domingo, 27 de março de 2011

A Resolução da ONU, O Paralelo Entre LIBIA e IRAQUE, e as lições do IRÃ de 1953 e 1979

Crises nos países Árabes: os cuidados que a ONU deve adotar para que a Libia não seja transformada em um novo Iraque


Muito interessante a forma como as manifestações contrárias aos governos estão ocorrendo em vários paises, simultaneamente. E interessante também, são as coincidências que se verificam e as paradoxais formas diferentes de tratar situações quase iguais, de forma completamente diferente, que a ONU e vários países do G7 estão adotando.
Vivemos um momento mundial em que a questão energética é cada vez mais uma aguda preocupação para as nações consumidoras de petróleo. As industrias automobilísticas nunca venderam tantos carros, em todo o mundo, como nos dois últimos anos.
Ai já se tem o primeiro paradoxo: enquanto o mundo se debate por um ar mais puro, e as nações mais ricas continuam aplicando poucos recursos nessa direção, as mesmas nações usam de todos os meios possíveis para aumentar a venda de veículos.
Ou seja, os interesses privados de lucro, mais uma vez, comandam questões estratégicas ambientais, que deveriam ser altamente prioritárias em nossa atualidade.
Essas mesmas nações mais ricas, que compõem o G7, e também predominam no Conselho de Segurança da ONU, são as mesmas que, sob o comando da OTAN, e por mandato das Nações Unidas, estão bombardeando a Líbia.
Mas a resolução da ONU autorizou uma ação no sentido de se manter uma zona aérea, um corredor de não-intervenção dos aviões libios, para resguardar uma faixa por onde os cidadãos daquele país pudessem se deslocar sem serem bombardeados.
Muito curioso esse aspecto. Os aviões das nações do G7, comandadas pela OTAN, bombardeiam a Líbia quando deveriam cumprir a ordem da ONU, que era justamente a criação de uma zona sem bombardeios.
As ações até então empreendidas começam a lembrar a questão das “armas de destruição em massa”, tão brandidas por Bush e Cheney, para justificar a injustificável invasão e destruição do Iraque.
Os movimentos de oposição e as demonstrações contrárias aos governos de paises árabes, sem qualquer dúvida, ocorrem num momento em que estão disponíveis meios de comunicação mundial e instantânea que geram informação imediata, e que passam a relatar a história de forma pessoal, direta sem a intervenção, ou a interpretação, de intermediários.
Sem dúvida, que os processos sóciopolíticos sofrerão acelerações e mudanças de padrão com as tecnologias disponíveis.
Mas uma dúvida que fica é a razão dessas manifestações não ocorrerem em países onde o uso indiscriminado das redes sociais, com acesso por celular e computador, é muito maior e onde já se tem mais de um celular por habitante. Justamente os países mais ricos do mundo.
Os paises árabes, pobres e com grandes fossos em termos de renda e concentração de recursos, já teriam esse contato massificado de seus cidadãos com micros, notebooks, Internet e redes sociais?
Talvez a pobreza, a miséria, a injustiça social, a falta de direitos para as mulheres, tenham influenciado aquelas sociedades muito mais do que se possa aquilatar como espectadores distantes de uma realidade muito pouco conhecida.
Mas não podemos deixar de lembrar das manifestações insufladas por EUA e Inglaterra, no Irã, no ano de 1953, quando juntos, os governos desses dois paises financiaram a escória social da antiga Pérsia, apoiando o Xá, e depuseram um primeiro ministro democrático, escolhido em processo legítimo e legal.
O golpe foi perpetrado para defender os interesses petrolíferos ingleses, que não se conformavam em ter que pagar os valores dos royalties cobrados pelo soberano governo iraniano.
Naquele ano também ocorreram manifestações, agitações, explosões e combates de “milícias populares”, contra Mosadegh, o dirigente que não se dobrava e queria que a produção da refinaria de Abadan tivesse um retorno digno para ajudar a financiar a construção de uma sociedade menos miserável.
O financiamento do terrorismo no Irã atingiu seus objetivos imediatos e o ministro indesejado foi derrubado, aprisionado e morreu na cadeia.
O petróleo iraniano foi dominado por ingleses e americanos a preços simpáticos e confortáveis para os golpistas de ambos os lados. Só não foi bom para o povo daquele país, que na miséria e na descrença ficou mais 26 anos nas mãos de uma falsa realeza, montada por interesses menores e sem qualquer preocupação com a cidadania.
Em 1979 em reação ao regime vigente a revolução no Irá foi deflagrada por autoridades religiosas, que hoje ainda comandam aquele país.
Durante a chamada revolução dos Aiatolás, muitas foram as faixas fotografadas nas mãos de populares, que diziam: vamos vingar Mosadegh.
Assim, não são poucas as situações que a história nos coloca para que façamos comparações e a devida e fria análise dos fatos atuais, e que lançam dúvidas sobre a fidedignidade das questões reais que ocorrem no norte da África.
Outro ponto a ser incluído nesse tabuleiro de xadrez geopolítico, é no tocante à Arábia Saudita. Pais ditatorial, que leva o nome da família que o domina, grande produtor de petróleo e com interesses associados aos norte-americanos desde 1930, mantém a sociedade civil sob duro controle político e comportamental, sem que tenha recebido qualquer admoestação dos EUA, da ONU e de qualquer dos países da “coalizão”, que hoje bombardeiam a Líbia, sob o comando da OTAN. Que não deixa de ser outra curiosidade: a OTAN é a sigla de Organização do Tratado do Atlântico Norte, em inglês se escreve NATO.
E essa organização tem mandato para operar no Mar Mediterrâneo, no norte da África?
É claro que essas questões serão respondidas pelo desenrolar dos acontecimentos e o mundo todo aguarda, além da necessária verdade, a pacificação das situações, para que se possa experimentar a paz e o entendimento.
A Democracia é o grande sonho mundial, e a integração entre os povos, com o nivelamento de benefícios e direitos, é o principal objetivo humano.
Para chegar a esses patamares são necessários transparência e respeito no trato das questões essenciais, como garantia de que não se está construindo, ou perpetuando, a existência de dois mundos: o dos que dominam os instrumentos da guerra e da força, e o dos que por elas são dominados.

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