Florianópolis, a bela capital do estado de Santa Catarina, é uma das cidades que tem forte participação no panorama nacional de moda.
Os cursos superiores nessa área, a tradicional e respeitada indústria têxtil do estado, atestam a demanda existente por profissionais de alto nível e justificam o grande mercado que se formou, com expressivo numero de lançamentos e design criativo, a partir de grifes notabilizadas pela inovação e elegância.
Além de Rio e São Paulo, Florianópolis é presença permanente no circuito nacional desse ramo, tendo a sua semana de moda, a exemplo daqueles dois consagrados centros nacionais.
Várias mulheres, demonstrando suas capacidades empresariais, despontam com lojas, butiques, estúdios e lançamentos, e compõem esse segmento, que, junto com a tecnologia, fazem da descolada e agradável Floripa, um novo centro nacional de qualidade de vida.
Ao vermos essa realidade presente, somos levados a 25 anos atrás, quando encontramos as raízes desse sucesso e as bases da transformação de nossa então pacata, pesqueira e governamental cidade.
No ano de 85 o prefeito Edson Andrino foi eleito, depois de 21 anos de ditadura militar, recebendo a incumbência de reciclar a capital de SC.
Reciclar não seria bem o termo, transformar talvez seja mais adequado.
Além dos aspectos sócio-políticos, no sentido de recolocar a gestão pública novamente a serviço da cidadania e do desenvolvimento da cidade, era necessário repensar rapidamente o modelo de desenvolvimento.
Sentindo o fim do ciclo da pesca artesanal, percebendo que as atividades públicas e governamentais não mais suportariam ser a grande, e quase única. opção empregadora para a oferta de mão de obra, o prefeito criou as condições essenciais para a implantação do pólo de informática, hoje pólo tecnológico, implantou o pólo do vestuário e forneceu as condições básicas para que se desenvolvesse o primeiro sistema de informática social do Brasil, associando-se à UFSC, à Comissão sobre desemprego da Assembléia Legislativa e à Embratel.
Além disso, empreendeu forte prioridade para a capacitação, e modernização, dos recursos humanos da prefeitura e dos processos internos e de atendimento, iniciando a informatização de toda a máquina municipal.
Essas atitudes fizeram com que o pioneiro sistema de informática social fosse aproveitado pelo Ministério do Trabalho, vindo a SC o então ministro Pazianotto, que conveniou e obteve autorização para automatizar o Sine/SC, depois espalhando essa solução inovadora, para todo o Brasil.
O pólo dos vestuário foi desenvolvido como uma nova opção econômica e geradora de grande numero de empregos, tendo em vista a crise na pesca artesanal e a disponibilidade de potenciais capacidades ociosas, principalmente entre as mulheres ligadas a aquela atividade.
Para comandar esse setor, foi convidada a empresaria Ninita Muniz, mulher corajosa e empreendedora, que, tendo saído de Lages, se instalou em Florianópolis com sua atividade de costura e criação de moda.
Ela já havia construído uma Maison, que pode ser considerada das primeiras instalações catarinenses, nos moldes franceses da boa costura e da elegância.
Ninita tinha mãos de fada, para a criação, design e costura. Seus vestidos eram procurados e valorizados por toda a sociedade e se transformaram em ícone de alto nível no bem vestir.
Ninita entendeu a magnitude da missão que lhe era atribuída, arregaçou as mangas e coerente com suas crenças, e estilo de vida, desenvolveu o planejamento e a pronta execução de todas as etapas de base para o pólo do vestuário.
Simples, direta, odiando a burocracia e a protelação, dispondo de pequena equipe, Ninita inoculou em todos que a cercavam, suas características de inquietação e criatividade.
Fez parcerias com empresas privadas, cobrou da máquina pública eficácia e rapidez, ignorou as limitações culturais, econômicas e políticas, desprezou a bitola estreita da incompetência governamental, que tinha criado nos últimos anos vários programas com pomposas siglas com a pseudo-missão de financiar a criação de novas opções econômicas, e colocou o processo para andar e avançar.
Percebendo na estrutura da educação formal a ausência de cursos específicos para uma atividade de vestuário, criou e implantou um centro de capacitação em costura e moda e passou a formar a nova profissional dessa área.
Formou milhares de pessoas, estimulou a criação de centenas de empresas industriais e ajudou a mudar o perfil de uma adormecida potencialidade produtiva, que fora desfigurada pela paternalista e apaniguadora presença concentrada das máquinas publicas municipal estadual e federal.
