domingo, 22 de maio de 2011

"LOS INDIGNADOS DE ESPAÑA"

A Espanha está em ebulição.
Às vésperas de eleições regionais, grandes manifestações sacodem o país.
Poder-se-ia pensar que reclamam por democracia, como seus vizinhos ao sul do Mediterrâneo.
Mas, não. Reclamam trabalho para os jovens, com o alarmante índice de 40% de desemprego para essa faixa etária, e , principalmente, mais participação, espaços na sociedade.
E se intitulam indignados.
Os ventos do norte da África, que já derrubaram Mubarak, no Egito, parece que ressuscitaram o ano de 68 nas terras de Dom Quixote.
É interessante notar que um vizinho relativamente próximo, a Grécia, continua sendo sacudida pela inconformidade da população com os ajustes econômico-financeiros que o país atravessa, para se adaptar à receita do FMI, que também vive sacudidelas e disputas de poder, tendo em vista a recente renúncia de seu dirigente maior,Strauss-Kahn, por prisão e processo em Nova York.
Mas a Europa toda começa a se inquietar.
Irlanda, Portugal, Itália são mais alguns dos membros da União Européia, que estão na ante-sala para receber o amargo xarope das receitas ortodoxas do Fundo para colocar suas economias em dia.
A consolidação da UE, por inépcia de seus líderes, esqueceu um aspecto fundamental para as economias nacionais.
Ao criar um único Banco Central Europeu, uma moeda o Euro, deixaram de lado importante aspecto cultural e financeiro.
A moeda é um símbolo muito forte de cultura, nacionalidade e soberania.
Apesar da Europa ter conseguido se unificar com o milagre de manter as soberanias de seus estados membros, a questão do Euro precisava de um tempo maior para que todas as nações pudessem assimilar a novo nome e signo monetário.
Antes, cada país controlava, defendia e parametrizava sua moeda nacional.
Com a criação do banco único, faltaram braços para alcançar toda a dimensão continental e controlar as moedas, e gastos públicos, de 25 parceiros e sócios.
Como muito dinheiro foi injetado em economias claudicantes para permitir a unificação com um padrão mais igualitário, muitos governos se deixaram levar pelo êxtase passageiro de ter muito dinheiro em caixa.
Só que era dinheiro para aplicar em investimentos, e não para gastos públicos.
As questões financeiras, na verdade, desnudam uma situação quase global de insatisfação e necessidade de mudança.
O mundo político está envelhecido e superado, em todo o mundo. O modelo está desgastado e, mesmo em nações tidas como tradicionalmente democráticas, as esferas de poder, tanto na política como na economia, estão nas mãos de poucos.
O mundo se comunica instantaneamente, todos ficam sabendo de tudo, se conhece a realidade de pessoas e sociedades em poucos minutos, com riqueza de imagens, sons, opiniões e deliberações, mas nada se pode fazer com esses insumos, para melhorias imediatas de vida.
Assim, cria-se o entusiasmo mudancista por um lado, a solidariedade mundial pelo outro, mas no núcleo, no centro da questão, permanece a imutabilidade de um poder consolidado e pouco afeito a alterações reais.
Ainda mais que as manifestações de massa têm se dado em cima das redes sociais, mídias eletrônicas, e comunicações telefônicas, todos meios que são propriedades de poucos grupos econômicos, os quais vivem justamente do consumo de impulsos, minutos e velocidades dos produtos e de seu uso pelas pessoas.
O negócio explorado por esses meios cria expectativas de liberdade, e libertação, suas propagandas emocionam pela informalidade e alternatividade, mas somente para conquistar usuários, e não para fomentar revoluções, nem revolucionários fidedignos.
E ai é que descortina nos “indignados de España” um fator novo, um elemento inquietante, uma chama legítima, que pode se alastrar pelo mundo, como foram as manifestações de maio de 68 na França, que se espalharam pela Europa, pela América do Norte e pela América do Sul, mesmo estando esta amordaçada pelas ditaduras financiadas e apoiadas pelos EUA.
Existem fases de sintonia, de desenvolvimento humano e espiritual, que nada material está em jogo ou interessa.
É como se a massa de habitantes deste pequeno globo absorvesse a angústia de entender que não passamos de minúsculas formiguinhas inteligentes, mantidas por um núcleo magnético de um dos tantos milhares ou milhões planetas soltos e perdidos em algo incompreensível para nossas limitadas cabeças, como o é o universo.
