A emocionalidade e o imediatismo são ingredientes questionáveis quando se precisa avaliar opções para investimentos, que possam envolver grandes impactos ambientais, investimentos elevados, promessas de muitos empregos e dispensa de obrigações públicas e isenções fiscais.
Mobilizações políticas e de lideranças da sociedade, precisam de bom embasamento especializado técnico/científico para balizar posições assumidas e dimensionar riscos, probabilidades e conseqüências.
Nas empresas, de acordo com pesquisa divulgada por John Elkington, autoridade reconhecida mundialmente em sustentabilidade, apenas trinta por cento dos executivos estão realmente envolvidos e procurando soluções novas para a questão da ação industrial sobre o ambiente natural.
Em várias organizações os programas de responsabilidade social corporativa muitas vezes são interpretados, ou confundidos, como se a empresa adotasse práticas sustentáveis.
Também não se pode interpretar o equilíbrio entre o produtivo, o social e o ambiental, como uma política sustentável efetiva e correta.
As atividades empresariais e seus conceitos, muitos deles ainda dos séculos XIX e XX precisam se reciclar, e atualizar, para a complexidade do momento que se vive, e para o futuro que está sendo deixado para as próximas gerações.
Um dos principais aspectos a ser estudado, profundamente, antes de qualquer pronunciamento, ou aprovação de novas plantas industriais, é o relativo a um sério e abrangente estudo sobre o risco ambiental.
O risco é diretamente ligado a dois fatores fundamentais: a probabilidade de ocorrência de acidente e a conseqüência que possa decorrer.
Assim, a equação (risco ambiental = probabilidade x conseqüência), nos daria uma avaliação realista de todos os fatores envolvidos, evitando a superficialidade e o imediatismo em posições assumidas.
Um investimento pode representar uma probabilidade baixa de acidentes, mas a avaliação das possíveis conseqüências danosas, mesmo de um pouco provável acidente ambiental, pode nos colocar em posição de muita cautela, pois mesmo distante da implantação, uma conseqüência pode ser muito destrutiva em termos de vidas humanas e danos ambientais.
No vale do Itajaí a ocupação, nos 20 anos depois das enchentes de 83 e 84, das encostas e topos de morros apresentou, aparentemente, baixa probabilidade de acidente por um bom tempo.
Só que as conseqüências, quando vieram, foram catastróficas e letais, em grande escala.
Os custos elevados em vidas, o abalo social e psicológico, a queda da produção industrial, o elevado custo público denunciaram, com muito atraso, que a aparente baixa probabilidade constatada nos anos oitenta, foi superada de forma surpreendente e brutal por uma conseqüência mal avaliada duas décadas antes.
Esse é outro aspecto importante.
Muitas vezes a distância cronológica entre a baixa probabilidade de acidente, na fase da implantação e a conseqüência faz com que não se estabeleça uma relação, de causa e efeito, entre esses dois fatores.
Por isso ambos devem ser muito bem estudados na fase de licenciamento de qualquer investimento, evitando que o entusiasmo imediato substitua a informação científica e de boa qualidade técnica, que poderá alertar para quadros como o que causou grande destruição em Blumenau e região em 2008, e que ainda registra metástases humanas, com pessoas e famílias vivendo em situações provisórias, e verbas prometidas, a posteriori, e ainda não repassadas de todo.
E tudo com um custo ambiental exponencial, se comparado ao que se teria investido em educação ambiental e relocação de casas e pessoas para que os morros não fossem comprometidos com a remoção da cobertura verde nativa.
Normalmente, a análise do aspecto puramente econômico deixa um bom número de lideranças e representantes políticos muito animados com as possibilidades de alguns milhares de empregos, de discutíveis valores de impostos a ser recolhidos diante das promessas das administrações municipais de renúncias ou isenções tributárias.
Muitos aspectos puramente subjetivos, como a vaidade de governantes e entidades associativas, pesam significativamente mesmo quando a prudência recomendaria a contratação de estudos altamente especializados, de técnicos e pesquisadores das nossas boas universidades e de centros de pesquisa, neutros e isentos.
O recente acidente com uma plataforma de captação de petróleo de grande profundidade, nas costas da parte sul dos Estados Unidos, é uma demonstração que a fórmula (risco = probabilidade x conseqüência) não foi devida e preventivamente estudada.
A tecnologia utilizada pela BP, supostamente já bem dominada ao longo de muitos anos, gerou um relaxamento na avaliação da possível conseqüência de um acidente, numa profundidade de 1.500 metros, menor que muitas outras sondas que são utilizadas em fossas marítimas mais profundas.
Os resultados ai estão, sobejamente noticiados e fotografados pela mídia mundial, que atesta o horror da destruição ambiental, numa vasta região que levará, se conseguir em sua totalidade, se reequilibrar ambientalmente ao longo de, no mínimo, meio século de bem trabalhadas providências.
E tudo a um elevado custo para os cidadãos e seus impostos.
Ou seja, os aparentes ganhos inicialmente constatados, foram apagados pela destruição em escala gigantesca.
A conseqüência, e eventuais dispositivos para combate-la, foram menosprezadas pelo investidor, e governo norteamericano, considerando que, até então, aquele tipo de probabilidade era, estatisticamente, muito baixa.
É lógico que a sociedade humana, às vésperas de contabilizar seus sete bilhões de seres sobre a face da terra, necessitando de alimento, abrigo, roupa, saúde e trabalho, precisa pensar em escalas que venham a atender esse quadro dos próximos 50 anos, quando poderemos chegar aos 9 bilhões.
Mas não podemos mais ignorar e desconsiderar que a exaustão das potencialidades de nosso patrimônio ambiental está chegando ao seu limite, diante deste modelo de escala que ai está e, que se quisermos sobreviver, como raça humana, teremos que abandonar visões ultrapassadas ou imediatistas, para construir uma nova relação de produção e consumo, que respeite as limitações de nossa Terra.
Não será muito difícil, se nos dispusermos a estudar e ouvir os cientistas e técnicos, que, há muito tempo, pesquisam e estudam o novo mundo possível.
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