quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

UMA REPÚBLICA PARA O BRASIL




A área da gestão pública, política e governamental, com suas cíclicas más atuações afastou as pessoas da vida política, que é a instância de participação da cidadania. O empobrecimento da atividade pública e política é que gera as demais crises, nas áreas dos serviços prestados aos cidadãos, na economia, nas finanças.

 Os partidos políticos, via-de-regra, afastaram a militância, que participava e representava a sociedade. Diminuíram sua representatividade, deixaram de lado a participação popular, causa principal da sua criação e existência. 
Partidos são partes da sociedade, mas autoritariamente, se apossaram dessa propriedade representativa, e passaram mais a representar interesses e negócios das áreas econômica e financeira, os novos poderes mundiais, passando a ser instrumentos menores de negociações, de pressões paras obter mais negócios, de proteção corporativa, tudo menos o seu papel original, democrático, republicano, de ajudar na construção do grande “lago” da cidadania, onde os movimentos, correntes de pensamento, tradições, sonhos, elaborações sociológicas, desaguam para formar o grande estuário da diversidade das sociedades múltiplas, democráticas, participativas.

Com as distorções políticas, geradas pelo afastamento dos cidadãos da vida partidária, a democracia passou a ser um episódico regime sazonal, que se alimenta de eleições, que acabam sendo dominadas, e manipuladas, pelos dirigentes partidários, que usam as estruturas dos partidos para emitir pareceres, opiniões, pressões, como se todos os partidários assim o fossem. 

As convenções partidárias, instância maior do processo participativo e democrático interno dos partidos, foram transformadas em bolsas de oferta e procura de votos, de coligações esdruxulas, de cooptações, pois na maioria das vezes seus resultados já estão antecipadamente estabelecidos, por algumas poucas “lideranças”, que na verdade mercadores são das ansiedades sinceras e genuínas, daqueles que colaboram com recursos, com energia, com sonhos, com participação, na esperança, e na ilusão, de estarem construindo o jogo democrático.

Em todos os partidos, a desilusão é presente, o afastamento do processo central decisório é um fato, e as decisões centrais não seguem outro processo, senão o conhecido velho jogo das raposas autoritárias, que entre poucas cabeças, que nem ligadas a partidos o são, vendem e compram consciências, e votos, para poderem mercadejar com os próximos governantes as fatias de poder para viabilizar o teatro das aparências, das máscaras kabuki, em que foi transformada a atividade, pela qual por tantos anos se lutou, na esperança de termos no Brasil uma democracia efetiva.

Não são difíceis os exemplos para mostrar, e demonstrar, como os governos eleitos, na verdade, se transformaram em balcões para pagamentos de favores espúrios, negociados nas fases eleitorais.
Basta ver a enorme carga tributária brasileira, que pouco oferece em serviços de bom nível aos contribuintes e eleitores.

A própria base tributária, acanhada, injusta, concentradora, desigual, protege grandes negócios fazendo com que não haja a mínima coerência dentro dos governos, pois durante a gestão a única preocupação governamental tem sido a arrecadação voraz, para manter elevadas as disponibilidades de caixa, para garantir os gastos oportunistas do poder de plantão.

Atualmente governos existem para arrecadar impostos da cidadania, e repassá-los aos bancos, para pagar a dívida pública, ou para emprestar, a juros baixíssimos, a projetos discutíveis, por meio de seus bancos públicos, também mantidos com recursos dos impostos.

Um exemplo claro desse fato incontestável, é o baixíssimo número de 27 milhões de declarantes do imposto de renda das pessoas físicas, numa população de 206 milhões de brasileiros.
Observem-se as desproporcionais lucratividades declaradas em balanços contábeis diante de impostos pagos por grandes empresas, grandes bancos, grandes fortunas, e ficará evidenciada a absurda forma de saquear o dinheiro das famílias em nosso país.

Enquanto o governo não resolve, por compromissos obscuros e pouco éticos, essa realidade de araque, cria instrumentos de assistencialismo pecuniário, dando dinheiro, pouco dinheiro, mas em grande volume, para que os pobres continuem pobres, e dependentes dos cofres governamentais. Pagando com seus milhões de votos, a cada eleição, as algemas que os mantem escravizados aos senhores de engenho, substituídos agora pelos senhores dos ditos partidos democráticos e governantes. 

Que na verdade assim se dizem, mas fazem negócios com banqueiros, abrandam a vida de grandes industriais, mas nada fazem para melhorar a vida dos contribuintes e eleitores, que continuam sendo usados, e mandados, como no nojento sistema escravagista, que vigorou, oficialmente, de 1.500 a 1.888, mas que na prática está em plena vigência, pois o povo brasileiro ainda se encontra nessa condição, bastando verificar os números aqui citados.

