segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

DULCE MAGALHÃES - UNIPAZ

DULCE MAGALHÃES

Conheci Dulce há mais de trinta anos.
Começava sua caminhada como palestrante.
Ficamos amigos após algumas palestras e debates, e de vários encontros de ideias.
Jovem, alegre, feliz com as perspectivas da carreira nova, que iniciava, era voraz
por novos conhecimentos e muito perguntava sobre tecnologia.

Na época, eu era presidente de uma empresa de TI-tecnologia da informação e
comunicação de dados, e ela queria muito saber os efeitos das novas tecnologias
sobre as pessoas e o novo mundo que se apresentava, regido por redes de satélites,
de fibras óticas, de tecnologia digital, de muita racionalidade.

Conversávamos sobre os riscos da excessiva e fria racionalidade, sobre a
emocionalidade e os sentimentos, e quais comportamentos poderiam daí advir.
Presenteei-lhe com o livro “A Conspiração Aquariana” da sensível e genial
escritora norte americana Marilyn Ferguson, que ela devorou rapidamente, para
poder discutir seus conceitos.

Marilyn Ferguson defende nesse maravilhoso livro as redes humanas e a
potencialização de resultados, que a solidariedade pode gerar.
Dizia Marilyn Ferguson, que “conspirar é respirar juntos”.

Alguns anos depois Dulce se agregou à UNIPAZ, para colaborar com o belo
trabalho comandado pelo psicólogo francês Pierre Weill, radicado no Brasil e
dedicado à educação.
Tive a alegria de participar com ela, na qualidade de voluntário, da realização
de vários eventos da UNIPAZ em Santa Catarina, convivendo com uma plêiade
de belíssimas e inteligentes pessoas, que formavam a equipe daquela universidade
alternativa, e que ofereciam seu capital intelectual para nobres objetivos.

Anos depois, em 2004, tive a grata surpresa de ser convidado pelo representante
da ONU no Brasil, para chefiar o escritório pioneiro, que aquela organização iria
implantar em Santa Catarina.
Dulce Magalhães foi uma das primeiras pessoas a me visitar e levar-me um lindo
buquê de flores como presente.

Sobre Pierre Weill, contou-me Dulce, um dia, que ele, aos 82 anos, ainda guardava
um antigo sonho de sua juventude.
Em 1.945, quando a ONU foi fundada e implantada no pós-guerra, Pierre Weill teria se
apresentado na ONU, em Genebra, para se inscrever, como psicólogo, para ajudar na
superação de traumas de guerra de milhares de crianças que tinham sofrido muito durante o
conflito.

Pelos critérios da época ele não foi selecionado, apesar de sua insistência posterior.
Em 2004, quase 60 anos depois, a ONU abria uma representação em SC e Pierre
Weill estava com viagem marcada, para atividades em nosso estado.
Preparei uma surpresa para Dulce e Pierre Weill.

Lastrado no mandato que eu tinha, emanado de contrato formal com a ONU, e na
condição de Representante Oficial em Santa Catarina, expedi um certificado
de Voluntário Internacional da ONU.
Convidei Dulce, Pierre Weill e toda a equipe da UNIPAZ, que se reunira em
Florianópolis, para uma visita ao Escritório da ONU em SC.

Quando lá chegaram foram todos conduzidos a uma sala na qual estava montado
um pequeno auditório, com uma mesa central, que tinha duas velas acesas nas
suas extremidades e um recipiente de cristal azul, com água em seu interior,
enfeixando a simbologia da UNIPAZ e seus signos.
Nesse ambiente Pierre Weill foi nomeado Voluntário internacional da ONU,
recebendo um crachá da organização mundial, com sua foto, feita às
pressas, copiando seu documento de identidade, que lhe fora pedido na entrada,
como se fosse uma exigência das normas de segurança.

Surpreso e muito emocionado Pierre Weill nos abraçou a mim e a Dulce, com os
olhos marejados e nos disse:

“Depois de toda uma vida, sem nada esperar, Dulce e Danilo me fazem essa maravilhosa
surpresa alistando-me na ONU, missão que aceito de todo o meu coração.
Valeu a pena esperar. Nunca entendi os motivos de não ter sido aceito na flor de minha
juventude.
Mas agora entendo e aceito a longa espera.
Era para acontecer neste Brasil maravilhoso, como estímulo ao trabalho da UNIPAZ”.


E Pierre Weill veio a falecer, infelizmente, pouco tempo depois, aos 82 anos.
Mas conversando com Dulce relembramos o evento vivido com ele na ONU de SC,
restando-nos o consolo de termos experimentado momento tão significativo na vida
daquele grande humanista, que dedicou sua vida à paz e à educação.

Depois disso participamos de muitos momentos conjuntos em trabalhos para a
UNIPAZ e em várias palestras conjuntas.
Em 2016 Dulce Magalhães me liga para convocar-me para mais um evento
promovido por ela.
Um grande acontecimento sobre a PAZ mundial estava sendo preparado por ela,
em Florianópolis.

Dessa vez não pude aceitar por estar acamado, recuperando-me de uma surpreendente
e tardia caxumba, aos quase setenta anos de idade.
Mantivemos contato sempre, e nossa ultima mensagem trocada foi neste dia 17 de
janeiro de 2017, ano que se iniciara com uma linda fotografia enviada por Dulce
pelo whatsapp, a qual mostrava uma bela faixa de praia com uma onda espumada
apagando o número 2016...
E, agora, a espuma da vida, uma onda do universo, vem nos tirar Dulce do convívio,
para que ela continue a brilhar e inspirar nossas jornadas.

Dulce sempre procurou o sentido da vida, sempre tentou ajudar pessoas a interpretar
suas existências, sempre ajudou a iluminar caminhos humanos para que mais pessoas
encontrassem um patamar de felicidade e bem estar.
Essa, talvez, tenha sido uma de suas principais missões, nesta dimensão.

Não sabemos onde ela está, mas com certeza continuará com seu bondoso sorriso e
suas coloridas e alegres vestes, em uma interminável caminhada na busca de novas
interpretações e explicações sobre a vida na face deste intrigante e instigante planeta.