Bertha Lutz nasceu em 1894, e foi
pioneira nas lutas femininas no Brasil.
Filha de uma enfermeira inglesa,
de nome Amy Fowler e do cientista e pioneiro da medicina tropical, Adolfo Lutz,
Bertha Lutz estudou biologia em Paris.
Ainda adolescente foi estudar na
França e licenciou-se em ciências na Universidade de Sorbonne.
Retornou ao Brasil aos 24 anos e
ingressou como bióloga no Museu Nacional.
Na França se aproximou do
movimento sufragista europeu, pelo qual as mulheres do velho mundo lutavam por
conquistar seu direito ao voto.
No Brasil, desde a sua
proclamação, a República rateava nas suas promessas de instituir o voto
feminino.
Bertha Lutz mergulhou na causa
sufragista brasileira, mesmo continuando com sua carreira científica, na área
da biologia.
As posturas masculinas em relação
à participação integral da mulher na vida política do Brasil continuavam
aferradas a uma posição conservadora, que via na mulher um ser de segunda
classe.
Bertha Lutz não se resignou a uma
postura de simples protestos e aceitou um processo de transformação.
Para dominar as ferramentas
legais, e legislativas, sem as quais as mulheres ficariam à margem das
discussões sobre a cidadania plena, Bertha Lutz foi estudar direito e formou-se
advogada, para qualificar sua luta pelos direitos plenos da mulher.
Após grandes litígios e muitos
enfrentamentos, a campanha sufragista brasileira com Bertha Lutz como uma de
suas maiores lideranças, conquistou significativa vitória no ano de 1932,
quando o voto feminino foi aprovado, mas com ressalvas inaceitáveis.
O voto aprovado naquele ano era
restrito e exigia da mulher uma “tutela” do marido.
Após mais 2 anos de muita luta, o
voto pleno, digno, independente, foi implantado no Brasil, em 1934.
Bertha Lutz marcou a sociedade
brasileira com a publicação, em 14 de dezembro de 1918, de um manifesto
contundente, publicado na Revista da Semana, sob o título “Somos filhos de tais
mulheres” e assinado com o pseudônimo de Iracema.
Em certo trecho desse manifesto
pode-se constatar a bravura das posições e conceitos gerados e difundidos por
aquela lutadora:
“A mulher, que não puder
conseguir ser compreendida na Declaração dos Direitos do Homem proclamados pela
Revolução Francesa, poderá ficar como a grande pária e dolorosa escrava, que
usa braceletes de ouro em memória das algemas de ferro...”
Ao longo de significativa
carreira científica, muito importante para o Brasil, e no campo da cidadania
feminina, Bertha Lutz ocupou importantes postos e posições, nas quais sempre
impôs sua luta pela participação plena da mulher nos destinos de nossa nação.
Bertha Lutz representou o Brasil
no Conselho Feminino Internacional, órgão da OIT-Organização Internacional do
Trabalho, onde foram aprovados os princípios de salário igual para ambos os
sexos, e a inclusão da mulher no serviço de proteção aos trabalhadores.
Em 1919, junto com outras
lideranças femininas, criou a Liga Para a Emancipação Intelectual da Mulher,
que foi o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino – FBPF.
Em 1922 foi delegada oficial do
Brasil na I Conferência Pan-Americana de Mulheres.
No mesmo ano, durante os dias 19
e 23 de dezembro, realizou o I Congresso Internacional Feminista, que
consolidou a FBPF.
Evento que foi apoiado pelo
senador catarinense Lauro Muller.
Bertha Lutz teve participação
essencial e expressiva na criação da União Universitária Feminina, e participou
da redação do Código Eleitoral Brasileiro, que implantado em 1932 incluiu o
voto feminino.
Nada fácil para uma mulher, na
primeira metade do conservador século XX, envolver-se numa luta dessa dimensão
e profundidade.
Como todas as mulheres, que
enfrentaram mudanças e transformações em suas vidas, Bertha Lutz enfrentou
enormes pressões, ofensas, tentativas de difamação, pois os que não desejavam a
presença e participação, plenas, da mulher na sociedade brasileira, não davam o
braço a torcer, usando de todos os expedientes para tentar desqualificar uma
adversária, que não se limitou à uma posição de mulher limitada e dependente, e
que foi às arenas quase exclusivas masculinas, para assegurar direitos plenos à
mulheres brasileiras.
Como expressão de suas lutas
intensas, Berth Lutz aceitou concorrer a alguns cargos eletivos, para comprovar
que a mulher pode e deve participar de eleições, pois não bastava formular
direitos, era necessário disputa-los e confrontar linhas de pensamento
divergentes.
A participação de Bertha Lutz nas
eleições de 1934 não a elegeu, mas nesse ano muitas mulheres foram eleitas no
Brasil, sendo 9 deputadas estaduais, entre as quais a primeira mulher deputada
na Assembleia do Estado de Santa Catarina, Antonieta de Barros.
Bertha Lutz, na condição de
suplente eleita, chegou a assumir o mandato de deputada federal em 1936.
Como legisladora Bertha Lutz
apresentou o projeto do Estatuto da Mulher e a criação do Departamento Nacional
da Mulher.
Em 1945 Bertha Lutz foi delegada
plenipotenciária do Brasil junto à Conferência de São Francisco-USA.
Em 1946 Bertha foi premiada com
viagem aos EUA participando do Club Soroptimista, sendo considerada a Mulher do
Ano.
Em 1951 foi premiada com o título
de Mulher das Américas, e em 1952 foi representante do Brasil na Comissão de
Estatutos da Mulher da ONU, organização das Nações Unidas.
Além de seus trabalhos científicos,
na área da biologia, Bertha ocupou outros importantes espaços políticos e
públicos, tendo participado de várias entidades internacionais, tais como:
-Aliança Internacional pelo
Sufrágio Feminino e Igualdade Política dos Sexos (Londres), Sociedade
Internacional de Mulheres (Washington), Bureau Internacional de Proteção à
Natureza, Bureau Internacional do Trabalho (ONU), Museu Americano de História
Natural (Nova York).
Em 1975 Bertha Lutz foi convidada
para ser delegada no primeiro Congresso da Mulher, realizado pela ONU, no
México, ano em que a mesma ONU estabeleceu como “Ano internacional da Mulher”.
Após mais essa vitória em sua
caminhada e luta pelos direitos da mulher, Bertha Lutz, já adoentada e com a
saúde frágil, veio a falecer em 16 de setembro de 1976.
Bertha Lutz trabalhou durante 46
anos como docente e pesquisadora do Museu Nacional. Foi reconhecida
internacionalmente por suas pesquisas zoológicas de espécies anfíbias.
Escreveu vários tratados e
Estudos científicos dentro de suas áreas de atuação, tendo deixado estudos na
área jurídica, além da sua atuação na construção de um novo patamar, e
paradigma, para a situação da mulher na sociedade brasileira.
De seus 82 anos de vida, a
dedicação às causas femininas superou sua longa carreira científica.
82 anos de vida, 46 anos como
cientista e pesquisadora, 58 anos como liderança feminina.
Uma vida de muitas lutas para
abrir caminhos às lutas atuais para que as mulheres possam buscar igualdade e
reconhecimento, neste terceiro milênio.
Bertha Luz foi, enfim, uma mulher
que lutou por todas as mulheres do Brasil!
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