Desde a implantação do euro e sua adoção por vários países, é a primeira vez que a Europa sente o impacto de uma crise, que pode abalar a credibilidade de sua moeda comum.
Mesmo a crise anterior, gerada pela bolha especulativa imobiliária, de bancos norte-americanos, não abalou tanto o velho continente como a questão grega.
Na verdade, os gregos pagarão muito caro por uma prática que muitas sociedades europeias já vêm sentindo. Ao trocar a sua moeda histórica, o dracma, dirigentes pouco cuidadosos colocaram o país em um caminho perigoso. Houve irresponsabilidade de alguns governos, que nos últimos oito anos gastaram muito, desenvolveram pouco seu PIB e se endividaram acima da conta estabelecida nos tratados que alicerçam a União Europeia.
A resistência cultural, que os estados de bem estar social vigentes na Europa tinham em relação às medidas de ajustes exigidas pela comunidade, forma o colchão conceitual, que mesmo não justificando a situação atual, ajuda a compreender um pouco os contornos que permitiram a ameaça de descalabro. Essa resistência foi notada, também, no tempo exagerado que a União Europeia levou para tomar medidas corretivas. Esse tempo permitiu a desvalorização do euro, a subida do dólar e a queda de várias bolsas pelo mundo.
O medo de uma contaminação sobre outros países já enfraquecidos pela crise anterior e por excessivos gastos fez pairar a ameaça de expor Espanha, Itália, Irlanda e Portugal ao mesmo diagnóstico grego. Levou o temor da transformação de uma crise pequena, inicialmente estimada em US$ 40 bilhões, a uma mega situação de um terço da Europa unida.
A Alemanha, grande e inequívoca liderança política e econômica da UE, sentindo o risco de que a crise se transformasse num fenômeno mundial, capitaneou as negociações, convocou o FMI e todos os parceiros europeus e modelou um pacotaço de mais de 250 bilhões de euros, além da criação de um fundo garantidor para todos os países da comunidade, que poderiam apresentar sintomas análogos aos da Grécia. Na parte econômica e financeira, a situação parece relativamente controlada. O anúncio das medidas tomadas, a aprovação pelo Parlamento grego do receituário imposto pela UE e FMI, tranquilizaram o “mercado” e as bolsas reagiram.
Mas dois pontos chamam a atenção de todo o mundo nessa questão. Primeiro, qual a condição que a sociedade humana grega terá de suportar esse conjunto de medidas fortes e limitadoras, uma vez que toda a população está reagindo à obrigação de pagar muito caro pelas irresponsabilidades de governos, desde 2002. Sem consulta os eleitores, governos comprometeram os orçamentos fiscais, entregando-lhes, agora, em 2010, um país falido e dependente de ajuda internacional? Haverá aceitação e condições políticas de manter a Grécia tranquila durante o período de recuperação, que não deverá ser menor do que cinco ou seis anos? Segundo, os ministros e dirigentes europeus reunidos em Bruxelas para chancelar e divulgar o pacote de medidas imediatas, além da cesta de dinheiros montada para pacificar o continente, criaram mecanismo, um fundo comum, para que os “lobos” do mercado não se aproveitassem da ameaça de desvalorização do euro e o fizessem sangrar a ponto de, depois, negociá-lo com enormes lucros.
A questão dos gastos excessivos pela máquina governamental, os sacrifícios exigidos das pessoas e o aspecto ganancioso, especulativo e cruel que os “leões” (na verdade, agentes manipuladores do “mercado”, operadores e aplicadores dos excedentes, que deveriam realimentar a economia real) podem impor a sociedades inteiras, coloca-nos a nós brasileiros, em ano de eleição, alguns alertas em nossos radares sensoriais e eleitorais.
Não é de agora que se tenta uma “flexibilização” para a Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse pode ser o grande tiro no pé, se desfigurarem um mecanismo que tem funcionado como um dique às pretensões irresponsáveis de gestores públicos que sonham com a volta da impunidade na gastança eleitoreira de impostos.
A música de Chico Buarque fala em “mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Athenas...”. Os brasileiros precisam observar o exemplo das mulheres de Athenas, mas também o exemplo de todos os homens e mulheres de toda a Grécia, que hoje devem se perguntar o que houve com seu idílico país, um dos berços da filosofia e sabedoria mundiais, agora transformado em paciente da UTI financeira internacional.
