segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Desenvolvimento Local no mundo atual- (parte 1)

Palestra para o Núcleo de Lideranças da “Cidade” de Ingleses
Florianópolis/SC-em 18.10.2008

1-Desenvolvimento local

-O que é desenvolvimento econômico?
O conceito atual de desenvolvimento. econômico articula, obrigatoriamente, quatro campos, que devem se correlacionar matricialmente :
1- a felicidade humana – diz respeito à igualdade de oportunidades para todos, ao direito à vida e ao trabalho dignos, ao direito à habitação, educação e alimentação, ao direito de acesso garantido aos serviços de saúde, ao direito de constituir família, aos direitos de votar se ser votado, ao direito de acessibilidade e de deslocamento.
2- Meio ambiente respeitado, preservado como o principal capital tangível para a vida e a preservação da vida .
3- Processo econômico sustentado, economia produtiva e distributiva. Excedentes econômicos reaplicados na produção para gerar ganhos de escala em produtos, serviços, impostos e postos de trabalho.
4- Estado democrático robusto, regulador, exercendo seu poder de polícia e de monopólio da violência.Estado necessário e não “estado mínimo”



2- 2008- O ano da “crise financeira mundial” ou o primeiro golpe de estado transnacional?

Em 1989, na cidade de Washington, reuniram-se financistas e capos das economias mais ricas do mundo para estudar a nova realidade.
Os grandes excedentes financeiros obtidos pelos grupos econômicos do mundo capitalista obrigavam à tomada de novas diretivas.
Na inércia da atitude golpista dos anos 60 e 70, quando as intervenções armadas e os golpes militares se constituíam na forma eficaz de dominação dos paises subdesenvolvidos e os chamados emergentes, foi discutido, e aprovado, um conjunto de normativas que seriam exercitadas pelas grandes agências financiadoras do " desenvolvimento".
Assim, os paises mais pobres foram compelidos a abrir suas economias de forma atabalhoada e servil, a entregar suas infraestruturas para a privatização pelos capitais do G8 e, principalmente, a esquartejar seus Estados nacionais, diminuindo-os ao ponto de serem rotulados de Estados mínimos, quando o mundo desenvolvido sempre exercitou o Estado necessário.
Dessa forma, os excedentes de capital financeiro em vez de serem reaplicados na produção para gerar preços mais acessíveis aos consumidores, maior número de postos de trabalho e recolhimento de maior massa de impostos, o que permitiria que os Estados tivessem condição de exercer suas funções com dignidade e respeito pela vida humana, transformaram em negócio o atendimento das necessidades básicas das populações mais empobrecidas.
Os pobres, através de seus impostos pagos aos seus Estados nacionais, passaram a financiar e refinanciar a especulação financeira mundial.
Esse movimento de financeirização do mundo passou a ser chamado de globalização.
Tatcher, na Inglaterra e Reagan nos Usa, foram os principais representantes e locomotivas desse selvagem e voraz ataque às finanças nacionais e à soberania das nações.
Se a globalização fosse um movimento desenvolvimentista real e verdadeiro, todos os habitantes do planeta teriam direito assegurado de ir e vir por todos os países, de trabalhar em todo o mundo com a sua carteira de trabalho, de não necessitar de vistos e passaportes e dinheiro vivo para passar fronteiras.
Mas esse direito ficou privativo somente para os grandes capitais.
Através das redes de comunicação e telemática, capitais transnacionais, legais ou não, sem qualquer visto ou autorização das autoridades, um verdadeiro poder sem voto, invadiam paises, dominavam sociedades e, em 24 ou 48 horas, quebravam economias, assaltavam suas reservas cambiais e destruíam vidas e esperanças futuras, simplesmente na busca da maximização de "lucros para seus lucros".
Do golpe aplicado pela Inglaterra e Usa ao Irã, em 1953, quando foi deposto o primeiro ministro eleito democraticamente, Mosadegh, e colocado em seu lugar o fantoche Reza Pahlevi, ao assalto orquestrado contra as economias da Ásia, da Rússia, do México e do Brasil, nos anos 90, percebeu-se a mudança dos métodos.
As forças da "globalização" substituíram os golpes militares, as quarteladas e os assassinatos de dirigentes pouco “confiáveis” pelo "grande irmão”, o binômio capital/controle da mídia.
Tropas de ocupação são muito caras, desgastam a imagem das grandes economias que as financiam e geram mortes de soldados, o que aproxima a emoção das famílias enlutadas, sejam de paises dominados ou dominantes.
As forças de ocupação e a guerra técnica, tecnológica, mais “limpa” e midiática é uma solução extrema para casos essenciais de obtenção de fontes de energia ou água. Veja-se a “guerra” do Iraque. Invasão de um país sem declaração de guerra, sem fato gerador da agressão e sem homologação do órgão multilateral chamado ONU.

