Seres humanos são seres contextuais.
Todos, desde que nascemos, estamos em um contexto, como os peixes estão na água, como os animais nas terras, no campo, na floresta.
Contextos são como círculos de espelhos nos quais nos refletimos, nos miramos, vemos e somos vistos.
Contextos são as pessoas que nos cercam, os ambientes que habitamos, os lugares que freqüentamos, as emoções que sentimos, as lembranças que temos, os cheiros que reconhecemos, os ruídos que ouvimos, as sensações que percebemos, as percepções que reconhecemos, as imagens que vemos, os sonhos que tivemos, enfim, todo o patrimônio material e não material que nos embala, que nos envolve, que nos acalenta e desenvolve.
Contextos são olhares, sorrisos, muxoxos e tristezas. Contextos são alegria, explosões, música e canções.
Contextos são lágrimas, que correm e secam, que afastam e aproximam, aprovam e reprovam, afagam e agridem.
As pessoas nascem em um contexto, vivem em vários contextos e morrem, ou
começam a morrer, quando ficam descontextualizadas, quando perdem seus contextos, quando não são reconhecidas pelos contextos, quando não mais reconhecem os contextos, ou quando não podem mais erigir contextos.
Contextos são formados por um elenco de imagens, sensações, lembranças, prazeres, dores, saudades, aspirações, realizações, sonhos e emoções.
Contextos e pessoas mantêm uma interatividade, uma conectividade, uma elaboração permanente e evolutiva, regressiva e especulativa.
Nossas roupas são uns dos elementos mais imediatos de nossos contextos físicos, nossas casas, nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nosso trabalho.
Os contextos são dinâmicos, orgânicos, móveis, mutáveis e evolutivos.
Contextos são pessoas, são como pessoas, contextos são a vida.
A relação de ar e umidade, de frio e calor, de vento e água, de céu e nuvem, de árvore e flor, tudo é contexto.
Contexto é vida e dignidade, ou o abandono e a solidão.
Pode ser construção ou destruição. Evolução, atraso, condenação ou perdão. A fome, a saciedade, a justiça e a gratidão. Cura, doença, esperança e salvação.
Ver, sentir, ouvir, cheirar, tocar. Odiar ou amar.
Contexto é herança, evolução, escolha e definição.
Nós construímos contextos, e por interatividade os contextos nos constroem, também.
Ou nos destroem. A linguagem dos contextos é que determina seus efeitos.
Contextos podem ser vida ou morte.
A escolha é nossa!
Seres humanos são microcosmos, são pequenos mundos, são como planetas em uma constelação maior, que é a sociedade em que vivem, o mundo em que habitam.
Pessoas são subjetivas e elaboram idéias, impressões e comportamentos a partir de suas evoluções e subjetividades.
Existem quase sete bilhões de seres na face da Terra, e igual numero de opiniões, idéias e certezas.
Igual numero de identidades pessoais, impressões digitais, dna e padrão de voz.
Somos todos iguais, mas somos todos tão diferentes!
Nossas individualidades sempre concorrem e colidem com a coletividade, com os outros bilhões de mentes, que também possuem suas certezas.
Somos como pequenos planetas, com anéis em torno, que se chocam com os anéis, iguais, dos outros planetas.
Para conviver em ambientes coletivos, os seres humanos constroem pactos éticos para que haja padrões a serem seguidos por todos, de forma a criar espaços coletivos de convívio.
Assim nasceram as leis, os regulamentos, e as regras.
Assim o ser humano evoluiu ao longo dos tempos.
Saímos da idade da pedra, da vida nas cavernas, organizamos a agricultura, fomos para as tribos, para os feudos, para a época dos reis, e depois para as leis.
Esse aprendizado não se deu rápida nem facilmente. Foram muitos séculos de força bruta, de guerras, de dominação pela força e pelas armas.
As sociedades democráticas e organizadas são bem recentes e a construção de civilização, e avanço social, é bem jovem num mundo de milhões de anos.
A verdade é que não sabemos de onde viemos e para onde vamos. Apenas sabemos, um pouco, sobre nossas existências materiais neste mundo conhecido.
Como pouco sabemos elaboramos teorias, construímos crenças, e nos apegamos a opiniões.
O desenvolvimento científico é recente, os avanços em saúde, educação, vida em sociedade, justiça e direitos individuais, e sociais ainda estão em implantação em várias partes de nosso globo terrestre.
A evolução se dá a passos lentos no nível conceitual.
Ciência e tecnologia avançaram, e avançam celeremente pelas mãos dos seres humanos.
Paradoxalmente, os seres evoluem lenta e perigosamente, pois ainda mantemos nossos instintos de sobrevivência muito presentes e nossas reações emocionais facilmente sobrepujam a pseudo-modernidade de nossos comportamentos.
Ainda somos regidos pelo medo da morte, pela fome, pelo sexo, pelas desigualdades e pelas diferenças.
Somos extremamente racionais para desenvolver medicamentos e alimentos com alta dose de tecnologia embarcada, mas ainda não sabemos distribuí-los para todos que os necessitam.
Temos a cura em nossas mãos, mas a doença ainda é muito presente.
Falamos em paz, mas gastamos mais com a guerra do que com a cooperação.
Falamos em amor, mas negamos carinho e solidariedade para quem sofre.
Falamos em ambiente, mas jogamos nosso lixo nos solos e nos mares, no verde, e nos ares, nos rios e em todos os lugares.
Somos um mundo só, um único contexto, e precisamos conviver melhor com os outros e com o nosso mundo.
Para conviver é preciso viver, e para viver, precisamos sobreviver.
Para sobreviver o mundo precisa mudar, novos contextos terão que surgir, novas posturas serão necessárias, e as individualidades terão que evoluir para a cooperação e o coletivo.
A vida é um paradoxo.
Ela é uma aventura, e uma ventura, da qual todos sairemos mortos.
Mas podemos fazê-la melhor.
2 comentários:
Bela reflexão! Ótimas observações.
Ótima reflexão!!
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