SUAS AÇÕES FORAM ESTIPULADAS PELAS TRANSVERSALIDADES EXTERNAS?

ESTAS E MAIS OUTRAS QUESTÕES SÃO ALGUMAS DE UMA PAUTA PARA O NOSSO DEBATE DE HOJE.:

-A ESCALA DE PRODUÇÃO E DE CONSUMO

-A GERAÇÃO DE LIXO PÓS-INDUSTRIAL E PÓS-CONSUMO

-O MEIO AMBIENTE

-AS MIGRAÇÕES E A RACIALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES (PROCESSO RACISTA E XENÓFOBO EUROPEU X ELEIÇÃO DE UM NEGRO NOS EUA)

-OS DIREITOS HUMANOS

-ENERGIAS ALTERNATIVAS

-PROCESSOS DE URBANIZAÇÃO E OCUPAÇÃO DO SOLO

-A SOBERANIA DOS ESTADOS NACIONAIS, SUAS PRIORIDADES DIANTE DE UMA GOVERNANÇA MULTI-LATERAL MUNDIAL: A ATUAÇÃO DA ONU E DE OUTRAS ORGANIZAÇÕES TRANSNACIONAIS

-UMA CURIOSIDADE: POR QUE O “ESTADO” ONU É MENOR E MENOS REPRESENTATIVO QUE O “ESTADO” FIFA?

SUGESTÕES DE LEITURAS:

SUPRANACIONALIDADE NAS RELAÇÕES DE ESTADOS
FERNANDO DE MAGALHÃES FURLAN

GOVERNO DOS RISCOS
MARCELO DIAS VARELLA-org

COLAPSO
JARED DIAMOND


Danilo Cunha
www.danilocunha.blogspot.com

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cuidando bem do seu cérebro

-Conselhos para Ficar Bem
-Da Profa. Suzana Herculano-Houzel
-Bióloga e Doutora em Neurociências


1-Cuidar bem da sua saúde física – o cérebro precisa do corpo

2-Identificar e cultivar os seus prazeres – eles são a base do bem-estar

3-Ouvir as suas emoções – elas são imprescindíveis para as boas decisões

4-Sorrir e buscar a felicidade – ela torna o corpo mais saudável

5-Saber a diferença entre tristeza e depressão – para respeitar a primeira e tratar a segunda.

6-Tirar proveito do estresse agudo – é surpreendente, mas ele tem efeitos benéficos

7-Lidar com a ansiedade – em doses saudáveis, ela é uma bênção

8-Fazer as pazes com os remédios – às vezes os medicamentos são realmente necessários

9-Combater o estresse crônico – um vilão causador de muitos males físicos e mentais

10-Exercitar-se regularmente – isso pode funcionar como um “elixir da juventude”

11-Dormir bem e bastante – descubra a importância das sonecas para o cérebro

12-Cultivar os relacionamentos – o isolamento é um fator intenso de estresse social

Caminhos neurais

-A Qualidade dos Pensamentos e Atitudes-

Como diz o Terapeuta de Familia, André Schelling, a qualidade de nossas vidas, depende da qualidade de nossos pensamentos e de nossas atitudes. Os pensamentos vão construindo caminhos neurais, os quais po-
dem ser deterministicos, se muito rígidos ou repetitivos. Reavaliar atitudes, repensar hábitos, revisar conceitos, evitar os pré-conceitos, não adotar os estereótipos, pode nos ajudar a prevenir o uso de princípios muito rígidos, que tendem a se tornar camisas-de-força comportamentais. As atitudes, as expressões faciais, já está comprovado cientificamente, determinam algumas reações internas e podem influir sobre nossas emoções. Assim como manter uma atitude positiva e sorridente ajuda em nossos processos internos, nossa exterioridade influi muito sobre as pessoas que nos vêm e observam. A música é um verdadeiro "detergente" neural e seu uso frequente estimula processos criativos e positivos. A dança associada à musica potencializa processos benéficos à saude fisica, mental e emocional. O amor, a solidariedade, a ternura, o carinho, e a suavidade podem aumentar, multiplicar os aspectos agradáveis da vida. Por isso, começar o dia, a semana, o mes. o novo ano, com sorrisos, abraços, calma e muita alegria pode ajudar a nós e às pessoas próximas. Isso, numa reação geral resultará, sem dúvida, em um mundo melhor, com pessoas felizes, serenas e amigas.
Com muitos carinhos e muitos e grandes abraços

sábado, 8 de novembro de 2008

Freya Gross - a estética da natureza

A artista Freya Gross, blumenauense, nos deixou há dois dias. Fora o impacto da notícia da morte de uma pessoa conhecida e querida, fica o vazio da falta que ela fará e a reflexão sobre a importância de pessoas, como ela, que notam e valorizam detalhes da vida, que nem sempre a grosseria do material, a frieza do dinheiro, o deslumbramento dos novos ricos ou a insensibilidade dos ocupantes do poder, permitem que se observem. Freya vivia em um jardim e mantinha outros. Seu sítio, próximo às margens do rio Itajaí-Áçu, preservava o verde nativo e cultivava flores e árvores, pelo simples encantamento que o verde lhe causava. Não era somente uma ceramista. A cerâmica, na verdade, era a tela que ela usava para retratar pessoas, objetos, plantas e abstrações. Sua casa, no bairro Bom Retiro, abrigava um estúdio, o forno onde ela forjava suas peças únicas e tinha um terreno, que era um verdadeiro cofre aberto, onde eram guardadas e expostas as suas obras-de-arte. Por todos os cantos se podia ver placas, flores, vasos, lajotas, quadros, paisagens. Todos sobre fundo cerâmico, oferecendo a quem os visse, um mundo de variedades, que refletiam a cultura brasileira, a pureza dos índios, lembranças de uma Blumenau esquecida e de um Brasil, que já não encontramos mais. Além de suas próprias obras, Freya adquiria, ganhava, e expunha, quadros, poesias, poemas, de artistas de todo o mundo.. A elegância de suas atitudes permitia que se pudesse apreciar a visão da arte que acontecia no mundo. Sempre foi cosmopolita e atual. Acompanhou, desde os anos 60, todos os movimentos na cultura brasileira. A leveza e cores vivas, que caracterizavam as suas criações, acompanhavam a bossa-nova, o tropicalismo e toda a riqueza de vida e vibrantes emoções, que marcaram, e estão presentes, em todas as manifestações artísticas nacionais. Seus traços denotavam a nítida influência que absorveu do renomado Carybé. Era local, e por isso mesmo, retratava o mundo. Visitar sua galeria equivalia a conhecer detalhes bem locais e, ao mesmo tempo, viver as sensações de estar percorrendo as galerias de arte dos maiores centros, como New York, Paris, Londres ou Milão. Tinha a simplicidade de um Niemeyer. Perguntada sobre seu processo de criação, pegava um lápis, uma folha e riscava, com singeleza, firmeza e síntese, o esboço de uma obra nova, ou explicava como tinha criado alguma anterior. Em uma de suas viagens, descobriu um quadro belga, dos anos 1600, que retratava vasos e flores, em cores raras, uma vez que as tintas usadas tinham a idade, e o desgaste, do tempo passado. Freya o fotografou e o reproduziu, em Blumenau, num quadro cerâmico em apenas duas unidades, preservando a belíssima tela. Pelo conjunto de sua obra, por tudo que criou. pelo legado que deixa para os que ficam, enviamos nossos melhores augúrios a sua sobrinha-neta, Bettina von Hertwig, para que, como numa corrida de revezamento, leve à frente esse bastão da beleza, da originalidade e da elegância, do exemplo e da arte de Freya Gross. E que Blumenau e seus líderes, e dirigentes, ajudem a realizar o sonho da artista, que partiu aos 92 anos. Que disponibilizem, para todos os blumenauenses, e para aqueles que tiverem a ventura de conhecer e visitar a cidade, não somente a alegria e o chope da festa de outubro. Que coloquem em local acessível e de fácil apreciação, o painel que ela vinha criando, um mosaico de elementos culturais e históricos da cidade alemã criada em meio ao verde do vale.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Marolas e Tsunamis

