sábado, 4 de dezembro de 2010

CORRA LULA, CORRA!

Dilma Roussef foi eleita pela maioria do eleitorado brasileiro para ser a Presidente do Brasil, a partir de janeiro de 2011.
Fato histórico e marcante na vida brasileira por ser a primeira mulher a chegar a essa posição.
Essa escolha vai mudar muitos paradigmas de nossa sociedade, principalmente aquele tão enraizado nas cabeças mais limitadas e antigas, de que política é assunto para o segmento masculino.
E o último governo, este que acaba em 31 de dezembro em nada desmentiu essa asneira.
A maioria esmagadora de ministérios e cargos elevados da Republica foram ocupados pelos representantes homens, como o são os dos governos estaduais e, em muitos casos, continuarão sendo.
Tudo isso mesmo estando a população brasileira, e o eleitorado, majoritariamente femininos, conforme atestam os mais atualizados levantamentos do IBGE.
Falta menos de um mês para que Dilma possa começar a governar, do seu jeito e com as premissas que lançou na fase de campanha eleitoral, e as promessas que fez ao eleitorado.
E ela anunciou, para surpresa de alguns e contrariedade de muitos, que pretende levar significativo numero de mulheres para ocupar os principais postos de mando em Brasília.
Em seus primeiros pronunciamentos públicos, nos quais teve o privilégio de não contar com a presença ou a sombra do atual Presidente, ela expressou aspectos muito interessantes de suas crenças.
No primeiro, muito marcante, deixou claro que não aceita censura ou limitação da ação da imprensa, expressando que prefere o barulho de uma imprensa livre ao silencia das ditaduras.
E ditaduras no plural, teve endereços bem certos aos grupos radicais que pretendiam diminuir a atuação da imprensa numa sociedade democrática.
Também enalteceu a importância da mulher na sociedade atual, anunciando, felizmente, um governo mais feminino assegurando renovação e sensibilidade, competência e inovação na gestão federal.
Promessa que destaca a diferença com a masculina composição do ministério do atual Presidente.
Também chama a atenção a exageradamente vigilante postura de Lula sobre a sua sucessora.
Numa entrevista conjunta, em que Dilma quase não falou, Lula deixou no ar uma frase simples e direta, bem do seu estilo objetivo ao extremo, quase rude, que encerrava uma expressiva atitude controladora sobre a autonomia da nova Presidente do Brasil.
Disse Lula: “se ela fizer o dever de casa, e ela sabe o que tem que fazer, ela terá o direito de poder disputar a reeleição em 2014”.
Mas por tudo o que se sabe, o direito de disputar uma reeleição tem todo o ocupante de cargo eletivo, desde que a Justiça Eleitoral o permita, que a legislação existente o preveja, que o partido ao qual o candidato estiver filiado aprove em convenção soberana e, principalmente, que o eleitorado brasileiro o eleja para um segundo mandato.
Essa afirmação de Lula, na verdade, contém um recado para Dilma, como dizendo: presta atenção ao que eu falei, faz direitinho o dever que passei e lá adiante vamos conversar de novo.
Ontem, Lula voltou a se manifestar sobre o ainda nem iniciado Governo Dilma e fez uma afirmação bem menos enigmática e quase afrontadora à autonomia que Dilma busca construir para montar sua equipe.
Não contente em colocar uma grande equipe de homens de seu atual governo para que continuem no próximo, diminuindo os cargos que estariam disponíveis para a Presidente colocar mulheres de sua confiança para tocar a mudança, Lula disparou: “tenho que me cuidar muito para não ficar na oposição a Dilma”.
O que depreender dessa manifestação?
Pode-se entender, mais ou menos, assim: se não fizeres o que te digo e recomendo, podes ter que me enfrentar na oposição a teu governo, a minha e das correntes do partido, que me seguem.
Nem a atual oposição conseguiu enviar recado tão duro para a Presidente eleita, nesta difícil e confusa fase de montar uma equipe.
Além de tudo, Dilma está herdando um governo de Lula, com perspectivas de ter que se elevar juros para evitar inflação causada pela inundação do crédito, com uma divida interna de valores elevadíssimos, com compromissos salariais salgados, com uma elevação de gastos governamentais preocupante pelo governo que sai e finalmente, por uma situação mundial de crise e incertezas, muitas incertezas.
Tudo que irá exigir muita atenção e dedicação da nova Presidente para que a situação econômica do Brasil não vire grande problema para o governo e para a sociedade brasileira.
Lula recebeu o governo de FHC, com a economia estável, uma situação mundial altamente favorável e perspectivas muito tranqüilas.
Seu grande mérito foi não alterar nada e dar continuidade ao que encontrou.
Essa é a grande diferença inicial entre os governos de Dilma e Lula.
Enquanto ele recebeu o governo de FHC, ela o receberá de seu companheiro de partido, em condições mais difíceis, pois não lhe será permitido alegar que o governo anterior lhe deixou um fardo.
Nesta altura, depois de 8 anos na Presidência, faltando pouco mais de 20 dias para o inicio da gestão de Dilma Roussef, poder-se-ia entoar um coro com as palavras adaptadas do conhecido e atual filme alemão, com a atriz Franka Potente, e recomendar ao atual Presidente: corra Lula, corra.
Corra e deixe logo o Governo, dando a necessária tranqüilidade para que sua sucessora possa escolher a sua equipe com autonomia, independência, e a necessária competência técnica, fatores que possam lhe permitir desfazer os nós herdados e enfrentar todos aqueles que a realidade lhe reserva.

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