domingo, 6 de junho de 2010

O Antagonismo Entre a Atitude Empreendedora e o Complexo de Derrota

(texto publicado no site www.economiasc.com.br)

Nosso país tem, ainda, duas faces contraditórias e antagônicas que convivem paradoxalmente.
O grande desenvolvimento já alcançado em vários setores de nossa sociedade pode surpreender qualquer grande nação.
Na economia, o Brasil ostenta expressivo desenvolvimento macroeconômico com inovações industriais, comerciais, agrícolas e de gestão, que podem gerar inveja em muitas nações ricas e inovadoras.
Na educação, mesmo mantendo alguns índices subssaarianos em segmentos e regiões, já alcançamos resultados corajosos e que indicam uma abrangência significativa no processo de inclusão, na dignidade do acesso à alfabetização e na implantação de novas escolas técnicas e universidades.
Nas artes e manifestações culturais não é novidade o lugar de destaque conquistado pelo Brasil, autenticado pela presença de nossos representantes em praticamente todo o mundo e de obras, músicas e todo o tipo de símbolos das nossas expressões multirracial, multirreligiosa e multiétnica, resultados do colorido mosaico de inspirações que embala uma criativa e emocionante pujança.
No esporte se torna desnecessário aprofundar a análise de resultados, pois só não somos os melhores, ainda, em vários campos, devido a um centralizado e castrador processo de cartolagem e à desigual e desproporcional distribuição de verbas estatais, que agradam aos poucos simpáticos adeptos da vassalagem oficial, condenando ao abandono bons potenciais que não conseguem chegar próximo do carrossel das benesses do dinheiro público injustamente concedido por mãos discricionárias.
Um aspecto negativo, já muito visto, volta a chamar a atenção por sua exaustiva repetição, em todos os anos de Copa do Mundo de futebol.
A derrota vivida pela Seleção Brasileira diante do time uruguaio no sexagenário e distante ano de 1950 continua mantendo nossa população presa a um resultado adverso que condenou o goleiro daquela equipe, o injustiçado Barbosa, a “uma pena” muito maior do que a de 30 anos estabelecida na legislação penal brasileira.
A repetição ad-nauseam das cinzentas cenas do craque uruguaio empurrando a bola para as redes verde-amarelas, o choro da torcida e o desespero do time em campo produzem uma sensação desagradável e mantêm uma desnecessária e condenatória atitude de derrota, mesmo neste século 21, quando já contabilizamos grande número de competições mundiais vencidas.
É impressionante verificar como essa atitude em preto e branco, essa nostalgia samba-canção, essa saudade de momentos ruins, e algumas manifestações a ela associadas, podem colaborar com a falta de superação e a perda de autoestima de nossos atuais 193 milhões de brasileiros, mesmo tendo a grande maioria nascido bem depois do fatídico ano da copa ocorrida no Maracanã.
Eventos trágicos, ocorridos em épocas próximas do gol uruguaio, também abateram, literalmente, algumas nações atingidas por catástrofes bem maiores que a vivida pelo Brasil num estádio de futebol.
O Japão foi atropelado por duas bombas atômicas e grande numero de mortes, teve a sua infraestrutura viária, científica, educacional e econômica destruída, além da brutal herança da radiação nuclear, que continua matando seus descendentes.
A Alemanha comemorou em 2009 os 60 anos de sua constituição democrática, promulgada em 1949, por um parlamento democrático, somente quatro anos após a sua rendição aos exércitos aliados, sob os escombros da sua quase completa destruição humana e material.
Ambos os países, Alemanha e Japão, pagaram muito caro pelo militarismo e nazismo com os quais tentaram dominar o mundo, juntos com a também arrasada Itália, mas atualmente todos eles apresentam índices de desenvolvimento em todos os campos imagináveis, que são modelares e emblemáticos na qualidade de vida e na superação de vitórias e avanços.
Exemplarmente, na inovação e na coragem da criação de novos padrões sociais e econômicos.
No Brasil, continua a repetição de algumas frases e vaticínios, absurdos e descabidos, como se condenados tivéssemos sido à tristeza de derrotas e a não conseguir, jamais, vibrar e aproveitar os bons resultados colhidos, em vários momentos de nossa vida como sociedade autônoma e independente.
Esse “revival” permanente, dedicado a eventuais perdas e a aspectos negativos de nossa evolução, mostra seus resultados nos comportamentos e expressões dos mais vividos e, surpreendentemente de grande contingente jovem.
O empreendedorismo, fator essencial no crescimento qualitativo das sociedades, necessita de entusiasmo, de estímulos e motivação, e a âncora brega e antiquada dessa cortina fosca e desnecessária do passado não permite que se vislumbrem novas atitudes que venham a embalar mais coragem e destemor pelos jovens.
O grande número de iniciados no mercado de trabalho, que só procuram empregos ou concursos públicos, muito além dos pequenos salários iniciais e da falta de apoios financeiros adequados, demonstra uma atitude presa ao medo fabricado pelo repetitivo filme de pequenas e relativizáveis derrotas.
O Brasil precisa romper essas correntes que prendem seus jovens aos medos do passado e às limitações culturais e comportamentais que não valorizam adequadamente as iniciativas inovadoras e empreendedoras, para poder construir o necessário avanço na construção da mudança.
Empreender é fator crítico para acreditar em sonhos e utopias, e sonhar é alimento básico para o empreendedorismo.
As nações que introduziram, e estimularam, esses ingredientes em suas populações sentem e vivem os benefícios de uma qualidade de vida bem melhor e do sentimento de liberdade que a confiança em si mesmo gera na construção de uma nova história e vitórias.

Nenhum comentário: