Essa professora e pensadora do século XX tem parte de sua vida contada no filme, que leva seu nome, com maior foco na questão de sua condição de cidadã alemã, de família judia.
Hannah, foi aprisionada, fugiu da Alemanha dominada pelo regime nazista, ficou retida num campo de prisioneiros, de Gurs, e depois conseguiu se exilar nos Estados Unidos, onde recebeu cidadania, até falecer, ocupando importantes posições na área acadêmica, pois era reconhecida por sua capacidade analítica e crítica, e seu método filosófico.
Método esse que ela desenvolveu pela influência do filósofo alemão Martin Heideger, de quem foi aluna, seguidora, e com o qual se envolveu em um romance, que durou longos anos.
Heideger era um admirador do ideário nazista, a ponto de conseguir ser nomeado, durante todo o tempo que Hitler esteve no poder, como reitor de Universidade.
Sua adesão ao nazismo ajudou nas resistências que Hannah Arendt encontrou em sua vida, pois sempre foi criticada por ser uma judia que se relacionou com um admirador dessa ideologia, e por não ter assumido posições mais contundentes, quando do julgamento de Adolf Eichmann, em Israel.
O livro que Hannah escreveu sobre o episódio do julgamento, chamado “Eichmann em Israel”, demonstra seu estupor diante das manifestações daquele carrasco nazista, que tinha sido um dos gestores do processo chamado “solução final”, movido contra os judeus pelo comando nazista.
O texto de Hannah Arendt mostra bem a postura burocrática com que os nazistas trataram o encaminhamento de milhões de judeus para a morte, nas câmaras de gás, ou nas frentes de trabalho escravo, onde muitos encontraram seu fim pela fome.
Ela mostra que a disseminação de uma estrutura de poder, montada pelos nazistas sobre as bases da falta de escrúpulos, da ausência de qualquer aspecto de honestidade, fez com que se banalizasse, na Alemanha nazista, uma ação orquestrada para o assassinato, para o sofrimento e para a morte.
Seu livro tem um sub-títuto “Um relato sobre a banalidade do mal”.
Exatamente isso foi o que o regime nazista conseguiu implantar para comandar, pelo terror, pelo medo, pela tortura e pela morte, seu reinado temporário, que se esgotou com a derrota diante das tropas russas, que chegaram a Berlim, em 08 de maio de 1945.
O alerta que o livro de Hannah Arendt, e que o filme reproduz, é sempre útil rever para atentar para o aspecto que as ditaduras, e os regimes espúrios, acabam sempre cometendo para conseguir se afirmar numa esfera de poder.
A banalização do mal, a vulgarização da força bruta, a corrupção, a intimidação, o uso da tortura e das perseguições cruéis contra todos que se posicionam contra o poder usurpado.
Ela mostra que os servidores fiéis dos ditadores, dos que se apossam do poder pela força das armas, abandonando os métodos democráticos do voto, e da participação da sociedade, sempre alegam em seus julgamentos que “ apenas cumpriam ordens”.
A história recente da humanidade registra muitos exemplos de sociedades que foram dominadas por regimes ditatoriais, e que em seus julgamentos, quando os houve, seus executores sempre alegaram serem subordinados “cumpridores de ordens”.
Essa “obediência devida” serviu de escudo para vários casos de desrespeito a direitos humanos, em muitas ocasiões, em que o poder da força se impôs sobre as normas jurídicas, sobre os direitos da cidadania, e sobre uma base de apodrecimento das sociedades democráticas.
Como já disse um sociólogo alemão, quando respondeu a uma pergunta de jornalista, de como foi possível o horror do regime nazista em um país como a Alemanha, berço de cultura e artes:
-“Nunca na história da Alemanha tanto lixo humano e rebotalho social foi colocado no poder, pelo poder, gerando um adubo ideal para a perenização da podridão e do arbítrio”.
E, como disse Hannah Arendt, para a banalização do mal.
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