sábado, 8 de novembro de 2008

Freya Gross - a estética da natureza

A artista Freya Gross, blumenauense, nos deixou há dois dias. Fora o impacto da notícia da morte de uma pessoa conhecida e querida, fica o vazio da falta que ela fará e a reflexão sobre a importância de pessoas, como ela, que notam e valorizam detalhes da vida, que nem sempre a grosseria do material, a frieza do dinheiro, o deslumbramento dos novos ricos ou a insensibilidade dos ocupantes do poder, permitem que se observem. Freya vivia em um jardim e mantinha outros. Seu sítio, próximo às margens do rio Itajaí-Áçu, preservava o verde nativo e cultivava flores e árvores, pelo simples encantamento que o verde lhe causava. Não era somente uma ceramista. A cerâmica, na verdade, era a tela que ela usava para retratar pessoas, objetos, plantas e abstrações. Sua casa, no bairro Bom Retiro, abrigava um estúdio, o forno onde ela forjava suas peças únicas e tinha um terreno, que era um verdadeiro cofre aberto, onde eram guardadas e expostas as suas obras-de-arte. Por todos os cantos se podia ver placas, flores, vasos, lajotas, quadros, paisagens. Todos sobre fundo cerâmico, oferecendo a quem os visse, um mundo de variedades, que refletiam a cultura brasileira, a pureza dos índios, lembranças de uma Blumenau esquecida e de um Brasil, que já não encontramos mais. Além de suas próprias obras, Freya adquiria, ganhava, e expunha, quadros, poesias, poemas, de artistas de todo o mundo.. A elegância de suas atitudes permitia que se pudesse apreciar a visão da arte que acontecia no mundo. Sempre foi cosmopolita e atual. Acompanhou, desde os anos 60, todos os movimentos na cultura brasileira. A leveza e cores vivas, que caracterizavam as suas criações, acompanhavam a bossa-nova, o tropicalismo e toda a riqueza de vida e vibrantes emoções, que marcaram, e estão presentes, em todas as manifestações artísticas nacionais. Seus traços denotavam a nítida influência que absorveu do renomado Carybé. Era local, e por isso mesmo, retratava o mundo. Visitar sua galeria equivalia a conhecer detalhes bem locais e, ao mesmo tempo, viver as sensações de estar percorrendo as galerias de arte dos maiores centros, como New York, Paris, Londres ou Milão. Tinha a simplicidade de um Niemeyer. Perguntada sobre seu processo de criação, pegava um lápis, uma folha e riscava, com singeleza, firmeza e síntese, o esboço de uma obra nova, ou explicava como tinha criado alguma anterior. Em uma de suas viagens, descobriu um quadro belga, dos anos 1600, que retratava vasos e flores, em cores raras, uma vez que as tintas usadas tinham a idade, e o desgaste, do tempo passado. Freya o fotografou e o reproduziu, em Blumenau, num quadro cerâmico em apenas duas unidades, preservando a belíssima tela. Pelo conjunto de sua obra, por tudo que criou. pelo legado que deixa para os que ficam, enviamos nossos melhores augúrios a sua sobrinha-neta, Bettina von Hertwig, para que, como numa corrida de revezamento, leve à frente esse bastão da beleza, da originalidade e da elegância, do exemplo e da arte de Freya Gross. E que Blumenau e seus líderes, e dirigentes, ajudem a realizar o sonho da artista, que partiu aos 92 anos. Que disponibilizem, para todos os blumenauenses, e para aqueles que tiverem a ventura de conhecer e visitar a cidade, não somente a alegria e o chope da festa de outubro. Que coloquem em local acessível e de fácil apreciação, o painel que ela vinha criando, um mosaico de elementos culturais e históricos da cidade alemã criada em meio ao verde do vale.

2 comentários:

Hamilton Domingues da Silva disse...

Tive a honra de conhecer a queridissima Freya Gross, através de um grande amigo dela, o arquiteto Sr. Hans Broos que amava Blumenau, onde projetou a arquitetura da Hering. Duas pessoas que se foram, e que deixaram muitas saudades.

Unknown disse...

F. Gross, foi aluna do grande artista Italiano Angelo Tanzini.