quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A gestão estratégica no mundo pós-crise - do PIB à FIB - o Estado de solidariedade sócio-ambiental

Palestra na Semana ESAguiana 2009- UDESC
em 02.102009
(primeira parte)

O PIB, produto interno bruto, é uma forma de medir, de avaliar, de aquilatar, a geração de riqueza de um país.
A FIB, felicidade interna bruta, é um conceito criado pelo Rei do Butão, pequeno reinado situado próximo à China e à Índia.
Enquanto o PIB observa riqueza material, a FIB tenta perceber um aspecto subjetivo, o conceito de felicidade, mas que tem íntima ligação com o PIB.
Susan Andrews, pensadora e pesquisadora social, estudou e ampliou essa definição.
Criou centros de pesquisa e difusão desse conceito, elaborando tese ampla e abrangente, para levar as pessoas a reavaliar o modelo atual, que gerou exclusão social, solidão humana, ansiedade generalizada, medo e violência.
O conceito de FIB, que Susan propõe, requer que se trate o conjunto de elementos que podem compor a felicidade humana, dentro de um equilíbrio real, gerando resultados que conduzam as pessoas ao bem estar e ao respeito pela alteridade e pelo ambiente, que nos dá a vida e a preservação da vida.
Se encararmos a felicidade humana, passamos a entender que a geração de riqueza material é um elemento acessório.
Felicidade pode ser compreendida como uma sensação de bem estar físico, psíquico, grupal e ambiental, para a qual são essenciais os diversos equilíbrios entre os principais elementos que compõem a vida em sociedade e a existência dos seres humanos em grupos, e em comunidades, sejam de trabalho, pesquisa, convívio, artísticas ou tecnológicas.
Assim, a riqueza material passa a ser encarada como um meio de se atingir um estágio de grande alegria de viver mas sem a necessidade de uma acumulação de riqueza individual.
A riqueza, no conceito da FIB, é um meio que deve privilegiar os avanços coletivos de qualidade de vida, levando, por conseqüência, seus benefícios e prazeres ao nível individual das pessoas, de todas as pessoas.
É um conceito que envolve a concepção da solidariedade social/ambiental.
Já tivemos vários conceitos e clichês para a figura do Estado.
O estado de bem estar social, o estado liberal, o estado neo-liberal, o estado mínimo, e outros jargões. Mas a consciência da necessidade de construirmos uma sociedade rica, material e espiritualmente, nos remete a um novo conceito para o Estado, como ente de ordenação da conduta humana.
A proposta é que implantemos o Estado de Solidariedade Sócio-Ambiental.
O que é isso?
É o reconhecimento de que toda a parte material da vida se constitui em um conjunto de meios para a construção da felicidade.
O alimento, o trabalho, o abrigo, o transporte, e outros, são insumos para a manutenção de um corpo, que suporta uma alma, ou espírito, onde as percepções da realidade podem infundir sensações de bem estar, que levariam a uma alegria de viver, que seria aferida e retratada pela FIB.
A alegria maior se daria na constatação que todas as pessoas têm direito a esse estado de felicidade, acessível por todos e acessado através de meios materiais, que teriam a função de construir as bases objetivas do bem comum.
Como se pode ver, e depreender desse conceito, a sua acolhida pela sociedade, pelas empresas, e pelos governos e demais órgãos que compõem o Estado, gerará uma mudança significativa de conceitos e ações nas gestões, públicas e privadas, e nas prioridades.
Vejamos a situação que levou à recente crise financeira e bancária, que afetou a área produtiva e gerou problemas e apreensão a quase todo o mundo.
Operações especulativas, não permitidas em lei, irregulares e ilegais, portanto, de alguns grupos econômicos (e pessoas) inescrupulosos, principalmente financeiros, dos Estados Unidos, criaram uma bolha, uma ficção, para atrair compradores e investidores e consumo de certos bens.
A bolha explodiu, grandes empresas quebraram, bancos também quebraram muitos entraram no vermelho, fundos de investimentos viraram pó, papéis “promissores” se transformaram em micos repelentes e a sociedade humana global foi ameaçada de depressão, econômica e emocional, com a ameaça do desemprego e da desindustrialização batendo às portas de todos.
Mais uma vez o medo foi utilizado pelo poder para levar a humanidade a aceitar que o dinheiro de seus impostos, que deveriam estar gerando meios e serviços coletivos para as pessoas, fosse utilizado pelo Estado para salvar da bancarrota os mesmos bancos e empresas que especularam, que iludiram a muitos com as suas promessas de grandes ganhos materiais mentirosos e inexistentes.
Ou seja, a ilusão da riqueza material, a grande nuvem de fumaça do status e do egoísmo, do individualismo exacerbado, foi utilizada para levar sociedades inteiras ao desespero, ao pânico e à angustia.
Mas um dado se destaca nisso tudo.
Uma crise financeira e bancária, gerada por interesses privados, foi contornada,´e superada, pela ação estatal, com dinheiro público, dos contribuintes
A mão do Estado estendeu o chapéu alheio e aportou recursos volumosos para tapar o buraco de empresas. Recursos que, se aplicados em saúde, educação, segurança e inovação social, teriam permitido avanços inimagináveis, num mundo em que milhões de seres humanos abandonados a seu próprio destino, morrem anualmente de fome, desnutrição, falta de remédios e desamor.
Quando se fala na crise recente, não podemos deixar de lembrar que essas situações criadas para assaltar o Estado, já são uma prática comum para um capitalismo de ocasião e interesses bem focados.
Em 1989, dois eventos mudaram o mundo.
A queda do muro de Berlin, com o fim da divisão do território alemão, mostrou a crise do socialismo e levou à criação do termo “globalização”.
Quase simultaneamente, mas bem menos noticiado pelos interesses político/econômicos, por questões ideológicas, um outro “muro” caia na cidade de Washington.
Numa reunião de agências de desenvolvimento, de banqueiros e algumas grandes corporações privadas, ocorreu importante deliberação, que foi batizada de “Consenso de Washington de onde saíram novos conceitos e imposições para os paises sub-desenvolvidos.
A geração de um exceço de capitais financeiros, não reaplicados na produção, nem nos espaços coletivos, precisava de novas oportunidades para render ganhos e lucros a seus detentores. A voracidade de grandes massas de capital flutuante buscava, pelas infovias, novas vítimas para a sede de lucros.
Um elenco de medidas foi aplicado aos paises com problemas.
A "globalização", foi termo criado para, na verdade, acobertar a financeirização da economia mundial pelos donos de Wall Street.
Assim, sociedades que haviam recém saído de crises e ditaduras, em geral financiadas e estimuladas pelos membros do “Consenso”receberam a seguinte prescrição:
-abrir suas economias para os grandes investidores
-privatizar suas infra-estruturas
-encolher o aparato estatal para um “Estado mínimo”
-apoiar a ação do “mercado”
-criar um espaço para a cidadania, desde que não governamental
Dessa forma, numa relação desigual, capitais privados foram agraciados com novos e promissores ganhos sobre as redes, já implantadas e financiadas pelas sociedades desses paises.
Não houve ingresso de novos capitais, as aquisições foram financiadas por bancos estatais, mais uma vez, e as prestações puderam ser pagas pelo fluxo dos próprios sistemas e serviços “privatizados”.
O consumo deslumbrado de bugigangas tecnológicas foi altamente estimulado, deixando de lado a importante questão ambiental.
Afinal, todas as carcaças e estruturas desses aparelhinhos, utilizam minério de ferro, que além de ser exportado por preços aviltados, ainda causa enorme impacto ambiental. Não só na produção, mas na formação do lixo pós consumo e pós industrial/tecnológico.

A Gestão Pós Crise

A área produtiva, empresas e organizações comerciais, industriais e de serviços, terão que ocupar novo papel na sociedade. A visão antiga de transformação de insumos em produtos e serviços para obtenção de lucros financeiros, salários aviltados e afastamento das demandas sociais legítimas, terá que ser substituída por um novo conjunto de conceitos. As empresas terão que se redefinir como unidades sociais produtivas-usp, organizações que passam a cumprir e exigir, a toda a cadeia produtiva envolvida, responsabilidade nos campos ambiental e humano. Seus insumos terão que responder a quesitos éticos, sócio-ambientais. Permancecer atentas às mudanças e demandas sociais e ajudar na construção de políticas públicas, junto com as entidades estatais e governamentais, para responder às demandas legitimas e pertinentes da sociedade. A questão do lixo pós-consumo e pós industrial, a reciclagem de embalagens, detritos e efluentes
(continua)




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