sábado, 21 de agosto de 2010

Momento de Decisão: A Sociedade do Conhecimento E A Formação do Saber Para Colocar Nosso Estado No Terceiro Milênio



O ano de 2010 oferece à cidadania brasileira a rara oportunidade de renovar os representantes legislativos, em nível estadual e federal, os cargos de governador e presidente da República.
Esse momento encerra uma ampla possibilidade de mudança e renovação, que pode ecoar em toda a sociedade.
Que, em suma, é a essência da democracia republicana.
Renovar para inovar, mantendo a impessoalidade do processo.
Vivemos a primeira década do terceiro milênio, fase de abundante tecnologia de ponta, que disponibiliza para todos um enorme volume de informação.
A informação como insumo na formação do conhecimento é essencial, e para isso precisamos entendê-la devidamente e classificá-la para transformá-la em saber.
Esse estágio, o do saber, nos permite analisar, correlacionar, organizar dados, inferências, para que possamos tomar decisões, de forma geral, que acabam formando nosso quadro de direções e sentidos atribuídos à nossa vida.
As diversas formas de mídia existentes, jornais, rádios, televisões, redes sociais, e tantas outras, exibem o espectro informacional, oferecendo uma cobertura ampla, instantânea e ilustrada da realidade humana mundial.
Se a informação é um importante insumo, por sua abundância, não deveriam faltar decisões adequadas, e corretas, para os seres humanos.
Nesta primeira década milenar, também constatamos que a vida no globo se transformou numa grande aglomeração urbana, em busca de brilho, luzes, confortos, escalas de produção e consumo, lazer, cultura, educação, trabalho, e realização pessoal.
A calma rural, a tranqüilidade dos campos, a placidez das imensas paisagens, a direta observação dos fenômenos naturais, foram trocadas pela vida em cubículos, preço a pagar pelas menores superfícies disponíveis, pelas racionalizações de espaços e pelos valores e relacionamentos humanos criados a partir da verticalização das soluções imobiliárias e de espaços cada vez mais exíguos.
Grandes redes, em todos os níveis, servem essas concentrações, ocupando espaços subterrâneos, permitindo que várias formas de energia, redes de comunicação, informação e lazer, estejam presentes, ou pelo menos disponíveis, em quase todas as habitações e unidades comerciais.
As pessoas se movimentam em espaços crescentemente limitados, como elevadores, táxis, ônibus, metrôs, trens, lotações, e, quando conseguem, em seus próprios carros.
A par dessa realidade que se aproxima dos escritos e prospecções de Aldous Huxley e George Orwell, pelos avanços das tecnologias do século XX e da nanotecnologia do século XXI, ainda convivemos com aspectos muito prosaicos, atrasados, primários, rudes e desconcertantes para nossa atualidade.
Nosso Estado, grande fator de demonstração de uma série de primeiros lugares em produção de alimentos, de exportação, de pólos de tecnologia da informação, de grande número de campi universitários, paradoxalmente ainda exibe, também, primeiras pouco elogiáveis colocações em saneamento básico, suprimento de água potável, desnível social e concentração de renda.
Esses tópicos nos remetem, pela força de seus números, não ao século passado, lamentavelmente, mas ao século XIX, quando as sociedades, em todo o mundo, desenvolviam grandes esforços para acabar com a peste, com as contaminações e com a injustiça social, acalentadoras de oportunistas e ditadores, e fomentadoras de grandes e emotivos movimentos de massas, que no inicio do século passado foram equacionados ou resolvidos por aquelas sociedades, que se transformaram nas atuais mais desenvolvidas do mundo.
Hoje os sindicatos estão domesticados pelos dispositivos de poder, os movimentos sociais efetivos e coerentes possuem pouca força institucional para reivindicar direitos e opções para as classes menos favorecidas, e o crédito abundante, barato e aprisionante, pelo elevado numero de prestações, se transformou na grande e embriagadora mão invisível dos governos para manipular os empobrecidos na sensação de saciedade material.
Eletrodomésticos e carrinhos mil cilindradas enchem as casas e cidades, congestionando ruas e tapando os buracos das almas humanas, que não conseguem respostas para as questões mais existenciais, como a falta de cortesia, a ausência de solidariedade, as indelicadezas nas ruas e a massificação da grosseria e da violência, indiscriminadas.
Esse “salve-se quem puder” acaba sendo objeto dos consultórios médicos e psicológicos, para os que podem a eles se candidatar, e pagar, ou então para as Igrejas, que atualmente assumiram o grande papel de acalmar as almas aflitas, e desajustadas, por essa sociedade do muito ter e ou da enorme frustração de nada conseguir.
Essa grande demanda de objetos financiados, carnês com muitas folhas para pagar todo o mês, tem seu lado estruturante de uma nova economia “pujante”, apesar dos preocupantes níveis de baixa qualidade da educação, da saúde, dos transportes e da falta de serviços de segurança pública, à altura das complexas relações sociais entre os que muito tem, os que começam a ter alguma coisa e o grande contingente dos que continua nada tendo, mas muito motivados a buscar seus direitos, nem que seja pela violência física ou das armas.
A entrada no terceiro milênio, para o mundo todo, está se caracterizando pela busca imediata de novas fontes de energias alternativas para evitar o aumento do buraco ambiental e das manifestações anômalas do clima, que se altera visivelmente.
Salvar o planeta é uma emergência para que se possa caminhar rumo a uma etapa mais sábia de vida, quando se poderá aplicar todo o aprendido no século da revolução industrial, da urbanização e da ciência de ponta.
Mas continuar carregando as incompletudes estruturais, sociais, sociológicas, das chagas deixadas por administradores e governantes pouco escrupulosos de suas obrigações republicanas, éticas e morais pode gerar grande atraso para que a sociedade catarinense venha a se ombrear com outros estados, e nações, que já veem atribuindo seriedade e coerência para as gestões públicas, voltadas ao resgate real das necessidades básicas das pessoas, que passam pelas obras que há muito já deveriam ter saído do rol de promessas vazias e demagógicas de campanhas políticas milionárias, e sem continuidade.
Se os homens públicos tanto se gabam de muito viajar, e circundar o mundo várias vezes, que essa ocupação se transforme em replicação de exitosas experiências observadas em seus périplos, muito caros e de retorno discutível, quando tomam contato com dirigentes que estão efetivando os saltos qualitativos de suas sociedades.





quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Risco Ambiental E O Binômio (Probabilidade x Consequência) Diante Dos Novos Investimentos



A emocionalidade e o imediatismo são ingredientes questionáveis quando se precisa avaliar opções para investimentos, que possam envolver grandes impactos ambientais, investimentos elevados, promessas de muitos empregos e dispensa de obrigações públicas e isenções fiscais.
Mobilizações políticas e de lideranças da sociedade, ainda mais em ano eleitoral, precisariam de bom embasamento especializado técnico/científico para balizar posições assumidas e dimensionar riscos, probabilidades e conseqüências.
Nas empresas, de acordo com pesquisa divulgada por John Elkington, autoridade reconhecida mundialmente em sustentabilidade, apenas trinta por cento dos executivos estão realmente envolvidos e procurando soluções novas para a questão da ação industrial sobre o ambiente natural.
Em várias organizações os programas de responsabilidade social corporativa muitas vezes são interpretados, ou confundidos, como se a empresa adotasse práticas sustentáveis.
Também não se pode interpretar o equilíbrio entre o produtivo, o social e o ambiental, como uma política sustentável efetiva e correta.
As atividades empresariais e seus conceitos, muitos deles ainda dos séculos XIX e XX precisam se reciclar, e atualizar, para a complexidade do momento que se vive, e para o futuro que está sendo deixado para as próximas gerações.
Um dos principais aspectos a ser estudado, profundamente, antes de qualquer pronunciamento, ou aprovação de novas plantas industriais, é o relativo a um sério e abrangente estudo sobre o risco ambiental.
O risco é diretamente ligado a dois fatores fundamentais: a probabilidade de ocorrência de acidente e a conseqüência que possa decorrer.
Assim, a equação risco ambiental = probabilidade x conseqüência, nos daria uma avaliação realista de todos os fatores envolvidos, evitando a superficialidade e o imediatismo em posições assumidas.
Um investimento pode representar uma probabilidade baixa de acidentes, mas a avaliação das possíveis conseqüências danosas, mesmo de um pouco provável acidente ambiental, pode nos colocar em posição de muita cautela, pois mesmo distante da implantação, uma conseqüência pode ser muito destrutiva em termos de vidas humanas e danos ambientais.
No vale do Itajaí a ocupação, nos 20 anos depois das enchentes de 83 e 84, das encostas e topos de morros apresentou, aparentemente, baixa probabilidade de acidente por um bom tempo.
Só que as conseqüências, quando vieram, foram catastróficas e letais, em grande escala.
Os custos elevados em vidas, o abalo social e psicológico, a queda da produção industrial, o elevado custo público denunciaram, com muito atraso, que a aparente baixa probabilidade constatada nos anos oitenta, foi superada de forma surpreendente e brutal por uma conseqüência mal avaliada duas décadas antes.
Esse é outro aspecto importante.
Muitas vezes a distância cronológica entre a baixa probabilidade de acidente, na fase da implantação e a conseqüência faz com que não se estabeleça uma relação, de causa e efeito, entre esses dois fatores.