Desenvolvimento Local (parte 2)
(Um outro consenso de Washington)
Em 1989, na capital americana, ocorreu uma reunião que ficou conhecida como o Consenso de Washington. Várias organizações governamentais, entidades de financiamento do desenvolvimento, experts da área financeira, todos ligados às economias mais ricas do mundo, o G8, e alguns "observadores" e operadores econômicos de paises menos desenvolvidos e "emergentes", marcaram sua presença. Os excedentes financeiros do mundo rico necessitavam de uma expectativa, de uma direção, de um novo rumo. O volume de resultados acumulados oferecia um fator de preocupação para os investidores de risco. Se aplicados na economia real, existia a possibilidade de se transformar em maior oferta de produtos e serviços, de preços mais baixos, de empregos, de massa de impostos e de estados mais fortes, com maior disponibilidade de recursos para fazer frente às demandas dos cidadãos. Era urgente que novos horizontes fossem ofertados, sem que as economias reais tivessem que receber "os lucros dos lucros". O final da década de 80 oferecia a esses capitais um grande número de países que saíam de ditaduras, economias quebradas pela "crise" do petróleo, enormes dívidas externas adquiridas na desigualdade das relações de dependência e uma grande novidade para os capitais ocidentais. As transformações na União Soviética e a queda do Muro de Berlim, além dos empobrecidos e endividados países sul-americanos, colocava na bandeja enormes oportunidades, para o "poder sem voto", no leste europeu. Esse quadro mundial serviu de terreno fértil para que aquela reunião, que se transformou em "consenso", estabelecesse uma série de normativas para quem precisasse de dinheiro novo para seu desenvolvimento. Assim, as nações que quisessem obter recursos para a retomada de sua caminhada, muitas vezes interrompida por regimes de força financiados pelos mesmos membros do G8, teriam que oferecer novas condições de "atratividade" para os parceiros mais ricos. O esquartejamento dos estados nacionais, com a nova teoria dos "estados mínimos", a privatização das infraestruturas como transportes, energia, telecomunicações e a implantação de parâmetros draconianos de gestão governamental, fiscal e financeira. Essa camisa-de-força, e mais uma série de detalhes, lançou lemas para a gestão pública, que foram seguidos à risca pelos governantes das nações atreladas ao pacote. Várias instâncias estatais foram privatizadas, desmontadas e, até mesmo, desativadas. Todos os "executivos" de plantão repetiam, ad nauseam, os verbetes do novo dicionário imposto pelos capitais sem rosto, pelo poder sem voto, pelos "Chicago Boys" e pelos seguidores, conscientes ou não, do novo "capitalismo way of life". Mas a fúria, a voracidade, a busca frenética por mais e maiores ganhos, depois do ciclo de privatizações e desmontes dos estados nacionais dependentes, continuava e precisava de outros organismos saudáveis e rentáveis. E, assim, o aspirador foi direcionado para as próprias economias mais abastadas do mundo. Fora algumas guerras mal explicadas e manipulações de massa para motivar investimentos em bolsas, o monstro faminto do capital excedente, dos ganhos financeiros elevados, das aplicações desregradas e da ausência de regulação pelos estados, se instalou nos paises do G8. O escândalo da Enrom americana, a explosão de várias corporações que fajutaram seus balanços mundo afora, anunciava que a guerra suja estava instalada na cabeça financeira, e nos governos, dos privilegiados. Depois de alguns capítulos menores, mas não menos importantes, repentinamente, surge a "crise" de alimentos e combustíveis alternativos. Como se o mundo, ao buscar novas fontes de energia limpa estivesse condenando suas populações a preços elevadíssimos pelos alimentos. Essa situação, apesar de exaustivamente explorada na mídia mundial, não chegou a prosperar e foi encoberta por uma outra "crise". O mundo não resistiria à elevação inevitável do barril de petróleo. O limite de 140 dólares foi rompido e os meios de comunicação, principalmente dos grandes centros dos paises mais ricos, já davam essa batalha como uma das piores que a civilização humana já