sexta-feira, 6 de setembro de 2013


NEGRO       PÁG.-1
EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA    CIDADE: RANCHO QUEIMADO – SC
LOCAL: CASA DE CAMPO DO EX-GOVERNADOR HERCÍLIO LUZ –
DA FUNDAÇÃO CATARINENSE DE CULTURA – FCC

MÊS: SETEMBRO DE 2013
AUTORIA ARTÍSTICA DA EXPOSIÇÃO: FOTÓGRAFO JERÔNIMO CARMO
TÍTULO DA EXPOSIÇÃO: NEGRO  TEMA: A INCLUSÃO
TEXTOS PARA OS PAINÉIS:

1-    A INCLUSÃO PELA LUTA   2- A INCLUSÃO PELA EXCLUSÃO
3- A INCLUSÃO PELA DIGNIDADE 4- A INCLUSÃO PELA SUPERAÇÃO

CRIAÇÃO E AUTORIA DOS TEXTOS:

DANILO ARONOVICH CUNHA – CONSULTOR E EDUCADOR, AGRACIADO COM A MEDALHA DO MÉRITO CULTURAL CRUZ E SOUZA, NO ANO DE 1988, PELO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA-CEC, DE SANTA CATARINA.

 
EXPOSIÇÃO: NEGRO    PÁG.(2)
1 – A INCLUSÃO PELA LUTA – O GRANDE POETA NEGRO CRUZ E SOUZA
Santa Catarina tem uma formação étnica variada.
Os afrodescendentes formam expressivo contingente de habitantes catarinenses, ainda não devidamente incluídos na sociedade Barriga-Verde.
Muito deles ainda fazem parte das periferias empobrecidas das cidades, obedecendo a uma postura segregacionista, herdada dos colonizadores portugueses, que escravizaram cidadãos livres africanos, para maximizar a exploração econômica do Brasil Colônia.
Os motivos são vários, mas ainda muito ligados ao processo escravagista brasileiro, que por quase 400 anos esteve presente, de forma impositiva e vergonhosa, na formação histórica do Brasil.
O poeta catarinense João da Cruz e Souza é um cidadão catarinense, que viveu 37 anos, e que deixou rico e importante legado intelectual, ao presentear o Brasil, com suas poesias maravilhosas, e com sua luta corajosa contra a escravidão.
Cruz e Souza enfrentou o sistema escravagista em plena vigência, percorrendo o Brasil, literalmente de norte a sul, expondo-se com dignidade e destemor, pregando pela abolição do regime, enfrentando todas as dificuldades, e adversidades, que sua cor, e origem, geravam naquele Brasil excludente.
Cruz e Souza afrontou a indignidade da escravidão, batendo de frente contra um governo autoritário, imperial, colonialista, e insensível às reivindicações libertárias, que já se manifestavam em diversas camadas da sociedade brasileira de então, que já não mais se deixava dominar, docilmente, pela Coroa Portuguesa.
Cruz e Souza ergueu sua mão, sua voz, e sua poesia, nessa cruzada pela integração racial, e cidadã, do negro brasileiro.
O grande poeta negro catarinense morreu na miséria material, em Minas Gerais.
Mas deixou rica herança de coragem, de luta, de exemplo de cidadania, para toda a sociedade brasileira, ao provar que o medo só diminui as pessoas, que a luta dignifica a reivindicação, e que a união potencializa a força dos oprimidos, contra a injustiça e a indignidade.

EXPOSIÇÃO: NEGRO                                           PÁG.(3)
2 - A INCLUSÃO PELA EXCLUSÃO
O processo escravagista brasileiro foi gerado pelo abuso da força, inicialmente contra os índios, que já habitavam esta terra quando da chegada dos navios lusitanos.
Após esse período, constatando a enorme inaptidão dos índios, que eram nômades, por convicção e crença na necessidade de renovação das áreas cultivadas, para os trabalhos escravos, localizados em sítios determinados, o governo português optou por aprisionar cidadãos africanos livres.
Eles foram aprisionados pelas forças colonialistas portuguesas, transportados para território brasileiro nos navios negreiros, verdadeiras prisões em embarcações, em condições indignas, insalubres, que perpetraram a morte de grande número dos escravizados, pela fome, pela doença, pela supressão da liberdade, daqueles cidadãos que viviam livres em seus países de origem.
O banzo, a dor pela amputação de seus laços natais, a tristeza vivida no aprisionamento, e a brutalidade com que eram tratados, dizimaram grande parte do contingente de escravos, ainda no transporte entre África e Brasil.
Na sua chegada já eram comercializados em leilões vivos, nos próprios portos de desembarque, quando os negociantes do trabalho, e das capacidades humanas, os adquiriam pela observação de seus músculos, pelo escancaramento forçado de suas bocas, para observar-lhes os dentes, como se animais fossem.
Tal a fragilização gerada pelas absurdas condições do transporte nos navios, que muito negros escravizados chegavam ao Brasil necessitando de cuidados de saúde, para poderem começar a exercer sua condição de trabalhadores escravos.

PÁG.(4)
Muitos sucumbiram durante as longas viagens, nos navios negreiros, pela indignidade das acomodações a bordo, e da falta das mínimas instalações para higiene e necessidades fisiológicas.
A escravidão se estendeu até o ano de 1888, quando ocorreu a assinatura de leis, que geraram seu final formal.
E esse vergonhoso processo de desrespeito aos direitos humanos só cessou no Brasil, por pressões inglesas, pois o custo do trabalho escravo era, significativamente, mais barato do que o valor que era pago na capital londrina, e nas demais cidades industriais britânicas, que já começavam a experimentar a criação de sindicatos de empregados, devido à revolução industrial.
Durante esses quase quatro séculos de aprisionamento, os negros enriqueceram e presentearam a cultura brasileira com sua riqueza musical, com seus hábitos e costumes, com sua capacidade de conviver em equilíbrio com a natureza circundante, com sua capacidade de resiliência diante das cruéis condições que enfrentaram.
Os negros foram escravizados, de forma brutal, explícita, para ajudar na capacidade de produção das colônias portuguesas de além-mar, para fornecer riqueza e manter os privilégios de um regime imperial, em terras europeias.
Mas os demais cidadãos brasileiros também eram mantidos com suas liberdades cerceadas, atrelados aos mesmos, e nefastos, interesses imperiais.
Até a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, nosso país foi proibido de ter tipografias, nada podia imprimir, pois a matriz colonialista não podia admitir que a criação literária brasileira tivesse importância para um eventual processo libertário.
O ciclo da escravidão no Brasil, a segregação de seres humanos, por sua cor, para atividades inferiores, criou o Brasil branco e o Brasil negro.

PÁG.5 -
Com todas as condições diferenciais, que foram impostas pelo regime escravagista, o Brasil branco nunca recebeu o ódio, a violência, ou a atitude destrutiva, como repúdio.
O cidadão negro, mesmo alijado de todas as suas prerrogativas humanas, e legais, se miscigenou com a população branca, indígena, e de outras etnias, e descendências, que ajudaram a formar o ser humano brasileiro, como temos hoje.
Os negros retribuíram a exclusão, quem foram vítimas, com o seu conhecimento, com a música, com o idioma, com a arte, com o seu saber, com a sua visão de paz e tolerância, que foi sua enorme, e muito significativa contribuição para a formação de uma cultura brasileira contemporânea, na qual a gastronomia e a música têm fortíssima e importante participação.    
Os negros trazidos como escravos, de forma injusta, desumana, indigna, desrespeitosa, pelo governo colonialista, jamais foi um ser revoltado contra o Brasil.
Essa população negra aguarda, até hoje, a sua integração, e aceitação, pela sociedade brasileira, que ainda apresenta atitude pouco firme nessa aproximação.
Direitos estão sendo garantidos por leis, por políticas públicas estatais e governamentais, mas a cultura de absorção ainda apresenta lacunas por parte da população branca. Apesar de todo esse processo de exclusão, de tantos anos, os negros brasileiros estão sendo reconhecidos e assimilados, por seu valor imenso na formação de um processo cultural nacional.
O modelo de escravidão, e exclusão, e considerando a postura pacífica e generosa dos negros, que nunca permitiu revanchismo ou ressentimento contra o povo do Brasil, por vias transversas enriqueceu nosso desenvolvimento cultural, pela retribuição intensa de sua contribuição efetiva, presenteando o Brasil com essa parcela tão essencial para a alma brasileira.

