Desde Gutenberg que a sociedade
planetária começou a ter uma maior oportunidade de se informar e passar a
conhecer comportamentos e fenômenos de toda a ordem, produzidos em qualquer
parte de nosso mundo.
As grandes navegações levaram e
impulsionaram o ser humano a desenvolver dispositivos e equipamentos,
cognitivos, comportamentais, técnicos, e tecnológicos, visando a ampliação dos
campos de conhecimento.
A revolução industrial forçou a
humanidade a forjar o conceito de escala, definição que foi fundamental para se
chegar aos modelos sociais hoje existentes.
A industrialização trouxe como
uma de suas consequências o processo de urbanização, uma vez que tornou urgente
a concentração de mão de obra e de consumo, para alimentar e justificar a
produção industrial com capacidade para oferecer resposta a um consumo de bens
e serviços, antes atendido de forma direta pelas relações feudais e localizada
em burgos, formas rudimentares de ocupação do solo, de produção de alimentos e
vestimentas, mas restrito às propriedades e proprietários de vastas extensões
de terra.
O processo informacional trouxe
possibilidades de informação mais atualizada e de qualidade mais confiável,
diante das grandes demandas.
O avanço rápido e acelerado da
implantação de meios de informação de massa trouxe a implantação de jornais, de
emissoras de rádio e das novas possibilidades de equipamentos de difusão de
imagem e som, conjugados.
Em 1962 o mundo assistiu o
lançamento do primeiro satélite de comunicação, o Telstar, realizado pelos EUA,
ligando aquele país ao continente europeu.
Já naquela época os rudimentos de
redes de tecnologia da informação, ainda analógicas, já se constituíam na base
cientifica e técnica do que hoje pode ser chamada a sociedade global da
comunicação e informação, em estado digital.
O mundo passou a conhecer a
instantaneidade no campo da informação, o que revolucionou meios de
comunicação, uma vez que as ondas curtas de emissoras de rádio começaram a ser
substituídas por transmissões com propagação sobre ondas portadoras mais
eficazes e confiáveis.
Macluhan, cientista social dos
anos 60, lançou a premonitória frase: “um dia todos terão os seus quinze
minutos de fama”, já antevendo a conexão abrangente e profunda, entre todos os
meios de uma rede mundial.
A década de 70 presenteou o mundo
com efeitos sobre a vida produtiva, econômica, social, cultural e política, com
os primeiros efeitos gerados por imagens dinâmicas ao vivo, on-line, em real
time, tomando-se como exemplo a transmissão ao vivo, imagem e som, da guerra do
Vietnam, gerando efeitos dramáticos sobre a vida da sociedade norte-americana,
apressando o final daquele conflito, quando os corpos despedaçados e queimados
por bombas e napalm, começaram a ser vistos, como se nos EUA estivessem.
Os meios instantâneos mostraram
as tabelas com as mortes de 60.000 soldados norte-americanos e de 2.700.000
vietnamitas, apresentando aquele genocídio ao mundo.
Dai para a frente o ciclo de
inovação, técnicas e tecnologias, deu enormes saltos, diminuindo cada vez mais
os interstícios entre etapas, chegando hoje aos surpreendentes 24 meses entre
secções de desenvolvimento, implantação e disseminação de meios cada vez mais
portáveis, mais diminutos e mais eficazes.
Os campos enunciados pela
sociologia, o sócio político, o sócio econômico, e o sócio cultural foram todos
influenciados pela diversificação de meios, que tanto serviram para atender
demandas, desejos, impulsos e decisões humanas, como para aferi-las e medi-las,
tornando instantâneas as atividades de coleta e processamento de totais
numéricos para tabelar, decodificar, e entender os novos comportamentos e seus
impactos sobre governança pública, empresarial e corporativa, ajudando na
construção de novos conceitos como sustentabilidade.
Governos e governantes,
empresários e empreendedores, suas medidas, produtos, efeitos e resultados, se
encontram atualmente como efeito do processo de informação de massa, uma vez
que os comportamentos de consumidores, trabalhadores, eleitores se
transformaram em matéria determinante e determinística sobre o poder, tanto
público quanto privado.
As previsões de Macluhan se
realizam à velocidade de captação do olhar, do ouvido, e da percepção de uma
população global de 7 bilhões de seres, cada vez mais informados, mas nem por
isso menos angustiados por suas dúvidas não respondidas, nem por suas demandas
cada vez mais crescentes.
A complexidade em rede, com
elevadas velocidades e baixíssimos tempos de resposta, já permitem que os
processos produtivos sejam fiscalizados diretamente pelos consumidores, jogando-lhes
às vistas o danoso efeito da poluição em grande escala, sobre terras, água e
ar.
A enorme quantidade de insumos,
produtos e embalagens, com materiais não degradáveis ou recicláveis, mostra que
a tecnologia social, sem qualquer dúvida, será o próximo patamar, para que o
consumo consciente passe a condicionar a sobrevivência do planeta e a
racionalização dos fatores de produção.
