O Brasil está graduado. Recebeu o diploma, outorgado por uma empresa privada de avaliação de situação financeira, de “grau de investimento” ou em inglês, “investiment grade”. Conforme comentário de ministro brasileiro, “o Brasil entra para clube dos países mais respeitados, que são considerados sérios e que têm uma economia sólida e atraente para investidores”. Uma analista diz ”O Brasil tem demonstrado uma capacidade maior e mais sustentada de reagir a eventuais crises internacionais”. Legal, né? Nosso país ter essa imagem lá fora, ser considerado agradável para investimentos estrangeiros, oferecer segurança e tranqüilidade para os lucros dos aplicadores do mundo rico. Mas e o Brasil Potência econômica terá essa mesma avaliação aqui dentro? Como será a avaliação feita pelos aposentados desta república, em que grau se situa a expectativa dos pobres e miseráveis habitantes das periferias urbanas, que aguardam um mínimo de dignidade para suas vidas e que esperam, há anos, um pouco de higiene e saneamento para suas famílias?
Como fica a análise dos professores, os quais, via-de-regra, pagam para alfabetizar e potencializar cidadãos? O que acham os familiares dos mortos no genocídio da dengue, que ocorre por “incompetência das autoridades”, como reconheceu um governador de um estado muito afetado pela epidemia? Fica a dúvida, o que é ser “respeitado” como país? O que é ser considerado “sério” como país, quando a inflação sobre os alimentos atinge justamente os mais necessitados? O que é uma economia “sólida e atraente para investidores”? O termo Belíndia, criado há muito anos para definir os extremos abrigados em nosso país, bem define o que assistimos hoje. De um lado o país da exclusão, muitos seres humanos sobrevivendo em condições não humanas. Índices de violência absurdos (só uma cidade brasileira tem maior número de homicídios que toda a Espanha), e, pasmem, muitos milhares de casos de trabalho escravo. Isso só para ficar em algumas situações. Por outro lado, uma concentração absurda de poder e dinheiro, nas esferas superiores de governo, nas camadas dos mais ricos e nas maiores fortunas, dando ao Brasil a triste medalha de um dos campeões da concentração de renda no mundo. É claro que os privilégios, as facilidades, o entorpecimento do poder, deixam dirigentes vendo tudo dourado e maravilhoso. Os executivos de avaliação dessas organizações, quando chegam ao Brasil, só frequentam seu lado “Bélgica”, ficando em bons hotéis, em cidades ajardinadas, deslocando-se em carros novos com ar condicionado e comendo nos melhores restaurantes. Números lidos dessa forma, ainda mais se forem do agrado dos grandes bancos e investidores, mostrarão o mais sério dos países. O lucro oferecido e a segurança garantida pelo novo diploma brasileiro deveriam ser, também, disponibilizados em operações de micro-crédito para empreendedores nacionais, para estudantes carentes e para o contingente do cruel mosaico colorido pela miséria das periferias urbanas, verdadeiros “lixões” das vidas desperdiçadas, como afirma o sociólogo Zygmund Bauman. Quem sabe, um dia, o lado “Índia” ainda será lembrado e incluído e não só mantido como bolsão de votos e massa de manobra eleitoral?
3 comentários:
Excelente!!! Perfeito... Só acrescento, subscrevendo o que disse Lula em discurso recente: "os que clamam pela falta de alimentos, têm as mãos sujas de carvão e óleo"... Abraços
Excelente!!!
Mas para que tem uma mãe que nasceu analfabeta e desdentada(Discurso do Lula), não tem muito a acrescentar no país.
Abraços
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