Ninita ajudou a transformar os pedintes de emprego, da indigna relação de dependência do favor politiqueiro, em orgulhosos profissionais que compreenderam, e resgataram, as possibilidades de uma vida autônoma e republicana sem a mediação do poder, que, naquela época de redemocratização, era quase absoluto.
Graças ao trabalho de Ninita Muniz, mais de 1.000 empresas industriais, não poluentes, foram implantadas em Florianópolis, ajudando a cidade a resgatar a sua autonomia, a sua auto-estima e construindo uma nova imagem externa.
Por isso, hoje, dia 8 de março, único dia mundial no qual se reverencia a Mulher, que como ser humano deveria ser festejada, e reconhecida, em todos os dias do ano, homenageamos o feminino na figura e no nome de NINITA MUNIZ.
Ninita é como outras tantas mulheres que ajudaram a melhorar o mundo, a diminuir o preconceito, a construir mais dignidade para o trabalho e oportunidades igualitárias na sociedade.
Ninita é como Simone de Beauvoir, é como Coco Chanel, Cora Coralina, Telma Piacentini, Rosa Weingold Konder, Zilda Arns, Clara Shumann, George Sander, símbolos da inteligência e competência, características da mulher.
Ninita merece ser lembrada, e resgatada, pois ela efetivamente quebrou paradigmas, criou nova fase, e face, para Florianópolis e seu nome deveria sempre ser lembrado e homenageado em toda e qualquer atividade ligada à indústria do vestuário, da inovação e da moda.
Se me perguntam como lembro de Ninita, que hoje vive reclusa em sua propriedade nos Ratones, respondo que a recordo pelas palavras coragem, destemor, sonho e ousadia.
E penso que ela ainda não foi devidamente reconhecida e homenageada pela cidade, e pelo estado, que foram beneficiados por suas sensibilidade e competência.
Nestes tempos em que se discute um novo nome para a Capital de SC, para olvidar de um carniceiro autoritário Floriano, quem sabe um nome leve, bonito, que oferece um forte sentido a quem o pronunciar?
Quem sabe a nova Floripa, em reconhecimento a um de seus pilares conceituais e humanos, passe a chamar-se Ninópolis?
A cidade de uma mulher que deu sua vida, sua bondade, seus sonhos e coragem, deixando-nos como herança a feminina imagem da inteligência, da beleza, da estética e da suavidade.
5 comentários:
ola Danilo, não encontrei um email seu, resolvi te pedir por aqui mesmo, adorei o texto sobre a Ninita Muniz, eu estou fazendo o meu TCC de arquitetura, sobre a casa do Governador Hercilio Luz, e ali foi a sede do atelier (maison) da Ninita, gostaria de contacta-la, para que ela me passe mais informações sobre a casa... tens algum contato dela!meu email -e ricomendonca@gmail.com
fico no aguardo,
abraço
Muito muito muito especial, marcante,enigmática,densa,complexa,justa,amiga,intensa,incansável,perplexa,e sem duvida todos eramos coadjuvantes no seu roteiro,ela era o centro,a rainha,a dona das nossas vidas.
Como sua filha aprendi que nãda é impossível e que não existem limites
Tambem adorei o texto sobre ela e digo mais ,ela estaria sacudindo essa cidade até hoje não fosse sua saude impossibilitá-la
Tiça Muniz
Ninitópolis era o mundo em que eu vivia enquanto ela predominava nele. Como dizia meu pai:"Uma mulher de fibra".
Amei seu texto, digno de Ninita, muito justo ela ser lembrada no dia 8 de março.
Emocionei-me com os comentários de suas filhas....
Também conheci Ninita ainda criança, minha mãe foi sua costureira na década de 70...,
Ela, como também minha mãe me inspiraram na escolha da minha profissão.
Meu trabalho de conclusão da especialização em moda foi sobre Ninita “ A trajetória de uma modista, Ninita Muniz” e hoje faço mestrado tendo como tema de meu projeto também Ninita- quebra paradigmas (o estudo é este, mais não é nome oficial).
Embora este comentário seja feito a quase um ano depois de postado, merece sempre de ser comentado a cada vez que é lido. Parabéns!
mary.clasen@unisul.br
Lindo texto, a Ninita faz parte da história de Santa Catarina.
Um detalhe: a proposta da Ninita, de criação do polo do vestuário foi tema daquela campanha vitoriosa do Edson Andrino. Entre os argumentos pioneiros para a época ela citava: geração de renda com uma indústria não poluente.
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