Por isso ambos devem ser muito bem estudados na fase de licenciamento de qualquer investimento, evitando que o entusiasmo imediato substitua a informação científica e de boa qualidade técnica, que poderá alertar para quadros como o que causou grande destruição em Blumenau e região em 2008, e que ainda registra metástases humanas, com pessoas e famílias vivendo em situações provisórias, e verbas prometidas, a posteriori, e ainda não repassadas de todo.
E tudo com um custo ambiental exponencial, se comparado ao que se teria investido em educação ambiental e relocação de casas e pessoas para que os morros não fossem comprometidos com a remoção da cobertura verde nativa.
Normalmente, a análise do aspecto puramente econômico deixa um bom número de lideranças e representantes políticos muito animados com as possibilidades de alguns milhares de empregos, de discutíveis valores de impostos a ser recolhidos diante das promessas das administrações municipais de renúncias ou isenções tributárias.
Muitos aspectos puramente subjetivos, como a vaidade de governantes e entidades associativas, pesam significativamente mesmo quando a prudência recomendaria a contratação de estudos altamente especializados, de técnicos e pesquisadores das nossas boas universidades e de centros de pesquisa, neutros e isentos.
O recente acidente com uma plataforma de captação de petróleo de grande profundidade, nas costas da parte sul dos Estados Unidos, é uma demonstração que a fórmula risco = probabilidade x conseqüência não foi devida e preventivamente estudada.
A tecnologia utilizada pela BP, supostamente já bem dominada ao longo de muitos anos, gerou um relaxamento na avaliação da possível conseqüência de um acidente, numa profundidade de 1.500 metros, menor que muitas outras sondas que são utilizadas em fossas marítimas mais profundas.
Os resultados ai estão, sobejamente noticiados e fotografados pela mídia mundial, que atesta o horror da destruição ambiental, numa vasta região que levará, se conseguir em sua totalidade, se reequilibrar ambientalmente ao longo de, no mínimo, meio século de bem trabalhadas providências.
E tudo a um elevado custo para os cidadãos e seus impostos.
Ou seja, os aparentes ganhos inicialmente constatados, foram apagados pela destruição em escala gigantesca.
A conseqüência, e eventuais dispositivos para combate-la, foram menosprezadas pelo investidor, e governo norteamericano, considerando que, até então, aquele tipo de probabilidade era, estatisticamente, muito baixa.
É lógico que a sociedade humana, às vésperas de contabilizar seus sete bilhões de seres sobre a face da terra, necessitando de alimento, abrigo, roupa, saúde e trabalho, precisa pensar em escalas que venham a atender esse quadro dos próximos 50 anos, quando poderemos chegar aos 9 bilhões.
Mas não podemos mais ignorar e desconsiderar que a exaustão das potencialidades de nosso patrimônio ambiental está chegando ao seu limite, diante deste modelo de escala que ai está e, que se quisermos sobreviver, como raça humana, teremos que abandonar visões ultrapassadas ou imediatistas, para construir uma nova relação de produção e consumo, que respeite as limitações de nossa Terra.
Não será muito difícil, se nos dispusermos a estudar e ouvir os cientistas e técnicos, que, há muito tempo, pesquisam e estudam o novo mundo possível.

O "Conflito" Venezuela x Colômbia, A Política Externa Brasileira E As Heranças Para 2011- Repercussões Econômicas e Militares

(texto também publicado no site www.economiasc.com.br)


