segunda-feira, 29 de outubro de 2012

QUERER VIVER

Quero tudo novo de novo.
Quero não sentir medo.
Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais.
Viajar até cansar.
Quero sair pelo mundo.
Quero fins de semana de praia.
Aproveitar os amigos e abraçá-los mais.
Quero ver mais filmes e comer mais pipoca, ler mais.
Sair mais. Quero um trabalho novo. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto.
Quero morar sozinho, quero ter momentos de paz.
Quero dançar mais. Comer mais brigadeiro de panela, acordar mais cedo e economizar mais.
Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais.
Pensar mais e pensar menos. Andar mais de bicicleta.
Ir mais vezes ao parque. Quero ser feliz, quero sossego, quero outra tatuagem.
Quero me olhar mais. Cortar mais os cabelos.
Tomar mais sol e mais banho de chuva.
Preciso me concentrar mais, delirar mais.
Não quero esperar mais, quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais.
Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente e só o necessário para trás.
Quero olhar nos olhos do que fez sofrer e sorrir e abraçar, sem mágoa.
Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa.
Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão.
Quero aceitar menos, indagar mais, ousar mais.
Experimentar mais.
Quero menos “mas”.
Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais.
“E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha".

Fernando Pessoa

domingo, 28 de outubro de 2012

EDUCAÇÃO: PROFESSORES INTIMIDADOS



Educação é amor, exemplos, e limites.
Concordo plenamente com essa definição.
E todas as palavras cabem dentro de uma outra, muito importante: FAMILIA.
Frequentemente se pode ler chocantes reportagens policiais de alunos que agridem professoras e professores.
E o pior, com a chancela, com o apoio, com a aceitação das familias dos agressores e agressoras.
A Escola, as professoras e professores, é uma instituição onde os alunos vão para se alfabetizar, complementar o processo de educação familiar, adquirir novos conhecimentos, para formar saberes.
Os valores, o respeito, a hierarquia, a capacidade de viver com outros, e respeitá-los, veem do seio familiar.
A autoridade saudável, e exemplar, vem do núcleo familiar, pois pais e mães amam seus filhos, e a escala de aceitação de decisões e direcionamentos, parte de quem quer o melhor para seus descendentes.
Conviver com autoridade e hieraquia, portanto, além de uma necessidade é uma característica da estrutura chamada familia.
Na sociedade, no nível coletivo, é a mesmo situação.
O conjunto de leis, de regras, o bem comum, devem ser respeitados por todos, pois a civilização requer que se cumpram princípios, de forma a preservar direitos, e destacar deveres, que no conjunto constróem a cidadania.
Sociedades avançadas, desenvolvidas, só chegaram lá por construir Estados desenvolvidos, ou seja, estruturas para o bem comum, para o espaço de todos, onde o respeito pelos direitos alheios seja sempre enaltecido, nem que para isso tenha que se recorrer à lei e a seu braço armado, a polícia judiciária.
A realidade atual, na qual muitos pais e mães são obrigados e passar o dia trabalhando, produzindo, para poder manter suas familias, afasta os responsáveis de seus filhos, dificultando a transmissão de bons principios éticos, de respeito pelos outros.
Muitas crianças e adolescentes se auto-educam nesse nível, pois desde tenra idade ficam com estranhos, parentes, ou sozinhos.
A propaganda presente em todos os meios de comunicação, nos meios eletrônicos e digitais, gera uma grande, enorme, expectativa nessa faixa de idade, levando esses jovens a desenvolver elevada ansiedade para ter acesso a todos os brinquedos, a todas as bugigangas eletrônicas, a roupas, celulares, sapatos, e todo o tipo de coisas a consumir.
Essa exacerbação de sentimentos consumistas, que acaba funcionando como lenitivo da ausência materna e paterna, ou da sua distância, também gera, por parte dos pais, necessidade de atender aos anseios  de seus dependentes, para aplacar um pouco a culpa por estarem muito longe de onde gostariam, e deveriam.
Consumismos, promessas soltas, falta de limites, alienação dos valores essenciais do convívio humano, podem conduzir nossa sociedade a um tipo de barbárie urbana, travestida de uma pseudo liberdade.
Crianças e adolescentes que não são educados por seus pais a respeitar seus professores e professoras, muito provavelmente, desenvolverão comportamentos equivocados, que poderão levar a desajustes futuros, pois na rua, em outros ambientes, os eventuais agredidos poderão reagir com armas, com violência, da forma que os mestres não o fazem, mas que poderão acarretar situações irreversíveis, e até mesmo trágicas.
Se eventualmente alguns professores, ou professoras, se comportam indevidamente, existem níveis, em todas as escolas, aos quais alunos, alunas e seus pais podem recorrer para que haja a devida intervenção.
Mas o que não se pode aceitar, jamais, é a implantação das medidas de força, de chantagem de provocação gratuita, por parte dos educandos.
As escolas ai estão para ajudar as familias, complementar o processo educacional e formar o saber nos futuros cidadãos.
Que só o serão se respeitarem regras, se acatarem a autoridade e a disciplina, elementos essenciais para que a sociedade avance e se qualifique.
A agressão é tema para a polícia, ou para enquadramentos legais, ou dosciplinares, jamais para o convívio entre alunos e educadores.