Mesmo a crise anterior, gerada pela bolha especulativa imobiliária, de bancos norte-americanos, não abalou tanto o velho continente como a questão grega.
Na verdade, os gregos pagarão muito caro por uma prática que muitas sociedades europeias já vêm sentindo. Ao trocar a sua moeda histórica, o dracma, dirigentes pouco cuidadosos colocaram o país em um caminho perigoso. Houve irresponsabilidade de alguns governos, que nos últimos oito anos gastaram muito, desenvolveram pouco seu PIB e se endividaram acima da conta estabelecida nos tratados que alicerçam a União Europeia.
A resistência cultural, que os estados de bem estar social vigentes na Europa tinham em relação às medidas de ajustes exigidas pela comunidade, forma o colchão conceitual, que mesmo não justificando a situação atual, ajuda a compreender um pouco os contornos que permitiram a ameaça de descalabro. Essa resistência foi notada, também, no tempo exagerado que a União Europeia levou para tomar medidas corretivas. Esse tempo permitiu a desvalorização do euro, a subida do dólar e a queda de várias bolsas pelo mundo.
O medo de uma contaminação sobre outros países já enfraquecidos pela crise anterior e por excessivos gastos fez pairar a ameaça de expor Espanha, Itália, Irlanda e Portugal ao mesmo diagnóstico grego. Levou o temor da transformação de uma crise pequena, inicialmente estimada em US$ 40 bilhões, a uma mega situação de um terço da Europa unida.
A Alemanha, grande e inequívoca liderança política e econômica da UE, sentindo o risco de que a crise se transformasse num fenômeno mundial, capitaneou as negociações, convocou o FMI e todos os parceiros europeus e modelou um pacotaço de mais de 250 bilhões de euros, além da criação de um fundo garantidor para todos os países da comunidade, que poderiam apresentar sintomas análogos aos da Grécia. Na parte econômica e financeira, a situação parece relativamente controlada. O anúncio das medidas tomadas, a aprovação pelo Parlamento grego do receituário imposto pela UE e FMI, tranquilizaram o “mercado” e as bolsas reagiram.
Mas dois pontos chamam a atenção de todo o mundo nessa questão. Primeiro, qual a condição que a sociedade humana grega terá de suportar esse conjunto de medidas fortes e limitadoras, uma vez que toda a população está reagindo à obrigação de pagar muito caro pelas irresponsabilidades de governos, desde 2002. Sem consulta os eleitores, governos comprometeram os orçamentos fiscais, entregando-lhes, agora, em 2010, um país falido e dependente de ajuda internacional? Haverá aceitação e condições políticas de manter a Grécia tranquila durante o período de recuperação, que não deverá ser menor do que cinco ou seis anos? Segundo, os ministros e dirigentes europeus reunidos em Bruxelas para chancelar e divulgar o pacote de medidas imediatas, além da cesta de dinheiros montada para pacificar o continente, criaram mecanismo, um fundo comum, para que os “lobos” do mercado não se aproveitassem da ameaça de desvalorização do euro e o fizessem sangrar a ponto de, depois, negociá-lo com enormes lucros.
A questão dos gastos excessivos pela máquina governamental, os sacrifícios exigidos das pessoas e o aspecto ganancioso, especulativo e cruel que os “leões” (na verdade, agentes manipuladores do “mercado”, operadores e aplicadores dos excedentes, que deveriam realimentar a economia real) podem impor a sociedades inteiras, coloca-nos a nós brasileiros, em ano de eleição, alguns alertas em nossos radares sensoriais e eleitorais.
Não é de agora que se tenta uma “flexibilização” para a Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse pode ser o grande tiro no pé, se desfigurarem um mecanismo que tem funcionado como um dique às pretensões irresponsáveis de gestores públicos que sonham com a volta da impunidade na gastança eleitoreira de impostos.
A música de Chico Buarque fala em “mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Athenas...”. Os brasileiros precisam observar o exemplo das mulheres de Athenas, mas também o exemplo de todos os homens e mulheres de toda a Grécia, que hoje devem se perguntar o que houve com seu idílico país, um dos berços da filosofia e sabedoria mundiais, agora transformado em paciente da UTI financeira internacional.
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