Danilo A. Cunha – Coach, Educador, Consultor
-O UNIVERSO MASCULINO
A evolução histórica, até bem
recentemente, reservava ao homem uma papel ligado à sua força física.
Até a revolução industrial, no
nível do século XIX, em que as máquinas a vapor já se encontravam com a
eletricidade e a comunicação, ainda não integradas, o papel masculino era o da
força física, e de uma “superioridade” puramente narrativa, advinda do modelo
patriarcal da sociedade, muito em função de uma visão inercial, sem que a
mulher tivesse um papel claro destinado a ela.
A liderança na sociedade, nas
empresas e nas casas, era reservada ao homem, como o “chefe da família”, mesmo
esse homem tendo funções subalternas nas suas atividades profissionais.
A terra e a agricultura tinham
consolidado um conceito de Força Física, como essencial para comandar
processos.
Os conceitos e estereótipos de
liderança eram baseados em figuras e imagens militares, com espadas, armas de
fogo, cenas de guerra e destruição, nas quais coragem física era associada a
músculos e com as medalhas sobre o lado esquerdo do peito para esconder e
proteger das emoções.
Nas empresas e vida civil a
posição de chefia e liderança era algo inquestionável.
Além de ter e criar filhos, a
mulher era tratada como uma cuidadora do lar e como uma ajudadora de segundo
nível, em tarefas menos importantes.
O século XX trouxe grandes e
graves acontecimentos, nos quais a mulher foi recolocada em outro patamar,
muito em função das grandes guerras e dos processos de destruição em larga
escala.
Na primeira guerra mundial,
1914/1918, foram desenvolvidas, e muito usadas, as primeiras armas de destruição
em massa, o gás de mostarda e o gás de cloro.
Os efeitos físicos e neurológicos
dessas desconhecidas armas, que matavam, cegavam, aleijavam e enlouqueciam,
silenciosamente, obrigaram governos a deslocar grandes contingentes de mulheres para
os hospitais de retaguarda, como enfermeiras e auxiliares de saúde.
Para não desmobilizar soldados
homens, alojados nas trincheiras, as mulheres foram trazidas para a guerra para
tentar minimizar as mortes e as inutilizações geradas.
Enquanto os homens se matavam nas
trincheiras, as mulheres eram chamadas para tentar minimizar seus ferimentos e suas
mortes.
Mas para recuperá-los e para que
seus comandantes, também homens, os mandassem novamente para matar e morrer nas
trincheiras.
Nesse mesmo período histórico, na
Europa, na América do Norte, muitas mulheres lutavam para ter direito ao voto,
e lideranças femininas, as chamadas sufragistas, mantinham embates intelectuais
e atitudinais, para que as mulheres fossem autorizadas, legalmente, a votar.
Após a primeira guerra mundial, a
Europa manteve movimentos de convulsão social, encaminhando-se logo para a
segunda grande conflagração mundial.
Os ressentimentos herdados do
primeiro conflito, e um mundo ainda predominantemente masculino de liderança e
comando, criaram as condições propícias para a nova guerra europeia, que
acabou envolvendo o mundo todo.
E novas armas de destruição foram
experimentadas, culminando com as duas bombas atômicas largadas sobre o Japão,
matando 200.000 pessoas e jogando o mundo diante da destruição nuclear.
Não à toa, terminada a guerra, a
antiga Liga das Nações foi extinta e criada a ONU, como uma organização
multilateral, de alcance mundial, para tentar garantir um ciclo de
desenvolvimento pela paz, e com a redução das guerras.
A fase atual de mundo se inicia
nos anos 60.
O primeiro satélite de
comunicação por imagem foi lançado pelos EUA ligando a Europa e a América, com
canais de televisão.
Na década de 60 EUA e Europa
foram, simultaneamente, tomados por manifestações pacifistas, nas quais a
mulher emerge como um novo personagem ativo da sociedade, reclamando por
igualdade de direitos e por mais espaço nos níveis de poder e comando.
A maquina de comunicação por
satélite, as estruturas terrestres de tráfego de informação, telefone, telex,
fax, associadas à instantaneidade de imagens estáticas e dinâmicas, mostravam
ao mundo os riscos de novas guerras.
