quarta-feira, 14 de agosto de 2013

ARIANO SUASSUNA II - CRUZ E SOUZA


 

 Uma parte importante da palestra de Ariano Suassuna, promovida pela Fecomércio, foi a referência ao Grande Poeta Catarinense, Cruz e Souza.
Ariano Suassuna o tem como uma das suas três maiores influências, e referências, literárias, em sua vida de escritor, professor e dramaturgo, autor de várias peças de teatro.
Ao ouvir essa homenagem de Suassuna a Cruz e Souza viajei no tempo
e lembrei o ano de 1998, quando fui homenageado pelo Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina, justamente com a Medalha do Mérito Cultural Cruz e Souza.
Essa premiação foi gerada por atividades de apoio à cultura, quando implantei um Espaço Cultural no centro de Florianópolis, em área privilegiada, na Praça Pereira Oliveira, na condição de dirigente de uma empresa de telecomunicações, que atuava em Santa Catarina, durante os anos de 1996 a 1998.
Além do Espaço Cultural, implantei um centro de treinamento empresarial, todo decorado com fotos de artistas locais, com um auditório, e várias salas, que, além das suas funções didáticas e tecnológicas, se destinaram a acomodar lançamentos de livros, apoiar autores catarinenses.
Também foram implantados, e desenvolvidos, em parceria com a equipe do Padre Vilson Groh, entre os anos de 1996 e 1998, vários programas de capacitação para o mercado de trabalho, em tecnologia de ponta, para crianças e adolescentes dos Morros do Mocotó e Mont Serrat, áreas da cidade onde se concentra população, em sua maioria, de afrodescendentes, ainda marginalizada e afastada dos processos produtivo e social, devido aos resquícios segregacionistas herdados dos quase 400 anos de escravidão.
E no Espaço Cultural muitos e muitas foram as artistas que expuseram suas criações, em pintura, escultura, literatura, design.
Nesse período foi criado e implantado o “Espaço Miramar”, na área de lazer para empregados, um resgate histórico e cultural de grande importância para a população de Florianópolis.
A pesquisa de textos, e histórica, teve o comando da ilustre Pesquisadora e Professora Ana Lúcia Coutinho, e do Apoiador Cultural Aldírio Simões.
Baseado no Espaço Cultural foi lançado o Programa “O Livro na Escola”, que adquiria exemplares de obras de Santa Catarina, nas Editoras, e que foram doados para várias Escolas Públicas, para divulgar nossa literatura, além de colocar os autores de nosso estado em contato direto com alunos e professores.
Foi uma experiência muito rica, e profícua, pois demonstrou que as empresas podem visar o lucro, focar os ganhos de mercado, mas devem devolver à sociedade uma parte daquilo que auferem, por estarem instaladas em atividades que são mantidas com os recursos dos consumidores, e contribuintes.
Pela execução dessas atividades, e da formatação de vários programas de responsabilidade sócio-ambiental, recebemos, em 1997, o “Prêmio Nacional de Qualidade”, como terceiros colocados, em âmbito nacional.
E a representação da empresa de SC, foi considerada a terceira maior rentabilidade financeira do Brasil, com expressivo lucro líquido por empregado.
Isso comprova que as empresas só ganham, quando investem em benefício da sociedade que as mantém, pois o cidadão consciente percebe o retorno em arte, cultura e inclusão social.
No mês de novembro de 1998 recebi a comenda Cruz e Souza, no Teatro Álvaro de Carvalho, grande e importante patrimônio público da Cultura Catarinense, e fui convidado a falar em nome de todos os agraciados.
Momento honroso, que me levou a pesquisar mais um pouco sobre a vida do grande Poeta Negro, pois o momento pedia um aprofundamento adequado.
Os agraciados daquele ano me colocaram essa grande responsabilidade, pois era uma relação de peso, composta por pessoas e entidades, que já tinham oferecido significativas contribuições a SC e ao Brasil, e que sempre mereceram enorme reconhecimento.
Foram agraciados em 1998: Caderno “Anexo” do Jornal A Notícia, Elke Hering-in memorian, Aldo João Nunes, Grupo de Teatro Atormenta, Gilberto Gerlach, Doralício Soares, Eglê Malheiros, Lindolf Bell, Darci Brasiliano dos Santos, e eu.
Abaixo segue o texto, que, com muita emoção, e alegria, li no recebimento da Medalha:
“João de Cruz e Souza
Nasceu em Florianópolis, em 24 de novembro de 1861 e morreu em Minas Gerais, na cidade de Sítio, em 1898, com 37 anos.
Grande poeta brasileiro, negro e filho de escravos, teve boa educação escolar graças à benevolência dos senhores de seus pais.
Em colaboração com Virgílio Várzea publicou a Coletânea “Fantasias”, em 1885, com 24 anos.
Ingressou no jornalismo e se tornou militante do abolicionismo, fazendo propaganda da emancipação dos escravos numa viagem do Amazonas até o Rio Grande do Sul, em 1883.
Em 1893 publicou “Broquéis e Missal”, que o consagraram como o maior representante do simbolismo no Brasil.
Teve uma vida marcada por dificuldades materiais e morreu na miséria.
Sua obras, “Evocações”, “Faróis”, e “Últimos Sonetos”, foram publicadas após sua morte, nos anos de 1898, 1900, e 1905, respectivamente.

Em 24 de novembro de 1861 nascia Cruz e Souza, negro, em pleno regime escravagista.
Em 24 de novembro de 1998, 137 anos depois, estamos aqui sendo agraciados com a Medalha do Mérito Cultural Cruz e Souza, por atividades de criação artística, desenvolvimento, e apoio cultural.
O Poeta Cruz e Souza todos já conhecíamos.
É claro que queremos homenageá-lo, e com muita honra aqui estamos interagindo com seu nome, sua grandiosidade, sua obra, e sua coragem.
Mas, talvez, o exemplo que mais devamos seguir, ou tentar imitar, é o do sonhador, do revolucionário, corajoso, que, negro e pobre, lutou contra a escravidão, em pleno regime escravagista.
Essa coerência entre sonho, utopia, e prática, hoje tão necessária, torna-se, agora, muito mais fácil.
Somos senhores de nós mesmos e nada justifica que não façamos nosso futuro.
Entramos no terceiro milênio com esse belo e corajoso exemplo de João da Cruz e Souza, de 1861.
Como não há futuro sem passado, e entendemos a vida como uma prova de revezamento entre gerações, vamos receber o bastão que esse grandioso negro, e pobre, Poeta, e revolucionário, nos entrega, e poderemos ousar construir uma sociedade onde não existam, nem persistam, a injustiça e a escravidão, e onde possamos todos escrever poemas sobre a beleza de viver em liberdade!”
 
 

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