-Crise para uns, grandes negócios para outros, a conta para todos-

Várias instituições privadas, principalmente as que operam na área financeira, estão recebendo atenções especiais do governo. Várias operações foram realizadas, controles flexibilizados e muito dinheiro facilitado. Grandes somas de divisas cambiais estão sendo leiloadas para segurar o valor da moeda norte-americana, limites dos depósitos compulsórios foram liberados, e muito mais, tudo para melhorar a oferta de crédito para alavancar a circulação de riqueza por meio do consumo da população. População que, dependendo do momento, encarna a máscara de contribuinte, consumidor e grande financiador da situação. Sim, o importante é destacar que tudo que vem sendo feito pelo governo é suportado pelas finanças pessoais dos cidadãos deste país. Cabe ressaltar que quando essas mesmas corporações financeiras realizam seus jogos de azar e suas operações especulativas, obtendo lucros, a sociedade não fica sabendo, o resultado não é repartido com a cidadania, pois sempre se alega a “competência” dos expertos na condução dos negócios “privados”.
Curiosa essa faceta. Quando os negócios “privados” não dão certo, quando as jogadas de risco especulativas quebram a cara, ai sim, o cidadão é chamado, não consultado, e, por meio de autoritária medida provisória, grande operação pública e coletiva, com o dinheiro de todos, realizada para “salvar” a economia. O próprio noticiário e os entendidos do assunto tratam a diferença entre o mundo do cassino financeiro e a economia real. Quer dizer, então, que existe uma diferença grande entre essas duas concepções. O guru capitalista Milton Friedmann, chefe da equipe conhecida como Chicago Boys, ou uma das visões mais fundamentalistas da financeirização selvagem da economia e propugnadora da linha de um Estado pouco regulador e muita liberdade para o “mercado” e sua “mão invisível”, além de criar conceitos radicais que embasam a rapinagem, que acontece, também criou outra expressão: “ não existe almoço de graça...”. Ou seja, na economia capitalista, alguém sempre paga a despesa. Esse alguém, na verdade, é uma população de alguéns que agora recebe a conta, em vários países do mundo, só que de um “almoço” do qual não participaram. Hoje, no Senado da República, vários legisladores revezaram-se na tribuna para denunciar o que pode estar se constituindo em grave falcatrua perpetrada contra os interesses da nação, ou pelo menos, da grande maioria de sua população. Estariam várias entidades, beneficiadas com a liberalização dos depósitos compulsórios, aproveitando esse recurso e, em vez de injetá-lo na economia real para estimular o consumo e o financiamento da produção industrial e agrícola, dirigindo-o para a compra de títulos do tesouro nacional, para obter lucros futuros e aumento de seus patrimônios líquidos. Se confirmado esse desvio de finalidade de uso de recursos públicos e coletivos, ficam o governo federal e os órgãos que têm obrigação constitucional de zelar pela lei, convidados a realizar os devidos enquadramentos e punir os que desrespeitam e fraudam a economia popular. Uma nação não se constrói com espertezas e oportunismos. É necessário que povo e dirigentes exercitem, sempre, a verdade e a transparência, para que não se corra o risco de transformar nosso país numa nau sem rumo e sem futuro. Nosso presidente, para tranqüilizar o país, em entrevista coletiva, nos primeiros dias da atual crise, externou sua tranqüilidade tachando a situação de uma “marola”, enquanto os países geradores da situação estariam sendo atingidos por uma, ou várias, tsunami. Se a intenção era tranqüilizar a economia real e o povo que a financia, até que por alguns dias a impressão durou. Agora, já demonstrando apreensão e poucas certezas, a equipe econômica começa a denotar receio e insegurança. A reunião, de hoje, do COPOM, que manteve a taxa de juros no patamar anterior, sinaliza na direção de não permitir mais uma operação, que poderia baratear o dinheiro, gerando eventual aumento de empréstimos para suportar situações que não fossem ligadas à reativação do crédito para a economia real. Além disso, sempre é bom lembrar que a taxa de juros age diretamente sobre o montante da dívida interna, que não pode ser transformada em uma poupança dos credores, nem em uma guilhotina para o governo.
Teria a “marola”, na verdade uma enorme onda prestes a estourar sobre as nossas costas, do Brasil e as nossas, sido mal avaliada pelo comando do navio que, ou não utilizou, ou usou o binóculo invertido, enxergando pequeno demais? Tomara que não.

Verbas difíceis, verbas fáceis e "risco sistêmico"

Freqüentemente, assistindo a TV Senado, a TV Câmara dos Deputados, a TV Assembléia ou a Tv Câmara Municipal, nos deparamos com algumas propostas de reforço dos orçamentos públicos para as áreas de saúde, educação, segurança, meio ambiente e sistema prisional/penitenciário. Veementes reações contrárias dos legisladores, que eventualmente defendem os governos pressionados a remanejamentos e repasses, são captadas, e sempre com a contra argumentação já desgastada de tão repetida: a fonte da receita para essas novas “aventuras”deve ser indicada por quem as propõe. Assim, grandes demandas legítimas da sociedade são postergadas ou enterradas, pois a falácia intimida, mesmo quando inúmeras emendas de parlamentares são liberadas para as “bases”, num jogo de compadrio e casuísmo. A realidade tem nos mostrado, de forma eloqüente, e dramática, a necessidade que as áreas acima, apresentam para receber reforço de recursos. Os professores ganham mal, os policiais arriscam suas vidas para dar segurança à vida e ao patrimônio da população em sua luta contra o crime, os sistemas carcerário e penitenciário se constituem numa chaga vergonhosa contra a recuperação dos infratores e criminosos, as queimadas da floresta amazônica expõem o Brasil como o quarto gerador de calor e emissão de gases e os hospitais e atendimentos públicos, diariamente, ocupam horários nobres da mídia, comprovando a insuficiência da rede pública de saúde, nos três níveis governamentais. Causa espécie, contudo, a forma rápida, ligeira, veloz, imediata, que os muitos bilhões de reais, e dólares, foram liberados, e disponibilizados, para bancos e empresas “em situação de risco sistêmico”. Não foram vistos os representantes das bancadas governamentais inquirirem os remetentes da proposta com as tradicionais perguntas sobre a origem dos recursos e as fontes de receita para tais aportes. E não foram os pequenos dois bilhões para a saúde, nem os outros poucos bilhões para pagar professores, muito menos os alguns bilhões para melhorar a vida dos policiais. Até agora foram muito bilhões, entre depósitos compulsórios, compra de dólares americanos, leilões de dólares para segurar seu preço e ajuda, até, para empresas privadas da construção civil. Após a leitura desses dados, fica a pergunta: o que é um “risco sistêmico” para a sociedade? Será a eventual redução de lucro dos bancos, a quebra ou concordata de algumas empresas que oferecem produtos e serviços utilizando recursos de que não dispõem? E professores mal pagos, não podendo educar as gerações futuras não se constituem em “risco sistêmico”? Policiais mal pagos, jogados na luta contra o crime, sem salários e condições dignas de trabalho não são um risco sistêmico para toda a sociedade? Trabalhadores desempregados, cidadãos que não podem pagar suas contas mensais, e que perdem automóveis, casas e bens para seus credores, não são “risco sistêmico”? Pais e mães que apesar de trabalharem muito e não conseguirem pagar em dia a conta das escolas dos filhos e, por isso, passam a integrar banco de dados como maus pagadores, não são”risco sistêmico”? Pequenos empresários, geradores de empregos, impostos e circulação de riqueza, com dificuldade de saldar suas folhas de pagamento, com pouco capital de giro para expandir e implantar inovação em suas organizações, não são “risco sistêmico”? Estudantes e recém formados, que não conseguem seu primeiro emprego ou recebem salários de fome, explorando suas capacidades e competências, a preço vil, não são “risco sistêmico”? Talvez “sistêmico”, nas situações de muitos bilhões, se refira às instâncias próximas do “sistema” de poder e não à visão sistêmica de toda a sociedade civil, que paga seus impostos, mesmo que, sistemicamente, mal utilizados.

