quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Mensagem para o Escritor Amilcar Neves

Crônica e livros - em 07.11.2007

Prezado amigo Amilcar

Li tua crônica de hoje no DC e te parabenizo por ela.
Como dizes, temos formas muito baratas e eficazes de promover a literatura de SC.
Quando estive à frente da Embratel em SC, além de lançar o Espaço Cultural, como forma de apoiar e estimular as manifestações artìsticas de nossa gente, desenvolvemos o programa "O Livro na Escola".
Como as editoras acumulavam muitos volumes de bons livros de autores catarinenses, nosso projeto visava exatamente aquilo que relatas em teu texto: adquirir vários exemplares a preços baixos, distribuí-los gratuitamente nas escolas e bibliotecas municipais levando, posteriormente, o autor para encontros com os alunos e professores e debates com a comunidade escolar.
Lamentavelmente, esse programa, assim como todos os outros na área social que tinhamos implantado ( O Mocotó-Net (uma brincadeira de palavras), que visava capacitar crianças e adolescentes para a informática e internet, O Mocotó-Cor, que contava com o apoio de arquitetos e dsigners, iria colorir e pintar as casas do morro, pelas crianças da comunidade,criando um arcoiris urbano, visando a beleza da inclusão e a inclusão da beleza, teria apoio das lojas de venda de tintas, e vários outros pensados há mais de 10 anos..) foram descontinuados pelos investidores, após o processo de privatização. É uma pena, pois não utilizávamos verbas públicas, tudo que fizemos foi suportado por pequenas verbas sócio-culturais próprias da empresa, nossa equipe cultural não tinha mais do que cinco pessoas (dedicadas, sonhadoras e muito esforçadas) e conseguimos erigir vários programas em todo o estado.
É lamentável constatar que logo após a privatização todas as atividades que te relatei foram desativadas.
Nosso centro de treinamento, que recebia pessoas de todo o Brasil, o Espaço Cultural, que tanto promoveu nossos
artistas, bem como as coleções de fotos e as obras adquiridas de artistas locais foram desmontados e os espaços estão
vazios, frios e tristes.
Que pena ! Nossa atualidade tão bruta, tão agressiva, tão violenta, as pessoas necessitando tanto de paz, de convívio, de delicadeza e do romantismo que a arte nos propicia e nos damos ao luxo de descontinuar espaços de observação e suavidade.
Essa, talvez, seja a grande característica da atividade artística, a de podermos transgredir sem agredir, sem violentar, sem desrespeitar, pois o espaço de criação é onde podemos jogar toda a nossa subjetividade, nossos sonhos, nossas concepções e no qual obteremos a contemplação, a aceitação ou não, a concordância ou a negação de nossas idéias, mas , jamais, geraremos a morte, a anulação física do outro, a morte de um semelhante ou a prevalência da força.
Talvez esse fosse o novo filme necessário em nossa sociedade.
Não uma "Tropa de elite" para reprimir os pobres, miseráveis,periféricos e apartados dos confortos dessa sociedade fria e estúpida que está surgindo e destruindo nossas cidades e nosso ambiente natural, mas uma "Tropa para a elite", um movimento que assuma a função de levar sensibilidade e respeito pela alteridade, noção de solidariedade e preservação da vida.
Não há dúvida que tua mensagem de hoje me despertou recordações e sensibilidades, mas reparto contigo este momento atual que reúne dor e a esperança de que possamos retomar nossa caminhada humanista e que consigamos incitar novas levas de dirigentes, públicos e privados, que não só pensem, ou por não conseguirem pensar, em suas próprias visceras, ou com elas, e que um novo renascimento nos brinde com a suavidade da música, a profundiade da pintura, a mundialidade da escrita e o romantismo de todas as formas de pensar o sonho de um mundo melhor.

Com carinho e admiração

Danilo Cunha

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