Chefe, qualquer um pode ser.
Basta ser nomeado por uma hierarquia superior.
O chefe recebe as orientações,
as implanta no grupo chefiado e cobra resultados e metas.
É, em geral, um
processo pobre, destituído de bons conteúdos e de motivação da equipe.
As
ordens são atendidas dentro de um processo impessoal, frio, que não forma
atitudes colaborativas ou complementares.
Cada elemento faz a sua parte e, com
o tempo, se perdurar o modelo de imposição, as equipes se fragmentam, numa
resultante de amesquinhamento e diminuição das possibilidades laborativas e
criativas.
O individualismo é uma característica encontrada nos grupos dessa
natureza, e o risco de fragmentação da equipe é enorme.
Pessoas chefiadas ficam
menores, se voltam para dentro, não dividem, cada um fica no seu quadrado, sem
conexão, osmose, interatividade, ou parceria.
Outra característica é a enorme
distância entre os níveis hierárquicos, e a ausência de delegação de funções.
Chefes, em geral, são inseguros, dependem da aceitação de poucas ou de uma
única pessoa, são seres ansiosos e angustiados, inseguros, desenvolvem muita
ambição e baixíssima busca de crescimento e expansão de conhecimentos e habilidades,
pois o receio de afastar-se do cotidiano, por medo de que ocorra algo, que eles
não venham a saber, faz com que se agarrem, com todas as forças, a seu espaço
físico de mesa e cadeira, pois ali está o símbolo de seu pequeno e medíocre
poder.
Assim como pequenas e medíocres são as organizações, mesmo as
gigantescas em tamanho, que utilizam esses conceitos ultrapassados. Empresas ou
governos!
Líder, somente os preparados,
vocacionados, treinados para essa atividade podem desempenhá-la.
Pode não se
nascer líder, mas, como em todos os processos humanos, o aprendizado e o
crescimento, emocionais e cognitivos, podem catalisar as transformações.
Existem vários tipos de
liderança, o importante é que o líder seja reconhecido, respeitado, e acatado, pelo
grupo que irá liderar.
Se não houver essa etapa, qualquer processo de imposição
poderá comprometer a harmonia da equipe, como um todo.
Um dos melhores exemplos de
liderança, sempre uso esse exemplo por ser muito rico e ilustrativo, é o do
maestro de orquestra.
O maestro é uma peça fundamental
nos ensaios de orquestra.
Ele não sabe tocar todos os instrumentos, mas sabe
perfeitamente o espaço e a atuação de cada um.
Ele deixa todos os músicos bem
informados sobre as suas atuações, tendo à sua frente a partitura completa.
A
grande missão de uma orquestra é oferecer beleza e harmonia, para quem a ouve,
e vê.
Nas apresentações é mais uma
baliza, um orientador sutil dos movimentos e intensidade, dos músicos, pois sua
função principal, seu maior investimento se dá nos ensaios, nos treinamentos,
nas capacitações que a orquestra pratica, quando, pelas mãos e pela
sensibilidade do maestro, é passada a importância da harmonia entre os
instrumentos, da beleza que deve ser sentida, percebida, extraída das notas do
compositor, para que possam ser passadas ao público, quando das apresentações.
Os músicos precisam saber e
conhecer a fundo todos os detalhes da composição, que irão executar.
Qual a
fase histórica na qual o compositor viveu a elaboração, quais os contextos
humanos, sociais, políticos, históricos e geográficos, exerceram influências,
objetivas e subjetivas, na sua concepção.
Beethoven, o grande compositor,
um dos maiores da história da música clássica, nos oferece alguns exemplos
riquíssimos, e emocionantes.
Em uma determinada fase da
Europa, quando Napoleão Bonaparte desencadeou uma série de lutas por libertação
e direitos humanos, como alegava no início de sua caminhada como líder
continuador dos processos gerados pelo humanismo e pelo iluminismo, Beethoven
dedicou a ele uma sinfonia, com aspectos heroicos, para homenagear o homem que
se apresentava à Europa, e ao mundo, como um libertador.
A partir do momento em que
Napoleão, embriagado pelo poder, pela força conquistada, pela sensação de
iluminado, se auto intitulou como “Imperador”, passando a tomar atitudes
despóticas, prepotentes e autoritárias, Beethoven reescreveu a dedicatória que
havia colocado na composição inicial, escrevendo: “Para um homem que FOI
grande...”
Outro episódio na vida de Beethoven
foi quando ele, já surdo, atormentado pela brutal dificuldade em ouvir os
próprios sons magistrais, que criava, passeava, numa noite, por um bosque,
quando se aproximou da cabana do guarda florestal.
Pela janela pode ver uma menina
pequena, sentada a um piano, e que apresentava grande dificuldade em tocar as
teclas.
