quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Prioridades brasileiras



O crescimento econômico de nosso país tem sido expressivo.
A aparente rápida superação dos abalos sofridos pela crise da bolha especulativa americana, o aporte de recursos para estimular o consumo e reativar a economia, o estimulo ao crédito para gerar expansão da produção, refletem alguns dos esforços governamentais na direção da manutenção das taxas de crescimento do Brasil.
Contudo, sabemos que crescimento não quer dizer desenvolvimento econômico, efetivamente.
O primeiro, se caracteriza pela avaliação da elevação vertical dos índices, oferecendo uma leitura imediata do aumento do PIB, da acumulação de riquezas.
O segundo, representa o estágio superior, quando o crescimento material da nação passa a ser apropriado por todos e para todos, distribuindo os benefícios e transformando o PIB em FIB, ou felicidade interna bruta (conceito da pensadora Susan Andrews).
Desenvolvimento significa falar em respeito e preservação ambientais, em distribuição justa de renda, em reciclagem e capacitação dos contingentes de trabalhadores atingidos pela inclemente substituição pelo aparato tecnológico, em direito de todos à educação, à saúde e ao trabalho dignos, em acabar com o analfabetismo e o trabalho escravo (causa e consequência), em inclusão social e direito à vida, além de outros aspectos.
A excessiva polarização de nossos dirigentes, públicos e privados, pelos resultados imediatos, e glamurosos, de índices numéricos robustos, limita a qualidade de vida da nação brasileira, uma vez que os problemas reais da sociedade não têm merecido a atenção que necessitam.
Constatamos uma crescente concentração populacional nas cidades brasileiras, que geram grande processo de ocupação urbana desordenada e sem qualquer infraestrutura adequada para esses contingentes, que acabam se instalando nos cinturões, cada vez mais, empobrecidos e miseráveis.
A omissão histórica do Estado oferece esse terreno fértil para a formação de grandes contingentes de desempregados, que acaba assediado e “protegido” pelo crime organizado.
O outro estado, o paralelo, se espraia nessas condições, e se prepara para assumir os papéis relegados pela estrutura formal, e mantida com os recursos de impostos.
A questão sanitária básica não é atendida e mais de 20.000 toneladas de lixo são jogadas, sem qualquer tratamento, diariamente nas cidades brasileiras.
Nosso território tem sido assolado por severas situações climáticas nos últimos anos, que nos impõem grandes perdas humanas e materiais.
As matas ciliares sofrem perversa e impensada extração, os rios elevam os níveis de seus leitos, e se instala o ciclo da destruição, com alagamentos e enchentes.
Desmoronamentos de morros matam pessoas, derrubam moradias, interrompem ruas e estradas e afetam a economia das cidades.
Temos, em todo o país, 28 radares meteorológicos, quando precisaríamos de, no mínimo, 100 para termos uma cobertura de informações preventivas.
Alguns dos Estados mais atingidos pelas alterações climáticas não possuem qualquer equipamento dessa natureza e ainda não se recuperaram dos estragos da ultima temporada de destruição.
Enquanto isso, grandes somas são prometidas para capitalizar o FMI, para ajudar os paises ricos que especularam, alguns vários bilhões são destinados a compras de armamentos e os gastos públicos aumentam anualmente.
Nada contra a atualização tecnológica das forças armadas, que têm a dura missão de guardar este país continental dos apetites de poder de alguns “guapos” e bregas chefes de estado da nossa pobre América Latina, e contra os jogos estratégicos, de anexação e ocupação, dos olhares e sobrevôos da águia americana.
Ainda mais agora, que a Colômbia se prepara para receber uma verdadeira ocupação militar, por 7 bases norteamericanas, com expressivo número de representantes das três armas dos Estados Unidos. Além, é claro, de grande numero de armas, tanques, carros blindados, helicópteros etc.
A Venezuela faz acordos com o Irã e investe pesado em armamento, e a epidemia armamentista, mais que a gripe A, pode ser tornar uma pandemia belicista sul-americana.
Mas será que nessas compras bilionárias não poderiam ser incluídas algumas dezenas de radares para proteger um pouco mais nossas populações das conseqüências da falta de cuidados com o meio ambiente, que acabam gerando tempestades e desgraças?
Nos gastos públicos não poderiam ser destinadas algumas centenas de milhões para que se construísse um efetivo saneamento básico, diminuindo o numero de doenças e a contaminação, que acabam custando muito caro aos recursos dos contribuintes?
Alguma coisa de tudo que é gasto pelos três poderes, em Brasília, para a manutenção e conforto das estruturas federais, nem sempre regulares ou corretas, não poderia ser canalizada para que professores, policiais e profissionais da saúde tivessem ganhos compatíveis com a sua importância para a dignidade e qualidade de vida da população brasileira?
E os governos estaduais e municipais, além de obras asfálticas, muito concreto e placas de inaugurações, com nomes e datas de governantes e gestões, poderiam dirigir um pouco dos orçamentos públicos para as efetivas prioridades dos brasileiros?
Essa reflexão, que emociona e sensibiliza a todos os habitantes deste não tão jovem país, que já passou bastante dos 500 anos, pode ser uma base de questões para serem pensadas, e pesadas, no ano de 2010, quando então teremos nas mãos, nós eleitores, o poder de dar um cartão vermelho para os incompetentes e insensíveis governantes, que só tenham pensado em enriquecer suas famílias, amigos e apaniguados.
Alguns bons até podem permanecer, mas a bula recomenda uma renovação geral, pois os efeitos colaterais negativos têm sido muito danosos para a felicidade geral dos brasileiros.
Tudo é uma questão de prioridades.
Saberemos discernir e definir as que interessam ao nosso povo e ao futuro da nação?