E de que nada adianta brigarmos, guerrearmos, destruirmos o meio ambiente, tudo em nome de um modelo de desenvolvimento, que perpetua inquietude e desgosto.
Não só pelos poderes que impõem o modelo superado, mas pela natureza humana, que alimentada pelo consumismo e voracidade, não mais se satisfaz com qualquer volume de bens, pois a ansiedade empurra para mais ter, e nada tampa o buraco das almas insatisfeitas.
Por isso os “indignados de España” chamam a atenção. Eles não querem poder, eles não querem mais democracia do que já têm, eles só querem ter o direito de participar do destino de suas vidas, de uma sociedade que está senil e não consegue oferecer novas respostas para os mais jovens, que não querem ficar velhos, iguais aos que comandam as suas vidas.
No nível material os governantes sabem oferecer respostas e soluções, mesmo que a nada respondam. Mas no nível das aspirações, nada conseguem entender, ou fazer, pois se transformaram nos reis Midas da atualidade, fazendo “ouro” a tudo que tocam.
E não se quer, nem se precisa de mais ouro.
Necessita-se de mais tempo, de mais solidariedade, de mais convívio, de mais carinho, de mais humanismo, do que esse modelo que está morrendo é capaz de oferecer.
E as sacudidas por que o mundo passa, nada mais são do que pedidos de socorro dos que percebem que existe espaço para um novo convívio, para uma nova relação, para um outro patamar de sentimentos, que permita aos seres maior dignidade em sociedade, mais participação na construção do futuro, e a possibilidade de se experimentar uma nova época, uma outra era de legítimo amor.
E os “indignados de España” estão dizendo isso.
Não basta democracia, não basta riqueza material, querem também poder cantar a vida, poder amar o outro e poder viver intensamente, esta existência que é um mistério para todos, mas que ninguém quer deixá-la passar em vão.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

AMANDA GURGEL - A Educação E O Atraso Brasileiro

O candente depoimento da Professora Amanda Gurgel, para deputados, bem demonstra a kafkiana situação por que passa a Educação em nosso país.
A citada Professora ganha mensalmente um salário menor que R$ 1.000,00, exatamente isso, menos que mil reais mensais!!!
E ela falou para um auditório de deputados onde os salários ultrapassam os
R$20.000,00.
Enquanto, em média, os deputados, em todo o Brasil trabalham não mais que três jornadas diárias por semana a Professora, e todas as outras de sua categoria, vivem a dedicação a seus alunos, e escolas, nos sete dias da semana.
Pois professoras, além das aulas dadas e do tempo perdido em transporte, coisa que os deputados recebem de graça com carros de luxo e motoristas, elas ainda têm que cuidar de suas famílias, roubando-lhes precioso e escasso tempo de carinho e aconchego, para preparar as aulas e pesquisar para que possam transmitir bons conteúdos para seus alunos, inclusive aqueles que são filhos de alguns deputados, que não se preocupam com a sua educação.
Exemplos clamorosos não faltam.
Agora, recentemente, foi aprovado um piso salarial para professores, que não chega aos R$ 1.200,00, ou seja, uma vigésima parte do salário de um deputado, e menor parcela ainda de um salário de diretor da Petrobrás, que recebe, pasmem, R$60.000,00 isso mesmo, sessenta mil reais por mês! Um conselheiro de administração daquela empresa, criada e com patrimônio e aumentos de capital formados pelo Tesouro Nacional (dinheiro dos impostos dos cidadãos) ganha mensalmente R$ 6.000,00, exatamente isso seis mil reais, para participar de uma reunião mensal.
E esse valor equivale a dez por cento do salário dos diretores.
O que se nota é que o Brasil pode continuar sendo chamado de BELINDIA uma junção cruel entre a esquisita e hermafrodita “riqueza” do Brasil, a rica Bélgica e a pobre Índia.
Como pode um país se desenvolver bem quando seus profissionais de educação, saúde e segurança recebem indignos salários, ridiculamente pequenos e menores do que os burocratas e apaniguados do poder auferem, sem concurso público, muitas vezes sem qualquer produtividade para a nação ou merecimento pelos cargos que ocupam?
O que justifica tão abissal, gigantesca e cruel diferença entre ganhos mensais, quando as prioridades da nação não são devidamente valorizadas?
Os preços da gasolina e do álcool bem demonstram que enquanto a Petrobrás com salários altíssimos repassa os aumentos dos preços dos combustíveis para a população, sem qualquer maior envolvimento com a sua realidade, os professores, policiais e profissionais de saúde, literalmente, dão as suas vidas para formar, curar e proteger os cidadãos brasileiros, e com salários miseráveis.