Venezuela e Colômbia já se relacionam há um bom tempo em clima de acusações mútuas e ações dúbias de fronteira, e de mídia.
Enquanto a Colômbia recebe e hospeda sete bases militares norteamericanas, muito bem armadas e aparelhadas, com alta tecnologia, sob o pretexto de combate ao narcotráfico e controle de evasão de drogas para o território dos EUA, o governo colombiano mantém combate antigo com as FARC, às quais acusa de não serem forças revolucionárias, de cunho político, e sim tropas de apoio armado à ação de narcotraficantes.
A Venezuela, depois da posse de seu atual Presidente, tem mantido um volume elevado de renovação do armamento de suas forças militares, adquirindo significativos pacotes armamentistas para todos os segmentos terrestres, aéreos e marítimos.
Além disso, dentro de um “renascimento” de identidades históricas, o atual governo revisa conceitos quanto à liderança de seu país, em um processo que seria uma revalorização revolucionária dos papéis históricos dos libertadores da América.
Isso tudo acompanhado de um bom volume de escaramuças fronteiriças, que acabaram desaguando no atual quadro de denúncias da Colômbia e de rompimento de relações pela Venezuela.
Historicamente bastante ligadas Venezuela e Colômbia tiveram suas independências muito próximas, nos anos 1829 e 1830, num processo comandado por vários lideres sulamericanos, principalmente Simon Bolívar, que lutou em ambos os paises, além de muitos outros, que foram libertados com a sua participação.
Bolívar, depois de estudar na Europa e ser influenciado por idéias iluministas, dedicou grande esforço na implantação das repúblicas independentes do domínio espanhol, e difundiu ideais antimonárquicos.
Na atualidade, distantes das lutas de libertação que quase as transformaram em uma única nação, Colômbia e Venezuela, talvez por novas influências da geopolítica deste século XXI, se enfrentam em batalhas midiáticas e propagandisticas, criando uma região de desgaste e conflitos numa América do Sul, que luta para evoluir e partir para uma nova geração de cidadãos, mais sintonizados com a modernidade na esteira das transformações globais.
Como em quase todos os paises do bloco, se exerce pesado personalismo nas ações presidenciais, o que se constitui, ainda, em característica comum aos chefes de governo das nossas ex-“republicas das bananas”.
Nossos governantes, falando português ou espanhol, em sua maioria poderiam fazer parte dos registros mais tragicômicos da filmografia e bibliografia da nossa história, que mostravam atitudes passionais, pouca preocupação com a sociedade e muita motivação com as bravatas ligadas mais à musculatura do que aos neurônios.
A diferença essencial, é que na época de lideres como Simon Bolívar, a destruição das armas poderia produzir efeitos no pouco alcance das balas dos canhões, ou no comprimento das espadas portadas por aquelas figuras.
E as conseqüências econômicas teriam o freio natural de pouco expressivas produções de matérias primas.
Agora, as repercussões, além de uma destruição física em padrões vietnamitas ou iraquianos, podem gerar problemas econômicos de grande envergadura em vários continentes.
Além das armas com grande poder destrutivo, as relações econômicas num mundo integrado e interligado por relações bi e multilaterais podem alcançar conseqüências inimagináveis, equivalentes à crise Grega recente, que não ameaçou somente a zona do Euro, mas a todo o mundo, recém saído de uma crise financeira especulativa.
A Venezuela é um dos maiores produtores e exportadores de petróleo, do mundo.
A Colômbia tem uma pauta de exportações muito significativa para a Venezuela.
Somente esses aspectos já são suficientes para que a UNASUL, a OEA e a própria ONU, passem a se envolver e se preocupar com a extensão e os resultados que uma crise de personalismos possa se transformar numa guerra real, econômica e/ou militar.
Aos vendedores de armamentos é lógico que interessa uma “guerrinha” de vez em quando. Afinal com a diminuição da intensidade das guerras no Iraque e Afeganistão, novos conflitos precisam alimentar um dos três comércios mais rentáveis do mundo, fora o tráfico de pessoas e órgãos, e o de drogas.
Mas para a América do Sul, já tão castigada por outros combates contra a fome, a injustiça social e a concentração de renda em poucas mãos, afinal de contas ainda somos o continente mais desigual do mundo, esse novo combate entre dois paises irmãos só pode gerar perda de qualidade e novos atrasos em sua caminhada histórica, e busca de novos horizontes.
Uma eventual mediação brasileira, nesta fase final do governo atual de nosso país, merecerá muito cuidado para que envolvimentos pessoais de governantes não venham a substituir intervenções diplomáticas e se constituir em preocupantes heranças para quem assumir a Presidência do Brasil em janeiro de 2011.
Toda a situação é muito transitória para que se venham a tomar medidas e assumir compromissos permanentes.
Na Colômbia, o novo Presidente eleito tomará posse em suas funções em pouco tempo e precisará de um prazo mínimo para estudar a situação criada pelas acusações de seu antecessor contra o mandatário venezuelano.
O Brasil só poderá desempenhar um papel de mediador, se tiver a delegação das organizações como UNASUL e/ou OEA.
Não poderá correr novo risco de ficar isolado numa iniciativa individual, como na situação em que se envolveu junto com a Turquia e Irã.
Alem disso, todo esse “imbroglio” merece uma atuação de estadistas e de diplomatas, com a influência das melhores escolas humanistas e pacifistas, para que não se corra o risco de retrocessos se atuarem nessa crise presente os folclóricos representantes forjados nas escolas da típica “Macondo”, fruto da alegre crítica do consagrado escritor Gabriel Garcia Marques aos “compadritos” sem valores éticos e aos muito locais fazedores de uma história, que só se explica e alcança alguma lógica nos domínios do realismo fantástico de seu famoso best-seller "Cem Anos de Solidão".