BRASIL, NOVA ETAPA


 

 
Sob o signo da mudança e da renovação se inicia uma nova semana, com a eleição de novos
 
prefeitos, e novas câmaras municipais, em todo o Brasil.
A mudança, a alternância, sempre foram as características da democracia e da república.
 
O Poder a ninguém pertence, somente ao povo, à sociedade.
Governantes teem que cuidar da gestão das cidades, sem querer fazer disso uma catapulta para mais
poder.
 
O voto ainda é a maior arma que a sociedade possui para renovar, e se renovar.

RENOVAÇÃO E MUDANÇA: ESPERANÇA NO FUTURO



O mundo atual merece mais reflexão.
Quem aprendeu a viver no mundo velho do século XX, quando não havia preocupação com o meio ambiente, nem uma atitude de respeito pela diferença, pela diversidade, pela alteridade, vai encontrar grande dificuldade em entender o novo mundo que o século XXI nos trouxe.
Apegar-se a cargos, usar a gestão pública como se fosse patrimônio pessoal, não atentar para o meio ambiente e para o correto uso dos recursos públicos, e coletivos, são comportamentos ultrapassados.
O patrimonialismo, essa pesada herança da corte portuguesa precisa, com urgência, ser substituída pelo humanismo e pelo ambientalismo.
Muitas pessoas reclamavam da ditadura que houve no Brasil. E com razão. Mas muitas outras, que se travestiram de democratas, ao chegar ao poder tentaram se eternizar nessa condição, que é transitória por definição.
Ou seja, eram ditadores por vocação, só aguardavam uma oportunidade para mostrar sua real postura pouco ética.
Enquanto os tiranetes de aldeia buscam um tesouro material em suas gestões, os verdadeiros estadistas procuram construir as condições essenciais para as próximas gerações.
A inovação, a visão futurista é que constrói, que renova, que empreende.
Como disse o grande Educador Paulo Freire:
“Não basta adotar o novo. Só podemos implantar o novo, quando soubermos as razões por que o velho não nos serve mais”

domingo, 21 de outubro de 2012


INTELIGÊNCIA
Einstein dizia que o desenvolvimento da inteligência humana passa pela irreverência.
Não devemos reverenciar afirmações antigas ou ultrapassadas, temos que ser irreverentes, questionar, refletir, alterar, ter a coragem de falar e afirmar o que acreditamos.
Ele afirmava que a simples repetição da carga cultural recebida acabaria por repetir erros.
Algo bem próximo do que Freud afirmava:
"quem não supera, reproduz"
Assim, podemos ousar e criar aspectos novos, idéias criativas, novos comportamentos, que, com certeza, agregarão inovações, que poderão ajudar na construção da felicidade.
Felicidade que não deve ser um estágio a ser alcançado um dia, e sim, vivermos felicidade todos os dias.

 

PARTICIPAÇÃO NO COLETIVO

E minha inspiração vem do coletivo ao qual me dedico por achar que a evolução das sociedades se dá nesse nível. O ser humano sozinho é o caos, ele se salva e gera avanço e constrói civilização no nível social, coletivo. Por isso a participação cidadã é fundamental no aperfeiçoamento da sociedade. O resto é particular, pessoal, íntimo

 

EXISTEM REMÉDIOS PARA A ALMA?

Tem, são os bons amigos, as alegrias, olhar para as belas flores, contemplar a beleza que nos é oferecida todos os dias, sorrir com as crianças, com as outras pessoas, dar e receber carinho, abraçar e ser abraçado... e tem uma vantagem, esses remédios não dão overdose, não intoxicam, nem têm contraindicações, podem ser tomados a qualquer hora do dia, todos os dias, ao longo de toda a vida!

 
LEITURA 
"No Egito, as bibliotecas eram chamadas 'Tesouro dos remédios da alma'. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras." (Jacques-Bénigne Bossuet)



terça-feira, 16 de outubro de 2012

REMÉDIOS PARA A ALMA HUMANA



EXISTEM REMÉDIOS PARA A ALMA?



Tem sim,
são os bons amigos, as alegrias,
olhar para as belas flores, contemplar
a beleza que nos é oferecida todos os dias,
sorrir com as crianças, com as outras pessoas,
dar e receber carinho, abraçar e ser abraçado... e
tem uma vantagem, esses remédios não dão overdose,
não intoxicam, nem têm contraindicações, podem ser tomados
a qualquer hora do dia, todos os dias, e ao longo de toda uma vida!

VIVER



Para viver é necessário amar o mundo.
Amar as pessoas.
Se queremos ser felizes, precisamos desejar a felicidade de todos.
Se sonhamos com generosidade e solidariedade, devemos ser generosos e solidários com quem nos cerca.
A vida é uma teia, uma rede, bilhões de pontos interligados, de forma direta, ou em "wire-less".
O que afeta uma, ou algumas pessoas, pode afetar a todas.
Não existe felicidade isolada, individual, egocêntrica, pessoal, pois somos um sistema integrado, com processos comuns.

CRISE DA EDUCAÇÃO, E OUTRAS




Muito se fala na crise da Educação.
Desde criança assisto a esse debate. E olha que isso já faz tempo (minha infância e a crise na educação...)
A área pública governamental, com suas cíclicas más atuações afastou as pessoas da vida política, que é a instância de participação da cidadania. Essa sim é uma crise que se estende para todos os países.
O empobrecimento da atividade pública e política é que gera as demais crises, nas áreas dos serviços prestados aos cidadãos.
Os partidos políticos, via de regra, afastaram a militância, que participava e representava a sociedade.
Atualmente governos existem para arrecadar impostos da cidadania, e repassá-los aos bancos, para pagar a dívida pública, ou para emprestar, a juros baixíssimos, a projetos discutíveis, por meio de seus bancos públicos, também mantidos com recursos dos impostos.
A industria automobilistica tem desconto de IPI, mas ela não baixa um centavo de seu custo, no preço dos veiculos.
Essa crise moral e ética é que gera outras crises.
Precisamos, todos, amar o mundo em que vivemos.
Sem essa atitude vamos viver em crises permanentes, pois os limites do bom senso, o uso dos recursos públicos será desvirtuado pelo nivel que deveria prezar por sua correção e prioridade.
A questão ambiental também se enquadra nessa crise moral e ética.
Como podemos olhar para nossos desejos pessoais, e individuais, e esquecer que os recursos que consumimos estão gerando uma crise maior, justamente pelo consumo abusivo e irresponsável, de elementos naturais?

domingo, 14 de outubro de 2012

DIA DOS PROFESSORES



Eduacação é amor, exemplos, e limites.
Educar é preparar as pessoas para conviver com a realidade do mundo em que estão inseridas.
Educar é transmititr, com generoridade e solidariedade, informações e conhecimentos, para que sejam transformados em saber.
Educar é incentivar sensibilidade para ver, perceber e compreender o mundo em que se vive.
Se educa com as pessoas e não para as pessoas, como disse Paulo Freire.
Cada pessoa tem seu contexto social e familiar, sua subjetividade, sua identidade cultural.
A educação é um processo permanente de transformação e evolução.
Várias são as formas de conceituar e perceber o processo educativo.
Mas o principal aspecto, o mais primordial fator, a mais essencial intervenção na educação é a atuação das professoras e professores.
Nossa melhor homenagem, no dia do Professor, é apoiar a sua necessária e prioritária valorização, profissional e financeira.
Atender alunos, preparar aulas, pesquisar temas, elaborar e corrigir provas, descobrir potencialidades humanas, dar muito de si para estimular as posturas cidadãs, atuar como agentes de transformação social, permanentemente, são algumas das importantes atribuições dessas pessoas maravilhosas, que se vocacionaram nessa opção de iluminar caminhos, apoiar sonhos, ajudar a realizar metas,  motivar para o novo e construir cidadania.
Tratar Professores e Professoras com dignidade, reconhecimento e salários adequados deve ser uma postura permanente da sociedade brasileira.
Nosso futuro melhor, com evolução e superação, depende de um processo forte e coerente, que coloque os Professores no centro, e seja o objeto, de uma postura ética dos governantes, pois esse é o principal investimento que nossa Nação precisa fazer.
Que o Dia do Professor desperte em nossas autoridades e cidadãos a necessária consciência sobre a educação como prioridade nacional!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

