sexta-feira, 1 de julho de 2011

PERFUMES E MISTÉRIOS FRANCESES - O PROCESSO CONTRA STRAUSS-KAHN

A França é um país que sempre foi berço de pensadores, que beneficiaram os avanços conceituais e ideológicos do mundo ocidental.
Os princípios da Revolução Francesa, liberdade, igualdade, fraternidade, ainda ecoam pelo mundo, invocando o humanisno, a justiça e a solidariedade entre pessoas e povos.
Grandes filósofos, formuladores e questionadores foram oferecidos pela França, como o casal Sartre e Simone de Bouvoir, signos das posturas revolucionárias que embalaram sonhadores e mudancistas no século XX.
Mas a França, como não podia deixar de ser, também tem seu lado menos nobre, nas guerras colonialistas que protagonizou contra a Argélia, contra o VetNam, nas quais saiu na condição de derrotada militar e politicamente, uma vez que essa posição belicista e prepotente, foi completamente incoerente com as suas bandeiras históricas.
Recentemente, também, foi uma das estimuladoras dos bombardeios à Libia, quando há pouco mais de 2 meses recebia o mesmo tirano, agora bombardeado, com festas e ofertas de equipamentos militares.
No Brasil também os franceses exerceram grandes pressões para encaixar seus caças para a Força Aérea, o que ficou apenas como acenos do Governo Lula, mas que a realidade financeira brasileira ainda não permitiu que se fechasse o discutível negócio.
Mas além da guilhotina usada na Revolução Francesa, e de seus famosos perfumes, a França voltou às manchetes da imprensa mundial, quando o cidadão francês Dominique Stauss-Kahn, dirigente máximo do FMI, foi detido em Nova York, por alegada e nebulosa acusação de violência sexual.
O caso por si já se revestia de estranhas e exóticas particularidades, descritas e contidas num depoimento inconsistente e de procedência duvidosa.
Mas outras duas vertentes indicavam uma coincidência aguda.
Na França, pouco antes do pseudo escândalo sexual, outra situação chamava a atenção sobre as previsões para as eleições presidenciais de 2012.
O mesmo Strauss-Kahn começou a aparecer nas pesquisas eleitorais como o próximo Presidente da pátria de Robespierre e Danton, pois despontava com um percentual de 44%, que era considerado muito dificil de ser alcançado pelo atual Presidente, o marido de Carla Bruni, Sarkozy.
Na Grécia, o dirigente do FMI tinha usado todo o peso do seu cargo para fazer aprovar, com muita rapidez, um pacote para aportar recursos emergenciais, responsáveis pela manutenção do oxigênio daquele país mediterrâneo, que já não conseguia caminhar com as próprias pernas, abalado pelos gastos públicos exagerados e à beira da indimplência, por irresponsáveis gestões anteriores.
Além de salvar a Grécia, as medidas aprovadas pelo FMI deram à União Européia a tranquilidade necessária para evitar um efeito dominó, que levaria a Irlanda, a Espanha, Portugal, a Itália e outros países, a uma situação sem saida e que afetaria, talvez, a própria sobrevivência do bloco europeu, que foi costurado desde 1953.
Após a aprovação do pacote financeiro do FMI, não foram poucas as reações e criticas dos governos canadense e norte-americano contra Strauss-Kahn, alegando que ele estaria fazendo uma gestão "européia" do FMI.
Ou seja, eleições francesas e pacote de apoio à Grécia se encontraram em Nova York, na forma de uma ação tão sincronizada, tão eficaz, que, desde o início passou a sensação de uma bem orquestrada e planejada medida, muito maior que o alegado incidente em um hotel.
O dirigente do FMI é acusado de uma agessão sexual, imediatamente a polícia se dirige ao aeroporto, sabendo exatamente em qual avião ele estaria, não o detém na fila de espera ou no saguão, mas na espetacularizada cabine do avião, cenário ideal para a exposição do aprisionado, uma vez que mais de duzentos passageiros foram testemunhas involuntárias da ópera americana.
E de lá já saiu algemado, ladeado por dois policiais.
Mas o interessante nisso tudo é que a alegada acusadora nem teria ainda registrado ou formalizado a denúncia numa delegacia de polícia e o acusado já estava preso.
Algemado como um perigoso assassino, foi levado às cameras de tv e fotos de jornal, antes mesmo de ter a leitura formal da acusação que se abatia sobre ele.
Ou seja a eficácia superou o fato gerador da prisão.
Muito bem, se tudo isso não fosse suficientemente estranho, ele teve o passaporte retido, foi estabelecida uma caução de 6,5 milhões de dólares, devidamente documentada com escrituras de imóveis pessoais do acusado, sendo o valor de 1 milhão de dólares, em dinheiro, em espécie, depositada em banco norte-americano.
Não lhe foi permitida a soltura depois de registrado o flagrante, sendo mantido em cela junto com outros criminos norte-americanos.
Imediatamente ao renunciar ao seu cargo máximo no FMI, Strauss-Kahn foi solto, transferido para prisão domociliar.
Assumiu ontem, em seu lugar, a ministra Lagarde, francesa como ele.
Hoje, divulga-se na imprensa mundial que Strauss-Kahn foi solto, pois foram descobertas provas de que a depoente acusadora teve inconsistência em seus depoimentos e provas apresentadas e teria em sua conta bancária mais de 100.000 dólares, inexplicados pra seus baixos proventos como camareira de um hotel.
Ainda ontem, a União Européia reforçou a situação da grécia, liberando mais uma ajuda de 12 bilhões de euros, enquanto se aguarda o novo pacote de ajuda do FMI, que tinha sido costurado pelo dirigente anterior, antes de sua pouco clara prisão americana.
Mas agora as coisas podem mudar de lado e, além dos ventos, algumas cabeças podem mudar bruscamente de posição, como que guilhotinadas, pois Strauss-Kahn quer ser reabilitado para retomar a sua corrida ao cargo de presidente da França.
O próprio New York Times, consagrado e respeitado jornal americano antecipa que a ação penal contra ele pode "cair", devido às falhas processuais e ao descontínuo e contraditório comportamento da camareira acusadora e à baixa qualidade das "provas" apresentadas.
Se isso efetivamente ocorrer, Strauss-Kahn tem tudo para ocupar o lugar do marido de Carla Bruni, não havendo chances da beleza da modelo e cantora poder ajudar na reeleição de Sarkozi.
Assim, além das conspirações progressistas de 1789, quando a França mostrou ao mundo o que seria a base revolucionária do novo modelo de república, ela teria agora, no terceiro milênio, a oportunidade de oferecer ao mundo como ainda se fazem conspirações, e os riscos de uma operação de poder mal planejada.
E que a liberdade de informação, muitas vezes surrupiada pelo poder, pode restabelecer verdades.
A mistura de brioches e notícias falsas, com situações urdidas, pode decapitar mais algumas cabeaças, além da desastrada e aristocrática Maria Antonieta.
O tempo dirá.

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