Um outro "Consenso" de Washington

Em 1989, na capital americana, ocorreu uma reunião que ficou conhecida como o Consenso de Washington. Várias organizações governamentais, entidades de financiamento do desenvolvimento, experts da área financeira, todos ligados às economias mais ricas do mundo, o G8, e alguns "observadores" e operadores econômicos de paises menos desenvolvidos e "emergentes", marcaram sua presença. Os excedentes financeiros do mundo rico necessitavam de uma expectativa, de uma direção, de um novo rumo. O volume de resultados acumulados oferecia um fator de preocupação para os investidores de risco. Se aplicados na economia real, existia a possibilidade de se transformar em maior oferta de produtos e serviços, de preços mais baixos, de empregos, de massa de impostos e de estados mais fortes, com maior disponibilidade de recursos para fazer frente às demandas dos cidadãos. Era urgente que novos horizontes fossem ofertados, sem que as economias reais tivessem que receber "os lucros dos lucros". O final da década de 80 oferecia a esses capitais um grande número de países que saíam de ditaduras, economias quebradas pela "crise" do petróleo, enormes dívidas externas adquiridas na desigualdade das relações de dependência e uma grande novidade para os capitais ocidentais. As transformações na União Soviética e a queda do Muro de Berlim, além dos empobrecidos e endividados países sul-americanos, colocava na bandeja enormes oportunidades, para o "poder sem voto", no leste europeu. Esse quadro mundial serviu de terreno fértil para que aquela reunião, que se transformou em "consenso", estabelecesse uma série de normativas para quem precisasse de dinheiro novo para seu desenvolvimento. Assim, as nações que quisessem obter recursos para a retomada de sua caminhada, muitas vezes interrompida por regimes de força financiados pelos mesmos membros do G8, teriam que oferecer novas condições de "atratividade" para os parceiros mais ricos. O esquartejamento dos estados nacionais, com a nova teoria dos "estados mínimos", a privatização das infraestruturas como transportes, energia, telecomunicações e a implantação de parâmetros draconianos de gestão governamental, fiscal e financeira. Essa camisa-de-força, e mais uma série de detalhes, lançou lemas para a gestão pública, que foram seguidos à risca pelos governantes das nações atreladas ao pacote. Várias instâncias estatais foram privatizadas, desmontadas e, até mesmo, desativadas. Todos os "executivos" de plantão repetiam, ad nauseam, os verbetes do novo dicionário imposto pelos capitais sem rosto, pelo poder sem voto, pelos "Chicago Boys" e pelos seguidores, conscientes ou não, do novo "capitalismo way of life". Mas a fúria, a voracidade, a busca frenética por mais e maiores ganhos, depois do ciclo de privatizações e desmontes dos estados nacionais dependentes, continuava e precisava de outros organismos saudáveis e rentáveis. E, assim, o aspirador foi direcionado para as próprias economias mais abastadas do mundo. Fora algumas guerras mal explicadas e manipulações de massa para motivar investimentos em bolsas, o monstro faminto do capital excedente, dos ganhos financeiros elevados, das aplicações desregradas e da ausência de regulação pelos estados, se instalou nos paises do G8. O escândalo da Enrom americana, a explosão de várias corporações que fajutaram seus balanços mundo afora, anunciava que a guerra suja estava instalada na cabeça financeira, e nos governos, dos privilegiados. Depois de alguns capítulos menores, mas não menos importantes, repentinamente, surge a "crise" de alimentos e combustíveis alternativos. Como se o mundo, ao buscar novas fontes de energia limpa estivesse condenando suas populações a preços elevadíssimos pelos alimentos. Essa situação, apesar de exaustivamente explorada na mídia mundial, não chegou a prosperar e foi encoberta por uma outra "crise". O mundo não resistiria à elevação inevitável do barril de petróleo. O limite de 140 dólares foi rompido e os meios de comunicação, principalmente dos grandes centros dos paises mais ricos, já davam essa batalha como uma das piores que a civilização humana já enfrentara. Misteriosamente, temas como o aquecimento global, o tratado de Kyoto, a luta contra a fome e pelos objetivos do milênio, da ONU, foram esquecidos, deixados em último plano, pelos bem elaborados press-releases gerados nos centros financeiros do mundo. Lembre-se que a ONU, há vários anos, vem liderando movimento para que os paises ricos destinem alguns bilhões de dólares, apenas alguns, anualmente, para combater a fome e a proliferação da AIDS, na África, principalmente. Toda vez que esse assunto foi discutido, representantes das economias privilegiadas alegaram enormes dificuldades para reunir os recursos solicitados. Recursos esses, na maioria das vezes, menores que o custo de um dia da guerra americana no Iraque.
Pois bem, um dos campos que mais foi tornado propício para a aplicação de grandes somas em busca de lucratividade, para aqueles capitais pouco identificados, foi o mercado imobiliário norte-americano. Pouco regulado pelo governo, e pelo tesouro, ao longo dos dois governos de Bush, o boom da compra de casas nos EUA, se transformou, numa real e verdadeira explosão das bolsas, no mundo inteiro, depois que vários bancos daquele país declararam falência e/ou foram comprados a preços simbólicos por outros. O interessante, e até agora não bem explicado fenômeno, é a imediata reação de governantes, de dirigentes de agências financeiras mundiais, declararem, de pronto, que o "mundo" estava em crise e que as moedas "derreteriam" e que as bolsas cairiam. Nunca um dono de banco, de sã consciência, se anteciparia da forma como ocorreu e diria ao "mercado"que seu banco estava quebrando. Nunca um dirigente de agência como o FMI admitiria, de público, que o sistema bancário estava "derretendo". O interessante é que, imediatamente, vários governos tomaram iniciativas para salvar organizações privadas, que tinham agido levianamente e lesado seus clientes. Os culpados foram ajudados, com facilidade e fartura de recursos, os cidadãos que foram logrados ou prejudicados perderam seus bens e a tranqüilidade e o cofre estatal foi usado, sem qualquer prurido ou pudor, para "salvar" o mercado. A enorme "mão invisível" manipulou corações e mentes, teve o apoio de nações, a simpatia da mídia e o emocionado agradecimento dos especuladores. Alguns trilhões de dólares e euros foram "disponibilizados" para socorrer os especuladores, o petróleo está sendo negociado a 66 dólares o barril e não se fala mais em crise de preço de alimentos e bio-combustíveis. Mas e onde fica o princípio tão repetido pela "cultura" do "consenso", que pregava liberdade e risco para o mercado e estado mínimo? O importante é notar que, em 19 anos, foi criado um novo consenso de Washington. O primeiro, de 89, pregava a privatização intensiva de várias áreas estatais, com a desculpa que atividades que tivessem como fim algo muito distante das reais finalidades públicas tivessem que ser exploradas pelo capital privado. A receita foi cumprida. Agora, o estado, aquela figura tão criticada, tão estigmatizada como um péssimo gestor, gastador, irresponsável, que precisaria de limites claros para suas ações, é chamado, e sem autorização de seus contribuintes, sem plebiscito ou consulta popular, passa a ser dono de bancos privados, sócio de empresas privadas, emprestador de recursos públicos para bancos e empresas privadas. Essa nova onda já nos mostra em que direção poderemos estar sendo conduzidos. Após a grande ofensiva privatista de 89, a ofensiva estatista de 2008 poderá ser sucedida por uma nova pregação, e ação, desestatizadora, nos próximos anos. E, assim, ficaríamos oscilando, os contribuintes de todo o mundo, enquanto os sistemas públicos de previdência e saúde quebram por falta de recursos, sendo sugados pelos "investidores" privados para dar cobertura a seus negócios especulativos e escusos. Essa tendência é muito preocupante, pois o capitalismo já provou que é estado-dependente, mas não democracia-dependente. Observe-se o exemplo da China, grande parceira econômica e financeira da pátria-mãe de Wall Street. Um estado comunista, sobre uma planta econômica capitalista.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Desenvolvimento Local no mundo atual- (parte 1)

Palestra para o Núcleo de Lideranças da “Cidade” de Ingleses
Florianópolis/SC-em 18.10.2008

1-Desenvolvimento local

-O que é desenvolvimento econômico?
O conceito atual de desenvolvimento. econômico articula, obrigatoriamente, quatro campos, que devem se correlacionar matricialmente :
1- a felicidade humana – diz respeito à igualdade de oportunidades para todos, ao direito à vida e ao trabalho dignos, ao direito à habitação, educação e alimentação, ao direito de acesso garantido aos serviços de saúde, ao direito de constituir família, aos direitos de votar se ser votado, ao direito de acessibilidade e de deslocamento.
2- Meio ambiente respeitado, preservado como o principal capital tangível para a vida e a preservação da vida .
3- Processo econômico sustentado, economia produtiva e distributiva. Excedentes econômicos reaplicados na produção para gerar ganhos de escala em produtos, serviços, impostos e postos de trabalho.
4- Estado democrático robusto, regulador, exercendo seu poder de polícia e de monopólio da violência.Estado necessário e não “estado mínimo”



2- 2008- O ano da “crise financeira mundial” ou o primeiro golpe de estado transnacional?

