segunda-feira, 26 de agosto de 2013

HANNAH ARENDT


Essa professora e pensadora do século XX tem parte de sua vida contada no filme, que leva seu nome, com maior foco na questão de sua condição de cidadã alemã, de família judia.
Hannah, foi aprisionada, fugiu da Alemanha dominada pelo regime nazista, ficou retida num campo de prisioneiros, de Gurs, e depois conseguiu se exilar nos Estados Unidos, onde recebeu cidadania, até falecer, ocupando importantes posições na área acadêmica, pois era reconhecida por sua capacidade analítica e crítica, e seu método filosófico.
Método esse que ela desenvolveu pela influência do filósofo alemão Martin Heideger, de quem foi aluna, seguidora, e com o qual se envolveu em um romance, que durou longos anos.
Heideger era um admirador do ideário nazista, a ponto de conseguir ser nomeado, durante todo o tempo que Hitler esteve no poder, como reitor de Universidade.
Sua adesão ao nazismo ajudou nas resistências que Hannah Arendt encontrou em sua vida, pois sempre foi criticada por ser uma judia que se relacionou com um admirador dessa ideologia, e por não ter assumido posições mais contundentes, quando do julgamento de Adolf Eichmann, em Israel.
O livro que Hannah escreveu sobre o episódio do julgamento, chamado “Eichmann em Israel”, demonstra seu estupor diante das manifestações daquele carrasco nazista, que tinha sido um dos gestores do processo chamado “solução final”, movido contra os judeus pelo comando nazista.
O texto de Hannah Arendt mostra bem a postura burocrática com que os nazistas trataram o encaminhamento de milhões de judeus para a morte, nas câmaras de gás, ou nas frentes de trabalho escravo, onde muitos encontraram seu fim pela fome.
Ela mostra que a disseminação de uma estrutura de poder, montada pelos nazistas sobre as bases da falta de escrúpulos, da ausência de qualquer aspecto de honestidade, fez com que se banalizasse, na Alemanha nazista, uma ação orquestrada para o assassinato, para o sofrimento e para a morte.
Seu livro tem um sub-títuto “Um relato sobre a banalidade do mal”.
Exatamente isso foi o que o regime nazista conseguiu implantar para comandar, pelo terror, pelo medo, pela tortura e pela morte, seu reinado temporário, que se esgotou com a derrota diante das tropas russas, que chegaram a Berlim, em 08 de maio de 1945.
O alerta que o livro de Hannah Arendt, e que o filme reproduz, é sempre útil rever para atentar para o aspecto que as ditaduras, e os regimes espúrios, acabam sempre cometendo para conseguir se afirmar numa esfera de poder.
A banalização do mal, a vulgarização da força bruta, a corrupção, a intimidação, o uso da tortura e das perseguições cruéis contra todos que se posicionam contra o poder usurpado.
Ela mostra que os servidores fiéis dos ditadores, dos que se apossam do poder pela força das armas, abandonando os métodos democráticos do voto, e da participação da sociedade, sempre alegam em seus julgamentos que “ apenas cumpriam ordens”.
A história recente da humanidade registra muitos exemplos de sociedades que foram dominadas por regimes ditatoriais, e que em seus julgamentos, quando os houve, seus executores sempre alegaram serem subordinados “cumpridores de ordens”.
Essa “obediência devida” serviu de escudo para vários casos de desrespeito a direitos humanos, em muitas ocasiões, em que o poder da força se impôs sobre as normas jurídicas, sobre os direitos da cidadania, e sobre uma base de apodrecimento das sociedades democráticas.
Como já disse um sociólogo alemão, quando respondeu a uma pergunta de jornalista, de como foi possível o horror do regime nazista em um país como a Alemanha, berço de cultura e artes:
-“Nunca na história da Alemanha tanto lixo humano e rebotalho social foi colocado no poder, pelo poder, gerando um adubo ideal para a perenização da podridão e do arbítrio”.
E, como disse Hannah Arendt, para a banalização do mal.
 
 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

ARIANO SUASSUNA II - CRUZ E SOUZA


 

 Uma parte importante da palestra de Ariano Suassuna, promovida pela Fecomércio, foi a referência ao Grande Poeta Catarinense, Cruz e Souza.
Ariano Suassuna o tem como uma das suas três maiores influências, e referências, literárias, em sua vida de escritor, professor e dramaturgo, autor de várias peças de teatro.
Ao ouvir essa homenagem de Suassuna a Cruz e Souza viajei no tempo
e lembrei o ano de 1998, quando fui homenageado pelo Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina, justamente com a Medalha do Mérito Cultural Cruz e Souza.
Essa premiação foi gerada por atividades de apoio à cultura, quando implantei um Espaço Cultural no centro de Florianópolis, em área privilegiada, na Praça Pereira Oliveira, na condição de dirigente de uma empresa de telecomunicações, que atuava em Santa Catarina, durante os anos de 1996 a 1998.
Além do Espaço Cultural, implantei um centro de treinamento empresarial, todo decorado com fotos de artistas locais, com um auditório, e várias salas, que, além das suas funções didáticas e tecnológicas, se destinaram a acomodar lançamentos de livros, apoiar autores catarinenses.
Também foram implantados, e desenvolvidos, em parceria com a equipe do Padre Vilson Groh, entre os anos de 1996 e 1998, vários programas de capacitação para o mercado de trabalho, em tecnologia de ponta, para crianças e adolescentes dos Morros do Mocotó e Mont Serrat, áreas da cidade onde se concentra população, em sua maioria, de afrodescendentes, ainda marginalizada e afastada dos processos produtivo e social, devido aos resquícios segregacionistas herdados dos quase 400 anos de escravidão.
E no Espaço Cultural muitos e muitas foram as artistas que expuseram suas criações, em pintura, escultura, literatura, design.
Nesse período foi criado e implantado o “Espaço Miramar”, na área de lazer para empregados, um resgate histórico e cultural de grande importância para a população de Florianópolis.
A pesquisa de textos, e histórica, teve o comando da ilustre Pesquisadora e Professora Ana Lúcia Coutinho, e do Apoiador Cultural Aldírio Simões.
Baseado no Espaço Cultural foi lançado o Programa “O Livro na Escola”, que adquiria exemplares de obras de Santa Catarina, nas Editoras, e que foram doados para várias Escolas Públicas, para divulgar nossa literatura, além de colocar os autores de nosso estado em contato direto com alunos e professores.
Foi uma experiência muito rica, e profícua, pois demonstrou que as empresas podem visar o lucro, focar os ganhos de mercado, mas devem devolver à sociedade uma parte daquilo que auferem, por estarem instaladas em atividades que são mantidas com os recursos dos consumidores, e contribuintes.
Pela execução dessas atividades, e da formatação de vários programas de responsabilidade sócio-ambiental, recebemos, em 1997, o “Prêmio Nacional de Qualidade”, como terceiros colocados, em âmbito nacional.
E a representação da empresa de SC, foi considerada a terceira maior rentabilidade financeira do Brasil, com expressivo lucro líquido por empregado.
Isso comprova que as empresas só ganham, quando investem em benefício da sociedade que as mantém, pois o cidadão consciente percebe o retorno em arte, cultura e inclusão social.
No mês de novembro de 1998 recebi a comenda Cruz e Souza, no Teatro Álvaro de Carvalho, grande e importante patrimônio público da Cultura Catarinense, e fui convidado a falar em nome de todos os agraciados.
Momento honroso, que me levou a pesquisar mais um pouco sobre a vida do grande Poeta Negro, pois o momento pedia um aprofundamento adequado.
Os agraciados daquele ano me colocaram essa grande responsabilidade, pois era uma relação de peso, composta por pessoas e entidades, que já tinham oferecido significativas contribuições a SC e ao Brasil, e que sempre mereceram enorme reconhecimento.
Foram agraciados em 1998: Caderno “Anexo” do Jornal A Notícia, Elke Hering-in memorian, Aldo João Nunes, Grupo de Teatro Atormenta, Gilberto Gerlach, Doralício Soares, Eglê Malheiros, Lindolf Bell, Darci Brasiliano dos Santos, e eu.
Abaixo segue o texto, que, com muita emoção, e alegria, li no recebimento da Medalha:
“João de Cruz e Souza
Nasceu em Florianópolis, em 24 de novembro de 1861 e morreu em Minas Gerais, na cidade de Sítio, em 1898, com 37 anos.
Grande poeta brasileiro, negro e filho de escravos, teve boa educação escolar graças à benevolência dos senhores de seus pais.
Em colaboração com Virgílio Várzea publicou a Coletânea “Fantasias”, em 1885, com 24 anos.
Ingressou no jornalismo e se tornou militante do abolicionismo, fazendo propaganda da emancipação dos escravos numa viagem do Amazonas até o Rio Grande do Sul, em 1883.
Em 1893 publicou “Broquéis e Missal”, que o consagraram como o maior representante do simbolismo no Brasil.
Teve uma vida marcada por dificuldades materiais e morreu na miséria.
Sua obras, “Evocações”, “Faróis”, e “Últimos Sonetos”, foram publicadas após sua morte, nos anos de 1898, 1900, e 1905, respectivamente.

Em 24 de novembro de 1861 nascia Cruz e Souza, negro, em pleno regime escravagista.
Em 24 de novembro de 1998, 137 anos depois, estamos aqui sendo agraciados com a Medalha do Mérito Cultural Cruz e Souza, por atividades de criação artística, desenvolvimento, e apoio cultural.
O Poeta Cruz e Souza todos já conhecíamos.
É claro que queremos homenageá-lo, e com muita honra aqui estamos interagindo com seu nome, sua grandiosidade, sua obra, e sua coragem.
Mas, talvez, o exemplo que mais devamos seguir, ou tentar imitar, é o do sonhador, do revolucionário, corajoso, que, negro e pobre, lutou contra a escravidão, em pleno regime escravagista.
Essa coerência entre sonho, utopia, e prática, hoje tão necessária, torna-se, agora, muito mais fácil.
Somos senhores de nós mesmos e nada justifica que não façamos nosso futuro.
Entramos no terceiro milênio com esse belo e corajoso exemplo de João da Cruz e Souza, de 1861.
Como não há futuro sem passado, e entendemos a vida como uma prova de revezamento entre gerações, vamos receber o bastão que esse grandioso negro, e pobre, Poeta, e revolucionário, nos entrega, e poderemos ousar construir uma sociedade onde não existam, nem persistam, a injustiça e a escravidão, e onde possamos todos escrever poemas sobre a beleza de viver em liberdade!”
 
 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

BARACK OBAMA E JOHN KERRY - AMERICANOS BONZINHOS!!!



Vivemos uma época engraçada!
Foi descoberta, graças às denúncias de um funcionário do governo americano, que a curiosidade do Tio Sam não tinha barreiras, nem distâncias.
Edward Snowden, um rapaz de 27 anos, que agora está na Rússia, fugiu dos USA, para entregar ao mundo as ações de espionagem realizadas em pleno governo Obama.
Agora, o Secretário
das Relações Exteriores dos USA, John Kerry, que se diz do partido democrata(???) vem fazer uma visita, diplomática(!?) ao governo Brasileiro, mas reafirma que fazem as tal espionagem eletrônica e digital, mas que essa ação serve também para "proteger" o Brasil.
Mas proteger de quem???
Isso me faz lembrar os filmes sobre a máfia, tanto a italiana quanto a americana, nos quais os mafiosos mandavam mensagens oferecendo proteção a bares, restaurantes, comerciantes, enfim onde houvesse dinheiro para achacar.
Se os que recebiam as ofertas não se manifestassem aceitando a proteção oferecida pelos gangsters, seus estabelecimentos sofriam ataques, incêndios e outras agressões, para caracterizar a sua fragilidade diante dos "bandidos".
Claro que muitos logo passavam a pagar a "proteção", que se estabelecia como uma parasita nos negócios produtivos, recebendo bons volumes de
dinheiro, para manter as quadrilhas.
Alguma semelhança com a situação atual?
Nos espionam em nossas casas, em nossos escritórios, em nossas intimidades, devassam nossas vidas, desrespeitam leis nacionais e internacionais, e ainda têm a cara de pau de dizer, oficialmente, que estão fazendo tudo isso para nos proteger.
De quem??? contra quais ameaças???
Todos sabemos da importância que o controle de informações pode ter sobre a vida de sociedades, de países, de pessoas, de negócios, de governos, pois além de espionar, em era digital, a tecnologia permite que os conteúdos de mensagens possam ser alterados, sem que os remetentes, ou os destinatários, notem qualquer adulteração.
Será que era essa a alternatividade que Barack Obama tanto propalou em suas campanhas eleitorais?
Quando Barack Obama dizia "sim, nós podemos" eu juro que tinha entendido como algo referente às suas possibilidades de mudar o status quo conservador do belicista governo Bush.
Agora podemos compreender como "sim, nós podemos...espionar quem quisermos, para dominar o mundo do nosso jeito".
Que pena, o primeiro negro eleito presidente do USA, que poderia representar o fim do "apartheid" americano, paga os favores ao poder militar e industrial daquela nação, desrespeitando outros países, e invadindo outras sociedades, sem pedir visto, sem passaporte, sem ser convidado.
E que nos protegerá das invasões digitais americanas???
 
