LIDERANÇA –
A GERÊNCIA e a REGÊNCIA – E OS “ENSAIOS DE ORQUESTRA “
LIDERAR NÃO É CHEFIAR!
Chefe, qualquer um pode ser. Basta ser nomeado por uma hierarquia superior. O chefe recebe as orientações, as implanta no grupo chefiado e cobra resultados e metas. É, em geral, um processo pobre, destituído de bons conteúdos e de motivação da equipe. As ordens são atendidas dentro de um processo impessoal, frio, que não forma atitudes colaborativas ou complementares. Cada elemento faz a sua parte e, com o tempo, se perdurar o modelo de imposição, as equipes se fragmentam, numa resultante de amesquinhamento e diminuição das possibilidades laborativas e criativas. O individualismo é uma característica encontrada nos grupos dessa natureza, e o risco de fragmentação da equipe é enorme. Pessoas chefiadas ficam menores, se voltam para dentro, não dividem, cada um fica no seu quadrado, sem conexão, osmose, interatividade, ou parceria. Outra característica é a enorme distância entre os níveis hierárquicos, e a ausência de delegação de funções. Chefes, em geral, são inseguros, dependem da aceitação de poucas ou de uma única pessoa, são seres ansiosos e angustiados, inseguros, desenvolvem muita ambição e baixíssima busca de crescimento e expansão de conhecimentos e habilidades, pois o receio de afastar-se do cotidiano, por medo de que ocorra algo, que eles não venham a saber, faz com que se agarrem, com todas as forças, a seu espaço físico de mesa e cadeira, pois ali está o símbolo de seu pequeno e medíocre poder. Assim como pequenas e medíocres são as organizações, mesmo as gigantescas em tamanho, que utilizam esses conceitos ultrapassados. Empresas ou governos!
Líder, somente os preparados, vocacionados, treinados para essa atividade podem desempenhá-la. Pode não se nascer líder, mas, como em todos os processos humanos, o aprendizado e o crescimento, emocionais e cognitivos, podem catalisar as transformações.
Existem vários tipos de liderança, o importante é que o líder seja reconhecido, respeitado, e acatado, pelo grupo que irá liderar. Se não houver essa etapa, qualquer processo de imposição poderá comprometer a harmonia da equipe, como um todo.
Um dos melhores exemplos de liderança, sempre uso esse exemplo por ser muito rico e ilustrativo, é o do maestro de orquestra.
O maestro é uma peça fundamental nos ensaios de orquestra. Ele não sabe tocar todos os instrumentos, mas sabe perfeitamente o espaço e a atuação de cada um. Ele deixa todos os músicos bem informados sobre as suas atuações, tendo à sua frente a partitura completa. A grande missão de uma orquestra é oferecer beleza e harmonia, para quem a ouve, e vê.
Nas apresentações é mais uma baliza, um orientador sutil dos movimentos e intensidade, dos músicos, pois sua função principal, seu maior investimento se dá nos ensaios, nos treinamentos, nas capacitações que a orquestra pratica, quando, pelas mãos e pela sensibilidade do maestro, é passada a importância da harmonia entre os instrumentos, da beleza que deve ser sentida, percebida, extraída das notas do compositor, para que possam ser passadas ao público, quando das apresentações.
Os músicos precisam saber e conhecer a fundo todos os detalhes da composição, que irão executar. Qual a fase histórica na qual o compositor viveu a elaboração, quais os contextos humanos, sociais, políticos, históricos e geográficos, exerceram influências, objetivas e subjetivas, na sua concepção.
Beethoven, o grande compositor, um dos maiores da história da música clássica, nos oferece alguns exemplos riquíssimos, e emocionantes.
Em uma determinada fase da Europa, quando Napoleão Bonaparte desencadeou uma série de lutas por libertação e direitos humanos, como alegava no início de sua caminhada como líder continuador dos processos gerados pelo humanismo e pelo iluminismo, Beethoven dedicou a ele uma sinfonia, com aspectos heroicos, para homenagear o homem que se apresentava à Europa, e ao mundo, como um libertador.
A partir do momento em que Napoleão, embriagado pelo poder, pela força conquistada, pela sensação de iluminado, se auto intitulou como “Imperador”, passando a tomar atitudes despóticas, prepotentes e autoritárias, Beethoven reescreveu a dedicatória que havia colocado na composição inicial, escrevendo: “Para um homem que FOI grande...”
Outro episódio na vida de Beethoven foi quando ele, já surdo, atormentado pela brutal dificuldade em ouvir os próprios sons magistrais, que criava, passeava, numa noite, por um bosque, quando se aproximou da cabana do guarda florestal.
