domingo, 13 de maio de 2007

Olhar histórico e reconciliação

Nossa construção histórica foi autoritária e centralizada, advinda do colonialismo e de um “estado-corte” que se implantou no Brasil, independente da existência de uma sociedade, de forma vertical, unidirecional.
Esse “estado-corte” produz adeptos e efeitos até hoje, bastando olhar as formas pouco sensíveis de governar que, via de regra, se notam na atualidade.
Fala-se com muita facilidade na violência e no narcotráfico, como se esses fenomenos da contravenção ocorressem espontaneamente.
Na verdade é a violência do excluido uma reação à ação de violência da injustiça social, da corrupção, da impunidade de colarinho branco.
O narcotráfico é uma conseqüência do narcoconsumo.
Fala-se com medo e preconceito das favelas e periferias urbanas .
O processo de favelização é uma conseqüência de uma sociedade desigual e excludente, que aceita o conceito da exclusão social, desde suas origens escravagistas.
O individualismo exacerbado nos embota a sensibilidade para compreender a sociedade como um todo e permite que nosso país ostente a deplorável cifra de milhões de pessoas em condição de miséria.
A ganância alienada e alienante, o desrespeito com a natureza permite que nosso território, nossas costas e nossas cidades sofram violentas agressões e destruições ambientais, como se o concreto pudesse substituir nossos mananciais, nossos rios,nossa água, nosso ar e nossos sonhos de nação.
Urge uma mudança, urge uma nova atitude, urge uma nova postura e urge um novo conceito para nossa sociedade.
É fundamental a elaboração, a construção de um pacto. Que envolva uma atitude responsável e solidária e que permita um grande movimento nacional de reconciliação. Um Pacto que contenha um Projeto de Nação para a sociedade Brasileira.
Uma visão estratégica que passe a valorizar o grande capital multiracial, multireligioso e
multicultural que construimos no Brasil. Um Projeto de Nação que valorize nossas riquezas naturais, nossas fontes de energias alternativas e nossas reservas . Precisamos reconciliar :
o ser humano consigo mesmo, o alfabetizado com o analfabeto, o homem com a mulher, o branco com o negro e o índio, quem tem com quem nada tem, o ser humano com a natureza, o jovem com o velho, o livre com o preso .
Para isso, precisamos reolhar nosso semelhante, reconhecer nossosirmãos que sofrem, nos re-ligarmos ao todo e nos reconciliarmos com a vida.
Precisamos criar a nova cidadania desse novo tempo que precisa surgir.
De Carlos Drummond de Andrade , citamos :
...”entre a raiz e o fruto, há um tempo...”
E interpretamos:
a raiz é a base, são os conceitos, as construções e elaborações humanas, raiz é a crença, a ancestralidade, a história, os valores, a herança, a cultura, o substrato. O fruto é o resultado, a colheita do que plantamos, a gratificação da semeadura. O fruto é a mudança alcançada, o futuro sonhado, o sonho construído. O tempo é o processo, o transcurso, o caminho, a espera,o conflito,o aprendizado, a maturidade. O tempo são os filhos, as escolhas, os rumos, as eleições , todas as opções de vida . O conjunto raiz, fruto e tempo é a vida . A vida é processo integrado, interativo, conflitivo, evolutivo e continuado. Não existe vida isolada . A vida depende de outras vidas . O ser humano é vida portanto ele se potencializa e se desenvolve no coletivo.
O coletivo é o espaço de todos e para todos .


Danilo Cunha- 2002

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