Em 1989, na cidade de Washington, reuniram-se financistas e capos das economias mais ricas do mundo para estudar a nova realidade.
Os grandes excedentes financeiros obtidos pelos grupos econômicos do mundo capitalista obrigavam à tomada de novas diretivas.
Na inércia da atitude golpista dos anos 60 e 70, quando as intervenções armadas e os golpes militares se constituíam na forma eficaz de dominação dos paises subdesenvolvidos e os chamados emergentes, foi discutido, e aprovado, um conjunto de normativas que seriam exercitadas pelas grandes agências financiadoras do " desenvolvimento".
Assim, os paises mais pobres foram compelidos a abrir suas economias de forma atabalhoada e servil, a entregar suas infraestruturas para a privatização pelos capitais do G8 e, principalmente, a esquartejar seus Estados nacionais, diminuindo-os ao ponto de serem rotulados de Estados mínimos, quando o mundo desenvolvido sempre exercitou o Estado necessário.
Dessa forma, os excedentes de capital financeiro em vez de serem reaplicados na produção para gerar preços mais acessíveis aos consumidores, maior número de postos de trabalho e recolhimento de maior massa de impostos, o que permitiria que os Estados tivessem condição de exercer suas funções com dignidade e respeito pela vida humana, transformaram em negócio o atendimento das necessidades básicas das populações mais empobrecidas.
Os pobres, através de seus impostos pagos aos seus Estados nacionais, passaram a financiar e refinanciar a especulação financeira mundial.
Esse movimento de financeirização do mundo passou a ser chamado de globalização.
Tatcher, na Inglaterra e Reagan nos Usa, foram os principais representantes e locomotivas desse selvagem e voraz ataque às finanças nacionais e à soberania das nações.
Se a globalização fosse um movimento desenvolvimentista real e verdadeiro, todos os habitantes do planeta teriam direito assegurado de ir e vir por todos os países, de trabalhar em todo o mundo com a sua carteira de trabalho, de não necessitar de vistos e passaportes e dinheiro vivo para passar fronteiras.
Mas esse direito ficou privativo somente para os grandes capitais.
Através das redes de comunicação e telemática, capitais transnacionais, legais ou não, sem qualquer visto ou autorização das autoridades, um verdadeiro poder sem voto, invadiam paises, dominavam sociedades e, em 24 ou 48 horas, quebravam economias, assaltavam suas reservas cambiais e destruíam vidas e esperanças futuras, simplesmente na busca da maximização de "lucros para seus lucros".
Do golpe aplicado pela Inglaterra e Usa ao Irã, em 1953, quando foi deposto o primeiro ministro eleito democraticamente, Mosadegh, e colocado em seu lugar o fantoche Reza Pahlevi, ao assalto orquestrado contra as economias da Ásia, da Rússia, do México e do Brasil, nos anos 90, percebeu-se a mudança dos métodos.
As forças da "globalização" substituíram os golpes militares, as quarteladas e os assassinatos de dirigentes pouco “confiáveis” pelo "grande irmão”, o binômio capital/controle da mídia.
Tropas de ocupação são muito caras, desgastam a imagem das grandes economias que as financiam e geram mortes de soldados, o que aproxima a emoção das famílias enlutadas, sejam de paises dominados ou dominantes.
As forças de ocupação e a guerra técnica, tecnológica, mais “limpa” e midiática é uma solução extrema para casos essenciais de obtenção de fontes de energia ou água. Veja-se a “guerra” do Iraque. Invasão de um país sem declaração de guerra, sem fato gerador da agressão e sem homologação do órgão multilateral chamado ONU.

Desenvolvimento Local (parte 2)
(Um outro consenso de Washington)
Em 1989, na capital americana, ocorreu uma reunião que ficou conhecida como o Consenso de Washington. Várias organizações governamentais, entidades de financiamento do desenvolvimento, experts da área financeira, todos ligados às economias mais ricas do mundo, o G8, e alguns "observadores" e operadores econômicos de paises menos desenvolvidos e "emergentes", marcaram sua presença. Os excedentes financeiros do mundo rico necessitavam de uma expectativa, de uma direção, de um novo rumo. O volume de resultados acumulados oferecia um fator de preocupação para os investidores de risco. Se aplicados na economia real, existia a possibilidade de se transformar em maior oferta de produtos e serviços, de preços mais baixos, de empregos, de massa de impostos e de estados mais fortes, com maior disponibilidade de recursos para fazer frente às demandas dos cidadãos. Era urgente que novos horizontes fossem ofertados, sem que as economias reais tivessem que receber "os lucros dos lucros". O final da década de 80 oferecia a esses capitais um grande número de países que saíam de ditaduras, economias quebradas pela "crise" do petróleo, enormes dívidas externas adquiridas na desigualdade das relações de dependência e uma grande novidade para os capitais ocidentais. As transformações na União Soviética e a queda do Muro de Berlim, além dos empobrecidos e endividados países sul-americanos, colocava na bandeja enormes oportunidades, para o "poder sem voto", no leste europeu. Esse quadro mundial serviu de terreno fértil para que aquela reunião, que se transformou em "consenso", estabelecesse uma série de normativas para quem precisasse de dinheiro novo para seu desenvolvimento. Assim, as nações que quisessem obter recursos para a retomada de sua caminhada, muitas vezes interrompida por regimes de força financiados pelos mesmos membros do G8, teriam que oferecer novas condições de "atratividade" para os parceiros mais ricos. O esquartejamento dos estados nacionais, com a nova teoria dos "estados mínimos", a privatização das infraestruturas como transportes, energia, telecomunicações e a implantação de parâmetros draconianos de gestão governamental, fiscal e financeira. Essa camisa-de-força, e mais uma série de detalhes, lançou lemas para a gestão pública, que foram seguidos à risca pelos governantes das nações atreladas ao pacote. Várias instâncias estatais foram privatizadas, desmontadas e, até mesmo, desativadas. Todos os "executivos" de plantão repetiam, ad nauseam, os verbetes do novo dicionário imposto pelos capitais sem rosto, pelo poder sem voto, pelos "Chicago Boys" e pelos seguidores, conscientes ou não, do novo "capitalismo way of life". Mas a fúria, a voracidade, a busca frenética por mais e maiores ganhos, depois do ciclo de privatizações e desmontes dos estados nacionais dependentes, continuava e precisava de outros organismos saudáveis e rentáveis. E, assim, o aspirador foi direcionado para as próprias economias mais abastadas do mundo. Fora algumas guerras mal explicadas e manipulações de massa para motivar investimentos em bolsas, o monstro faminto do capital excedente, dos ganhos financeiros elevados, das aplicações desregradas e da ausência de regulação pelos estados, se instalou nos paises do G8. O escândalo da Enrom americana, a explosão de várias corporações que fajutaram seus balanços mundo afora, anunciava que a guerra suja estava instalada na cabeça financeira, e nos governos, dos privilegiados. Depois de alguns capítulos menores, mas não menos importantes, repentinamente, surge a "crise" de alimentos e combustíveis alternativos. Como se o mundo, ao buscar novas fontes de energia limpa estivesse condenando suas populações a preços elevadíssimos pelos alimentos. Essa situação, apesar de exaustivamente explorada na mídia mundial, não chegou a prosperar e foi encoberta por uma outra "crise". O mundo não resistiria à elevação inevitável do barril de petróleo. O limite de 140 dólares foi rompido e os meios de comunicação, principalmente dos grandes centros dos paises mais ricos, já davam essa batalha como uma das piores que a civilização humana já enfrentara. Misteriosamente, temas como o aquecimento global, o tratado de Kyoto, a luta contra a fome e pelos objetivos do milênio, da ONU, foram esquecidos, deixados em último plano, pelos bem elaborados press-releases gerados nos centros financeiros do mundo. Lembre-se que a ONU, há vários anos, vem liderando movimento para que os paises ricos destinem alguns bilhões de dólares, apenas alguns, anualmente, para combater a fome e a proliferação da AIDS, na África, principalmente. Toda vez que esse assunto foi discutido, representantes das economias privilegiadas alegaram enormes dificuldades para reunir os recursos solicitados. Recursos esses, na maioria das vezes, menores que o custo de um dia da guerra americana no Iraque.
Pois bem, um dos campos que mais foi tornado propício para a aplicação de grandes somas em busca de lucratividade para aqueles capitais pouco identificados, foi o mercado imobiliário norte-americano. Pouco regulado pelo governo, e pelo tesouro, ao longo dos dois governos de Bush, o boom da compra de casas nos EUA, se transformou, numa real e verdadeira explosão das bolsas, no mundo inteiro, depois que vários bancos daquele país declararam falência e/ou foram comprados a preços simbólicos por outros. O interessante, e até agora não bem explicado fenômeno, é a imediata reação de governantes, de dirigentes de agências financeiras mundiais, declararem, de pronto, que o "mundo" estava em crise e que as moedas "derreteriam" e que as bolsas cairiam. Nunca um dono de banco, de sã consciência, se anteciparia da forma como ocorreu e diria ao "mercado"que seu banco estava quebrando. Nunca um dirigente de agência como o FMI admitiria, de público, que o sistema bancário estava "derretendo". O interessante é que, imediatamente, vários governos tomaram iniciativas para salvar organizações privadas, que tinham agido levianamente e lesado seus clientes. Os culpados foram ajudados, com facilidade e fartura de recursos, os cidadãos que foram logrados ou prejudicados perderam seus bens e a tranqüilidade e o cofre estatal foi usado, sem qualquer prurido ou pudor, para "salvar" o mercado. A enorme "mão invisível" manipulou corações e mentes, teve o apoio de nações, a simpatia da mídia e o emocionado agradecimento dos especuladores. Alguns trilhões de dólares e euros foram "disponibilizados" para socorrer os especuladores, o petróleo está sendo negociado a 66 dólares o barril e não se fala mais em crise de preço de alimentos e bio-combustíveis. Mas e onde fica o princípio tão repetido pela "cultura" do "consenso", que pregava liberdade e risco para o mercado e estado mínimo? O importante é notar que, em 19 anos, foi criado um novo consenso de Washington. O primeiro, de 89, pregava a privatização intensiva de várias áreas estatais, com a desculpa que atividades que tivessem como fim algo muito distante das reais finalidades públicas tivessem que ser exploradas pelo capital privado. A receita foi cumprida. Agora, o estado, aquela figura tão criticada, tão estigmatizada como um péssimo gestor, gastador, irresponsável, que precisaria de limites claros para suas ações, é chamado, e sem autorização de seus contribuintes, sem plebiscito ou consulta popular, passa a ser dono de bancos privados, sócio de empresas privadas, emprestador de recursos públicos para bancos e empresas privadas. Essa nova onda já nos mostra em que direção poderemos estar sendo conduzidos. Após a grande ofensiva privatista de 89, a ofensiva estatista de 2008 poderá ser sucedida por uma nova pregação, e ação, desestatizadora, nos próximos anos. E, assim, ficaríamos oscilando, os contribuintes de todo o mundo, enquanto os sistemas públicos de previdência e saúde quebram por falta de recursos, sendo sugados pelos "investidores" privados para dar cobertura a seus negócios especulativos e escusos. Essa tendência é muito preocupante, pois o capitalismo já provou que é estado-dependente, mas não democracia-dependente. Observe-se o exemplo da China, grande parceira econômica e financeira da pátria-mãe de Wall Street. Um estado comunista, sobre uma planta econômica capitalista.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sem amor

