quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

PARAGUAI E VENEZUELA DIANTE DO MERCOSUL



Coerência é uma difícil prática para os humanos.
Dependendo dos contextos em que estão, dos conceitos usados, dos referenciais ideológicos, o exercício dessa característica pode tornar-se penoso.
Algumas pessoas acusam religiões de fanatismo esquecendo que aquela que seguem também comete atos muito próximos dos que condenam.
Na área econômica, dependendo da época e de fatos mais distantes, é muito frequente a crítica fácil de ações de certos governos, quando muitas vezes se dá a repetição das condições de contorno que geraram os objetos das críticas, mas em épocas mais distantes.
No caso da geração de energia elétrica, em 2001, o governo da época foi muito acusado de irresponsável e de outos qualificativos, por uma oposição que depois se tornou governo.
Atualmente, devido à seca e baixo nível das barragens, e ao desencontro de explicações e versões entre os vários atores envolvidos, as versões de "apagão", "black-out", e todas as formas de insuficiência de fornecimento de energia, diante da enorme demanda de uma população de 190 milhões de habitantes, se aproximam em muito às agudas constatações, quase acusações, endereçadas ao governo de 11 anos atrás.
Outro ponto interessante para se examinar o conceito de coerência diz respeito ao processo de privatização desenvolvido no governo objeto de críticas, e o novo termo encontrado pelo governo atual, no tocante à obras e serviços estatais/governamentais, que estão sendo passados para a gestão da iniciativa privada, por períodos concessionais de mais de 20 anos.
Às vezes a falácia predomina nessas discussões e as diferenças ficam apenas no uso semântico do termo.
Assim como alguns chamam o desvio de funções, dinheiro, favores e cargos públicos, de suas obrigações constitucionais em benefício de uma pequeno grupo de de 40 ladrões, como corrupção, outros o intitulam de malfeito.
Aspectos puramente semânicos, mais uma vez, talvez para não queimar os membros não corruptos de um governo, e tentar ofender outras pessoas que fizeram a mesma coisa em outro.
Mas a coerência, ou seu contrário, se amplificam quando as questões envolvem relações internacionais, pois o número de olhos é muito maior, e as repercussões de contradições, ou acertos, podem ser dramaticamente menores, ou muito maiores.
No caso da situação recente da Líbia, quando o ex-ditador foi cruelmente assassinado, frente a câmeras de tv de todo o mundo, muitos dirigentes de grandes nações tidas como ricas e desenvolvidas se comportaram como moleques oportunistas, criticando o dirigente morto.
Mesmo dirigente que meses antes visitava os mesmos criticos de agora. Mas além da visita era saudado como grande figura pública, uma vez que os interesses no petróleo produzido em seu país, a Líbia, anestesiava os pruridos éticos, humanistas, e de direitos humanos.
O mesmo se deu no Iraque.
O líder iraquiano, enforcado sob a gestão americana daquele país outrora soberano, foi agente bem pago pelos serviços secretos estratégicos americanos, para enfrentar os russos no Afeganistão.
Quase em uma repetição histórica, o líder chamado de "terrorista" pelos mesmos americanos e que seria o mandante da destruição aérea de prédios na cidade de NY, tinha mais de 20 parentes naquele país, todos transportados por ordem pessoal do presidente daquela grande nação do norte, poucos momentos depois do aludido atentado.
Aqui na América do Sul, também habitada por humanos com as mesmas características, a coerência precisa ser checada permanentemente, para que não se perca a linha básica que nos permita comparar comportamentos, declarações e atos de governantes.
Recentemente, o Congresso Nacional do Paraguai cassou o mandato do presidente daquela sofrida nação por entender, dentro da lei e da constituição do país, que o dirigente assim o merecia.
Dirigente que aceitou a cassação e agora anuncia sua candidatura a senador.
Mas vários foram os governos que votaram o afastamento do Paraguai do Mercosul, em função das regras que compõem o bloco econômico, que prevêm sanções a países que se afastem ou prejdiquem a Democracia no continente.
Recentemente, o presidente eleito da Venezuela, lamentavelmente, teve que se submeter a cirurgias de emergência, para combater um câncer devastador.
Sua posse, marcada para o dia 10 de janeiro, amanhã, corre o risco de não poder ser cumprida devido ao estado de recuperação lenta do paciente, ainda mais que isso ocorre em outro país, para onde o presidente enfermo foi levado.
Dizem alguns especialistas constitucionalistas, inclusive da Venezuela, que se o presidente não tomar posse no dia marcado, teriam que ser convocadas novas eleições para 30 dias, após o décimo dia do corrente mes.
Outros dirigentes, e analistas políticos, assessores, e mediadores, afirmam que a posse presidencial poderia esperar indefinidamente a recuperação, ou, na pior das hipóteses, o falecimento do presidente que sofre.
Convém aguardar a solução que será encaminhada soberanamente na Venezuela, assim se espera, mas já se fica no aguardo para constatar se algum casuismo de poder será exercitado, e apoiado pelas cabeças simpáticas à via escolhida, e quais as posteriores reações que serão tomadas, ou não, para se manter a coerência com as medidas acionadas com o Paraguai.
Coerência se mantém por comparação, por referenciais sérios, e principalmente pelo compromisso das pessoas envolvidas, em seguir a verdade.
Verdades incoerentes poderão se taxadas de mentiras, e incoerências mentirosas, dependendo de quem as pratica, em em que meio ou época, poderão ser impostas como verdades.
Ai está a história para comprovar.
Basta lê-la com a devida isenção e veremos como o uso de palavras, conceitos e processos, já foram suficientemente distorcidos, em função de certos contextos, dependendo de quem os dominava.
Por isso, a boa educação para a democracia, regime que nosso país pouco experimentou ao longo de mais de 500 anos de fundação portuguesa, recomenda que se pratique atos, gestos, dicursos, e conceitos, que sejam robustos o bastante para serem testados daqui a 30, ou 40 anos.
A história o dirá!








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