Temos 13 milhões de brasileiros, o equivalente a um total de muitos milhões de votos, dependentes dos favores financeiros de programas que oferecem um mata-fome, mas que não libertam e não permitem a evolução.
 A indústria automobilística tem desconto de IPI, mas ela não baixa um centavo de seu custo, no preço dos veículos. As ciclovias não existem e as bicicletas são oneradas com impostos elevadíssimos de industrialização.

Os supermercados aumentam indiscriminadamente os preços dos alimentos, pois para o governo o que interessa é o valor arrecadado em impostos. Comida já está sendo vendida em prestações nos cartões de crédito...
 Essa crise moral e ética é que gera outras crises.
A violência urbana aumenta, o uso de tóxicos, altamente venenosos, é uma realidade assustadora nos meios urbanos. 

Tudo diante de uma estrutura falida de segurança pública, com corpos policiais em vários níveis, que não interagem, não dignificam o dinheiro dos cidadãos gastos neles, e que a nada protegem. Só se vê, e assiste, a um grande show de corporativismo e gastos absurdos em armas, uniformes, veículos e vaidades de secretários e dirigentes.

O processo educacional, há mais de 40 anos estagnado e empobrecido, gera seus melhores resultados, ou seja, pessoas cada vez menos preparadas, menos alfabetizadas, gerando uma geração completamente perdida, pois quem não consegue interpretar o que lê, sem qualquer dúvida será mais um instrumento nas mãos dos poderes, econômico, e político. 75% dos “formados em escolas” não passam de analfabetos funcionais.

O meio ambiente está abandonado e sem qualquer estrutura pública/governamental para zelar por seu cuidado e preservação. É só ler a respeito do absurdo ocorrido com barragens de contenção, que destruiu o Rio Doce, em Minas Gerais, e levou uma grande massa de lama por mais de 700 quilômetros, jogando veneno e barro contaminado no Oceano Atlântico, depois de arrebentar várias cidades, e a vida de milhares de cidadãos em seu percurso macabro e assassino. 
Vidas perdidas, gerações comprometidas, décadas para tentar recuperar o ambiente degradado e apodrecido pela incúria governamental, que só está demonstrando preocupação em Paris, mas que no Brasil demorou mais de uma semana para visitar a região atingida e destruída.

2016 está logo ali e para 2018 são menos de três anos de espera.
A cidadania brasileira precisava dessa imensa crise governamental, moral, ética, econômica, para despertar do sonho fácil da corrupção amigável, para encerrar esse ciclo inescrupuloso no qual embarcou com docilidade forçada, diante da situação de colônia, de império, e de uma falsa e frágil república, todas situações impostas pela força, pelo arbítrio, e sem a sua necessária participação.

Vivemos o fim de um ciclo que apequenou o Brasil e de um governo de mais de uma década, que só se aproximou de exemplos negativos na América Latina, mas que nada fez para avançar rumo a um estágio mais digno de sociedade desenvolvida, efetivamente.
Vamos enfrentar crises e dificuldades enquanto não priorizarmos a educação de bom nível e as medidas que levem o Brasil na direção das nações que descobriram novos horizontes.
E esse novo patamar somente será alcançado com as mudanças necessárias na gestão pública, no processo político e eleitoral, na postura ética e digna dos dirigentes e das instituições.

Mudanças que começam, obrigatoriamente, com a alteração de nossas crenças e posturas pessoais, para que a meritocracia e a honestidade sejam pré-requisitos essenciais em nossos votos e escolhas.
A Ministra Carmen Lúcia, do STF, recentemente fez uma declaração eminentemente republicana, no sentido de que todos são iguais perante a lei.

Esse princípio de igualdade e da coisa pública ser um direito e uma obrigação de todos os cidadãos nos resgata a esperança e recoloca o Brasil no caminho da construção de uma nova relação entre instituições, e delas com a sociedade e com a cidadania.

Referia-se ela à deterioração das relações espúrias e promíscuas entre o poder e algumas quadrilhas, ocorridas no “mensalão”, depois no “petrolão”, agora escancaradas pela oportuna e competente operação “Lava Jato” e por outra intitulada “Zelotes”, que começam a resgatar a lei para todos e a cadeia para bandidos.

Disse a Ministra:
“Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou que a esperança tinha vencido o medo. Depois, descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. 
Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo.

O crime não vencerá a JUSTIÇA.”


Que assim seja!!!


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