(JULHO-97)



Os sem-teto se organizam
Os sem-terra ocupam

Como ficam os sem-amor?

Aonde tratam dessa doença?

Quem cura falta de amor?

Quem trata da sua dor?

Na farmácia tem remédio?

Precisa operar?

Massagem talvez ajude, mas somente com amor !

Quem sabe um anúncio ajude a criar

a primeira comunidade para quem protesta
para amar?

Um grande acampamento dos sem-amor !

E se a justiça decretasse

e a polícia obrigasse

uma desocupação imediata , para já?

Existirá um Incra para distribuir

lotes de amor ?

Sendo do coração, a sigla pode ser Incor ?

Mas lá arrumam a máquina , lá cuidam só

da dor

Lá temos uma pequena pausa,

Mas quem cuida da causa ?

Desamados do mundo todo

não adianta esperar

Lutai pelo direito de tratar

a grande ânsia de AMAR

Meio e fim, estruturas e pessoas

(Junho-97)



aqui não há lugar para sentimentos


aqui temos que tratar a eficiência

a operação

pessoas são máquinas

máquinas servem sistemas

sistemas servem poder


e o poder para que serve?

para mais poder?

para mais ter?

e o Ser?

e o estar feliz ?

e o sentir ?


onde ficam essas “ pequeninas “ sensações ?


onde estão as pessoas que ainda as sentem ?

Viagem a um país chamado passado-uma casa em Ipanema

18 março de 2005.



Hoje viajei 30 anos. 30 anos de exílio se passaram, 30 anos de saudade me assolaram,

30 anos de vazio me cobraram

Não comprei passagens, não visei passaportes, não paguei taxas de embarque .

Mesmo assim, viajei .

Abri a caixa e embarquei nas fotos .

Revi pessoas, visitei lugares, casas, ruas, árvores e praias .

Reencontrei gente, pessoas muito amadas e queridas, alguns mais velhos,

outros bem mais jovens, enfim, amigos, familiares, muitos familiares .

Mas, principalmente, vi três filhos, meus três filhos, três crianças lindas,

crescendo, brincando, estudando, se formando, na vida e escolas, e pro-

curei olhar seus olhos, tentei captar seus sonhos, suas ansiedades.

Queria reencontrá-los, ouvi-los, saber deles como brincavam, o que sen-

tiam, quando voavam em suas bicicletas, quando andavam em seu carrinho

de rolimã, quando subiam e sonhavam nas árvores, quando adormeciam

nas viagens, quando acordavam e olhavam a estrada pelo vidro traseiro,

quando eram carregados para suas camas, profundamente dormidos, envol-

tos naquele sono bom, que só as crianças conseguem ter

Tentei me ver criança, me rever adolescente, me reencontrar adulto .

Tentei encontrar meus pais, a casa de meus pais ...

Tentei reconstruir a casa, aquela casa dos sonhos e das esperanças.

Aquela casa da qual saiam os barcos para velejar e pescar.

Aquela casa próxima ao Guaíba.

Aquela casa, que do portão se via o rio.

Aquela casa da qual víamos o céu através dos cinamomos .

Aquela casa na qual o vento cantava com as folhas dos eucaliptos .

Aquela casa da qual saíamos para a escola, para o clube, para outras casas .

Não encontrei .

São outras casas, outros rostos, outras ruas, outras árvores .

Tantos anos se passaram, prisões, seqüestros, fugas e diáspora

O pai partiu, a mãe vive em outra cidade, os irmãos por todo o país.

Ninguém ficou .

Onde está aquele tempo ?

Onde ficou aquele lugar ?

Onde estamos todos nós ?

Queria rever seus rostos,

perceber suas expressões

ouvir suas vozes

reviver a algazarra

partilhar seus sonhos

viver alguns momentos , talvez um churrasco de domingo...

ver nossos pais, ele sentado na varanda, matutando sobre a vida, dialogando com o

vento, ela ao piano, a música, aqueles sons tão próximos, e que nos levavam para
sonhos tão distantes...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

André Murah

Novo artista e mais arte em Florianópolis

Nossa cidade está de parabéns.
O artista André Murah teve sua arte reconhecida por premiação referente a obra sobre o centenário da imigração japonesa.
André é um pintor que está lançando novos padrões de arte. Depois de uma larga experiência como administrador e empresário, dedica-se à arte com o mesmo afinco que caracterizou sua carreira empresarial.
Ele nos surpreende com suas inovações, com a beleza de suas telas e painéis, com seu estilo leve e vanguardista e com suas cores alegres e contagiantes.
Agora, presenteia nossa Capital com um Projeto que visa levar, pela arte, integração e inclusão social, compartilhando suas cores com áreas plenas de gente, cheias de vida, mas vazias de atenção e solidariedade.
André vai construir uma ponte, vai integrar o maciço com um viaduto/arco-iris, vai colorir uma estrada, vai lançar uma passarela, atravessar o aterro, cruzar a Mauro Ramos e colocar uma lupa no morro, para que todos vejam o colorido. Como diz o Padre Vilson Groh, vai ajudar a lançar um novo olhar sobre os labirintos da cidade, sobre a cidade que esconde ( e se esconde)labirintos, pessoas e beleza.
As cores tornarão a cidade mais visível, mais próxima e, quem sabe, mais consciente.
Consciente de si mesma, de sua gente, de seu presente, de seu futuro.
Parabéns André Murah, as tuas cores, com tanto amor e sonho, com tanta leveza e esperança, com certeza, trarão o risco de contaminar mais pessoas com a inquietação, de espalhar solidariedade, com os pincéis, e de fazer com que todos vejam a todos, independente, e principalmente, por suas diferentes cores.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sociedade da informação e do conhecimento?



