quinta-feira, 16 de julho de 2009

PINA BAUSCH - a dança-teatro das impossibilidades humanas


A doce e realista coreógrafa alemã Pina Bausch, faleceu recentemente.
As boas, competentes e belas, pessoas não deveriam morrer, jamais. E Pina, em seus 68 anos, era muito jovem para partir e nos deixar órfãos de suas sutileza e competência.
Pina Bausch tinha um estilo único, e seu ballet de Wupperthal era uma escola e vitrine de lindas apresentações, que representavam as grandes dificuldades humanas: o processo de comunicação e a barreira das impossibilidades.
Além de um espetáculo artístico, sempre da melhor qualidade, recebíamos uma verdadeira aula sobre a relação mulher-homem, suas carências, e a incessante busca de um amor correspondido e pleno.
Assisti sua apresentação no teatro municipal de São Paulo, num espetáculo que mostrava bailarinas e bailarinos, todos de roupas esquemáticas em cores branca e cinza claro, numa coreografia que demonstrava tentativas de aproximação e carinho entre pessoas, mas que confirmava o bloqueio da não comunicação.
Pessoas que se atraiam, que se interessavam umas pelas outras, mas que a incapacidade de transformar essas vontades em possibilidades era acentuada pela barreira do não entendimento.
Esse teatro-dança, ou dança-teatro, coreografado de forma sensível e magistral por Pina Bausch, nos emociona e leva a refletir sobre a vida, qual o seu sentido e qual a busca de sentido pela qual passamos ao longo da existência humana, tão efêmera e, ao mesmo tempo, potencialmente grandiosa.
A caminhada humana é marcada pela busca incessante de amor e carinho, de atenção e afago, de reconhecimento e estimulo.
Não basta sermos conhecidos, precisamos ser reconhecidos pelo que somos, pelo que fazemos e por nosso empenho em melhorar e evoluir naquilo que realizamos.
E o processo de comunicação humana assume papel fundamental em nossa caminhada.
Pais precisam dizer que amam seus filhos, e que deles têm orgulho, professores devem valorizar os esforços de seus alunos no aprendizado e qualidade dos trabalhos, e os chefes, líderes e dirigentes têm obrigação de estimular seus subordinados e dirigidos, oferecendo-lhes apoio, conscientização e compromisso ético, principalmente quando suas atuações ocorrem nos espaços sociais e coletivos.
Homens e mulheres precisam, quando o sentem, de dizer e ouvir um eu-te-amo, que venha das entranhas e do mais fundo de nossa essência. E que seja sempre repetido. Não existe overdose de ômega-3 nem de amor, muito menos contraindicações.
Nosso modelo de vida atual, construído como fruto das ambições humanas por riqueza, poder e grande capacidade de consumo, acaba por nos colocar no extremo oposto de nossas ansiedades de amor e reconhecimento.
Estamos vivendo o egocentrismo das vontades ilimitadas, a alienação das frustrações pequenas e individuais do consumismo não realizado, e a tristeza de nossa vida encaixotada, em pequenos imóveis, em jaulas de luxo, gradeadas e protegidas. Nos protegemos do físico, quando nossas vulnerabilidades estão nos setimentos, nas emoções e na qualidade de nossos pensamentos.
A grandeza do mosaico de alegrias que a ventura da vida oferece, a verdadeira explosão do encontro das almas gêmeas, a grande fonte de energia dos carinhos e afagos correspondidos, estão sendo trocadas pelo afastamento, pela frieza e pelo abandono do amor libertador e autêntico.
Produção e consumo, na medida certa, são suporte para a vida plena e para viver o grande amor entre seres humanos, o grande sonho de todos. Não realizar esses impulsos naturais da vida pode nos jogar na artificialidade, na dor, no sofrimento e na desfuncionalidade.
Ver coreografias de Pina Bausch pode ser um bom antídoto para esse sofrimento. Pelos menos poderemos nos contaminar com o estímulo para a busca das possibilidades.

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