domingo, 13 de junho de 2010

Políticas Públicas Para o Desenvolvimento e os Perfís de Executivos

(texto publicado no site www.economiasc.com.br)
Em 1989, o mundo experimentou pelo menos duas grandes crises e conseqüentes mudanças.
A queda do Muro de Berlim, que apenas carimbou o final de um processo já iniciado bem antes, ocorreu quase simultaneamente com um encontro batizado como o “Consenso de Washington”.
Enquanto, na Alemanha, a simbólica queda de uma barreira fronteiriça promoveu um verdadeiro festival pela reunificação, na capital norte-americana grandes agências financeiras e financiadoras de projetos de desenvolvimento se reuniam para vislumbrar novos horizontes.
O mundo capitalista apresentava bom nível de excedentes financeiros e necessitava de novas fronteiras para as suas aplicações rentáveis. Os países periféricos e emergentes foram escolhidos como os alvos para receber grandes somas, mas teriam que oferecer bons dotes e contrapartidas para serem aquinhoados com dinheiro novo.
Esse processo estimulou governantes, principalmente os sul-americanos, a abrir suas economias, privatizar suas redes de infraestrutura e reduzir o tamanho do Estado, momento em que muito se falava em um Estado "mínimo".
Confusão conceitual grave, pois os Estados precisam ser os necessários à complexidade da sociedade.
Já os governos, gestores temporários das estruturas estatais, podem e devem ser econômicos e enxutos, evitando desperdícios de recursos dos cidadãos e não permitindo empreguismo ou nepotismo, bases férteis para a corrupção e favores indevidos com o dinheiro público e coletivo.
Na crise de 2008/2009, vinte anos após, o processo de especulação imobiliária, a bolha de consumo e a quebradeira gerada por bancos americanos mostrou ao mundo que a economia necessita do Estado, tanto que as medidas emergenciais, que salvaram muitos países e empresas da bancarrota, foram garantidas por grande volume de verbas públicas, estatais e coletivas.
Após esse momento, governos e empresas estão percebendo que isoladamente não mais poderão atender contribuintes e consumidores.
Na Europa e EUA, grandes organizações privadas passaram a desenvolver estudos e projetos juntamente com órgãos governamentais.
O mesmo ser que trabalha, paga impostos e adquire bens e serviços, se chama cidadão e espera desses dois grandes braços intitulados mercado e governo as necessárias políticas públicas e de desenvolvimento para atender suas necessidades básicas e avançadas.
Não mais se concebe a existência de dois mundos paralelos, com relações conflitantes e não planejadas, que por seu afastamento podem repetir graves crises. Mas essa mudança indica outras muito significativas na capacitação e formação de equipes, principalmente para novos quadros de executivos e dirigentes.
O mundo antigo, pré-crises dos bancos americanos e da Grécia, ainda se dava ao luxo de separar competências e atribuições, rigidamente, entre modelos e padrões de dirigentes públicos e executivos empresariais.
Após os grandes sustos, muito rapidamente, percebe-se a necessidade de novas sensibilidades e atributos para que se possam construir novas opções e que o estudo de possibilidades de desenvolvimento passe a ser uma atividade conjunta e complementar entre áreas pública e privada.
Não bastam mais os contatos formais entre entidades associativas e representativas, e suas interfaces políticas e da gestão governamental.
O nível político/eleitoral continuará com a sua função de prospectar demandas sociais legítimas e pertinentes para serem atendidas por investimentos de ambas as origens. Mas os novos dirigentes públicos e os executivos privados terão, obrigatoriamente, que apresentar um novo currículo profissional.
Empresas não podem mais se dar ao luxo de esquecer as realidades sociais e se concentrar somente em racionalidade e lucro. Governos deixarão de cumprir suas missões se ficarem presos somente a preocupações com obras e inaugurações, ditadas por pressões eleitorais ou partidárias.
A leitura da realidade social e a complexidade das soluções exigidas pelas novas condições conquistadas por uma sociedade, mais critica e informada, obrigarão dirigentes e executivos a apresentar um conjunto de pré-requisitos, que seja mais voltado a comportamento, gestão de conflitos, visão coletiva e sensibilidade sociológica.
As questões ambientais serão cruciais nessa nova etapa e suas soluções, e encaminhamentos dependerão de ações amplas, não podendo ficar restritas a uma única dimensão. O problema das drogas, que aflige a todas as camadas sociais, só pode ser equacionado por projetos conjuntos e multidisciplinares.
Assim, as novas hierarquias deverão ser mais horizontais, estimulando a participação e a interação, a visão deverá ser do individual para o grupal, do “eu” para “nós”, e do “nós” para “todos”.
Como os conflitos são inerentes à condição humana, seja nas empresas ou governos, sua aceitação deverá acontecer com maior naturalidade, e a sua gestão e mediação, dependerão da competência de dirigentes e executivos.
Maior educação política, conhecimentos históricos e antropológicos comporão as ferramentas conceituais e mercadológicas.
A revolução industrial, e o consequente processo de urbanização do século 19, determinou comportamentos que conduziram a humanidade até aqui.
As crises iniciadas em 1989, e repetidas em 2009 serviram para especificar os novos perfis de dirigentes e executivos, que terão a missão básica de captar as ansiedades sociais e construir soluções conjuntas e adequadas para um futuro digno.

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