 
PÁG.6 EXPOSIÇÃO: NEGRO
3-A INCLUSÃO PELA DIGNIDADE

Apesar da forma indigna com que os negros foram tratados ao longo do cruel período de quase quatrocentos anos de regime escravagista, jamais devolveram à sociedade brasileira qualquer comportamento menos digno.
Sua realidade presente ainda é resultado do estado de segregação a que foram condenados todos os afrodescendentes brasileiros.
Com raras exceções as populações negras ainda são pouco vistas e notadas, pois sua localização ainda se dá nas periferias empobrecidas das cidades.
A dignidade com que os negros tratam a sociedade racista, que os escravizou e segregou, trouxe enormes contribuições culturais, riquíssimas, para o benefício do Brasil.
Atualmente, o Brasil é conhecido como uma sociedade feliz, alegre, musical, colorida, tolerante, criativa, com grande propensão para os esportes, com artistas de grande riqueza de inspiração.
Mas todas essas qualidades, em sua maioria, foram herdadas dos negros aprisionados, trazidos nos navios negreiros e que, apesar da imensa dor que lhes foi causada pela prepotência dos seus algozes, foram deixando suas contribuições, valiosíssimas, para a formação étnica e artística da sociedade colonizada pelos portugueses.
É muito expressiva, e ainda precisa ser devidamente reconhecida, a enorme influência negra na criação artística brasileira.
Apesar disso, a sociedade herdeira do racismo, e da escravidão, ainda não retribuiu de forma correta, digna, ética, e adequada, toda a carga de beleza que nos foi presenteada pela postura digna de nossos irmãos negros. A intolerância, e o sofrimento, apesar de atrozes, foram retribuídos com a bondade, ofertada com muita DIGNIDADE!

EXPOSIÇÃO: NEGRO          PAG>7     

4- A INCLUSÃO PELA SUPERAÇÃO

A capacidade de superação é uma característica dos negros, que foram escravizados pelo colonizador português.
Muitos cidadãos brasileiros ilustres foram, são, e serão negros.
A galeria de pessoas negras, que deram importantes contribuições, em todas as áreas, e em todos os níveis, é grande, enorme, e de grande significação.
Para citar alguns exemplos, dessa riqueza com que o Brasil foi agraciado, podemos relacionar apenas dois nomes ilustres, que colocaram suas capacidades a serviço do engrandecimento da sociedade.
Milton Santos, geógrafo, professor emérito da Universidade de São Paulo-USP, autor de mais de 40 livros, que foram publicados em diversos países, foi um dos intelectuais de maior projeção internacional do Brasil, é autor de trabalhos sobre as consequências da globalização, que são utilizados em vários centros de estudo, e pesquisa social, do mundo.
Ele recebeu, em 1994, o Prêmio Internacional de Geografia, com diversos trabalhos sobre metodologia dessa disciplina.
Milton Santos lecionou em importantes universidades na França, nos estados Unidos, na Tanzânia, na Venezuela, e em muitos outros países.
Milton Santos nasceu na Bahia, na cidade de Macaúbas, em 1926, apenas 38 anos após a abolição da escravatura.
Milton Santos, negro, cidadão ilustre do Brasil, nos deixou seu saber, sua bondade, sua postura digna, ao dar sua obra, sua vida, sua inteligência, a uma sociedade que escravizou seus semelhantes. Milton Santos se incluiu na sociedade brasileira pela superação digna. Ele é um exemplo de superação, que perdoa!

EXPOSIÇÃO: NEGRO PÁG.8
4- A INCLUSÃO PELA SUPERAÇÃO   

Outra figura ilustre de nossa sociedade, a Professora Antonieta de Barros, a primeira Deputada Estadual de Santa Catarina, deixou suas positivas marcas por onde andou.
Tolerante, faleceu jovem, aos 51 anos, mas tempo suficiente para construir uma caminhada de solidariedade, de generosidade, e dedicação à causa pública e coletiva.  
Cidadã exemplar, foi Educadora e Jornalista atuante.
Pioneira, teve que romper muitas barreiras para conquistar espaços, que, naquele tempo, eram completamente inusitados para as mulheres, e mais ainda para uma mulher negra.
Começou como jornalista, aos 19 anos, na década de 1920, criando e dirigindo, em Florianópolis, onde nasceu, o Jornal A Semana, mantido em funcionamento até 1927. Na mesma época dirigiu o Jornal Vida Ilhoa.
Como Educadora, fundou o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até sua prematura morte em 1951, aos 51 anos de idade.
Ela lecionou em mais outros 3 colégios.
Ela manteve intercâmbio com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e, na primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e receber votos, filiou-se ao Partido Liberal Catarinense, e foi eleita Deputada Estadual.
Tornou-se, assim, a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil, trabalhando em defesa dos direitos da mulher catarinense, e brasileira, por extensão.
Antonieta de barros, negra, nascida apenas 13 anos após a abolição da escravatura, ofereceu sua capacidade, sua competência cidadã, para toda a sociedade brasileira, ajudando a remover barreiras, a libertar pessoas, a construir direitos e igualdade.
Antonieta de Barros presenteou o Brasil com sua capacidade de superação, oferecendo seu exemplo de luta, consciência, dedicação para construir, com beleza, com generosidade, uma sociedade que tinha escravizado seus semelhantes!

DANILO ARONOVICH CUNHA
AGOSTO DE 2013

 
 

 

 

 

 
            

Nenhum comentário: