sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

CRISE NO EGITO: HISTÓRICO, PARALELOS E CONSEQUÊNCIAS

Depois de tres décadas no poder, o Presidente Mubarak sente a pressão das manifestações contra a sua permanência no governo do Egito.
Apesar da aparente tranqüilidade ostentada por seu governo nesses anos todos em que esteve à sua frente, é bom lembrar que sua chegada ao poder se deu pela morte, a tiros, de seu antecessor, Anwar Sadat, que foi assassinado em 1981, durante um desfile oficial ao qual assistia na condição de mandatário do Egito.
O General Mubarak sucedeu Sadat e ainda está no cargo principal desde então.
Não tem sido uma gestão tranqüila.
Apesar da discrição da imprensa ocidental em relação às realidades daquele país árabe, as noticias sobre disputas internas, o terrorismo e a falta de uma oposição político-partidária forte o suficiente para se alternar no poder, teem chegado às telas de tv, computadores e jornais, de todo o mundo.
Ainda mais na atualidade, com a Internet.
A simpatia que Israel e Estados Unidos demonstram pelo Egito, apesar da forma pouco democrática que tem se dado à gestão de Mubarak, decorrem da sua posição de reconhecimento do Estado de Israel, estratégico aliado americano naquela região tão convulsionada do mundo.
Ali estão jazidas essenciais de petróleo para as economias mais desenvolvidas.
O canal de Suez garante a ligação crítica entre Mediterrâneo e o Mar Vermelho. As fronteiras de Egito com Israel, Líbia, Sudão e a proximidade com a Faixa de Gaza, Arábia Saudita e Jordânia o colocam como parceiro no equilíbrio das forças que podem ameaçar o difícil pêndulo do Oriente Médio e Ásia.
Convém lembrar que na idade média, os árabes ocuparam boa parte da Península Ibérica, dominado a Espanha por largo período.
A proximidade do Egito com a Europa e a sua posição entre África e o portal Asiático, onde surgem os preocupantes Turquia, Iraque com a sua fronteira Iraniana, fazem acender muitas luzes de emergência nos painéis do poder de vários países.
Pois mesmo democráticos e não apoiando a permanência de Mubarak no governo, lembram sempre da experiência de 1979, quando o Irã foi jogado na revolta dos Aiatolás e de um estado corrupto, porém laico mas transformado em estado religioso, contrário ao derrubado regime do Xá Reza Pahlevi, que por decreto de seu pai, um golpista general mudou o nome de Pérsia para Irã, em 1935.
Mas o golpe Iraniano não começou em 1979.
Ele foi iniciado em 1953, em conjunto entre Inglaterra e Estados Unidos, que por interesse no petróleo iraniano, derrubaram o primeiro ministro Mossadegh, eleito democraticamente.
Mossadegh, um reformador civil, culto e respeitado em seu país, comandava a sociedade Iraniana em direção ao aperfeiçoamento democrático.
A questão petrolífera se tornara essencial para o desenvolvimento de seu país, mas a Inglaterra não se conformava com a repartição que o governo Iraniano lhe destinava e, usando a força dos seus serviços secretos, aliados aos americanos, financiou o sub-mundo do crime e apoiou ações terroristas contra Mossadegh.
O terrorismo como arma política teve seu inicio naquela região graças a essa ação conjunta entre Estados Unidos e Inglaterra e, hoje, esses paises recolhem os resultados desse banditismo explosivo, sendo alvos das ações armadas, e criadas, pelo golpe Iraniano de 1953.
Com isso, conseguiram derrubá-lo e obter a simpatia do Xá, mas 26 anos depois tiveram o troco com a tomada do poder pelos Aiatolás.
Durante a revolta de 1979, não foram poucas as placas vistas durante as manifestações no Irá, em que era lembrado o golpe contra Mossadegh, em 1953.
Essa história é que coloca os Estados Unidos de orelhas em pé, ao acompanharem de perto as manifestações contra Mubarak.
Eles sabem muito bem o quanto já lhes custou, militar e economicamente, os equívocos praticados anteriormente.
E não é só o Egito que está sendo sacudido.
A Tunísia, também vizinha na África do Norte, situada entre a Argélia e a controvertida Líbia, teve mudanças recentes decorrentes de grandes manifestações populares, em que governantes foram destituídos do poder e as mudanças ainda são nebulosas em termos de direção a ser tomada.
O Iêmen, que após um longo histórico de separação e guerras entre o sul e o norte, a partir de 1992 foi unificado, com um presidente nortista e um primeiro-ministro sulista.
Apesar disso e da sua órbita americana de simpatias políticas e proximidade ideológica, aquele país foi palco de ações da Al Qaeda, tendo ocorrido um atentado contra navio militar americano, no porto de Aden, no ano de 2.000, ainda não bem esclarecido.
Morreram 17 marinheiros americanos e dois homens-bombas.
Pois o Iêmen também passa a ser parte desse rastro de transformações atuais, e é palco de manifestações intensas e violentas, que já duram alguns dias.
Todo esse quadro de instabilidades e incertezas é uma bomba de tempo para o ocidente, ameaçando se estender sobre um território altamente perigoso, pois literalmente encharcado por petróleo, o que poderia jogar o mundo numa nova crise, agora com outro desequilíbrio de forças.
No Egito, Mubarak lidava com mão de ferro com a oposição do partido Irmandade Muçulmana, que até agora apareceu pouco nas manifestações atuais e ainda não se pronunciou.
O retorno apressado de ELBaradei para o Egito, um representante daquele país na ONU, que atuava na Comissão sobre controle de armas de destruição em massa, foi entendido por Mubarak como um gesto americano para apressar sua saída do poder, sem correr os riscos de um refluxo fundamentalista, que poderia jogar o poder no Egito nos braços de atores que freqüentam os piores pesadelos americanos, quando lembram de como o Irã se transformou, entre 1953 e 1979, num dos mais veementes inimigos que os EUA já tiveram.
ELBaradei está em prisão domiciliar determinada por Mubarak.
Ele, além de já ter recebido o Prêmio Nobel da Paz por sua atuação na aludida Comissão, é visto como um pró-ocidente e simpático à atuação americana em Israel.
E esse é o quadro inicial de uma região ainda miserabilizada, apesar de sua riqueza em petróleo e da sua posição estratégica na geo-política mundial.
O petróleo já subiu alguns pontos e chegou aos mais altos índices de sua cotação.
Barak Obama enfrenta a retomada da economia americana, e tudo o que menos deseja é uma turbulência naquelas proximidades de Iraque e Irã, de onde quer sair o mais rápido possível, para poder se afastar da pesada herança deixada por seu antecessor, o promotor da guerra George Bush.
Ainda mais se essa agitação ameaçar entregar o Egito para a mesma linha política que hoje vigora no Irã.
As relações poderiam sofrer drásticas mudanças, pois a guerra fria mantida entre Israel e Irã poderia esquentar muito com a nova proximidade e vizinhança.
A Europa, que começa a respirar aliviada depois das crises Turca, Grega, Irlandesa e as quase detonadas em Portugal, Espanha e Itália, não vê com bons olhos o risco de um retrocesso não-democrático no Egito, pois a instabilidade poderia se estender a toda a região, prejudicando as relações diplomáticas e econômicas com produtores de petróleo e grandes consumidores da produção européia.
A Alemanha, que se supera rapidamente e apresenta índices industriais e financeiros plenamente satisfatórios, para quem há muito pouco tempo arfava com o peso da crise do Euro e com o desafio de continuar sendo um fator essencial de equilíbrio no painel mundial, não vê com bons olhos qualquer crise que possa reacender divisões na cena mundial.
A China, apesar de seu avanço nas finanças ocidentais, comprando dívidas e financiando as enfraquecidas moedas de alguns países ricos, tem se mantido no cenário global mais como um agente econômico, demonstrando muito pouco suas posturas políticas e ideológicas, nos conflitos da atualidade.
Assim, o mundo acompanhará os próximos desdobramentos das ocorrências da África do Norte, enquanto americanos e judeus rezam e gestionam para que o Egito não lhes presenteie com uma nova, e inesperada, vizinhança.