quinta-feira, 17 de junho de 2010

Empresas, Governos e Sociedade Perdem Com a Cultura da Corrupção

(texto publicado no site www.economiasc.com.br)



A corrupção é uma fraqueza humana e se transformou em sociopatia, uma doença social.
Sua origem vem da promiscuidade e proximidade de interesses privados junto ao poder público e data da época dos reis, com poucas leis e muitos poderes.
É um estado de permissão, de permissividade, que se instala e corrói uma sociedade, uma corporação, um grupo, uma associação, seja ela de que natureza for.
Despreza o mérito, não valoriza a competência e a produtividade, e se transforma em fator concorrencial desigual entre empresas.
A corrupção, normalmente, se dá numa relação de poder e interesses entre agentes privados e/ou públicos e que, via de regra, visa a obtenção de vantagens pecuniárias.
Para ocorrer a corrupção tem que haver, no mínimo, dois agentes, corruptor e corrompido, o acobertamento e a impunidade, a conivência e a aceitação.
A corrupção, em seu sentido básico quer dizer decomposição, apodrecimento, desmoronamento. Quando a corrupção deixa de ser uma ação encoberta, feita na sombra e protegida dos instrumentos legais, e passa a ser escancarada, cínica e arrogante é porque existe um ambiente propício, um caldo cultural com sonegação das informações que possam conduzir à verdade e ao desmascaramento dos atos e das tentativas de deformação das leis.
O risco da visão de que “leva vantagem quem pode” é o de se criar uma atitude de ceticismo na sociedade, que passará a ser comandada pelo cinismo.
O ambiente cultural, tolerante e leniente, cria a condição para a sua perpetuação.
Corrupção deve ser estudada e prevenida desde a escola, no nível coletivo, e desde a mais tenra idade, no seio familiar.
Valorizar a honestidade, a obtenção de bons resultados pelo esforço e pelo mérito, as conquistas de toda ordem na vida através da dedicação e capacitação, é obrigação dos pais, dos líderes, executivos, dirigentes e investidores.
A corrupção deve ser analisada e combatida desde ocorrências pontuais, para que a sociedade entenda que não pode ser benevolente com qualquer tipo de transgressão que venha ajudar a criar as condições de uma propagação incontrolável das posturas corruptas, travestidas de espertezas
A corrupção é a decomposição dos valores de respeito coletivo e da construção de um pacto público que ajude a criar um espaço de convívio respeitoso.
As sociedades tidas, hoje, como desenvolvidas, têm como característica principal um ordenamento legal forte, uma ação permanente do Estado usando seu poder de polícia e uma atitude cidadã controladora e fiscalizadora do cumprimento das leis.
A corrupção é um adversário oculto, que age dentro e pelas costas como um agente inimigo, infiltrado, e gera os piores resultados que a sociedade poderia imaginar. Grandes somas de valores são desviadas para interesses individuais, programas públicos são dirigidos para atingir objetivos pessoais focados em ganhos escusos e em enriquecimento ilícito, com recursos essenciais para áreas prioritárias de toda a sociedade.
Há muito tempo, ouvia-se uma frase que dizia que ou o país acabava com a formiga tipo saúva, ou a saúva acabaria com o Brasil.
Na atualidade, basta substituir a palavra “saúva” por “corrupção” e veremos que é uma verdade comprovada diariamente pelas notícias veiculadas em toda a imprensa nacional.
Precisamos despertar os meios produtivos e estatais para uma grande cruzada pelo respeito ao direito de todos, pelo respeito ao bem comum e pela visão clara e corajosa que a corrupção só existe através de atitudes complacentes.
O uso da força por qualquer tipo ou instância de poder, seja ele econômico, político, financeiro, pessoal ou de grupo, para obter vantagens desonestas, de qualquer natureza, é um ato de corrupção, pois estará gerando ganhos não merecidos, gerando injustiças, desviando recursos de suas reais e necessárias aplicações e, o que é pior, estimulando o apodrecimento das relações comerciais, sociais, prestigiando o transgressor das normas e leis e impedindo o desenvolvimento saudável e produtivo da nossa sociedade.
Um Estado forte e competente, uma cidadania atuante e fiscalizadora, movimentos sociais conscientes e controladores, empresas modernas e produtivas, inovadoras, reprimem os jogos de conivência e conveniência, que sempre acabam desaguando no compadrio e nos conchavos.
Uma sociedade efetivamente republicana, preza a transparência de todos os níveis de poder, sejam privados ou públicos, exigindo permanentemente a punição dos desvios e o respeito pleno aos direitos humanos, individuais e grupais.
Nepotismo é corrupção, uma vez que utiliza e drena verbas públicas e privadas, acarretando aumento de renda familiar de quem se aproveita do poder para empregar parentes, que não passariam em um concurso público, ou em um teste admissional, que valorizasse a competência, o conhecimento e o saber.
Tirar proveito dos hipossuficientes é corrupção, pois desrespeita direitos humanos básicos previstos em leis.
O hipossuficiente é todo o ser humano que, por uma condição qualquer de perda ou diminuição de suas capacidades, é ludibriado em algum direito, mesmo sem sabê-lo ou sem a devida consciência, por ato de força ou por superioridade de meios, que podem ser desde uma situação hierárquica maior até o uso de informação privilegiada, seja ela de origem privada ou pública.
O vulgo “carteiraço” é corrupção, pois agride o princípio da igualdade.
Furar filas, especular com informação privilegiada, apropriar-se de espaços públicos para lucrar com iniciativas ilegais, proteger parentes, amigos ou apadrinhados quando cometem crimes, manipular informação para dirigir a opinião pública, sonegar a verdade para enganar a boa-fé dos cidadãos e consumidores, em geral, são alguns dos atos que ajudam a desmantelar o respeito que é insumo essencial para a boa prática ética e para a consolidação de uma sociedade saudável.
Neste ano eleitoral, em que o Brasil renovará quase a totalidade dos cargos eletivos, as empresas têm papel essencial no combate à corrupção, valorizando códigos éticos, implantando procedimentos transparentes e enaltecendo a responsabilidade social, política e ambiental nas atuações corporativas.

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