EVOLUÇÃO HISTÓRICA E ACULTURA SÓCIO-POLÍTICA NO BRASIL



-A cidadania acontece nas pessoas e nas estruturas por elas construídas. Estado e Governo são virtualidades erigidas pelos cidadãos, que necessitam de ordenação da conduta humana e, por isso, criaram esses conceitos para a gestão de direitos e deveres. Quem é esse ser humano da atualidade mundial? Como se comporta, se expressa, escolhe, repudia, como trata de seu desejo, da busca de seu prazer e da qualidade de vida? Como participa da vida política de seu país, como ajuda na transformação social necessária? A realidade brasileira acompanha os mesmos movimentos? Os mesmos processos? As mesmas posturas e comportamentos?

A humanidade viveu o século XX dominada por duas linhas ideológicas, que tentaram de forma simplificadora e minimalista, explicar a necessidade das pessoas, suas subjetividades, sonhos  e desejos. Capitalismo e socialismo, visões e doutrinas frutos da revolução industrial do século XIX, e do processo de urbanização, em decorrência da industrialização, da organização do capital e do trabalho. Essas duas concepções foram determinantes na implantação de formas de Estado, sob esses conceitos, e de organização das sociedades nos países. A polarização determinou um mundo binário, sem a visão dialética de um estágio de entendimento e avanço. A evolução dos meios de produção, do consumo, das estruturas financeiras, e dos governos e órgãos de regulação das atividades econômicas, foram estruturantes nos comportamentos atuais e nas relações pessoais e de consumo. 
O avanço tecnológico permitiu o atendimento de necessidades humanas de tomada de decisões, diversificou a oferta de produtos e serviços, gerando o bombardeio informacional/propagandístico sobre as pessoas. Aliando a demanda estrutural, e natural, que todas as pessoas têm de poder escolher soluções, materiais e imateriais, para suas vidas, levou a um grande número de opções e de escolhas, gerando uma “intoxicação”, um congestionamento no processo de entrada, análise, correlação, e conclusão do cérebro humano. O mundo saiu de uma época preto-e-branco para uma humanidade quase psicodélica dos mais diversos matizes, em todos os campos, passando a oferecer, a estrutura de produção, a sensação de um verdadeiro paraíso de escolhas, como se as necessidades fossem infinitas, as possibilidades de consumo também, e como se a elevada ansiedade dessa situação nova pudesse levar as pessoas a níveis imponderáveis de prazer e satisfação de seus desejos.
As capacidades de avaliação, percepção, comparação, ponderação dos seres humanos são ativadas pela motivação de opções, que, em quantidade desproporcional, podem conduzir à angústia, ansiedade, frustração e depressão.
Esse panorama pode ativar estimulações exageradas na capacidade de escolher e consumir, relegando o ser humano a uma dimensão quase única, ligada ao consumo, gastos, compromissos financeiros e ao empobrecimento das relações sociais, familiares, políticas, e à perda de fundamentais habilidades relacionais.

Ao começarmos nosso texto com a pergunta sobre a identidade social do ser atual, nossa intenção é exatamente partir da realidade atual, para verificarmos, depois, os fundamentos históricos, culturais, econômicos e políticos de nossa sociedade brasileira, para que se possa fazer um batimento, uma avaliação comparativa para que possamos entender nossa evolução como sociedade, nosso desenvolvimento como seres portadores de determinadas características culturais, e tentar abranger uma visão de país, de nação, com toda a complexidade construída e gerada pela soma desses contextos.
Nossa história foi composta por um mosaico variado, onde a figura do próprio “descobrimento” do Brasil pelos portugueses é altamente discutível, uma vez que 6 anos antes, em 1494, o Tratado de Tordesilhas havia sido firmado entre Espanha e Portugal, dividindo as terras descobertas no Ocidente, em duas áreas de interesse dos dois países.

Em história, além das grandes interpretações e subjetividades dos escritores e pesquisadores, ainda se somam os interesses estratégicos, de diversas épocas, governos, instâncias de poder, visões religiosas, que podem passar informações consolidadas, nem sempre resistentes a processos de comparação e checagem.
Outro aspecto interessante, sobre o modelo humano brasileiro, é o tocante à propalada “cordialidade” do brasileiro. Cordial vem de cordis, coração, como se fossemos todos virtuosos na capacidade de se cordiais. Mas estudando nossa história vemos que os aspectos históricos nos fornecem novos elementos. Em vez de “cordial” poderíamos interpretar como “cordato” o perfil de nossa natureza humana, pela dominação e anexação externa portuguesa? Pela facilidade em aceitar governos e políticos nem sempre competentes e eficazes?