enfrentara. Misteriosamente, temas como o aquecimento global, o tratado de Kyoto, a luta contra a fome e pelos objetivos do milênio, da ONU, foram esquecidos, deixados em último plano, pelos bem elaborados press-releases gerados nos centros financeiros do mundo. Lembre-se que a ONU, há vários anos, vem liderando movimento para que os paises ricos destinem alguns bilhões de dólares, apenas alguns, anualmente, para combater a fome e a proliferação da AIDS, na África, principalmente. Toda vez que esse assunto foi discutido, representantes das economias privilegiadas alegaram enormes dificuldades para reunir os recursos solicitados. Recursos esses, na maioria das vezes, menores que o custo de um dia da guerra americana no Iraque.
Pois bem, um dos campos que mais foi tornado propício para a aplicação de grandes somas em busca de lucratividade para aqueles capitais pouco identificados, foi o mercado imobiliário norte-americano. Pouco regulado pelo governo, e pelo tesouro, ao longo dos dois governos de Bush, o boom da compra de casas nos EUA, se transformou, numa real e verdadeira explosão das bolsas, no mundo inteiro, depois que vários bancos daquele país declararam falência e/ou foram comprados a preços simbólicos por outros. O interessante, e até agora não bem explicado fenômeno, é a imediata reação de governantes, de dirigentes de agências financeiras mundiais, declararem, de pronto, que o "mundo" estava em crise e que as moedas "derreteriam" e que as bolsas cairiam. Nunca um dono de banco, de sã consciência, se anteciparia da forma como ocorreu e diria ao "mercado"que seu banco estava quebrando. Nunca um dirigente de agência como o FMI admitiria, de público, que o sistema bancário estava "derretendo". O interessante é que, imediatamente, vários governos tomaram iniciativas para salvar organizações privadas, que tinham agido levianamente e lesado seus clientes. Os culpados foram ajudados, com facilidade e fartura de recursos, os cidadãos que foram logrados ou prejudicados perderam seus bens e a tranqüilidade e o cofre estatal foi usado, sem qualquer prurido ou pudor, para "salvar" o mercado. A enorme "mão invisível" manipulou corações e mentes, teve o apoio de nações, a simpatia da mídia e o emocionado agradecimento dos especuladores. Alguns trilhões de dólares e euros foram "disponibilizados" para socorrer os especuladores, o petróleo está sendo negociado a 66 dólares o barril e não se fala mais em crise de preço de alimentos e bio-combustíveis. Mas e onde fica o princípio tão repetido pela "cultura" do "consenso", que pregava liberdade e risco para o mercado e estado mínimo? O importante é notar que, em 19 anos, foi criado um novo consenso de Washington. O primeiro, de 89, pregava a privatização intensiva de várias áreas estatais, com a desculpa que atividades que tivessem como fim algo muito distante das reais finalidades públicas tivessem que ser exploradas pelo capital privado. A receita foi cumprida. Agora, o estado, aquela figura tão criticada, tão estigmatizada como um péssimo gestor, gastador, irresponsável, que precisaria de limites claros para suas ações, é chamado, e sem autorização de seus contribuintes, sem plebiscito ou consulta popular, passa a ser dono de bancos privados, sócio de empresas privadas, emprestador de recursos públicos para bancos e empresas privadas. Essa nova onda já nos mostra em que direção poderemos estar sendo conduzidos. Após a grande ofensiva privatista de 89, a ofensiva estatista de 2008 poderá ser sucedida por uma nova pregação, e ação, desestatizadora, nos próximos anos. E, assim, ficaríamos oscilando, os contribuintes de todo o mundo, enquanto os sistemas públicos de previdência e saúde quebram por falta de recursos, sendo sugados pelos "investidores" privados para dar cobertura a seus negócios especulativos e escusos. Essa tendência é muito preocupante, pois o capitalismo já provou que é estado-dependente, mas não democracia-dependente. Observe-se o exemplo da China, grande parceira econômica e financeira da pátria-mãe de Wall Street. Um estado comunista, sobre uma planta econômica capitalista.

Um comentário:

Unknown disse...

Nossa!!! Manda mais aí!! Cadê a segunda parte!! rss