No livro “1984”, o escritor George Orwell lançava a idéia de um poder central, forte e onipresente na vida de todos os cidadãos e que se apoiava na tecnologia da informação para dominar as pessoas. Tudo era controlado por um “big brother”, computador e conjunto de meios que, em rede on-line, forneciam ao poder uma tomografia em real-time de todos os diálogos, vontades, tentativas e atividades dos dominados. Quando o Brasil implantou sua infraestrutura de telecomunicações, base para a complexidade de meios que hoje atendem a sociedade brasileira, o fez baseado em um Código Brasileiro de Telecomunicações e em lei criada em 1962, por sonhadores e idealistas, principalmente das forças armadas, que pretendiam permitir que o Brasil acompanhasse o desenvolvimento mundial e não fosse um território atrasado e sem interligação. Quando ocorreu a privatização dos meios, redes e serviços públicos e estatais, no ano de 1988, foram criados dispositivos para proteger os brasileiros daquela figura que mais preocupava a todos, que era a possibilidade de um monopólio privado da área de telemática, a junção das redes de telecomunicações com as redes digitais e com a informática. A privatização se deu por entender o legislativo federal que um monopólio estatal, como era até então, poderia oferecer riscos de não evolução dos meios e do uso político das redes e usuários. Foi criada a Lei Geral de Telecomunicações e um Plano Geral de Outorgas, instrumentos da sociedade brasileira, para disciplinar uma nova realidade que se construiu, com a privatização total e completa das telecomunicações. Esses dois instrumentos legais, não permitem e não prevêem a operação que recentemente foi executada de compra entre empresas privadas da área. Essa transação foi realizada sem a autorização da Anatel- Agência Reguladora do Estado Brasileiro- e demandará a mudança de um decreto presidencial. Um ministro, ao se manifestar sobre a negociação ocorrida, disse que o governo não interferiu e que foi um “espectador”do acordo comercial. Chama a atenção, no mesmo jornal, na página ao lado, a notícia de que o Bndes, os fundos de pensão da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica participam dos investimentos e deram sua chancela pública ao fechamento do negócio. Repercussões na bolsa de valores já ocorreram após a publicação de toda a operação e da participação de órgãos governamentais. É estranho que um evento dessa envergadura seja realizado sem amparo nos procedimentos públicos existentes no país, sem autorização ou análise prévia do órgão regulador da área e com o beneplácito do executivo federal, através da participação oficial e efetiva dos órgãos já citados. Como fica a população brasileira diante da ameaça de mais da metade dos serviços de telecomunicações e telemática ficarem nas mãos de um único grupo privado? Qual o controle social possível de ser exercido pela sociedade, quando sua agência reguladora, órgão principal de proteção dos interesses nacionais é atropelada e analisará, a posteriori, uma situação que deveria ter-lhe sido exposta antes de sua realização? Como a maioria da sociedade brasileira só conhece o termo “big brother” como um programa voyeurista de televisão, não foi possível ainda, para a opinião pública, avaliar o risco que se corre numa nação que pode ter suas estruturas de informação controladas por interesses privados, onde o lucro predomina sobre as questões estratégicas e de soberania.

Brasil: Potência equilibrada ou Belíndia útil?



O Brasil está graduado. Recebeu o diploma, outorgado por uma empresa privada de avaliação de situação financeira, de “grau de investimento” ou em inglês, “investiment grade”. Conforme comentário de ministro brasileiro, “o Brasil entra para clube dos países mais respeitados, que são considerados sérios e que têm uma economia sólida e atraente para investidores”. Uma analista diz ”O Brasil tem demonstrado uma capacidade maior e mais sustentada de reagir a eventuais crises internacionais”. Legal, né? Nosso país ter essa imagem lá fora, ser considerado agradável para investimentos estrangeiros, oferecer segurança e tranqüilidade para os lucros dos aplicadores do mundo rico. Mas e o Brasil Potência econômica terá essa mesma avaliação aqui dentro? Como será a avaliação feita pelos aposentados desta república, em que grau se situa a expectativa dos pobres e miseráveis habitantes das periferias urbanas, que aguardam um mínimo de dignidade para suas vidas e que esperam, há anos, um pouco de higiene e saneamento para suas famílias?
Como fica a análise dos professores, os quais, via-de-regra, pagam para alfabetizar e potencializar cidadãos? O que acham os familiares dos mortos no genocídio da dengue, que ocorre por “incompetência das autoridades”, como reconheceu um governador de um estado muito afetado pela epidemia? Fica a dúvida, o que é ser “respeitado” como país? O que é ser considerado “sério” como país, quando a inflação sobre os alimentos atinge justamente os mais necessitados? O que é uma economia “sólida e atraente para investidores”? O termo Belíndia, criado há muito anos para definir os extremos abrigados em nosso país, bem define o que assistimos hoje. De um lado o país da exclusão, muitos seres humanos sobrevivendo em condições não humanas. Índices de violência absurdos (só uma cidade brasileira tem maior número de homicídios que toda a Espanha), e, pasmem, muitos milhares de casos de trabalho escravo. Isso só para ficar em algumas situações. Por outro lado, uma concentração absurda de poder e dinheiro, nas esferas superiores de governo, nas camadas dos mais ricos e nas maiores fortunas, dando ao Brasil a triste medalha de um dos campeões da concentração de renda no mundo. É claro que os privilégios, as facilidades, o entorpecimento do poder, deixam dirigentes vendo tudo dourado e maravilhoso. Os executivos de avaliação dessas organizações, quando chegam ao Brasil, só frequentam seu lado “Bélgica”, ficando em bons hotéis, em cidades ajardinadas, deslocando-se em carros novos com ar condicionado e comendo nos melhores restaurantes. Números lidos dessa forma, ainda mais se forem do agrado dos grandes bancos e investidores, mostrarão o mais sério dos países. O lucro oferecido e a segurança garantida pelo novo diploma brasileiro deveriam ser, também, disponibilizados em operações de micro-crédito para empreendedores nacionais, para estudantes carentes e para o contingente do cruel mosaico colorido pela miséria das periferias urbanas, verdadeiros “lixões” das vidas desperdiçadas, como afirma o sociólogo Zygmund Bauman. Quem sabe, um dia, o lado “Índia” ainda será lembrado e incluído e não só mantido como bolsão de votos e massa de manobra eleitoral?

Nada é por acaso



As discussões se sucedem todos os dias, por todos os meios de imprensa. Falta de alimentos no mundo, a questão dos biocombustíveis de cana e de milho. A moeda americana caindo de valor, o petróleo subindo. Dirigentes da ONU se mostram muito preocupados com a fome dos pobres do mundo. Na mesma semana professor americano, que já recebeu o prêmio Nobel da economia, diz que houve pouco cuidado do Banco Central Americano na concessão de crédito muito facilitado gerando a bolha imobiliária, que já estourou, mas que promete novas explosões, e repercussões, nos próximos oito meses. Outro economista americano, o senhor Stiglitz, acusa o presidente daquele país, e seu ex-presidente do Banco Central, de gerarem a atual crise, com a facilitação irresponsável na obtenção de empréstimos e hipotecas. Com tudo isso não se nota ou vislumbra qualquer atitude no sentido de estancar as queimadas no Brasil, de saber quem está administrando os poços e as vendas do petróleo iraquiano, quem está ganhando com a exportação de madeira ilegal, como está a epidemia de dengue que já matou mais de uma centena de brasileiros e a quantas anda, se é que ainda pode andar, a CPI das Ongs em Brasília.
E, assim, vai ficando o cidadão em nossa sociedade. Como um expectador de uma partida de tênis. Resta-lhe olhar, quieto e silencioso, de um lado para o outro, as boladas trocadas por apenas dois jogadores. Felizmente, nossa raquete chamada voto poderá ser usada, de forma decisiva, nas eleições deste ano. Vamos bater uma bola?

