Grandes empresas de consultoria têm diversificado sua atuação para intermediar negócios imobiliários de grande monta no Brasil. Enormes superfícies de terra altamente produtivas, ainda não devidamente integradas ao mapa geo-estratégico de nossa Nação, passaram a ser objeto de cobiça pelos argutos observadores da cena internacional, de outros governos, e organizações comerciais privadas.Com a maior consciência da questão ambiental em todo o mundo, principalmente nos paises mais desenvolvidos e industrializados, grandes organizações globais passam a necessitar de alguns elementos essenciais, que não mais dispõem em seus paises de origem.
Sociedades cada vez mais concentradas nas cidades e crescentemente dependentes de energia elétrica precisam incrementar as suas escalas de produção de alimentos e a disponibilização de conexões para seus habitantes poderem ligar aparelhos e equipamentos, que a sofisticação tecnológica permite. Terra de boa qualidade em grandes extensões, grande índice de insolação, regime de chuvas e abastecimento de água, ventos para gerar energia eólica, cursos d’água com vazão suficiente para implantação de PCH’s e, o que acaba se tornando o fator mais atraente, valores de compra muito baixos em relação ao que se pagaria, pelo pouco, e empobrecido, solo disponível nas nações compradoras. As limitações legais impostas e a elevada carga tributária na Europa e Eua, impelem aqueles conglomerados empresariais e humanos a buscar alternativas de soluções para o que poderá representar a sobrevivência de seus modelos de sociedade. E tudo sempre em ações bem afinadas com os interesses estratégicos de seu governos. A Alemanha já tem grande percentual de sua frota de veículos abastecida com bio-diesel. A Suécia implantou programa ambicioso de só utilizar combustíveis não-fósseis até 2020. A França investe em programas de substituição de fontes de energia, estimulando o uso das bicicletas em suas planas cidades e na adequação de sua matriz energética para a sua salvação ambiental, dentro do quadro estudado e normatizado pela União Européia, que determina calendário curto para essas adequações. Os Eua se debatem entre batalhas políticas e econômicas entre os grupos ambientalistas e progressistas e a visão conservadora dos grandes interesses das empresas petrolíferas, que dirigem seus olhares somente para seus lucros e ganhos, mesmo à custa de grandes desastres ambientais como os derramamentos de petróleo já ocorridos naquele país. O bio-diesel americano, produzido a partir do milho, não chega perto da produtividade das oleaginosas brasileiras, obrigando o governo a ocupar muita terra e elevado valor de subsídios.
Enquanto isso, nosso Brasil, dotado de significativa reserva de solo fértil, onde se plantando tudo dá, principalmente fontes renováveis de insumos que nos próximos anos valerão mais que tudo até agora pesquisado e desenvolvido: combustível limpo para manter a vida e a mobilidade do ser humano e alimento abundante para suportar uma população de 9 bilhões de devoradores de recursos, verdadeiros gafanhotos racionais, cada vez mais virados para seus egocentrismos de consumo e sobrevivência e cada vez mais dependentes de meios de abastecimento, para os quais não dedicam a mínima noção de como são obtidos. Nesse quadro mundial, cada vez mais geral e, ao mesmo tempo, paradoxalmente dependente das questões e fatores locais, o Brasil passa a ser visto, infelizmente, não por seu desenvolvimento ou por suas soluções criativas para combater a miséria e criar a justiça social. Ele passa a ser cobiçado por algo antigo, conceitualmente ultrapassado num mundo que diz valorizar o conhecimento, a formação do saber e a tecnologia inovadora e salvadora da qualidade e expectativa de vida. O velho conceito medieval do valor da terra, que já foi ultrapassado pelo capital e depois pelo conhecimento, volta a ser elemento de agudo interesse no painel do poder mundial. Dizem os especialistas brasileiros, das diversificadas empresas de consultoria que ajudam a vender o rico solo nacional para vorazes estrangeiros sedentos de alimento e energia, que após o Brasil esgotar seu estoque de terras, o que deve ocorrer nos próximos 20 anos, a Africa seria naturalmente a próxima fornecedora desse sangue em forma de terra que o mundo desenvolvido tanto necessitará para manter o privilégio de oferecer vida e energia para seus habitantes.
Fora o aspecto de soberania e a necessária valorização integrada de nossas potencialidades macroeconômicas, e das demandas de nossa população, que deverá chegar aos 250 milhões de habitantes nos próximos anos, é necessário despertar para o fato de que nossas terras, nessa virada conceitual empurrada pela consciência ambiental, passam a se constituir em fator critico e essencial de progresso e evolução de nossa sociedade. Num momento histórico em que grandes passos foram dados nos últimos 20 anos para chegarmos a um patamar minimamente digno de desenvolvimento humano, apesar de um IDH ainda muito baixo, não podemos deixar a euforia nos cegar ao ponto de começarmos a alienar um capital que representará o futuro do Brasil como sociedade humana civilizada. Quando falamos em terra, não nos referimos somente ao solo, ou subsolo e suas riquezas, que podem escoar de nossas mãos, e controle, para os interesses de paises que já esgotaram suas reservas e contaminaram a sua e boa parte da atmosfera de todo o mundo. Precisamos olhar todos os agregados que serão “exportados” juntamente com tudo que for produzido em nossas vendidas terras e sobre as quais corremos o risco de perder a soberania e determinação de uso. Nossas reservas de água, nosso sol, nosso regime de chuvas e irrigação natural, nossos ventos que movimentarão enormes usinas de energia eólica, tudo isso se constitui em um conjunto de valores agregados, altamente significativos e valorizados, que estarão permitindo elevados padrões de vida para os paises que tiverem comprado nossas baratas terras. O preço a pagar poderá ser a transformação do Brasil em um simpático, e primário, fornecedor de folguedos carnavalescos, ensolarado turismo, abundante alimentação e energia barata, que poderá manter nosso país na sua triste tradição de colonizado e, lamentavelmente, ameaçado de destituição de uma independência digna e de uma convivência mundial baseada no respeito mútuo e na aceitação das diferenças. Situação essa, que, se vier a se consolidar, poderá nos colocar novamente nos “tristes trópicos” observados pelo arguto antropólogo francês Levy-Stauss, em sua viagem financiada pelo governo frances, da época. Independência e soberania vão muito além de um histórico levantar de espada e de uma declaração de direitos. Num mundo faminto de fontes de energia, alimentos e medicamentos, nosso solo como grande potencial fornecedor de tudo isso precisa ser valorizado e resguardado, devida e estrategicamente, para que nossas trocas com o restante do mundo sejam de colaboração e complementariedade, mas sempre priorizando os interesses permanentes e essenciais de nossa sociedade e de nosso futuro como Nação.