quinta-feira, 6 de outubro de 2016

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO - HISTÓRICO E DESDOBRAMENTOS ÉTICOS, LEGAIS, SOCIOLÓGICOS E POLÍTICOS



Desde Gutenberg que a sociedade planetária começou a ter uma maior oportunidade de se informar e passar a conhecer comportamentos e fenômenos de toda a ordem, produzidos em qualquer parte de nosso mundo.

As grandes navegações levaram e impulsionaram o ser humano a desenvolver dispositivos e equipamentos, cognitivos, comportamentais, técnicos, e tecnológicos, visando a ampliação dos campos de conhecimento.

A revolução industrial forçou a humanidade a forjar o conceito de escala, definição que foi fundamental para se chegar aos modelos sociais hoje existentes.

A industrialização trouxe como uma de suas consequências o processo de urbanização, uma vez que tornou urgente a concentração de mão de obra e de consumo, para alimentar e justificar a produção industrial com capacidade para oferecer resposta a um consumo de bens e serviços, antes atendido de forma direta pelas relações feudais e localizada em burgos, formas rudimentares de ocupação do solo, de produção de alimentos e vestimentas, mas restrito às propriedades e proprietários de vastas extensões de terra.

O processo informacional trouxe possibilidades de informação mais atualizada e de qualidade mais confiável, diante das grandes demandas.
O avanço rápido e acelerado da implantação de meios de informação de massa trouxe a implantação de jornais, de emissoras de rádio e das novas possibilidades de equipamentos de difusão de imagem e som, conjugados.

Em 1962 o mundo assistiu o lançamento do primeiro satélite de comunicação, o Telstar, realizado pelos EUA, ligando aquele país ao continente europeu.

Já naquela época os rudimentos de redes de tecnologia da informação, ainda analógicas, já se constituíam na base cientifica e técnica do que hoje pode ser chamada a sociedade global da comunicação e informação, em estado digital.

O mundo passou a conhecer a instantaneidade no campo da informação, o que revolucionou meios de comunicação, uma vez que as ondas curtas de emissoras de rádio começaram a ser substituídas por transmissões com propagação sobre ondas portadoras mais eficazes e confiáveis.
Macluhan, cientista social dos anos 60, lançou a premonitória frase: “um dia todos terão os seus quinze minutos de fama”, já antevendo a conexão abrangente e profunda, entre todos os meios de uma rede mundial.

A década de 70 presenteou o mundo com efeitos sobre a vida produtiva, econômica, social, cultural e política, com os primeiros efeitos gerados por imagens dinâmicas ao vivo, on-line, em real time, tomando-se como exemplo a transmissão ao vivo, imagem e som, da guerra do Vietnam, gerando efeitos dramáticos sobre a vida da sociedade norte-americana, apressando o final daquele conflito, quando os corpos despedaçados e queimados por bombas e napalm, começaram a ser vistos, como se nos EUA estivessem.

Os meios instantâneos mostraram as tabelas com as mortes de 60.000 soldados norte-americanos e de 2.700.000 vietnamitas, apresentando aquele genocídio ao mundo.
Dai para a frente o ciclo de inovação, técnicas e tecnologias, deu enormes saltos, diminuindo cada vez mais os interstícios entre etapas, chegando hoje aos surpreendentes 24 meses entre secções de desenvolvimento, implantação e disseminação de meios cada vez mais portáveis, mais diminutos e mais eficazes.

Os campos enunciados pela sociologia, o sócio político, o sócio econômico, e o sócio cultural foram todos influenciados pela diversificação de meios, que tanto serviram para atender demandas, desejos, impulsos e decisões humanas, como para aferi-las e medi-las, tornando instantâneas as atividades de coleta e processamento de totais numéricos para tabelar, decodificar, e entender os novos comportamentos e seus impactos sobre governança pública, empresarial e corporativa, ajudando na construção de novos conceitos como sustentabilidade.

Governos e governantes, empresários e empreendedores, suas medidas, produtos, efeitos e resultados, se encontram atualmente como efeito do processo de informação de massa, uma vez que os comportamentos de consumidores, trabalhadores, eleitores se transformaram em matéria determinante e determinística sobre o poder, tanto público quanto privado.

As previsões de Macluhan se realizam à velocidade de captação do olhar, do ouvido, e da percepção de uma população global de 7 bilhões de seres, cada vez mais informados, mas nem por isso menos angustiados por suas dúvidas não respondidas, nem por suas demandas cada vez mais crescentes.
A complexidade em rede, com elevadas velocidades e baixíssimos tempos de resposta, já permitem que os processos produtivos sejam fiscalizados diretamente pelos consumidores, jogando-lhes às vistas o danoso efeito da poluição em grande escala, sobre terras, água e ar.

A enorme quantidade de insumos, produtos e embalagens, com materiais não degradáveis ou recicláveis, mostra que a tecnologia social, sem qualquer dúvida, será o próximo patamar, para que o consumo consciente passe a condicionar a sobrevivência do planeta e a racionalização dos fatores de produção.