Depois de um certo tempo ele percebeu que a menina era cega e tentava,
na sua solidão, captar algum som daquele instrumento.
Beethoven entrou na pequena casa,
sentou-se ao lado da menina e, emocionado, compôs uma das mais belas páginas da
música.
A emocionada, e emocionante Sonata ao Luar. (vale a pena ouvir!)
Era uma noite de luar e ele deu
esse nome à composição, que dedicou àquela pequena pessoa, que pode participar
de um momento tão lindo, sem saber que ao seu lado estava um dos maiores
compositores da época e, depois, da história.
Quando músicos, intérpretes e
solistas, são conscientizados dos detalhes sobre as composições, sem qualquer
dúvida, suas emoções interpretativas serão muito mais amplas, variadas,
emocionadas, motivadas, e o resultado final, ao público, será rico, envolvente,
gratificante, recompensador.
Não é à toa que exemplos de
orquestra me motivam tanto a usá-los.
Se olharmos com cuidado, as duas
palavras, regência e gerência, apenas com a inversão de uma sílaba, nos mostram
que ficam iguais.
O processo de liderança pode ser
muito rico, profícuo, e motivador, na medida em que for aplicado, e
desenvolvido com a visão voltada para as pessoas, da equipe e para as quais a
equipe deve servir, ou atender.
A compreensão dos processos, do
mais amplo para o menor, é necessária, pois a compreensão do todo dará aos
membros do grupo a visão ampla adequada para embasar suas ações individuais e
coletivas.
Esses conceitos, acima enunciados
são parte importante de palestras e seminários, que apresento e desenvolvo
sobre liderança e sua formação adequada.
Entender bem o processo
democrático, nas empresas e na área pública e governamental, é essencial para
que consumidores, contribuintes, e eleitores se sintam bem atendidos em suas
demandas, necessidades, e expectativas.
Mas simplesmente querer se
classificar como líder, quando não se tem a competência emocional,
comportamental e cognitiva para isso, com certeza, irá gerar frustração e
desgostos nos públicos atendidos, seja em processos de consumo ou de escolha de
legisladores ou dirigentes.
Muitos chefes, só por terem sido
nomeados ministros ou secretários, podem incorrer no erro de Napoleão e
passarem a se achar um “Imperador”. O mesmo em casos de gerências ou
diretorias.
Mas muito cuidado, nessa hora.
A informação abundante, hoje
existente, a ânsia por transparência, e coerência, faz com que eleitores, e
consumidores, estejam com suas consciências muito ligadas, antenadas,
sintonizadas, fazendo com que falsos “Imperadores”, despreparados e autoritários,
poderão ser facilmente desmascarados e condenados ao esquecimento, ao exílio
social, ou ao desprezo, como ocorreu com Napoleão, quando foi aprisionado na
Ilha de Elba.
Na liderança autêntica, efetiva,
verdadeira, algumas das principais características, que fazem toda a diferença
com simples chefes, são: a humildade, a simplicidade, a alteridade, a empatia,
o respeito pelos outros, e saber absorver as lições que a vida sempre nos
oferece.
Não precisamos conseguir ver e
ouvir tudo, e aí está o grande Bethoven para nos comprovar isso.
Mas, como ele, será a
sensibilidade, a vontade de servir, o envolvimento com os problemas reais, que
causarão as transformações, que levarão ao entendimento e à criatividade.
E, portanto, à inovação, palavra
que muito se usa hoje, que já foi repetida indevida e erroneamente, pois poucos
são os que inovam efetivamente, e muitos os que a pronunciam, sem jamais tê-la
entendido adequadamente.
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(Obs.: Este texto foi inspirado
na figura de minha amada Mãe, e é uma pequena homenagem à ela. Todas as
citações musicais e minha cultura a respeito, devo à ela, pianista clássica,
grande liderança feminina e familiar, que sempre usou a beleza da música, e sua
harmonia, para educar 9 filhos, apresentar belos concertos, e ainda ser
companheira de meu pai, um oficial aviador, advogado, idealista, que participou
intensamente da história política do século XX, nas revoluções de 1930, 32, 35,
e como voluntário internacional na guerra civil espanhola, onde lutou durante
um ano, ao lado da República, tendo sido aprisionado em um campo de
concentração na França, por mais um ano, quando para lá se retiraram as
Brigadas Internacionais, no governo colaboracionista com o nazismo, de Daladier.
-Ela vive em São Paulo e ainda
toca piano todos os dias, ligando-me muitas vezes, inspirando-me e
motivando-me, por telefone, com sua incansável sensibilidade, e alegria de viver.
Alegria que foi o tema e a inspiração de Beethoven para compor a 9ª.
Sinfonia-Ode à Alegria.)
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