A área da gestão pública,
política e governamental, com suas cíclicas más atuações afastou as pessoas da
vida política, que é a instância de participação da cidadania. O empobrecimento
da atividade pública e política é que gera as demais crises, nas áreas dos serviços
prestados aos cidadãos, na economia, nas finanças.
Os partidos políticos, via-de-regra, afastaram
a militância, que participava e representava a sociedade. Diminuíram sua
representatividade, deixaram de lado a participação popular, causa principal da
sua criação e existência.
Partidos são partes da sociedade, mas
autoritariamente, se apossaram dessa propriedade representativa, e passaram mais
a representar interesses e negócios das áreas econômica e financeira, os novos
poderes mundiais, passando a ser instrumentos menores de negociações, de
pressões paras obter mais negócios, de proteção corporativa, tudo menos o seu
papel original, democrático, republicano, de ajudar na construção do grande
“lago” da cidadania, onde os movimentos, correntes de pensamento, tradições,
sonhos, elaborações sociológicas, desaguam para formar o grande estuário da
diversidade das sociedades múltiplas, democráticas, participativas.
Com as distorções políticas,
geradas pelo afastamento dos cidadãos da vida partidária, a democracia passou a
ser um episódico regime sazonal, que se alimenta de eleições, que acabam sendo
dominadas, e manipuladas, pelos dirigentes partidários, que usam as estruturas
dos partidos para emitir pareceres, opiniões, pressões, como se todos os
partidários assim o fossem.
As convenções partidárias, instância maior do
processo participativo e democrático interno dos partidos, foram transformadas
em bolsas de oferta e procura de votos, de coligações esdruxulas, de cooptações,
pois na maioria das vezes seus resultados já estão antecipadamente
estabelecidos, por algumas poucas “lideranças”, que na verdade mercadores são
das ansiedades sinceras e genuínas, daqueles que colaboram com recursos, com
energia, com sonhos, com participação, na esperança, e na ilusão, de estarem
construindo o jogo democrático.
Em todos os partidos, a desilusão
é presente, o afastamento do processo central decisório é um fato, e as
decisões centrais não seguem outro processo, senão o conhecido velho jogo das
raposas autoritárias, que entre poucas cabeças, que nem ligadas a partidos o
são, vendem e compram consciências, e votos, para poderem mercadejar com os próximos
governantes as fatias de poder para viabilizar o teatro das aparências, das
máscaras kabuki, em que foi transformada a atividade, pela qual por tantos anos
se lutou, na esperança de termos no Brasil uma democracia efetiva.
Não são difíceis os exemplos para
mostrar, e demonstrar, como os governos eleitos, na verdade, se transformaram
em balcões para pagamentos de favores espúrios, negociados nas fases
eleitorais.
Basta ver a enorme carga
tributária brasileira, que pouco oferece em serviços de bom nível aos
contribuintes e eleitores.
A própria base tributária,
acanhada, injusta, concentradora, desigual, protege grandes negócios fazendo
com que não haja a mínima coerência dentro dos governos, pois durante a gestão
a única preocupação governamental tem sido a arrecadação voraz, para manter
elevadas as disponibilidades de caixa, para garantir os gastos oportunistas do
poder de plantão.
Atualmente governos existem para
arrecadar impostos da cidadania, e repassá-los aos bancos, para pagar a dívida
pública, ou para emprestar, a juros baixíssimos, a projetos discutíveis, por
meio de seus bancos públicos, também mantidos com recursos dos impostos.
Um exemplo claro desse fato
incontestável, é o baixíssimo número de 27 milhões de declarantes do imposto de
renda das pessoas físicas, numa população de 206 milhões de brasileiros.
Observem-se as desproporcionais
lucratividades declaradas em balanços contábeis diante de impostos pagos por
grandes empresas, grandes bancos, grandes fortunas, e ficará evidenciada a
absurda forma de saquear o dinheiro das famílias em nosso país.
Enquanto o governo não resolve,
por compromissos obscuros e pouco éticos, essa realidade de araque, cria
instrumentos de assistencialismo pecuniário, dando dinheiro, pouco dinheiro,
mas em grande volume, para que os pobres continuem pobres, e dependentes dos
cofres governamentais. Pagando com seus milhões de votos, a cada eleição, as
algemas que os mantem escravizados aos senhores de engenho, substituídos agora
pelos senhores dos ditos partidos democráticos e governantes.
Que na verdade
assim se dizem, mas fazem negócios com banqueiros, abrandam a vida de grandes
industriais, mas nada fazem para melhorar a vida dos contribuintes e eleitores,
que continuam sendo usados, e mandados, como no nojento sistema escravagista,
que vigorou, oficialmente, de 1.500 a 1.888, mas que na prática está em plena
vigência, pois o povo brasileiro ainda se encontra nessa condição, bastando
verificar os números aqui citados.
Temos 13 milhões de brasileiros,
o equivalente a um total de muitos milhões de votos, dependentes dos favores
financeiros de programas que oferecem um mata-fome, mas que não libertam e não
permitem a evolução.
A indústria automobilística tem desconto de
IPI, mas ela não baixa um centavo de seu custo, no preço dos veículos. As
ciclovias não existem e as bicicletas são oneradas com impostos elevadíssimos
de industrialização.
Os supermercados aumentam
indiscriminadamente os preços dos alimentos, pois para o governo o que
interessa é o valor arrecadado em impostos. Comida já está sendo vendida em
prestações nos cartões de crédito...
Essa crise moral e ética é que gera outras
crises.
A violência urbana aumenta, o uso
de tóxicos, altamente venenosos, é uma realidade assustadora nos meios urbanos.
Tudo diante de uma estrutura falida de segurança pública, com corpos policiais
em vários níveis, que não interagem, não dignificam o dinheiro dos cidadãos
gastos neles, e que a nada protegem. Só se vê, e assiste, a um grande show de
corporativismo e gastos absurdos em armas, uniformes, veículos e vaidades de
secretários e dirigentes.
O processo educacional, há mais
de 40 anos estagnado e empobrecido, gera seus melhores resultados, ou seja,
pessoas cada vez menos preparadas, menos alfabetizadas, gerando uma geração
completamente perdida, pois quem não consegue interpretar o que lê, sem
qualquer dúvida será mais um instrumento nas mãos dos poderes, econômico, e
político. 75% dos “formados em escolas” não passam de analfabetos funcionais.
O meio ambiente está abandonado e
sem qualquer estrutura pública/governamental para zelar por seu cuidado e
preservação. É só ler a respeito do absurdo ocorrido com barragens de
contenção, que destruiu o Rio Doce, em Minas Gerais, e levou uma grande massa
de lama por mais de 700 quilômetros, jogando veneno e barro contaminado no
Oceano Atlântico, depois de arrebentar várias cidades, e a vida de milhares de
cidadãos em seu percurso macabro e assassino.
Vidas perdidas, gerações
comprometidas, décadas para tentar recuperar o ambiente degradado e apodrecido
pela incúria governamental, que só está demonstrando preocupação em Paris, mas
que no Brasil demorou mais de uma semana para visitar a região atingida e destruída.
2016 está logo ali e para 2018 são
menos de três anos de espera.
A cidadania brasileira precisava
dessa imensa crise governamental, moral, ética, econômica, para despertar do
sonho fácil da corrupção amigável, para encerrar esse ciclo inescrupuloso no
qual embarcou com docilidade forçada, diante da situação de colônia, de
império, e de uma falsa e frágil república, todas situações impostas pela força,
pelo arbítrio, e sem a sua necessária participação.
Vivemos o fim de um ciclo que
apequenou o Brasil e de um governo de mais de uma década, que só se aproximou
de exemplos negativos na América Latina, mas que nada fez para avançar rumo a
um estágio mais digno de sociedade desenvolvida, efetivamente.
Vamos enfrentar crises e
dificuldades enquanto não priorizarmos a educação de bom nível e as medidas que
levem o Brasil na direção das nações que descobriram novos horizontes.
E esse novo patamar somente será
alcançado com as mudanças necessárias na gestão pública, no processo político e
eleitoral, na postura ética e digna dos dirigentes e das instituições.
Mudanças que começam,
obrigatoriamente, com a alteração de nossas crenças e posturas pessoais, para
que a meritocracia e a honestidade sejam pré-requisitos essenciais em nossos
votos e escolhas.
A Ministra Carmen Lúcia, do STF,
recentemente fez uma declaração eminentemente republicana, no sentido de que
todos são iguais perante a lei.
Esse princípio de igualdade e da
coisa pública ser um direito e uma obrigação de todos os cidadãos nos resgata a
esperança e recoloca o Brasil no caminho da construção de uma nova relação
entre instituições, e delas com a sociedade e com a cidadania.
Referia-se ela à deterioração das
relações espúrias e promíscuas entre o poder e algumas quadrilhas, ocorridas no
“mensalão”, depois no “petrolão”, agora escancaradas pela oportuna e competente
operação “Lava Jato” e por outra intitulada “Zelotes”, que começam a resgatar a
lei para todos e a cadeia para bandidos.
Disse a Ministra:
“Na história recente de nossa
pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou que a
esperança tinha vencido o medo. Depois, descobrimos que o cinismo tinha vencido
aquela esperança.
Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo.
O crime não vencerá a JUSTIÇA.”
Que assim seja!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário