quinta-feira, 13 de outubro de 2016

HERDEIROS DA UTOPIA


Desde a Revolução Industrial a sociedade humana se debate para interpretar e entender as questões decorrentes de fato histórico tão significativo.
Depois de longo período colonial/rural, o mundo deu saltos enormes na direção da criação do conceito de escala. 

Escala industrial, que aplicada de forma direta e pragmática nos trouxe grandes números de produção e distribuição de produtos.
Mas também nos presenteou com o acelerado extrativismo, que, hoje, exaure a terra sobre a qual vivemos.

Escala de consumo desenfreado, fútil, e desnecessário, que permite a pessoas de alma vazia encherem seus armários com produtos nem sempre necessários ao corpo, mas essenciais para preencher as lacunas do espírito.

Escala urbana que nos migrou para as cidades, nas quais encontramos brilho, informação, convívio, mas onde também se vê muita desigualdade e baixa solidariedade.
Ainda não conseguimos bem compreender os conceitos de capital e trabalho, que resultaram de uma simplificadora interpretação do processo industrial e urbano, e condicionou o mundo a uma binaridade entre capitalismo e socialismo durante o século XX.

Grandes pensadores, contemporâneos dessa dicotomia, como Freud, Marcuse, Adorno, Bobbio, e muitos outros, se lidos e bem decodificados poderiam ter expandido as consciências das sociedades e lideranças da primeira metade do século passado, propiciando que a humanidade pudesse alcança patamares mais avançados.

Duas grandes guerras, a criação da ONU no lugar da falida Liga das Nações, grande avanço técnico/científico, a rede mundial telemática digital, a mundialização econômica, trouxeram cenários e visões do que o ser humano poderia ter e dispor, em termos de soluções pacíficas ou de encaminhamentos bélicos.

Até o hoje o mundo optou por não mais ter guerras mundiais, mas os conflitos regionais, étnicos, religiosos, alimentados por largo fornecimento de armas e material de destruição em massa continuam fervilhando em todo o globo.

Uma sexta parte da humanidade passa fome, enquanto nas sociedades abastadas mais de 40% dos alimentos produzidos são simplesmente jogados na lixeira.
Uma simplista e pequena visão histórica ainda insiste em manter uma divisão ideológica e conceitual como se termos como esquerda e direita pudessem explicar todo o espectro sócio político, sócio econômico e sócio cultural, que a sociologia estuda permanentemente.

Essa apreciação muito parcial, e diminuta, de uma história longa e pouco estudada, pretende condenar o terceiro milênio e este século XXI a uma continuidade manipulada e dirigida, que só serviu na construção e adoração de falsas lideranças, tais como, Mussolini, Hitler, Stalin, que não passaram de totalitários e sanguinários, simples eliminadores de seus adversários de ideias.

Nova frente de prospecção de inovadoras premissas para a sociedade do futuro, imediato e a médio e longo prazos, se abre com a realidade atual, quando podemos ver, ler, acompanhar, perceber, compreender, tudo o que se passa em torno de nosso globo, podendo processar, separar, ordenar, todos os novos conceitos, que poderão abrir a percepção para uma nova expansão da consciência coletiva.

Sem qualquer dúvida já sabemos que nada se poderá fazer, daqui por diante, sem que se promova a vida e sua preservação.
Além das estruturas de saúde dos diversos países em todo o mundo, dispositivos para redistribuição de alimentos e medicamentos, serão prerrogativa básica.
Quando mais de um bilhão de seres perambulam em busca de abrigo, alimento, acolhimento e amor, com certeza, não haverá paz duradoura.

As pressões advindas desse enorme contingente de abandonados sempre serão combustível fresco para os larápios que comerciam com as demandas da vida, colocando armamentos e química de destruição, no lugar de casas, hospitais, alimentos, medicamentos, que custam muito menos dos que armas, mas que não constroem nem garantem poder.

Em todos os continentes aparecem nuvens carregadas e preocupantes, quando se insiste em voltar à separação burra e limitada entre esquerda e direita, com manifestações de racismo, intolerância política e social, que tentam recriar condições superadas e insensatas, para que novos tiranetes de aldeia possam exercer suas frustrações pessoais por meio de enfeixar muito poder em suas mãos.

Pessoas que foram amputadas em suas estruturas emocionais e afetivas, por diversos motivos, tendem a buscar compensações, em vez de cura, para seus males existenciais, psicológicos, comportamentais, por meio da violência desbragada, da afirmação pura e simples, por meio da mentira e da ocultação de verdades universais.

Esse tem sido o perfil de todos que bradam por violência, por vulgaridade, por breguice, e por soluções pobres e limitadoras, para tentar canalizar as frustrações de milhões de seres humanos infelizes e injustiçados.

Essas duas metades, limitadas em sua formulação e análise só continuarão contribuindo para apequenar uma mundo muito mais amplo e complexo, que poderá se explicar pelo uso de lentes tais como mais sensibilidade, mais conhecimento, mais ciência, mais educação, mais pesquisa.

Direita e esquerda são rótulos da mesma busca de poder, de mais poder, em todos os níveis.
Para que o mundo possa desenvolver novos mecanismos de compreensão e análise de suas mazelas e eventuais soluções, necessário e essencial serão movimentos de pacificação das diferenças e da injustiça.

Caso contrario teremos o binário quadro simplista e arrogante, de explicações para justificar quem vive da miséria e de seus desdobramentos, e quem ostenta racionalidade.

Ambas as partes continuam desonestas e incitando seguidores pouco preparados e que nada estudam ou aprofundam, simplesmente para justificar suas vidas cômodas e abastadas, mas que nada fizeram, fazem ou farão para melhorar nossa vida na face desta Mãe Terra, que aguarda um pequeno retorno de dedicação e cuidados, em troca de toda a vida e possibilidades, que foram presenteadas aos humanos.

A utopia se explica até o momento em que o conhecimento desnuda verdades e substitui a ignorância, e quem atrás dela se esconde para se omitir.




quinta-feira, 6 de outubro de 2016

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO - HISTÓRICO E DESDOBRAMENTOS ÉTICOS, LEGAIS, SOCIOLÓGICOS E POLÍTICOS



Desde Gutenberg que a sociedade planetária começou a ter uma maior oportunidade de se informar e passar a conhecer comportamentos e fenômenos de toda a ordem, produzidos em qualquer parte de nosso mundo.

As grandes navegações levaram e impulsionaram o ser humano a desenvolver dispositivos e equipamentos, cognitivos, comportamentais, técnicos, e tecnológicos, visando a ampliação dos campos de conhecimento.

A revolução industrial forçou a humanidade a forjar o conceito de escala, definição que foi fundamental para se chegar aos modelos sociais hoje existentes.

A industrialização trouxe como uma de suas consequências o processo de urbanização, uma vez que tornou urgente a concentração de mão de obra e de consumo, para alimentar e justificar a produção industrial com capacidade para oferecer resposta a um consumo de bens e serviços, antes atendido de forma direta pelas relações feudais e localizada em burgos, formas rudimentares de ocupação do solo, de produção de alimentos e vestimentas, mas restrito às propriedades e proprietários de vastas extensões de terra.

O processo informacional trouxe possibilidades de informação mais atualizada e de qualidade mais confiável, diante das grandes demandas.
O avanço rápido e acelerado da implantação de meios de informação de massa trouxe a implantação de jornais, de emissoras de rádio e das novas possibilidades de equipamentos de difusão de imagem e som, conjugados.

Em 1962 o mundo assistiu o lançamento do primeiro satélite de comunicação, o Telstar, realizado pelos EUA, ligando aquele país ao continente europeu.

Já naquela época os rudimentos de redes de tecnologia da informação, ainda analógicas, já se constituíam na base cientifica e técnica do que hoje pode ser chamada a sociedade global da comunicação e informação, em estado digital.

O mundo passou a conhecer a instantaneidade no campo da informação, o que revolucionou meios de comunicação, uma vez que as ondas curtas de emissoras de rádio começaram a ser substituídas por transmissões com propagação sobre ondas portadoras mais eficazes e confiáveis.
Macluhan, cientista social dos anos 60, lançou a premonitória frase: “um dia todos terão os seus quinze minutos de fama”, já antevendo a conexão abrangente e profunda, entre todos os meios de uma rede mundial.

A década de 70 presenteou o mundo com efeitos sobre a vida produtiva, econômica, social, cultural e política, com os primeiros efeitos gerados por imagens dinâmicas ao vivo, on-line, em real time, tomando-se como exemplo a transmissão ao vivo, imagem e som, da guerra do Vietnam, gerando efeitos dramáticos sobre a vida da sociedade norte-americana, apressando o final daquele conflito, quando os corpos despedaçados e queimados por bombas e napalm, começaram a ser vistos, como se nos EUA estivessem.

Os meios instantâneos mostraram as tabelas com as mortes de 60.000 soldados norte-americanos e de 2.700.000 vietnamitas, apresentando aquele genocídio ao mundo.
Dai para a frente o ciclo de inovação, técnicas e tecnologias, deu enormes saltos, diminuindo cada vez mais os interstícios entre etapas, chegando hoje aos surpreendentes 24 meses entre secções de desenvolvimento, implantação e disseminação de meios cada vez mais portáveis, mais diminutos e mais eficazes.

Os campos enunciados pela sociologia, o sócio político, o sócio econômico, e o sócio cultural foram todos influenciados pela diversificação de meios, que tanto serviram para atender demandas, desejos, impulsos e decisões humanas, como para aferi-las e medi-las, tornando instantâneas as atividades de coleta e processamento de totais numéricos para tabelar, decodificar, e entender os novos comportamentos e seus impactos sobre governança pública, empresarial e corporativa, ajudando na construção de novos conceitos como sustentabilidade.

Governos e governantes, empresários e empreendedores, suas medidas, produtos, efeitos e resultados, se encontram atualmente como efeito do processo de informação de massa, uma vez que os comportamentos de consumidores, trabalhadores, eleitores se transformaram em matéria determinante e determinística sobre o poder, tanto público quanto privado.

As previsões de Macluhan se realizam à velocidade de captação do olhar, do ouvido, e da percepção de uma população global de 7 bilhões de seres, cada vez mais informados, mas nem por isso menos angustiados por suas dúvidas não respondidas, nem por suas demandas cada vez mais crescentes.
A complexidade em rede, com elevadas velocidades e baixíssimos tempos de resposta, já permitem que os processos produtivos sejam fiscalizados diretamente pelos consumidores, jogando-lhes às vistas o danoso efeito da poluição em grande escala, sobre terras, água e ar.

A enorme quantidade de insumos, produtos e embalagens, com materiais não degradáveis ou recicláveis, mostra que a tecnologia social, sem qualquer dúvida, será o próximo patamar, para que o consumo consciente passe a condicionar a sobrevivência do planeta e a racionalização dos fatores de produção.

O humanismo e o ambientalismo serão as duas linhas ideológicas que substituirão capitalismo e socialismo, predominantes, e dominadoras, durante o século XX.
A polarização política dominante no século passado foi decorrente de interpretações simplificadoras sobre os impactos da revolução industrial, encerrando as análises sobre seus efeitos e decorrências, de toda ordem, como se as expressões capital e trabalho pudessem abranger e explicar toda a origem e futuro da humanidade.

Nada mais do que instrumentos de dominação e poder sobre as massas humanas, que se concentravam nas cidades e instalações industriais e comerciais do início do século XX.
O mundo foi bi-polarizado por essas duas estreitas dimensões conceituais, ambas ruindo, ao vivo e a cores, nos ano de 1989, no qual a história se encarregou de derrubar o Muro de Berlim e de forçar a realização do evento chamado Consenso de Washington, fatos que comprovaram a falência das bitoladas visões anteriores, que binarizaram as escolhas e opções, como se a subjetividade humana pudesse ser aprisionada e contida em dois quadrinhos de resposta “múltipla”.

A nova sociedade produz tão rapidamente seus saltos quânticos, uma vez que apresentam nano informações e introduzem e reconhecem o ser humano como espectador e observador dos processos, que a visão holística começa a se dar conta de que a informação veloz e renovada, em flashes, tanto pode oferecer conforte de escolha, como permite possibilidades de invasão dos espaços pessoais, familiares, íntimos, e reservados.

As questões éticas, morais, legais, passaram a ser preocupantes quando Edward Snowden, empregado de uma corporação de tecnologia da informação, fugiu dos EUA denunciando a espionagem em escala mundial promovida pelos serviços de segurança daquele país.

Declarações de governantes foram emitidas, posições políticas duras foram enunciadas, mas nada mais se fez do que constar que a informação pelos mesmos meios que entra na vida das pessoas, pode permitir sua visualização, ou audição, por instâncias não percebidas como possíveis, e existentes em aparelhos celulares, em notebooks, em desktops, em aplicativos, em diversas linguagens digitais, mesmo que sub-repticiamente.

Assim como a humanidade se chocou com a visão das mortes nas guerras estúpidas, do lixo excessivo gerado pelo consumo desvairado, que o processo agudamente extrativista submeteu a terra, agora se percebe que o conforto de acessar e difundir informação a partir do nível individual, pessoal, em igual velocidade abre e disponibiliza portas e janelas virtuais, sem qualquer cadeado, tranca ou chaves, possíveis de guardar a intimidade dos seres humanos diante da gula por poder, e por dominação de comportamentos, que visam unicamente, mais poder político, econômico e cultural.

O conceito de sustentabilidade passa a ocupar bocas que enunciam uma nova etapa, mesmo sem saber do que trata esse conceito.
Ignacy Sach, grande sociólogo da crença desenvolvimentista equilibrada, definiu o processo sustentável como aquele que prioriza a vida humana, e sua preservação (o meio ambiente), tendo os níveis econômico e politico como suportes do primeiro.

Disse ele:
“Processos sustentáveis são aqueles que permitam priorizar a vida e sua preservação, apoiados pelos processos econômico e politico, desde que nessa ordem”.
Sachs ainda afirmou:
“Não podemos permitir que as prioridades, puramente economicistas, e de poder, determinem para os seres humanos o que aconteceu com os cavalos na revolução industrial.

Muito se fala de reciclagem e reeducação das pessoas diante dos novos processos industriais e tecnológicos de produção, mas como estariam os cavalos que puxavam carroças e outros transportes, se ainda hoje estivessem esperando serem retreinados e reciclados para novas funções?”
“Portanto esta é a pirâmide sustentável:
1-A vida e sua preservação, como prioridade primeira e maior.
2-Os processos econômico, e político com suporte à primeira prioridade”.

Para encerrar, Yoneji Masuda, grande estudioso da sociedade da informação, cientista social japonês, deixa bem claro em seu livro de 1981, intitulado “Sociedade da Informação” que a sociedade humana terá que estudar e compreender a extensão e a profundidade de todas as transformações que a tecnologia acarretará, capacitando-se amplamente, para evitar que seja dominada por máquinas.

Estas, por sua vez, dominadas por mentes instrumentalizadas com competências técnicas e tecnológicas, voltadas unicamente para o lucro vulgar e o poder sem limites.

Viver será sempre o desafio entre a ânsia de liberdade comportamental, conceitual, dos seres humanos, confrontado pela tendência ao exercício do poder de uma pessoa sobre seus semelhantes.

Isso sempre encerrará o afastamento de escrúpulos e dos padrões éticos, subjetividades humanas, mas que se tornarão essenciais para continuar determinando a livre escolha de pensa, agir, viver, diante das novas e imensas possibilidades de dominar informação, conhecimento e comportamento.