sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Marolas e Tsunamis

-Crise para uns, grandes negócios para outros, a conta para todos-

Várias instituições privadas, principalmente as que operam na área financeira, estão recebendo atenções especiais do governo. Várias operações foram realizadas, controles flexibilizados e muito dinheiro facilitado. Grandes somas de divisas cambiais estão sendo leiloadas para segurar o valor da moeda norte-americana, limites dos depósitos compulsórios foram liberados, e muito mais, tudo para melhorar a oferta de crédito para alavancar a circulação de riqueza por meio do consumo da população. População que, dependendo do momento, encarna a máscara de contribuinte, consumidor e grande financiador da situação. Sim, o importante é destacar que tudo que vem sendo feito pelo governo é suportado pelas finanças pessoais dos cidadãos deste país. Cabe ressaltar que quando essas mesmas corporações financeiras realizam seus jogos de azar e suas operações especulativas, obtendo lucros, a sociedade não fica sabendo, o resultado não é repartido com a cidadania, pois sempre se alega a “competência” dos expertos na condução dos negócios “privados”.
Curiosa essa faceta. Quando os negócios “privados” não dão certo, quando as jogadas de risco especulativas quebram a cara, ai sim, o cidadão é chamado, não consultado, e, por meio de autoritária medida provisória, grande operação pública e coletiva, com o dinheiro de todos, realizada para “salvar” a economia. O próprio noticiário e os entendidos do assunto tratam a diferença entre o mundo do cassino financeiro e a economia real. Quer dizer, então, que existe uma diferença grande entre essas duas concepções. O guru capitalista Milton Friedmann, chefe da equipe conhecida como Chicago Boys, ou uma das visões mais fundamentalistas da financeirização selvagem da economia e propugnadora da linha de um Estado pouco regulador e muita liberdade para o “mercado” e sua “mão invisível”, além de criar conceitos radicais que embasam a rapinagem, que acontece, também criou outra expressão: “ não existe almoço de graça...”. Ou seja, na economia capitalista, alguém sempre paga a despesa. Esse alguém, na verdade, é uma população de alguéns que agora recebe a conta, em vários países do mundo, só que de um “almoço” do qual não participaram. Hoje, no Senado da República, vários legisladores revezaram-se na tribuna para denunciar o que pode estar se constituindo em grave falcatrua perpetrada contra os interesses da nação, ou pelo menos, da grande maioria de sua população. Estariam várias entidades, beneficiadas com a liberalização dos depósitos compulsórios, aproveitando esse recurso e, em vez de injetá-lo na economia real para estimular o consumo e o financiamento da produção industrial e agrícola, dirigindo-o para a compra de títulos do tesouro nacional, para obter lucros futuros e aumento de seus patrimônios líquidos. Se confirmado esse desvio de finalidade de uso de recursos públicos e coletivos, ficam o governo federal e os órgãos que têm obrigação constitucional de zelar pela lei, convidados a realizar os devidos enquadramentos e punir os que desrespeitam e fraudam a economia popular. Uma nação não se constrói com espertezas e oportunismos. É necessário que povo e dirigentes exercitem, sempre, a verdade e a transparência, para que não se corra o risco de transformar nosso país numa nau sem rumo e sem futuro. Nosso presidente, para tranqüilizar o país, em entrevista coletiva, nos primeiros dias da atual crise, externou sua tranqüilidade tachando a situação de uma “marola”, enquanto os países geradores da situação estariam sendo atingidos por uma, ou várias, tsunami. Se a intenção era tranqüilizar a economia real e o povo que a financia, até que por alguns dias a impressão durou. Agora, já demonstrando apreensão e poucas certezas, a equipe econômica começa a denotar receio e insegurança. A reunião, de hoje, do COPOM, que manteve a taxa de juros no patamar anterior, sinaliza na direção de não permitir mais uma operação, que poderia baratear o dinheiro, gerando eventual aumento de empréstimos para suportar situações que não fossem ligadas à reativação do crédito para a economia real. Além disso, sempre é bom lembrar que a taxa de juros age diretamente sobre o montante da dívida interna, que não pode ser transformada em uma poupança dos credores, nem em uma guilhotina para o governo.
Teria a “marola”, na verdade uma enorme onda prestes a estourar sobre as nossas costas, do Brasil e as nossas, sido mal avaliada pelo comando do navio que, ou não utilizou, ou usou o binóculo invertido, enxergando pequeno demais? Tomara que não.

Um comentário:

Johnnie Walker disse...

Grande Danilo,

Muito bom o seu comentário. Infelizmente estamos nas mãos desses canalhas que usam o dinheiro público em benefício próprio. Enquanto a população não for devidamente esclarecida, a coisa vai ficar por isso mesmo.

Grande abraço