-Impactos e possibilidades de atuação
-A empresa pós-seculo XX
Uma empresa é uma unidade social produtiva.
Ela utiliza insumos, capitais financeiros e intelectuais , gera produtos e serviços que são consumidos por seu público cliente.
A empresa está inserida em um meio, em sua produção e na fase de consumo, que recebe seus impactos, tanto positivos quantos negativos.
A área de impacto da ação das empresas não é restrita, somente, ao seu ambiente físico de atuação.
A questão ambiental, natural e humana, e as decorrências dos processos utilizados reper-cutem além dos muros e dos processos internos.
Peguemos dois aspectos pouco estudados, ainda:
o lixo pós-industrial e o lixo pós-consumo.
Nos processos de transformação, mesmo que sem efluentes químicos ou tóxicos, as sobras são em volume significativo.
Após o consumo, os materiais de embalagens intermediárias e finais estão gerando novas figuras urbanas, além dos prédios em profusão.
Os montes de cartões, caixas, plásticos, fitas adesivas etc, são a prova de que algo novo precisa ser analisado devidamente.
Insumos intelectuais e inteligência são fornecidos por pessoas para as empresas.
A atualização e reciclagem desses insumos são requeridos pelos processos industriais ou de serviços e impactam diretamente os sistemas educacionais.
A inovação tecnológica impacta pessoas e postos de trabalho, ocasionando novas figuras legais e formas de relações contratuais de mão-de-obra.
A terceirização, em suas diversas formas, muda a visão de trabalho e emprego e cria novas situações de empregados-empresa e de fornecedores de mão-de-obra,especializada ou não.
A sociedade muda por evolução humana, por novas descobertas científicas, por questões ambientais etc.
Mas a mudança que mais impactos tem gerado desde a revolução industrial é a questão do trabalho aliada a urbanização.
O deslocamento de grandes contingentes humanos da agricultura para a vida urbana em função da industrialização afastou as pessoas de um processo produtivo altamente partici-pativo com visão do todo, para a execução de tarefas atomizadas e sem visão do todo.
Atualmente os empregados, os com-trabalho,os desempregados,os sem-trabalho,os consu-midores,os sem-consumo,os incluídos e os excluídos, são resultados de impactos gerados na relação de acesso aos benefícios do desenvolvimento e dos padrões sociais e valores humanos construídos no caldeirão capitalista.
Como o capitalismo no Brasil decorre de uma relação bastante incestuosa com valores e favores públicos, comportamento construído e herdado da corte portuguesa e da implantação de um estado que se instalou de cima para baixo, existindo ou não uma sociedade ou uma nação, temos, hoje, ainda, muito compadrio na relação entre estado/governo/capital privado, gerando distorções na cidadania e na função social de muitas empresas, dirigentes, investidores e cidadãos.
A herança das capitanias hereditárias, os quase quatrocentos anos de escravidão e pouca dignificação do trabalho, o desestimulo ao empreendedorismo privado, a promiscuidade entre público e privado e a dificuldade de separar o coletivo do interesse individual, causou o aparecimento de atitudes paternalistas e pontuais na ação social das empresas.
Por muito tempo confundiu-se assistencialismo e caridade com atuação social
A responsabilidade social era nublada pela visão de doações, da construção de algumas creches e quadras de esporte.
Com o aparecimento de teses sérias e comprometidas com a sociedade real e de algumas estruturas honestas e intelectualmente comprometidas com ética e justiça social, comporta-mentos foram sendo influenciados e atitudes novas surgiram.
Responsabilidade social não é demagogia, é uma visão real de promover a justiça social, a inclusão pelo trabalho e pela educação e a preservação ambiental.
Essa nova visão tem permitido, nos últimos anos, nova realidade na concepção de atuação das empresas e sua responsabilidade com o que ocorre além de suas atividades eminente-mente corporativas.
Responsabilidade social se refere ao “sócio” como um todo.
Os campos sócio-cultural, sócio-econômico e sócio-político devem ser o foco de atividades sérias e comprometidas com a sociedade como um todo e não somente com os mercados.
Empresas são organismos vivos que interagem com pessoas, fornecedores,investidores, consumidores, ambientes, governos etc.
Suas responsabilidades sociais se estendem a todos esses campos.
O ser humano tem várias dimensões que se articulam em um único corpo: ele é, ao mesmo tempo, consumidor, contribuinte, trabalhador, pai, mãe, filho, filha, eleitor etc. e atender ou esperar a manifestação de uma ou somente algumas dessas dimensões gera o esquartejamento dos seus sentimentos, podendo comprometer sua auto-estima,sua participação social, sua performance como ser produtivo e sua alienação na sociedade.
A responsabilidade social é fator inerente a existência e desenvolvimento de empresas sérias e competentes e a ação nesses campos é um fator crítico de sucesso para seus produtos e serviços.
Os cuidados com o meio-ambiente, a atenção aos trabalhadores e suas famílias, o entorno das suas instalações, a educação e reciclagem de sua equipe, a educação ambiental,a separa-ção e classificação de seu lixo,o tratamento adequado da água e seu uso racional,a coleta de água da chuva, o uso de energias alternativas, a prevenção a atividades potencialmente poluidoras são exemplos que já podemos constar em muitas empresas catarinenses , o que demonstra que lucro e boa aceitação social podem conviver e não somente devido a propaganda enganosa ou de fachada.
Em nosso estado temos empresas que, em paralelo a sua racionalidade empresarial e ganho de significativos lucros, defendem a natureza, constroem parques de preservação,incluem seus trabalhadores em programas de educação e reciclagem e participam ativamente dos campos político e institucional,oferecendo opções de desenvolvimento humano compatíveis com a natureza democrática . Todas as sociedades tidas hoje como desenvolvidas ou de “primeiro mundo” apresentam forte legislação ambiental, regimes democráticos com amplo controle social, estado regulador e exercendo seu poder de polícia e partes significativas dos lucros e receitas das empresas comprometidas com o desenvolvimento social por meio de ações complementares e solidárias com as pessoas.
Danilo Cunha
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