O humanismo e o ambientalismo
serão as duas linhas ideológicas que substituirão capitalismo e socialismo,
predominantes, e dominadoras, durante o século XX.
A polarização política dominante
no século passado foi decorrente de interpretações simplificadoras sobre os
impactos da revolução industrial, encerrando as análises sobre seus efeitos e
decorrências, de toda ordem, como se as expressões capital e trabalho pudessem
abranger e explicar toda a origem e futuro da humanidade.
Nada mais do que instrumentos de
dominação e poder sobre as massas humanas, que se concentravam nas cidades e
instalações industriais e comerciais do início do século XX.
O mundo foi bi-polarizado por
essas duas estreitas dimensões conceituais, ambas ruindo, ao vivo e a cores,
nos ano de 1989, no qual a história se encarregou de derrubar o Muro de Berlim
e de forçar a realização do evento chamado Consenso de Washington, fatos que
comprovaram a falência das bitoladas visões anteriores, que binarizaram as
escolhas e opções, como se a subjetividade humana pudesse ser aprisionada e
contida em dois quadrinhos de resposta “múltipla”.
A nova sociedade produz tão rapidamente
seus saltos quânticos, uma vez que apresentam nano informações e introduzem e
reconhecem o ser humano como espectador e observador dos processos, que a visão
holística começa a se dar conta de que a informação veloz e renovada, em
flashes, tanto pode oferecer conforte de escolha, como permite possibilidades
de invasão dos espaços pessoais, familiares, íntimos, e reservados.
As questões éticas, morais,
legais, passaram a ser preocupantes quando Edward Snowden, empregado de uma
corporação de tecnologia da informação, fugiu dos EUA denunciando a espionagem
em escala mundial promovida pelos serviços de segurança daquele país.
Declarações de governantes foram
emitidas, posições políticas duras foram enunciadas, mas nada mais se fez do
que constar que a informação pelos mesmos meios que entra na vida das pessoas,
pode permitir sua visualização, ou audição, por instâncias não percebidas como
possíveis, e existentes em aparelhos celulares, em notebooks, em desktops, em
aplicativos, em diversas linguagens digitais, mesmo que sub-repticiamente.
Assim como a humanidade se chocou
com a visão das mortes nas guerras estúpidas, do lixo excessivo gerado pelo
consumo desvairado, que o processo agudamente extrativista submeteu a terra,
agora se percebe que o conforto de acessar e difundir informação a partir do
nível individual, pessoal, em igual velocidade abre e disponibiliza portas e
janelas virtuais, sem qualquer cadeado, tranca ou chaves, possíveis de guardar
a intimidade dos seres humanos diante da gula por poder, e por dominação de
comportamentos, que visam unicamente, mais poder político, econômico e
cultural.
O conceito de sustentabilidade
passa a ocupar bocas que enunciam uma nova etapa, mesmo sem saber do que trata
esse conceito.
Ignacy Sach, grande sociólogo da
crença desenvolvimentista equilibrada, definiu o processo sustentável como
aquele que prioriza a vida humana, e sua preservação (o meio ambiente), tendo
os níveis econômico e politico como suportes do primeiro.
Disse ele:
“Processos sustentáveis são
aqueles que permitam priorizar a vida e sua preservação, apoiados pelos
processos econômico e politico, desde que nessa ordem”.
Sachs ainda afirmou:
“Não podemos permitir que as
prioridades, puramente economicistas, e de poder, determinem para os seres
humanos o que aconteceu com os cavalos na revolução industrial.
Muito se fala de reciclagem e
reeducação das pessoas diante dos novos processos industriais e tecnológicos de
produção, mas como estariam os cavalos que puxavam carroças e outros
transportes, se ainda hoje estivessem esperando serem retreinados e reciclados
para novas funções?”
“Portanto esta é a pirâmide
sustentável:
1-A vida e sua preservação, como
prioridade primeira e maior.
2-Os processos econômico, e
político com suporte à primeira prioridade”.
Para encerrar, Yoneji Masuda,
grande estudioso da sociedade da informação, cientista social japonês, deixa
bem claro em seu livro de 1981, intitulado “Sociedade da Informação” que a
sociedade humana terá que estudar e compreender a extensão e a profundidade de
todas as transformações que a tecnologia acarretará, capacitando-se amplamente,
para evitar que seja dominada por máquinas.
Estas, por sua vez, dominadas por
mentes instrumentalizadas com competências técnicas e tecnológicas, voltadas
unicamente para o lucro vulgar e o poder sem limites.
Viver será sempre o desafio entre
a ânsia de liberdade comportamental, conceitual, dos seres humanos, confrontado
pela tendência ao exercício do poder de uma pessoa sobre seus semelhantes.
Isso sempre encerrará o
afastamento de escrúpulos e dos padrões éticos, subjetividades humanas, mas que
se tornarão essenciais para continuar determinando a livre escolha de pensa,
agir, viver, diante das novas e imensas possibilidades de dominar informação,
conhecimento e comportamento.