CULTURA

CULTURA

Recebo comentário de meu amigo, o músico Marcelo Muniz, espantado com a notícia veiculada recentemente de que cantora, já milionária e muito conhecida, foi autorizada a captar dois milhões de reais para projeto próprio. Realmente, a concentração de recursos, para quem já os possui, é uma prática que prejudica os empreendedores culturais, que lutam diuturnamente por um mínimo para prover encantamento e beleza para nossa sociedade. As "pirâmides" artísticas continuam drenando recursos e esforços de nosso país, enquanto o cidadão espera por uma maior prioridade às expressões legítimas da nossa identidade cultural. Enquanto houver essa concentração de poder em poucos níveis e pessoas, nosso Brasil ficará assistindo o festival de descaminhos com os recursos que nós, cidadãos, recolhemos de nosso trabalho diário. Não precisamos olhar tão longe pois aqui, bem perto de nossas rotinas, privilégios são mantidos, espaços públicos não são devidamente conservados, artistas locais não recebem apoio essencial e empreendedores continuam fazendo milagres com muito pouco. Felizmente é ano eleitoral e algumas respostas a essa situação poderão ser dadas pelo voto.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A Responsabilidade Ética na Propaganda&Marketing

Palestra proferida em 10.03.2008, no Clube de Propaganda e Marketing de SC no Auditório da Sociesc-Florianópolis

-Ética
Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.

-Ética (aspectos filosóficos)
Parte da filosofia que tem como objeto o dever ser no domínio da ação humana. A psicologia e a sociologia estudam o que o ser humano é. O que deveria ser, o que deve fazer é o campo da ética. Estuda as normas de conduta e as regras estabelecidas pelo ser humano em sociedade, no coletivo. O núcleo da ética está nas noções de bem, virtude, felicidade, justiça.Para Aristóteles(383-322 ac), Spinoza(1632-1677 ) e Leibniz(1646-1716) o bem é obrigatório por sua própria essência. Para Weber(1864-19200) “há algo no estilo de vida daqueles que professam o protestantismo que favorece o espírito do capitalismo”. A ética protestante valorizaria a riqueza e o progresso material, como uma retribuição da graça divina. A ética católica daria ênfase a um convívio “bom” enquanto prometeria uma outra vida para os puros. Essa comparação estabeleceria um diferencial: o protestantismo geraria mais empreendedorismo.

-Comentário: o ser humano não é ético por natureza. O ser humano é um ser consumidor de recursos, predador do meio ambiente, individualista e egocêntrico. Ele desenvolve e constrói pactos éticos por reconhecer que a evolução e o desenvolvimento necessitam de instrumentos que coloquem limites na ação humana, no nível coletivo. Como o ser humano é provido de subjetividade, com identidade individual, ele implanta e se submete a códigos de ética por entender que sem eles a sociedade seria condenada à lei do mais forte. Seu próprio potencial destrutivo faz com que se estabeleça limites em suas possibilidades negativas.

Propaganda e Marketing

Propaganda(do latim propagare)
Propagação de idéias, princípios, conhecimentos ou teorias. Arte e técnica de planejar, conceber, criar, executar e veicular mensagens de propaganda. Difusão de mensagens de caráter informativo e persuasivo por parte de anunciante identificado, mediante compra de espaço em tv, jornal, revista ou qualquer meio de mídia.

Marketing
Conjunto de estratégias e ações que provêem o desenvolvimento, o lançamento, e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor.

Publicidade
Tornar público, levar ao público, fatos, matérias jornalísticas, material de propaganda, notícias, por meio de veículo de mídia, e que sejam de interesse de pessoas, empresas, organizações públicas e privadas.

-Comentário: o século XX pode ser considerado o século da propaganda. Esse instrumento de propagação de idéias, conhecimentos, teorias e condicionamentos, foi muito usado para divulgar características de produtos e serviços para orientar consumidores sobre necessidades básicas, mas também para despertar desejos e vontades para o consumo de supérfluos.
A propaganda foi muito utilizada pelo poder, em diversos países, em várias épocas, para divulgar imagens de regimes e governos, de interesses estratégicos, de mentiras e manipulações. Como alguns exemplos podemos lembrar de Goebbels o ministro de propaganda nazista de Hitler, que dizia e usava na pratica o conceito de que "repetir muitas vezes uma mentira a transformaria numa verdade". Na ditadura de Getúlio Vargas, durante o “Estado Novo”, o DIP-Departamento de Imprensa e Propaganda promovia o governo ditatorial e censurava a imprensa brasileira. Nos anos do Macartismo nos EUA, entre 54 e 57, quem se enquadrasse como oposição aos ditames do poder americano, era logo enquadrado como comunista ou simpatizante. Esse processo levou o estigma a vários artistas, escritores, jornalistas, que não resistiram à pressão e tiveram que se retirar para outros países, foram levados à miséria e à loucura, por falta de trabalho, e muitos se suicidaram.
Durante o regime militar de 64/85, a propaganda do “milagre econômico”, do país do futuro, do “ame-o ou deixe-o”, dos “noventa milhões em ação”, foi intensa e ocupava todos os meios de comunicação, os quais eram norteados e balizados por uma censura prévia, presente e ostensiva. Nos EUA a propaganda do medo e a ética da mentira foram utilizadas em larga escala nas recentes operações de guerra no Afeganistão e no Iraque, quando a “a ameaça” de uso de armas químicas e de destruição em massa foram levantadas como situações verdadeiras e ameaçadoras.


No Brasil, no final dos anos 70, pairava a ameaça de uma lei que se constituiria em uma censura prévia sobre a atividade publicitária.
O Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária nasceu em 1978 como uma resposta de anunciantes, veículos, agências e consumidores para resguardar a liberdade de pensamento e criação.
O Conar –Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária é uma realidade forte e atuante, desde sua criação, e já julgou milhares de processos em todo o Brasil.
Os preceitos básicos que definem a ética publicitária são:
-todo anúncio deve ser honesto e verdadeiro e respeitar as leis do país
-deve ser preparado com o devido senso de responsabilidade social, evitando acentuar diferenciações sociais
-deve ter presente a responsabilidade da cadeia de produção junto ao consumidor
-deve respeitar o princípio da leal concorrência
-deve respeitar a atividade publicitária e não desmerecer a confiança do público nos serviços que a publicidade presta

A evolução humana, urbanização e pactos coletivos
-Da dispersão para a concentração-

As primeiras cidades que a história registra localizavam-se no Oriente, principalmente na Mesopotâmia, atual Iraque.
Um dos centros urbanos mais antigos foi UR, na Suméria, que se constituiu em cerca de 3.500 ac. As cidades proliferaram na Antiguidade, na região da Ásia Menor e Oriente Médio como centros religiosos, administrativos, comerciais, de transportes ou manufaturas. Várias dessas cidades alcançaram mais de 20.000 habitantes. Roma foi a maior cidade da Antiguidade com 800.000 habitantes. Na Europa a vida urbana decaiu na Idade Média. No Renascimento as cidades refloresceram na Europa como centros de comércio e cultura, mas as maiores da atualidade são fruto da Revolução Industrial.
O ser humano, ao longo da história, após a fase da caça e da organização e exploração da agricultura, principalmente depois do desenvolvimento da energia elétrica, da máquina a vapor e da revolução industrial, saiu de uma realidade dispersa para a concentração urbana.
Vários foram os motivos dessa mudança e muitas as conseqüências.Enquanto as questões coletivas e de conduta humana eram tratadas, via de regra, dentro dos limites das propriedades rurais/feudos, pelos proprietários ou senhores feudais, o aparecimento de grandes concentrações e aglomerados urbanos trouxe a necessidade de novas formas de ordenação da conduta humana.
As relações de convívio e trabalho, a excessiva proximidade habitacional, o regramento da ocupação dos espaços requereram novas formas de controle e ordenamento das atividades humanas e das organizações.
A vida urbana tira as pessoas de uma visão de processo, semeadura-crescimento-colheita, para as linhas de produção, onde o trabalho é esquartejado e as tarefas recebidas pelos trabalhadores pulverizam a compreensão do todo.
Com o Renascimento, a formação do mercado mundial, a passagem do feudalismo ao nascente capitalismo, os descobrimentos marítimos, o quadro social foi marcado pela ascensão da burguesia que passou a chocar-se com a nobreza feudal.
Com a influência do iluminismo, da Revolução Francesa, as teses de Montesquieu e Rousseau a humanidade avança para um conceito de Estado baseado no equilíbrio das dimensões de poder.
O Governo é o nível temporário do Estado. Ele muda periodicamente, enquanto o Estado é composto pelas instituições permanentes. Ao Governo cabe a gestão dos serviços prestados à população.
O Estado é, de certa forma, um pacto ético dos mais importantes para a ordenação da conduta humana. Suas funções normatizadoras e regradoras da vida dos cidadãos é que permitem a formação civilizatória e a garantia de direitos e obrigações. Os pactos coletivos procuram criar objetividades, para minimizar a subjetividade humana.
A concentração humana nas cidades, para dar resposta à demanda de mão-de-obra para as indústrias, gerou grande necessidade de respostas em escala.
Abastecimento de água, de energia (gás e eletricidade), de alimentos, de serviços de saúde, de educação, transporte, de saneamento básico etc.
A questão da ordem pública, da disciplina, do respeito aos direitos individuais e coletivos, as instâncias de justiça e mediação dos conflitos, pressionou para que as estruturas de gestão coletiva se aprimorassem em função das novas realidades que a revolução industrial e o processo de urbanização trouxeram.