Várias têm sido as denúncias de grandes, e não merecidos salários, em muitos níveis de governo e legislativos, em nosso Brasil.
Em vários casos, salários, e pensões, injustamente elevados, e inflados por artifícios imorais a antiéticos, ajudam a gastar valores milionários com atividades que não são prioridades para o desenvolvimento da sociedade e de sua cidadania.
E não se vê nem nota na imprensa, atitudes corretivas por parte dos dirigentes municipais, estaduais ou federais.
Enquanto isso, uma greve de professores, saúde ou polícia, imediatamente é objeto de ameaças, de convocação de forças militares e policiais de outros estados, sempre com a também ameaça de corte dos já minguados salários.
Quanta injustiça, insensibilidade e desproporção!
Historicamente abandonadas pelos governos, e legislativos, em todos os níveis, as áreas de educação, saúde e segurança ostentam os menores salários das escalas funcionais públicas, condenando os profissionais desses setores a indignas condições de trabalho e a situações de vida privada, exatamente assim, privadas daquele mínimo que o Brasil deveria destinar para que o futuro do país pudesse se desenhar como algo de qualidade mínima.
Nunca se viu "escândalos" de super-salários na educação, saúde e segurança!
Paralelo a isso tudo, compromissos fúteis e desnecessários são assumidos por governantes e garantidos por dinheiros públicos, que sempre fazem falta, e são poucos, quando se trata de dar os merecidos aumentos para educação, saúde e segurança.
Ai estão copa do mundo, olimpíada, e agora, para novembro deste ano de 2011, um grande encontro mundial recentemente assumido pelo prefeito do Rio de Janeiro, em viagem à rica Suiça, que gerará um gasto de recurso governamental, portanto de impostos dos cidadãos, ainda não calculado, mas já autorizado pelo referido alcaide, como se rico fosse esse insano país chamado Brasil, que alega nunca ter recursos necessários para pagar professores!
E o pior: sabem para que é o evento?
Para discutir a experiência de competições anteriores e os cuidados que os paises-sede precisam tomar, relatado pelas cidades-olímpicas.
Evento que seria realizado na Grécia, mas que por estar passando por crise econômica e financeira não pode assumi-lo, devido a seu valor.
E, insisto, o “rico” Brasil o faz, sem qualquer consulta à sua cidadania, comprometendo dinheiros, que talvez fossem melhor empregados para sua educação, sua saúde e sua segurança!!!
Para atender copa e olimpíada, várias medidas extraordinárias com grandes encargos financeiros para os governos estão sendo assumidos, além da flexibilização de exigências para ampliação de aeroportos e infra-estrutura nacional.
Mas e a infra-estrutura de saúde, educação e segurança, para o futuro do Brasil, não é mais prioritária que todo o resto?
Nos discursos, e comícios de campanha, sempre o são. Mas na realidade diária das gestões ai se assume o jogo da política velha desta ainda colônia subdesenvolvida, subtropical e sub-moral.
Entra o jogo de bastidores, as negociatas partidárias, as acomodações de aliados, as mexidas não mais possíveis, mesmo as prometidas literalmente nos palanques, e tudo continua como antes.
Mas “avanços e benefícios” só para os privilegiados que participam do botim do poder, das benesses das verbas públicas e do nojento e abjeto conforto pessoal, de alguns, construídos sobre o sangue e a miséria do restante da sociedade e dos assalariados brasileiros.
Trabalhador ao qual se abre a possibilidade de algum crédito, que não é aumento de renda, para adquirir ilusórios automóveis, que depois ficam parados, condenados que foram ao aumento dos combustíveis, pela Petrobrás, que continua pagando seus gordos salários para seus desconhecidos diretores.
E o trem da história continua sendo conduzido pelo poder, na mesma forma que o processo colonizador do Brasil se deu com a corte portuguesa.
E Brasília representa a sede dessa corte no Brasil.
Distante de tudo ostenta a maior média nacional de renda e salários, apesar da concentração de operários, professores, profissionais de saúde e policiais, ser dramaticamente distribuída por todo o território nacional, e paga pelos critérios destinados aos súditos.
Tudo como se não tivéssemos já vivido 511 anos de experiência, mas que lamentavelmente foram ceifados pelo autoritarismo e injustiça, deixando-nos com pouco mais de 60 anos efetivos de trôpega e claudicante democracia