Temos uma história que de cordial e democrática tem muito pouco. Em cinco séculos de história, desde o Brasil-Colônia, Império, República, assistimos um desfile assustador em termos de exercício do poder, nas relações entre diferentes, na convivência entre hiper e hipo-suficientes. A pálida vivência democrática brasileira sempre foi intercalada por golpes, quarteladas, ameaças de golpes, e regimes dúbios. A República foi implantada num golpe de estado, seu dirigente se manteve no poder por outro golpe, a república velha foi deposta em 1930 por golpe militar. Getúlio se manteve até 1945 no poder com o golpe do Estado Novo em 1937, Juscelino Kubitschek de Oliveira quase não toma posse após democrática eleição, só chegou ao governo por outro golpe dado pelo General Lott. Com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, os militares tentaram golpe para não deixar o vice-presidente eleito assumir suas funções. Em 1964 novo golpe, que durou 21 anos, até 1985.
Em 500 anos tivemos, efetivamente, bem menos de um século de regimes democráticos. E mesmo em momentos aparentemente livres, a sucessão de crueldades cometidas por quem estava investido da força é algo muito presente.
Alguns episódios marcam bem essa condição. Na escravidão, que se prolongou por quase quatro longos séculos, a forma cruel de tratamento dos negros escravizados, e das negras, bem comprova a dualidade de posições.

Negros eram marcados a ferro e a fogo, como se marca o gado, sendo as marcas aplicadas no rosto, no peito, nas costas, para que se pudesse negociar essa força de trabalho, com garantia de procedência.
Negras, aos 15 e 16 anos, eram levadas a se prostituir pelas senhoras das fazendas, damas aparentemente cordiais e gentis, que colocavam suas joias nos corpos das adolescentes para que elas recebessem valores maiores por seus serviços sexuais, pois o “excedente” era muito bem recebido, como “renda” gerada para as famílias escravocratas.

Senhoras de fazendas, se eventualmente descobrissem que as “negrinhas” estivessem prestando esses mesmos serviços sexuais a seus próprios maridos, não titubeavam em matar as meninas, recorrendo ao requinte macabro de uma vingança conjugal. Muitas vezes mandavam amputar os seios das escravas mortas e os serviam, cosidos, a seus esposos, como demonstração da descoberta da infidelidade.
No nível político, muitos foram os movimentos que contestaram o poder constituído, ao longo da história, e que receberam respostas violentas e desproporcionais. Os episódios de Canudos e do Contestado, como exemplos, foram objeto de campanhas militares, que não visaram somente a capitulação dos vencidos, mas à sua extinção, com milhares de execuções posteriores às derrotas.

O movimento tenentista de 22, com a revolta do Forte de Copacabana, gerou dois aprisionamentos apenas, e muitas mortes de militares. Os sete povos das Missões, que foram palco da Guerra Guaranítica, foram completamente destruídos em 1756, atacados em conjunto, por tropas uruguaias, argentinas e militares brasileiros.
No mesmo ano de 22, quando aconteceu a revolta dos tenentes, ocorreu a Semana de Arte, Moderna, em São Paulo, que revolucionou a forma de valorização da criação artística no Brasil. Uma elite de artistas nacionais, irreverentes à ordem vetusta que existia, ampliaram os limites, inovaram em processos que inauguraram o modernismo, e exerceram influência nas décadas seguintes. Destacaram-se no movimento Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Victor Brecheret, Heitor Villa-Lobos e muitos outros.

Mas o que se pretende, com essas citações, e comparações, é tentar prospectar como se formou, e consolidou a cultura brasileira, e como ela se manifesta, em termos de cidadania participativa, neste início do século XXI.
O mosaico histórico é um pano de fundo de nossa formação, que não pode se desconectado na tentativa de se compreender nossa atualidade, nossos comportamentos, pois esse substrato variado fez parte de nosso passado, influenciou nossos ancestrais, moldou corações e mentes, e desaguou em nossa caminhada. Objetiva, ou subjetivamente, o lastro é suficiente para influenciar em nossas vidas, em muitas dimensões, e gerações.