A guerra do Vietnam começa seu
término a partir do momento em que as imagens de soldados americanos morrendo e
sendo explodidos por armadilhas entraram nos lares dos EUA mostrando a
realidade para mães e pais.
A década de 60 passa a ser o
portal histórico da mudança significativa no universo masculino, pois o homem
passa a ter que aceitar a mulher como sua parceira em todos os níveis, e não
mais somente dentro das casas.
A moda retrata bem essa mudança
drástica de costumes e mentalidades, mostrando a mulher não se submetendo mais
aos espartilhos, de qualquer natureza.
A mini saia é uma reciclagem de
modas antigas, já experimentadas palas mulheres, mas muito mais atinentes a
festas e desfiles, do que ao uso nas ruas e nos escritórios.
O universo masculino é atingido
de forma conceitual e ideológico, pois a geração dos anos 60 bradava por fazer
o amor e não a guerra, apesar de lideranças masculinas, em quase todos os
governos do mundo, continuarem a exercitar práticas e visões superadas.
O mundo ingressa na década de 70
já todo coberto e integrado por comunicação e muita informação, a ponto das
conquistas e avanços comportamentais invadirem todo o globo terrestre em poucos
minutos após a ocorrência dos fatos.
O universo masculino passa a
constatar as alterações quase de forma on-line, com mulheres invadindo espaços
até então ocupados unicamente por homens.
As décadas de 80, 90, e a
primeira década do terceiro milênio, encontram o universo masculino
completamente mudado, obrigando o homem a se defrontar com questionamentos
essenciais sobre casamento, família, provedores do lar, hábitos e costumes
alterados.
As questões de gênero ganham
espaço, numa abordagem mais ampla e aberta, do que as concepções anteriores,
quando se enfocava somente a forma binária homens e mulheres.
O universo masculino, depois de 4
décadas de espanto e estupor, passa a saber relativizar papéis sociais, humanos
e familiares, que sofreram alterações radicais, profundas e abrangentes.
E o futuro reserva grandes
novidades e inovações.
O processo da revolução
industrial de quarta geração, por que passa o mundo, vai alçar as mulheres ao
poder, tanto nos governos, nos legislativos, nos judiciários, como nas empresas
e corporações, pois a tecnologia, cada vez mais presente na vida das pessoas,
vai exigir posturas sutis, bem como avançadas capacidades de interpretação da
realidade, competências femininas, que, finalmente, serão utilizadas em
benefício do ser humano.
O cérebro primitivo, ainda muito
presente nas reações masculinas, terá que se modificar para ceder lugar a um
expressivo número de mulheres, para que a humanidade possa casar
desenvolvimento econômico, tecnológico, com qualidade de vida para todos.
2-Perspectiva da Vida
na Maturidade
Até antes dessa etapa
anteriormente relatada, a questão masculina era vista como uma etapa
obrigatória, na qual o homem passava a conviver com a ideia de aposentadoria,
mas que abrangia toda a vida do homem.
Aposentar, em torno dos 60 anos
era a condenação a um momento existencial extremamente solitário e sem função,
quase como um tempo de esperar o fim da vida.
Os novos conceitos, tanto na vida
amorosa e afetiva, como no campo social e na dimensão profissional, sofreram
enormes mudanças, com as décadas de entrada da mulher no mercado de trabalho,
como com a alteração conceitual de que homens aos 60 são senhores velhos.
As novas medicações, a evolução
da concepção médica, as novas relações homem/mulher na sociedade, tiraram as
algemas limitantes do universo masculino, permitindo o surgimento do novo homem
diante dos desafios a ele lançados.
A nova atitude masculina, sem
dúvida puxada pelas mudanças da mulher na sociedade, permitiram o surgimento de
novas relações de poder.
O empoderamento da mulher no
mundo ajudou a libertar o homem das mediocridades que a sociedade masculina a
ele reservava.
A nova juventude, apoiada por novos
conceitos e práticas sociais, lançou as raízes da nova maturidade masculina,
que indica um novo reinicio a partir de aposentadorias, ou outros limites
anteriores.
