quarta-feira, 3 de março de 2010

Estado de Vulnerabilidade



A tragédia que se abateu sobre o Chile teve repercussões humanas em Santa Catarina.
Várias centenas de turistas que se encontravam em Balneário Camboriu, tradicional ponto de férias de verão, ficaram em situação constrangedora com o terremoto que atingiu aquele pais.
Sem recursos para custear sua permanência compulsória no Brasil, não podiam voltar ao Chile, por completa falta de condições, uma vez que sua pátria estava imobilizada pela amplitude dos abalos sofridos.
Sem dinheiro para pagar hospedagem e alimentação, sem comunicação com suas famílias e sem qualquer possibilidade de apoio pelos representantes diplomáticos chilenos, estavam sem perspectiva de solução imediata para permanecer e retornar.
Numa atitude sensível e corajosa, o prefeito daquela cidade tomou a iniciativa de declarar “estado de vulnerabilidade”, protegendo com ato oficial da municipalidade a cobertura das despesas que assustavam os turistas, forçados a permanecer em nosso país.
Com essa medida, todos os turistas da terra de Pablo Neruda, puderam ter um pouco mais de segurança e aguardar o desfecho de sua volta.
O governador do estado, estimulado pela ação do prefeito, declarou que se necessário poderia emitir uma medida provisória para apoiar o gesto do prefeito.
Ambas as atitudes são louváveis e merecem o reconhecimento de todos, pela solidariedade humana que encerram e pelo apoio que representam para aqueles seres humanos angustiados por retornar a um pais abalado pela desgraça.
Tão bons esses exemplos, que deveriam ser estendidos às cidades, e cidadãos, que foram atingidos pelos acidentes da natureza, como enxurradas e desabamentos de morros, que Santa Catarina sofreu recentemente.
Blumenau é uma das cidades que ainda sofre com o saldo das mortes e grande numero de desabrigados das chuvas e quedas de morros e barreiras.
Se ainda existirem pessoas e grupos familiares em instalações provisórias, fora de suas casas e do convívio normal, e digno, em família, poderia o governo do estado gerar uma ação no padrão de Camboriu, oferecendo hospedagem em bons hotéis e alimentação adequada em restaurantes de bom nível, a quem ainda permanece afastado de suas vidas normais, por fatores também naturais e involuntários.
Se turistas merecem, e merecem mesmo, todo nosso respeito e apoio, muito mais merecem nossos irmãos que aqui residem, pagam seus impostos, trabalham, criam seus filhos e esperam a oportunidade, não de retornar ao Chile, mas para as suas casas, seus bairros e seus contextos afetivos e sociais.
E esse procedimento, acenado pelo governador em visita a Camboriou, poderia se transformar em providência habitual quando da ocorrência de outros não desejados eventos catastróficos da natureza, oportunizados pela ação nefasta, e sem controle adequado, da ocupação e especulação imobiliária, desordenadas e não policiadas.

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