O presidente Lula encerra seu governo com uma crítica contundente à política econômica do presidente Barack Obama, externada durante reunião ministerial. Lula alega que o pacote americano, ao injetar 600 bilhões de dólares na economia dos EUA, peca pela falta de solidariedade e pela mediocridade. O que chama a atenção nessa posição do presidente brasileiro é justamente a semelhança de padrões entre os resultados da crise americana de 2008 e da brasileira de 2009/2010, e as medidas tomadas no Brasil, pelo governo Lula. O Brasil foi inundado por recursos para crédito abundante por todos os órgãos sob supervisão direta do governo federal, desde o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BNDES, até a isenção de impostos sobre vários itens e bens duráveis, para estimular o consumo e não permitir que a economia brasileira entrasse em recessão. Com essa enxurrada de crédito e isenções, o Brasil enfrentou marolas e não tsunamis como anunciou Lula, na época.
Apesar dos cortes de impostos terem afetado os repasses para municípios e estados e a inadimplência ter crescido muito em nosso país, ameaçando a formação de uma \"bolha\" que poderá se manifestar no governo de Dilma Roussef, até o momento, a exuberante injeção de dinheiro e crédito produziu efeitos satisfatórios, não deixando a economia nacional passar para a lista dos combalidos países como Grécia, Espanha, Itália e outros que preocupam os membros da Comunidade Europeia. Além disso, felizmente, o aumento de juros para segurar o volume de moeda circulante e a ameaça de uma inflação de demanda não tem sido necessário, o que segura a dívida pública governamental, apesar de seu montante estar chegando a níveis preocupantes, tendo em vista o valor pago anualmente pelos juros decorrentes de sua permanente renegociação. Mas o que chama a atenção na crítica de Lula, além dos aspectos econômicos, é o lado político dessa posição. Barack Obama é o primeiro presidente negro dos EUA, se elegeu numa virada de situação patrocinada pelo eleitor americano, contra a direita conservadora liderada por George W. Bush e a sua política de privilegiar a indústria bélica e as guerras no Afeganistão e no Iraque. A crise financeira foi causada pela irresponsabilidade do governo de Bush, que afrouxou a regulação sobre os mercados especulativos, permitindo que os fundos lastreados em "derivativos", e outras picaretagens, contaminassem a economia americana e se espalhassem pelo mundo todo ameaçando a formação de uma crise global. Nessa época, não se viu ou ouviu críticas do presidente Lula ao governo Bush como agora se manifesta o dirigente brasileiro em final de mandato. Lula, em recente mensagem presidencial em cadeia de rádio e tv, mostrou orgulho pela derrubada das barreiras de preconceitos, quando o Brasil elegeu um operário para o cargo máximo e uma mulher para a sua sucessora. Sem retirar os méritos que ele e Dilma merecem por estarem nessas posições, é de se estranhar que essa alternatividade saudada aqui no Brasil, não seja devidamente valorizada quando ocorre na sociedade americana, patrocinada pelo alternativo Presidente Obama. Num momento em que se assistem manifestações conservadoras dos setores mais retrógrados dos EUA, representados pelo exótico e ameaçador Tea Party, não seria interessante o alternativo Presidente Brasileiro se solidarizar com o Presidente Obama para que essa onda ortodoxa da direita americana não volte a se espalhar pela América Latina, gerando efeitos já vistos e que deixaram profundas marcas na caminhada democrática de muitos países de nosso continente? Afinal se Lula reclama da falta de solidariedade nas medidas econômicas americanas, não estaria lhe faltando coerência em sua crítica ao pacote econômico do Presidente Obama? Falta de solidariedade e mediocridade, marcaram o Governo Bush, em relação ao mundo todo, quando somente os interesses "de segurança" americanos eram levados em conta e as ameaças de guerras e ocupações foram associadas ao desrespeito aos direitos humanos. Salvar a economia dos EUA pode ser uma das boas heranças que Barack Obama poderá deixar para as relações com o Brasil, ainda mais considerando o nível de transações entre os dois paises
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