segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

ELIANINHA E ELIANE, MINHA IRMÃ QUE FALECEU EM 20.12.2007.



a vida nos leva pela mão.
a nossa e a dela.
essa mão invisível, que nos indica escolhas, direções, caminhos...
as pessoas, que levamos conosco, em nossa companhia, ou nas recordações,
são como nosso patrimônio, ora material, ora imaterial.
mas além das suas companhias físicas, ficam suas lembranças, as palavras ditas,
as músicas, os contextos.
Eliane sempre foi um anjo de luz.
mesmo em vida me parecia que ela tinha consciência da sua missão.
nunca foi apegada ao material, sempre solidária com quem necessitasse algum
tipo de apoio, de ajuda, de ser ouvido, de ter um ombro amigo.
apesar de sua extrema sensibilidade,e aparente fragilidade, Eliane sempre foi
um ser de grande coragem, conceitual, física, emocional, afetiva.
mesmo em meio a situações, que a consumiam em dor e revolta, ela destinava
tempo e atenção para apoiar, abraçar, ser irreverente com o motivo da dor, fazer
rir, relativizar a dimensão da agressão.
e a prova de seu desprendimento, de sua capacidade de doação, de seu amor
envolvente, protetor, foi o conjunto de sua vida terrena, durante a qual ela deu
tudo o que tinha, para quem necessitou, abrigou pessoas pobres, desprovidas de
alimento, de saúde, de medicamentos, dando-lhes o que de melhor a sua condição
material permitisse.
sempre foi simples e humilde.
nunca badalou seu nome, sua participação em qualquer que fosse a ajuda dada.
menores de rua, infratores adolescentes, aidéticos e seus filhos, a todos estendeu
suas mãos bondosas, com alegria, aconchego, conforto físico e espiritual.

quando fui a SP, para seu velório, e cremação, em torno de seu caixão estava uma
menininha, que não parava de observá-la, de todos os ângulos possíveis.
ela tinha um vestidinho cor de rosa, uma argolinha que lhe segurava os cabelos, e
um olhar vivo, alegre, quase sorridente.

me aproximei dela e lhe perguntei quem era, de onde viera.
ela me disse: meu nome é Eliane, sou a Elianinha, pois a Eliane é a que morreu e
está neste caixão.
meu nome foi dado por meus pais em homenagem a ela. tenho muito orgulho de
me chamar Eliane.
meu pai era um adolescente da fundação dos menores de rua, e a Eliane foi diretora
de lá.
mesmo depois de ter saído da fundação ela continuou ajudando meu pais, e depois 
ajudou que ele se casasse, e ainda deu muitas coisas para meus pais.
agora ela morreu, mas para mim ela mora em meu coração, para sempre.

não consegui resistir a essas palavras tão espontâneas, tão amadas, de uma pequena 
criança.

chorei muito, abraçado a ela.
e a Elianinha, como fazia a Eliane, me abraçou com muito carinho, passava as suas
pequenas mãos pelos meus cabelos e dizia: não fica triste, ela está bem, ela vai ficar
sempre em nossos corações...
e ela me contou muitas outras coisas da minha querida irmã Eliane, quando a visitava em
sua casa, as músicas que ouviam juntas, as comidas que inventavam, os filme que viam,
os doces que comiam nos cafés da tarde, 
e tudo isso me veio à memória, nesta segunda-feira véspera de Natal.

aliás, época em que, quando éramos crianças pequenas, entre 6 e 9 anos, em Ipanema,
saíamos pelas ruas correndo e dizendo a todas as pessoas que por nós passavam, com
gritinhos de alegria infantil, FELIZ NATAL...

a extensão desta mensagem, desta reflexão, desta recordação, é um
pouco do que fica guardado no peito, nas memórias afetivas, e que quando menos esperamos,
elas se derramam à nossa frente, como um filme...


feliz 2014, Elianinha...



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