A maturidade, agora, está muito
mais ligada à busca de vocações antes não exercidas, às possibilidades de
conhecimentos mais ampliados, aos novos namoros e casamentos, e à revitalização
das relações existentes.
O universo masculino descobre a
alegria de experimentar a leveza dos novos tempos, nos quais o homem pode se
descobrir ou redescobrir, não mais preso à força e a um conceito de liderança
estereotipado.
O homem passa a ver a vida com as
lentes da evolução e da superação conceitual e condicionante, vivendo quase
como uma nova adolescência, na qual pode se permitir a felicidade e a autenticidade.
3-Saúde Integral
A evolução e mudanças de conceito
no universo masculino e nas perspectivas da vida na maturidade colocaram o
homem diante de novo paradigma de saúde.
O homem sempre assistiu a mulher
indo ao médico, passando por mais cirurgias que ele, e reputava tudo isso à
“condição de mulher”.
Cuidar da saúde, ir a o médico
preventivamente, era “coisa de mulher”.
A superação de conceitos
empedernidos, de visões muito antigas, e a vontade de viver os mais de 20 ou 30
anos que a vida está dando de “bônus”, graças aos avanços da ciência, da
medicina e dos novos medicamentos, colocou o homem em um novo patamar.
Antes, ao aposentar-se, o homem
em sua solidão eminentemente masculina, amargava os medos da morte próxima, a
frustração de um final de vida triste e no isolamento construído por um
comportamento “macho”, que o isolava do afeto dos filhos e filhas, impedindo
que se curtisse a vida plenamente, ainda mais numa etapa de grande liberdade
conquistada por muitos anos de trabalho.
A saúde preventiva, a promoção do
bem estar, o estilo de vida leve e saudável, foram conceitos introduzidos pelas
revoluções de costumes, sendo hoje uma nova e forte realidade.
A prática regular de esportes, o
convívio com a natureza, alimentação mais leve e natural, a relação mais
igualitária com a mulher, a superação de posturas envelhecentes e aborrecentes,
colocaram o homem na alegria da redescoberta dele mesmo.
Saúde integral deixou de ser um
rótulo, uma chamada de marketing, para ser uma crença positiva, uma condição de
vida acessível a todos e todas, despertando no homem a vaidade adormecida, a
alegria de poder se embelezar mais, de poder ser sorridente e atraente, como
não se acreditavam mais os homens com mais de 60...
4-Novembro Azul
As posturas antigas, do homem em
relação à mulher o colocaram numa situação refratária aos cuidados com o seu
próprio corpo e saúde.
O super homem, originado na
terra, na força, no picar pedras, nas guerras, na vida e na morte, colocaram a
homem numa posição frágil e de medo, diante das possibilidades de investigar
melhor suas entranhas e seu bio funcionamento.
Mulheres enfrentam mamografia,
visitas ao médico e médica de “doenças femininas”, toques de todo tipo, exames
externos e invasivos, enfim, são viradas do avesso, apalpadas, para que sua
saúde seja preservada.
Mas grandes preconceitos
masculinos foram erigidos ao longo dessa cultura machista, que reservou aos homens
a solidão da dor, do receio da morte, sem repartir angústias, sem compartilhar
os medos, sem admitir dúvidas e anseios.
Lançado o Outubro Rosa, corajosa
campanha criada por e para as mulheres, foi aberto espaço para o Novembro Azul,
numa grande solidariedade entre mulheres e homens, visando mostrar aos
valentões e moralistas, que nada de mal lhes fará um pequeno, mas importante
exame interno, que poderá remover dúvidas e dissipar incertezas, dentro da
atitude contida no conceito de Saúde Integral, que permitirá a plena vivência
de uma nova e longa etapa de vida.
E assim anda o novo homem,
afastando-se cada vez mais de seus primórdios primitivos e de condicionantes
menores.
Mais próximo do amor, de viver
uma vida mais plena, e de poder construir, junto e ao lado da mulher, uma
caminhada mais plena de sentimentos, sensibilidades, e percepções, que só farão
a vida mais plena e mais feliz.