O modelo masculino, e viril, do colonianismo, já causou muitos males para a humanidade.
A herança de violência, força, e destruição, se irradiou para a vida das empresas, das cidades e, também, nas ações de estado.
Nos Estados Unidos, recentemente, descobriu-se que mercenários, assassinos profissionais, foram contratados pelo governo Bush para liquidar lideranças adversárias, nos países invadidos, que foram escolhidos como inimigos preferenciais, após o 11 de setembro.
Se formos mais atrás, na história daquela nação, veremos que o chamado “velho oeste”, foi anexado e “civilizado” pelos colonos descendentes dos puritanos, desembarcados do May Flower, que além de desmatarem toda a região, dizimaram a população indígena nativa, real proprietária das terras.
Nas Américas, Central e do Sul, o processo não foi diferente. Mudou o idioma, a religião dos reis financiadores do processo, mas a destruição foi semelhante.
Chacinaram os índios, desmataram o continente, saquearam as riquezas naturais, e, de sobra, queimaram o que restou, sumindo com toda uma história rica e milenar, que poderia ter orientado uma outra forma de colonizar, desenvolver e de viver.
Nosso presente, ainda balizado pelo machismo viril das soluções de homens, para homens, apesar de toda uma aparente evolução, continua ostentando as soluções masculinas, com a força bruta gerando realidades empresariais, sociais e estatais, na base da exclusão dos mais fracos, da irrefletida violência dos que têm o poder e dos que tomam à força os recursos naturais, desmatando, queimando, destruindo, para erigir prédios, condomínios, estradas, e toda a sorte de fontes de ganhos fáceis e imediatos, que desprezam o ambiente natural, as características culturais e as possibilidades de modelos alternativos, e humanizantes, do desenvolvimento.
Ou seja, sentimentos e idéias suplantados pelos músculos, somente pelos músculos, e por sua expressão mais primária, rudimentar e destrutiva.
Pouco se vê mulheres em posições de comando em empresas, em executivos públicos, sejam municipais, estaduais, federais, ou nos legislativos.
Pouco se vê mulheres como dirigentes esportivas, técnicas, ministras, juizas, comendadoras, promotoras ou presidentes.
Normalmente, os papéis “permitidos”para as mulheres são aqueles em que os donos do poder acham que os sentimentos, o carinho, a compreensão, a paciência, o afeto, e a solidariedade precisam ser exercidos. Como se esses sentimentos, todos, fossem perfis típicos femininos, pois os homens teriam que ser duros, implacáveis, binários, exatos, e desprovidos dos comportamentos tidos como “moles”.
Felizmente a humanidade evolui, a história começa a ser escrita por algumas mãos femininas e novas verdades, muitas delas antigas, mas que estavam escondidas, começam a ocupar espaços na mídia, na literatura, nas salas das universidades, nos laboratórios e em vários níveis de mando e poder.
Em nosso Brasil, uma mulher, por seus trinta anos de militância, e coerência, ocupa espaços importantes na mídia nacional, depois de ter ocupado importante posição ministerial.
Marina Silva, afinada com sua pregação em defesa da Amazônia, e com toda uma posição ideológica em relação ao meio ambiente, se afasta da confortável cadeira de ministra, rompe com seu partido político e empreende nova caminhada. Tudo isso por não concordar com as posições do governo federal em relação à forma de preservar a floresta e de como tratar o capital natural brasileiro.
Esse gesto, vindo de uma pessoa que apresenta idéias claras e propõe um novo debate nacional sobre ecologia, e futuro da sociedade, pode lançar novas luzes, e opções, para o papel das mulheres nos destinos da sociedade, e em direção a uma nova realidade brasileira, que começaria a rediscutir os cenários de um desenvolvimento dirigido para as pessoas, para a vida e para a preservação da vida.
Sem dúvida alguma, Marina Silva, com seu gesto, e com suas atitudes serenas e com toda a mensagem que apresenta neste ano, que é véspera de eleições presidenciais, convida a todos a refletir sobre qual a sociedade que temos, o que herdamos da história, e queremos manter, e sobre o que precisamos, com urgência, mudar.
Num momento em que os “salvadores” da economia propõem consumo, e mais consumo(num país que, além do pesadelo dos lixões ainda não consegue tratar mais de 20.000 toneladas diárias de lixo), como única solução para uma crise inventada pelos “experts” financistas, esquecendo a questão do lixo pós industrial e pós consumo, num momento em que os partidos políticos brasileiros se indiferenciam por absoluta ausência de programas genuínos e coerentes, num momento em que a sociedade assiste chocada, e violentada, ao filme de horrores sobre corrupção endêmica e o compadrio entre poderes, num momento em que o Brasil constata, triste e desesperançado, que os homens que comandam o pais, e aqueles que se apresentam como “novas opções”, não passam dos mesmos repaginados, e velhos, tiranetes de aldeia, que tomaram o poder em todos os poderes, surge algo que brilha no meio dessa noite escura, no meio desse deserto de homens e idéias, como disse Osvaldo Aranha.
Marina Silva, com sua pregação programática pode estar nos apontando um novo referencial na relação, e na participação, de homens e mulheres.
Um novo referencial, que poderá ser um fundamental diferencial.
O tempo dirá.
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