As sociedades são uma resultante de muitos fatores. História, cultura, guerras, influências, hábitos em função das condições climáticas, tudo isso molda perfis, conecta passado, presente, e desemboca no futuro, das pessoas e das sociedades.
Nosso século XX, marcado por duas linhas políticas preponderantes, passou por outras vivências de ordem econômica, financeira, tecnológica, que geraram grandes repercussões. A tecnologia da comunicação, implantada no Brasil na década de 60, o grande desenvolvimento da tecnologia da informação, que a partir das transformações digitais dos anos 80 determinou mudanças significativas, e radicais, nos processos produtivos e sobre os comportamentos humanos, contribuiu, fortemente, com a chegada de novos patamares relacionais, considerando ainda o processo de urbanização, a entrada no mercado da força de trabalho feminina, e o novo perfil das famílias modificadas por todas essas novas posturas.

A sociedade mundial sai de uma binariedade ideológica no final da década de 80, o Brasil reencontra a Democracia, em 1985, por eleições indiretas, e a cidadania brasileira é afetada por nova condicionantes contextuais, que não lhe permitem “curtir” a conquista ou valorizar a mudança.
Em 1979, a lei da Anistia trouxe de volta ao Brasil muitas pessoas que tinham sido exiladas pela intolerância da ditadura, entre 1964 e 1985. No mesmo ano, o General Geisel, presidente militar, concordou, por influência de um catarinense ilustre, o joaçabense Raymundo Faoro, com o envio de matéria legislativa ao Congresso Nacional, para remover o entulho autoritário, desde o Ato Institucional 5. Conjunto de normas impostas ao país pela ditadura, e que valeu por 25 anos, um quarto de século. Em 1979 também iniciou o processo da Anistia, com pequenas repercussões na sociedade geral, pois ainda vigorava a censura. Isso fez com que grandes avanços conceituais, políticos, e comportamentais passassem em branco para grande parcel da população brasileira, já muito comprimida pela crise econômica deixada pelo governo militar, associada à crise mundial do petróleo, que projetavam a inflação brasileira a níveis inimagináveis atualmente.
E a reforma partidária, feita entre 1878 e 1980, que gerou novo panorama político e representativo eleitoral, feito ainda no período ditatorial, sem a crítica ou a ampla participação social? Como influiu a frustração das “diretas já”, engolidas pelo Colégio Eleitoral, sem um único voto popular, com a eleição de Tancredo Neves de forma indireta. Como se manifestou nas almas brasileiras a morte do presidente da redemocratização, e a posse de um presidente do partido que deu sustentação à ditadura?

Todos esses fatores, que aconteceram entre 27 e 48 anos passados, deixaram suas marcas e influências, nem sempre agradáveis e positivas, nas gerações posteriores. Toda a história brasileira, de mais de 500 anos, é um patrimônio de peso significativo. Ainda mais se forem levadas em conta outras parcelas potencializadoras, e transversalidades contextuais.
O processo de globalização, ou mundialização, ocorridos nas décadas de 80/90, as mudanças paradigmáticas nos socialismo e capitalismo, a invasão tecnológica, o agudo processo de urbanização dos últimos 30 anos, associados aos novos hábitos e convívios produziram quais efeitos nas pessoas? A crise dos anos 80 e 90, a crise de 2008, expandida pelos bancos americanos para todo o mundo? O elevado volume de recursos estatais inseridos, gratuitamente na economia privada, para “salvar” os governos nacionais, como são notados pelas cabeças humanas, diante de outras prioridades não atendidas pelas administrações governamentais?

Como aquilatar esses efeitos numa população que ainda tem grande número de analfabetos, reais e funcionais? Como aferir os impactos na representação partidária, depois de 21 anos de um regime militar ditatorial, e numa fase da sociedade de afastamento pessoal, e participação por meios tecnológicos, impessoais, e redes de mídias interativas?
Uma sociedade se torna mais forte, constrói boas heranças e legados, quanto maior for a dose de solidariedade e generosidade em suas relações, sucessões, legados e gerações.

Nossa Escola é uma dessas transversalidades históricas, pretende interferir nos processos participativos, gerar cidadania ativa e ser um agente de transformação social. Temos consciência plena da importância que nossa caminhada pode representar numa nova construção de inovações e esperanças. A história brasileira, por suas contradições fortes como a longa fase escravagista, pode ser determinante numa visão autoritária e por comportamentos equivocados, omissos, ou cordatos, chegando à acomodação e à transferência de nossas responsabilidades, de nossos direitos e de nossos deveres. Somos um país que ainda não valoriza adequadamente o trabalho, a inovação, o empreendedorismo, e as atitudes independentes do Estado, sem as relações promíscuas do Estado Corte, que houve no Brasil, até as portas do século XX.
Nosso processo de criação de empresas, de industrialização, foi todo ele sempre de iniciativa governamental estatal, num paternalismo castrador, gerador de inação e dependência. E somente ocorreu no inicio do século XX. A educação ainda é atrasada, incompleta, mas serve de fonte de grandes verbas e obras, que acabam prestigiando o compadrio e a atuação medíocre e personalista de uma casta de políticos e homens públicos completamente superados. A educação obrigatória está implantada na Suiça desde 1524, e Alemanha, França e Inglaterra tem diferenciais de “primeiro mundo” pela atenção, e seriedade com que tratam suas área educacionais. A Coréia tem índices de desenvolvimento similares aos do Japão, países que investem em educação de forma prioritária, em valores e em conteúdos.
A área de saúde, os hospitais, os postos de saúde, apresentam realidades incompatíveis com o que se diz investir pelos governos. Profissionais pouco valorizados, valores indignos repassados por serviços de elevada complexidade, prioridades equivocadas, gestão temerária. A área de segurança é uma temeridade, agentes policiais mal pagos e pouco equipados, saem às ruas para enfrentar o crime e proteger a vida dos cidadãos.
Nosso processo político está doente, nossos partidos nada mais representam, os programas partidários são completamente inócuos e indiferenciados, e os militantes estão afastados e desmotivados. A proliferação de agremiações serve para negociar tempos em tv, cargos e favores com dinheiros públicos, mas não atende a função básica e precípua dos que deveriam ser “partes” da sociedade, e representa-la em sua multiplicidade e complexidade.
Qual o peso de nosso passado em nossa realidade presente? Não podemos voltar atrás e reescrever a história, mas podemos, e devemos, com a consciência que o conhecimento nos dá, e com o saber que o tempo constrói edificar laços novos, éticos, saudáveis, que nos permitam sonhar, e construir a sociedade que queremos, as cidades que necessitamos, e o meio ambiente que preservará nossas vidas e de nossos descendentes.

E essa é a função de nossa Escola de Governança e Cidadania Ativa, ajudar no processo de resgate das crenças democráticas, dos princípios éticos no Estado, e na fortificação das instituições permanentes, balizas pró-ativas do legado que se pretende deixar, nessa corrida de revezamento que é a vida. Com muito debate e participação ativa!
Se passarmos o bastão um pouco à frente do que recebemos, estaremos ajudando a construir o avanço da sociedade, a melhoria que todos sonham!

 -APRESENTAÇÃO PALESTRANTE:DANILO ARONOVICH CUNHA É CONSULTOR CORPORATIVO EM GESTÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO. DESEMPENHOU FUNÇÕES PRIVADAS E PÚBLICAS EM DIVERSOS NÍVEIS: FOI SECRETÁRIO DE ESTADO DE PLANEJAMENTO, SECRETÁRIO-CHEFE DA CASA CIVIL, PRESIDENTE DO CIASC, PRESIDENTE DO SAPIENS PARQUE, EDUCADOR E DIRETOR DA ESCOLA DE GOVERNO E CIDADANIA DA UDESC, EDUCADOR E COORDENADOR GERAL DA ESCOLA PERMANENTE DE FORMAÇÃO POLÍTICA DA FUNDAÇÃO ULYSSES GUIMARÃES DE SC, DIRETOR DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE FLORIANÓPOLIS, DIRETOR DA SUCESU/SC, SUPERINTENDENTE DA EMBRATEL DE SC, PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO DO SEBRAE SC, CONSULTOR DA ONU, CONSULTOR DO PNUD, EXECUTIVO DO ESCRITÓRIO DA ONU/PNUD EM SC. ATUALMENTE É COORDENADOR DA ESCOLA DE GOVERNANÇA E CIDADANIA DA ACM.
-BIBLIOGRAFIA INDICADA PELO PALESTRANTE:
-A ÉTICA É POSSÍVEL NUM MUNDO DE CONSUMIDORES? Autor: Zygmunt Bauman
-REPÚBLICA INACABADA Autor: Raymundo Faoro
-CIDADANIA, PARTICIPAÇÃO E EXCLUSÃO Autora: Denise Lacerda
-EM BUSCA DA POLÍTICA Autor: Zygmunt Bauman
-BRASIL FARDO DO PASSADO, PROMESSA DO FUTURO Autor: Leslie Bethell e outros
-PEDAGOGIA DO OPRIMIDO Autor: Paulo Freire
-AS POSSIBILIDADES DA POLÍTICA Autor: Marco Aurélio Nogueira
-OS PARTIDOS POLÍTICOS Autor: Jean Charlot/UNB
-DICIONÁRIO DA ESCRAVIDÃO Autor: Alaôr Eduardo Scisínio