Vida urbana, escala e consumo

Hoje o planeta Terra vive uma realidade de elevada concentração populacional nas cidades. Para oferecer respostas ao consumo de quase 5 bilhões de seres humanos concentrados nos aglomerados urbanos o planeta sofreu significativas agressões em sua estrutura natural e começa a apresentar os sintomas de desequilíbrio.
As cidades cresceram acima de suas possibilidades de administração racional e previdente, a infraestrutura não consegue oferecer soluções adequadas, tanto pela elevadíssima demanda de serviços públicos, quanto imponderável massa humana que se acumula e que precisa de trabalho, comida, escola e saúde, transporte e saneamento básico.
Os impressionantes números que as necessidades básicas, e diárias, das populações apresentam, servem como exemplo da magnitude dos problemas e da necessidade premente de mudanças radicais.
Uma cidade como São Paulo, com 12 milhões de habitantes e seis milhões de veículos tem demandas gigantescas.
Alguns dados para refletir:
Diariamente, são milhões de assentos em transportes, públicos ou privados,12 milhões de quilos de alimentos prontos, sem casca ou embalagem, 360 milhões de litros de água para banho e hidratação, 240 milhões de litros de água para descarga sanitária, 30.000 km de ruas para que os 6 milhões de veículos trafeguem, sem contar a necessária distância entre eles, redes de coleta e tratamento de esgotos, rede de drenagem pluvial para escoar as águas das chuvas, energia elétrica para mover milhares de elevadores, metrô, iluminação pública, milhões de aparelhos eletrodomésticos, máquinas e motores de empresas, centros cirúrgicos e salas de hospitais, semáforos, postos de combustíveis, radares e equipamentos de emergência para manter os dois maiores aeroportos do país, milhares de ônibus para transporte intra e inter-municipal, farmácias e postos de saúde, escolas para centenas de milhares de alunos, sem contar os milhares de turistas e visitantes nacionais e estrangeiros, que circulam...
Essa fotografia parcial da complexidade de uma cidade como SP, nos remete para outros problemas decorrentes dessa grandeza.
Os níveis de poluição do ar, aquecimento atmosférico, a poluição de córregos e rios, a velocidade cada vez menor do tráfego urbano, gerando níveis de poluição crescente.
A grande concentração humana e as expectativas que as cidades geram em centro menores e nas áreas rurais, alimentam o êxodo da ilusão e do sonho de uma vida melhor e continuam atraindo migrantes, que abandonam uma vida modesta, mas muitas vezes digna, para sofrerem a exclusão social e geográfica, sendo condenados a se marginalizar nas periferias empobrecidas dos centros urbanos.
O lixo pós-consumo e pós-industrial é acumulado nos lixões ou aterros sanitários, gerando as montanhas de material poluente e não tratado, apenas escondido dos olhos das classes mais privilegiadas.
Embalagens compõem 30% do lixo gerado no Brasil.
Esse superficial diagnóstico de uma cidade brasileira, nos mostra a premente necessidade de que se re-estude e se re-avalie o modelo de produção e consumo, podendo-se estender a avaliação para todas as áreas urbanas
E o mundo chegou ao seu primeiro bilhão de automóveis!!!

Propaganda: motivação e consciência
-uma nova opção de vida é possível-

O industrialismo atual é extrativista e intensivo. O consumismo desenfreado, que tenta cobrir os buracos da alma humana, gera mais fragilidade emocional pela frustração do não poder consumir, injustiça social e exclusão humana. O lixo não tratado, os efluentes despejados nos cursos d’água e nos mares, as toneladas diárias de gases tóxicos e tantos outros desastres disparados pelos 6 bilhões de seres que habitam nosso globo, verdadeiros gafanhotos predadores e destruidores, jogam aos nossos olhos uma realidade que chegou ao limite e nos impõe mudanças.
O buraco ambiental é real, as queimadas de nossos recursos e reservas verdes são contadas em milhares de campos de futebol diários.
E assim, o ser humano chega, pela primeira vez na história da humanidade, a se defrontar com o perigo real e imediato de extinção da raça humana, gerada por ele mesmo.
O século XX foi o século das duas grandes guerras, de muitas outras guerras que não foram tão grandes, mas se tornaram permanentes, os melhores negócios do mundo são compostos pela transgressão às leis: o tráfico de drogas, de pessoas e de órgãos, juntamente com o de armas afrontam as polícias do mundo, atravessam fronteiras, invadem países e corrompem autoridades, destruindo pessoas e sociedades.
Grandes somas de capitais especulativos correm o planeta, a automação cancela empregos, muitos países, mesmo entre os mais ricos, já temem a redução de consumidores e pagadores de impostos e mantenedores de sistemas de previdência e de saúde.
O século passado foi marcado fortemente, por duas linhas ideológicas, que tentaram uma simplificação da compreensão de sistemas políticos, de governo e de regimes econômicos. O terceiro milênio iniciou sobre as cinzas, literais, do mundo que queima e do século que terminou. Capitalismo e socialismo, na forma que nos eram apresentados, não ofereceram respostas à necessária evolução e avanço da qualidade de vida na cidade Terra.
A atividade de propaganda, que ajudou a consumir e consumir, premida entre as duas correntes, concorrenciais e antagônicas, pode ter uma participação essencial neste século XXI.
Ela pode continuar atendendo as necessidades de lucro, estimulando o consumo consciente de produtos e serviços, ela deve continuar com a sua cruzada por uma propaganda ética e honesta através do CONAR, deve continuar merecendo a confiança das pessoas e das empresas.
Mas a área de propaganda tem uma missão que, por sua criatividade, senso de oportunidade e sensibilidade situacional pode ajudar a construir: o início da mudança, o avanço necessário, a melhoria que a sociedade clama, necessita, mas talvez não saiba expressar.
Usando suas capacidades, sua rede global, a tecnologia das quatro telas, pode penetrar o mundo, invadir as mentes, inundar os corações, perturbar a alienação, sacudir as almas e injetar uma nova CONSCIÊNCIA.
A nova CONSCIÊNCIA que motive novas discussões sobre modelos de cidades, padrões de vida, escalas de produção e consumo.
A nova consciência que valorize a solidariedade humana, o amor pela natureza, a dignidade do outro e o respeito por si mesmo.

E aqui fica lançado um desafio:
-que a área de propaganda e marketing planeje o relançamento de um produto que é essencial para todos os consumidores:

-Um produto que tem demanda garantida de 6 bilhões de consumidores em toda a face da terra.
-Um produto com grande valor agregado e com muita inteligência aplicada.
-Um produto que é considerado nobre em todo o mercado mundial
-É único e não tem concorrência
-Um produto que tem muito valor, mas não tem preço.



Esse "produto" é a vida e para a sua preservação precisa de uma nova embalagem ambiental.




Danilo Cunha
Florianópolis, em 10 de março de 2008.