quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

AGÊNCIAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCOS, OU CORRETORAS DE INTERESSES?

O Governo da Alemanha acaba de tomar atitude inusitada.
A Chanceler Angela Merkel, através de porta-voz, abriu críticas contundentes contra a atuação dúbia das agências de classificação de risco.
Uma agência norte-americana, na semana que passou, ameaçou baixar a cotação da Alemanha, para um estado duvidoso de liquidação de seus débitos.
O governo alemão não deixou barato, chamou a atuação da referida agência de ação política para criar uma cortina de fumaça sobre a enorme dívida dos Estados Unidos.
Que, por sinal, é maior que a soma de todas as dívidas de todos os paises da Europa.
Deu a entender que essas agências, organizações privadas, mantidas por interesses privados, poderiam estar a serviço de outros interesses, meramente políticos.
Atingir a Alemanha, neste momento, em que aquele país ostenta invejável saúde econômica e financeira, e diante dos enormes esforços para estabilizar o Euro, pode, efetivamente, se constituir num pesado golpe contra a nova moeda européia.
Há duas semanas, o primeiro ministro inglês, em atitude irresponsável, anunciou que o euro tinha vida curta.
Um pronunciamento desses, em momento sensível, só serve para tumultuar, e ameaçar, os enormes esforços que a Europa vem fazendo para consolidar a UE.
Todos sabem que o ministro Cameron é um aliado dos EUA, e que a Inglaterra vem agindo, nos ultimos 15 anos, como um fiel escudeiro dos americanos, tanto na política, como nas ações bélicas, contra Iraque e Líbia.
No caso da Líbia, transformou a decisão da Onu de criar uma zona desmilitarizada para proteger civis, em uma sangrenta guerra de caça a Kadafi.
Ação que só sossegou após pesado bombardeio ao comboio onde o ex-mandatário Líbio foi caçado, aprisionado, torturado e morto, sem qualquer julgamento, ou rito legal.
Os franceses, ingleses e americanos, recriaram as cruzadas, indo muito além do mandato da ONU, em ação de eliminação física de um desafeto.
Mas voltando à Europa, e ao Euro.
É sabido que o sistema financeiro internacional, privado, não aceitou muito bem a criação da UE e do euro.
A Europa unida se transformou no terceiro prato de uma balança, que acreditavam os especuladores financeiros, ficaria entre China e Eua.
Uma binariedade interessante, pois a China, hoje, junto com a também não democrática Arábia Saudita, é responsável por significativo valor aplicado em títulos dos EUA, que ajuda a financiar a não divulgada dívida americana.
Essa terceira força, a UE, modifica as relações bi-laterais entre americanos e chineses, em multi-laterais, envolvendo todos os paises da zona do Euro.
E as citadas agências, que não passam de corretoras de interesses de bancos, investidores, e especuladores, usam mal seus relatórios e análises, como se poder tivessem sobre países e nações soberanas.
Está certa a Chanceler Angela Merkel, pois para falar ao mundo, em termos de riscos, investimentos, dívidas, e outras questões, já existem o FMI, os órgãos técnicos da ONU e outras instâncias.
Se for permitido que agências, que representam interesses privados, que os nomes e identidades nem são divulgados, continuem a se manifestar como se órgãos oficiais fossem, a especulação financeira pode começar a quebrar países, de acordo com interesses menores.
Sociedades inteiras não podem ser condenadas a seguir medidas decorrentes de boatos, de pseudo estudos técnicos, de organizações que não são aferidas, ou controladas, por qualquer órgão, que possa atestar a seriedade, o acerto, e a procedência das afirmações veiculadas.
Ainda mais num momento como o que vivemos, quando os EUA, por sua eleição no próximo ano, trava uma batalha interna descomunal, claramente entre os defensores da indústria da guerra, contra os defensores da expansão dos benefícios sociais.
As medidas que forem tomadas naquele país repercutirão em todo o mundo.
Assim, estariam essas ameaças das agências criticadas pelo governo alemão, ligadas ao esforço de esconder a fragilidade americana, e ajudar a esconder a realidade do dólar, que sofreu queda acentuada?
O que se conclui é que, haja o que houver, empresas privadas têm que ficar a treladas à sua faixa de atuação, não invadindo os espaços dos órgãos oficiais.
Caso contrário, estará sendo reproduzido, no meio financeiro internacional, o modelo do assassinato de Kadafi.
Se cria uma situação fictícia, sobre uma situação real, e se divulga de acordo com interesses, que nem sempre são legítimos.
Não podem, tecnocratas em escritórios em NY, determinar o que toda a sociedade Grega, por exemplo, terá que fazer.
Isso cabe a governos legítimos, eleitos pelo povo, ou por órgãos de governança supra-nacional, como é a ONU.

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