 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

BIG SUR - HENRY MILLER

 
 
Big Sur, a localidade escolhida, no litoral da Califórnia, por Henry
Miller, e muitos outros existencialistas americanos, ficava numa
falésia, sobre o mar, onde eles construíram seu reduto para meditar
sobre a vida e refletir sobre o convívio humano.
 
Local bonito, de natureza abundante, no qual tentaram viver numa
condição mais humanista e menos binária, do que aquela que a
sociedade americana, e outras, corriam o risco de se transformar.
Ou consumir, ou ser consumido pela máquina da produção e do
consumo.

ARIANO SUASSUNA - O BRASIL REAL E O BRASIL OFICIAL

Ariano Suassuna - O Brasil Real e o Brasil Oficial Hoje pela manhã tive a alegria de assistir a palestra do grande teatrólogo, escritor, professor Ariano Suassuna.
Figura humana suave, simpática, comunicativa, interativa, foram duas horas de boas histórias, poesia, literatura, valorização da brasilidade verdadeira, simplicidade, humildade, e muita verdade.
Desde Cervantes, seu personagem D. Quixote, passando por Otelo, O Mouro de Veneza, e sua amada Desdêmona, Suassuna passeou por brincadeiras com o numeroso público, valorizou a história de Santa Catarina e Florianópolis, elogiou o grande número de jovens presentes, lembrou que os jovens chamam a cidade de Floripa, fugindo do nome Florianópolis, em homenagem a Floriano Peixoto, que mandou fuzilar e enforcar muitos Desterrenses ilustres, contrários a seu governo autoritário.
Fez uma viagem pela história, pelas artes, pela cultura em geral, mostrando as diferenças entre o que ele chama de país real e país oficial.
O real se refere à vida das pessoas, suas soluções encontradas para viver, as dificuldades reais existentes, a criatividade brasileira, que criou uma nação de pessoas autênticas, e muito guerreiras.
O oficial é o Brasil dos governos, do poder, dos políticos, dos donos da economia, que vive à parte da realidade nacional, em um mundo de faz de conta, que só se justifica para os quem têm poder, para aqueles beneficiados pelo poder.
Deu seu testemunho de sua fé no Brasil de verdade, aquele país que vive agruras, mas que desenvolveu uma tecnologia social que ajuda e resolver os problemas criados pelo Brasil oficial.
Ariano Suassuna encerrou sua apresentação com uma poesia de amor para a sua mulher, que vive com ele há 66 anos, quando se casaram e passaram a viver apaixonados, ao ponto dele se emocionar, e chegar às lagrimas, ao final da declamação.
Ele, que tem 86 anos, continua apaixonado pela "linda mocinha de olhos brilhosos, que um dia o cativou com o olhar".
Valeu a manhã, e muito mais.
Ver esse homem de 86 anos, com a simplicidade do Papa Francisco, tendo, aliás, o mesmo ídolo, Jesus Cristo, é uma injeção de fé na vida, na simplicidade, na humildade, na forma direta de resolver os problemas que surgem, e de lançar esperanças para o futuro.