O humanismo e o ambientalismo serão as duas linhas ideológicas que substituirão capitalismo e socialismo, predominantes, e dominadoras, durante o século XX.
A polarização política dominante no século passado foi decorrente de interpretações simplificadoras sobre os impactos da revolução industrial, encerrando as análises sobre seus efeitos e decorrências, de toda ordem, como se as expressões capital e trabalho pudessem abranger e explicar toda a origem e futuro da humanidade.

Nada mais do que instrumentos de dominação e poder sobre as massas humanas, que se concentravam nas cidades e instalações industriais e comerciais do início do século XX.
O mundo foi bi-polarizado por essas duas estreitas dimensões conceituais, ambas ruindo, ao vivo e a cores, nos ano de 1989, no qual a história se encarregou de derrubar o Muro de Berlim e de forçar a realização do evento chamado Consenso de Washington, fatos que comprovaram a falência das bitoladas visões anteriores, que binarizaram as escolhas e opções, como se a subjetividade humana pudesse ser aprisionada e contida em dois quadrinhos de resposta “múltipla”.

A nova sociedade produz tão rapidamente seus saltos quânticos, uma vez que apresentam nano informações e introduzem e reconhecem o ser humano como espectador e observador dos processos, que a visão holística começa a se dar conta de que a informação veloz e renovada, em flashes, tanto pode oferecer conforte de escolha, como permite possibilidades de invasão dos espaços pessoais, familiares, íntimos, e reservados.

As questões éticas, morais, legais, passaram a ser preocupantes quando Edward Snowden, empregado de uma corporação de tecnologia da informação, fugiu dos EUA denunciando a espionagem em escala mundial promovida pelos serviços de segurança daquele país.

Declarações de governantes foram emitidas, posições políticas duras foram enunciadas, mas nada mais se fez do que constar que a informação pelos mesmos meios que entra na vida das pessoas, pode permitir sua visualização, ou audição, por instâncias não percebidas como possíveis, e existentes em aparelhos celulares, em notebooks, em desktops, em aplicativos, em diversas linguagens digitais, mesmo que sub-repticiamente.

Assim como a humanidade se chocou com a visão das mortes nas guerras estúpidas, do lixo excessivo gerado pelo consumo desvairado, que o processo agudamente extrativista submeteu a terra, agora se percebe que o conforto de acessar e difundir informação a partir do nível individual, pessoal, em igual velocidade abre e disponibiliza portas e janelas virtuais, sem qualquer cadeado, tranca ou chaves, possíveis de guardar a intimidade dos seres humanos diante da gula por poder, e por dominação de comportamentos, que visam unicamente, mais poder político, econômico e cultural.

O conceito de sustentabilidade passa a ocupar bocas que enunciam uma nova etapa, mesmo sem saber do que trata esse conceito.
Ignacy Sach, grande sociólogo da crença desenvolvimentista equilibrada, definiu o processo sustentável como aquele que prioriza a vida humana, e sua preservação (o meio ambiente), tendo os níveis econômico e politico como suportes do primeiro.

Disse ele:
“Processos sustentáveis são aqueles que permitam priorizar a vida e sua preservação, apoiados pelos processos econômico e politico, desde que nessa ordem”.
Sachs ainda afirmou:
“Não podemos permitir que as prioridades, puramente economicistas, e de poder, determinem para os seres humanos o que aconteceu com os cavalos na revolução industrial.

Muito se fala de reciclagem e reeducação das pessoas diante dos novos processos industriais e tecnológicos de produção, mas como estariam os cavalos que puxavam carroças e outros transportes, se ainda hoje estivessem esperando serem retreinados e reciclados para novas funções?”
“Portanto esta é a pirâmide sustentável:
1-A vida e sua preservação, como prioridade primeira e maior.
2-Os processos econômico, e político com suporte à primeira prioridade”.

Para encerrar, Yoneji Masuda, grande estudioso da sociedade da informação, cientista social japonês, deixa bem claro em seu livro de 1981, intitulado “Sociedade da Informação” que a sociedade humana terá que estudar e compreender a extensão e a profundidade de todas as transformações que a tecnologia acarretará, capacitando-se amplamente, para evitar que seja dominada por máquinas.

Estas, por sua vez, dominadas por mentes instrumentalizadas com competências técnicas e tecnológicas, voltadas unicamente para o lucro vulgar e o poder sem limites.

Viver será sempre o desafio entre a ânsia de liberdade comportamental, conceitual, dos seres humanos, confrontado pela tendência ao exercício do poder de uma pessoa sobre seus semelhantes.

Isso sempre encerrará o afastamento de escrúpulos e dos padrões éticos, subjetividades humanas, mas que se tornarão essenciais para continuar determinando a livre escolha de pensa, agir, viver, diante das novas e imensas possibilidades de dominar informação, conhecimento e comportamento.



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