Pela janela pode ver uma menina pequena, sentada a um piano, e que apresentava grande dificuldade em tocar as teclas. Depois de um certo tempo ele percebeu que a menina era cega e tentava, na sua solidão, captar algum som daquele instrumento.
Beethoven entrou na pequena casa, sentou-se ao lado da menina e, emocionado, compôs uma das mais belas páginas da música. A emocionada, e emocionante Sonata ao Luar. (vale a pena ouvir!)
Era uma noite de luar e ele deu esse nome à composição, que dedicou àquela pequena pessoa, que pode participar de um momento tão lindo, sem saber que ao seu lado estava um dos maiores compositores da época e, depois, da história.
Quando músicos, intérpretes e solistas, são conscientizados dos detalhes sobre as composições, sem qualquer dúvida, suas emoções interpretativas serão muito mais amplas, variadas, emocionadas, motivadas, e o resultado final, ao público, será rico, envolvente, gratificante, recompensador.
Não é à toa que exemplos de orquestra me motivam tanto a usá-los.
Se olharmos com cuidado, as duas palavras, regência e gerência, apenas com a inversão de uma sílaba, nos mostram que ficam iguais.
O processo de liderança pode ser muito rico, profícuo, e motivador, na medida em que for aplicado, e desenvolvido com a visão voltada para as pessoas, da equipe e para as quais a equipe deve servir, ou atender.
A compreensão dos processos, do mais amplo para o menor, é necessária, pois a compreensão do todo dará aos membros do grupo a visão ampla adequada para embasar suas ações individuais e coletivas.
Esses conceitos, acima enunciados são parte importante de palestras e seminários, que apresento e desenvolvo sobre liderança e sua formação adequada.
Entender bem o processo democrático, nas empresas e na área pública e governamental, é essencial para que consumidores, contribuintes, e eleitores se sintam bem atendidos em suas demandas, necessidades, e expectativas.
Mas simplesmente querer se classificar como líder, quando não se tem a competência emocional, comportamental e cognitiva para isso, com certeza, irá gerar frustração e desgostos nos públicos atendidos, seja em processos de consumo ou de escolha de legisladores ou dirigentes.
Muitos chefes, só por terem sido nomeados ministros ou secretários, podem incorrer no erro de Napoleão e passarem a se achar um “Imperador”. O mesmo em casos de gerências ou diretorias.
Mas muito cuidado, nessa hora.
A informação abundante, hoje existente, a ânsia por transparência, e coerência, faz com que eleitores, e consumidores, estejam com suas consciências muito ligadas, antenadas, sintonizadas, fazendo com que falsos “Imperadores”, despreparados e autoritários, poderão ser facilmente desmascarados e condenados ao esquecimento, ao exílio social, ou ao desprezo, como ocorreu com Napoleão, quando foi aprisionado na Ilha de Elba.
Na liderança autêntica, efetiva, verdadeira, algumas das principais características, que fazem toda a diferença com simples chefes, são: a humildade, a simplicidade, a alteridade, a empatia, o respeito pelos outros, e saber absorver as lições que a vida sempre nos oferece.
Não precisamos conseguir ver e ouvir tudo, e aí está o grande Bethoven para nos comprovar isso.
Mas, como ele, será a sensibilidade, a vontade de servir, o envolvimento com os problemas reais, que causarão as transformações, que levarão ao entendimento e à criatividade.
E, portanto, à inovação, palavra que muito se usa hoje, que já foi repetida indevida e erroneamente, pois poucos são os que inovam efetivamente, e muitos os que a pronunciam, sem jamais tê-la entendido adequadamente.
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(Obs.: Este texto foi inspirado na figura de minha amada Mãe, e é uma pequena homenagem à ela. Todas as citações musicais e minha cultura a respeito, devo à ela, pianista de formação clássica, formada no Conservatório Nacional de Buenos Aires, grande liderança feminina e familiar, que sempre usou a beleza da música, e sua harmonia, para educar 9 filhos, apresentar belos concertos, e ainda ser companheira de meu pai, um oficial aviador, advogado, idealista, que participou intensamente da história política do século XX, nas revoluções de 1930, 32, 35, e como voluntário internacional na guerra civil espanhola, onde lutou durante um ano, ao lado da República, tendo sido aprisionado em um campo de concentração na França, por mais um ano, quando para lá se retiraram as Brigadas Internacionais, no governo colaboracionista com o nazismo, de Daladier.
-Ela vive em São Paulo e ainda toca piano todos os dias, ligando-me muitas vezes, inspirando-me e motivando-me, por telefone, com sua incansável sensibilidade, e alegria de viver. Alegria que foi o tema e a inspiração de Beethoven para compor a 9ª. Sinfonia - Ode à Alegria.)
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