 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Dom Jose de Cervantes, un Español en Brasil


 

A TVE, Tv Española, tem um programa muito interessante, chamado Españoles por El Mundo. Mostra cidadãos espanhóis em diversos países, sua atividades, suas conexões familiares e culturais com a terra natal, e os locais onde vivem. E nós, aqui em Santa Catarina, temos um espanhol, que tem muito orgulho de sua dupla condição, e que vive com muita dignidade o nome trazido da Espanha do Rei Juan Carlos e da Rainha Sophia.
José Marquez de Cervantes é um cidadão espanhol, que reside no Brasil. Reside e produz. Pois José não é de ficar parado, ainda mais com o sangue da inquietude ibérica, que carrega em seu dna.

José atua na área imobiliária e vem se dedicando a outras atividades nas alturas. Não, José não é piloto, nem pretende ser. José comprou terras na linda cidade serrana de Urubici, em Santa Catarina, onde está se transformando em produtor de “vino de las nieves”, ou seja, já planta uva e está colhendo belos vinhos.
Além disso, José investe no ramo gastronômico e prepara, em ambiente aconchegante, dentro da sua vinícola, um restaurante tematizado por suas origens. É o Bistrô do Castelo, onde se poderá conhecer uma cozinha que oferecerá maravilhas, com insumos orgânicos plantados em suas terras altas, e irrigados com a melhor das águas frias, onde nascem trutas, que correm sobre pedras limpas, graças às condições existentes, quase nas nuvens.

José, o amigo Zeca Marques, ou poderia ser o Pepe Cervantes, pois esse é o diminutivo para seu nome em espanhol, também tem outra paixão, lá nas alturas frias, de onde, em dias ensolarados, e transparentes, se pode avistar o mar aqui no litoral, a menos de 50 km em linha reta.

Essa é a magia de Santa Catarina, em menor distância do que ir de uma ponta a outra da Ilha de Florianópolis, podemos sair do mar e chegar na neve. E lá José está criando cavalos, sua nova paixão serrana, que também é motivada por sua descendência de um país que tem os Pirineus nevados, e ainda oferece duas frentes marítimas, para o Mediterrâneo e para o Atlântico.
E José vai homenagear seu ancestral. O grande escritor Miguel de Cervantes, com obras de arte produzidas por um outro Cervantes, seu irmão do Paraná, artista plástico sensível, que honra a sua origem também espanhola, ao seguir a arte que Salvador Dali imortalizou com seus relógios derretidos, e outras maravilhas da pintura, e da escultura.

Falando em Cervantes, seu nome completo era Miguel de Cervantes Saavedra, nasceu em Alcalá de Henares, em 29 de setembro de 1547, tendo falecido em 22 de abril de 1616. Romancista, dramaturgo e poeta. Sua obra-prima Dom Quixote foi considerado o primeiro romance moderno e é um clássico da literatura ocidental. Dom Quixote tem muitos simbolismos, e a figura dos moinhos de vento poderiam representar a opressão e a tirania, contra as quais o espírito indômito e libertário de Cervantes se colocava.
E Cervantes tinha a capacidade de gerar frases, que viraram ditados populares, ao longo do tempo.
“Amor e desejo são coisas diferentes. Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja se ama”.
“Faz parte da natureza das mulheres desprezar quem as ama e amar quem as detesta”.
“A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas”.
“A verdade alivia mais do que magoa. E estará sempre acima de qualquer falsidade como o óleo sobre a água”.

E assim, Jose Marquez, o Zeca Marques, o Jose de Cervantes, compõem a mesma pessoa, que tem várias dimensões. E todos esses “Zés” “são” nosso amigo, vive em Florianópolis e começa a subir os “Pirineus” catarinenses, a procura de sua origem, por bons vinhos, alimentos frescos, cavalos chucros, que sempre lhe trarão as felizes recordações de sua terra natal e das lutas hispânicas, por liberdade e por novos limites.
Bom para nós, que herdaremos todas essas maravilhas, que se fundem em Zeca Marques e que por ele são disponibilizadas em Urubici, que não divide a França e Espanha, mas que oferece a beleza da neve, as visadas das alturas, e a liberdade decantada por Miguel de Cervantes, seu ilustre parente espanhol.