quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sociedade da informação e do conhecimento?



No livro “1984”, o escritor George Orwell lançava a idéia de um poder central, forte e onipresente na vida de todos os cidadãos e que se apoiava na tecnologia da informação para dominar as pessoas. Tudo era controlado por um “big brother”, computador e conjunto de meios que, em rede on-line, forneciam ao poder uma tomografia em real-time de todos os diálogos, vontades, tentativas e atividades dos dominados. Quando o Brasil implantou sua infraestrutura de telecomunicações, base para a complexidade de meios que hoje atendem a sociedade brasileira, o fez baseado em um Código Brasileiro de Telecomunicações e em lei criada em 1962, por sonhadores e idealistas, principalmente das forças armadas, que pretendiam permitir que o Brasil acompanhasse o desenvolvimento mundial e não fosse um território atrasado e sem interligação. Quando ocorreu a privatização dos meios, redes e serviços públicos e estatais, no ano de 1988, foram criados dispositivos para proteger os brasileiros daquela figura que mais preocupava a todos, que era a possibilidade de um monopólio privado da área de telemática, a junção das redes de telecomunicações com as redes digitais e com a informática. A privatização se deu por entender o legislativo federal que um monopólio estatal, como era até então, poderia oferecer riscos de não evolução dos meios e do uso político das redes e usuários. Foi criada a Lei Geral de Telecomunicações e um Plano Geral de Outorgas, instrumentos da sociedade brasileira, para disciplinar uma nova realidade que se construiu, com a privatização total e completa das telecomunicações. Esses dois instrumentos legais, não permitem e não prevêem a operação que recentemente foi executada de compra entre empresas privadas da área. Essa transação foi realizada sem a autorização da Anatel- Agência Reguladora do Estado Brasileiro- e demandará a mudança de um decreto presidencial. Um ministro, ao se manifestar sobre a negociação ocorrida, disse que o governo não interferiu e que foi um “espectador”do acordo comercial. Chama a atenção, no mesmo jornal, na página ao lado, a notícia de que o Bndes, os fundos de pensão da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica participam dos investimentos e deram sua chancela pública ao fechamento do negócio. Repercussões na bolsa de valores já ocorreram após a publicação de toda a operação e da participação de órgãos governamentais. É estranho que um evento dessa envergadura seja realizado sem amparo nos procedimentos públicos existentes no país, sem autorização ou análise prévia do órgão regulador da área e com o beneplácito do executivo federal, através da participação oficial e efetiva dos órgãos já citados. Como fica a população brasileira diante da ameaça de mais da metade dos serviços de telecomunicações e telemática ficarem nas mãos de um único grupo privado? Qual o controle social possível de ser exercido pela sociedade, quando sua agência reguladora, órgão principal de proteção dos interesses nacionais é atropelada e analisará, a posteriori, uma situação que deveria ter-lhe sido exposta antes de sua realização? Como a maioria da sociedade brasileira só conhece o termo “big brother” como um programa voyeurista de televisão, não foi possível ainda, para a opinião pública, avaliar o risco que se corre numa nação que pode ter suas estruturas de informação controladas por interesses privados, onde o lucro predomina sobre as questões estratégicas e de soberania.

Brasil: Potência equilibrada ou Belíndia útil?



O Brasil está graduado. Recebeu o diploma, outorgado por uma empresa privada de avaliação de situação financeira, de “grau de investimento” ou em inglês, “investiment grade”. Conforme comentário de ministro brasileiro, “o Brasil entra para clube dos países mais respeitados, que são considerados sérios e que têm uma economia sólida e atraente para investidores”. Uma analista diz ”O Brasil tem demonstrado uma capacidade maior e mais sustentada de reagir a eventuais crises internacionais”. Legal, né? Nosso país ter essa imagem lá fora, ser considerado agradável para investimentos estrangeiros, oferecer segurança e tranqüilidade para os lucros dos aplicadores do mundo rico. Mas e o Brasil Potência econômica terá essa mesma avaliação aqui dentro? Como será a avaliação feita pelos aposentados desta república, em que grau se situa a expectativa dos pobres e miseráveis habitantes das periferias urbanas, que aguardam um mínimo de dignidade para suas vidas e que esperam, há anos, um pouco de higiene e saneamento para suas famílias?
Como fica a análise dos professores, os quais, via-de-regra, pagam para alfabetizar e potencializar cidadãos? O que acham os familiares dos mortos no genocídio da dengue, que ocorre por “incompetência das autoridades”, como reconheceu um governador de um estado muito afetado pela epidemia? Fica a dúvida, o que é ser “respeitado” como país? O que é ser considerado “sério” como país, quando a inflação sobre os alimentos atinge justamente os mais necessitados? O que é uma economia “sólida e atraente para investidores”? O termo Belíndia, criado há muito anos para definir os extremos abrigados em nosso país, bem define o que assistimos hoje. De um lado o país da exclusão, muitos seres humanos sobrevivendo em condições não humanas. Índices de violência absurdos (só uma cidade brasileira tem maior número de homicídios que toda a Espanha), e, pasmem, muitos milhares de casos de trabalho escravo. Isso só para ficar em algumas situações. Por outro lado, uma concentração absurda de poder e dinheiro, nas esferas superiores de governo, nas camadas dos mais ricos e nas maiores fortunas, dando ao Brasil a triste medalha de um dos campeões da concentração de renda no mundo. É claro que os privilégios, as facilidades, o entorpecimento do poder, deixam dirigentes vendo tudo dourado e maravilhoso. Os executivos de avaliação dessas organizações, quando chegam ao Brasil, só frequentam seu lado “Bélgica”, ficando em bons hotéis, em cidades ajardinadas, deslocando-se em carros novos com ar condicionado e comendo nos melhores restaurantes. Números lidos dessa forma, ainda mais se forem do agrado dos grandes bancos e investidores, mostrarão o mais sério dos países. O lucro oferecido e a segurança garantida pelo novo diploma brasileiro deveriam ser, também, disponibilizados em operações de micro-crédito para empreendedores nacionais, para estudantes carentes e para o contingente do cruel mosaico colorido pela miséria das periferias urbanas, verdadeiros “lixões” das vidas desperdiçadas, como afirma o sociólogo Zygmund Bauman. Quem sabe, um dia, o lado “Índia” ainda será lembrado e incluído e não só mantido como bolsão de votos e massa de manobra eleitoral?

Nada é por acaso



As discussões se sucedem todos os dias, por todos os meios de imprensa. Falta de alimentos no mundo, a questão dos biocombustíveis de cana e de milho. A moeda americana caindo de valor, o petróleo subindo. Dirigentes da ONU se mostram muito preocupados com a fome dos pobres do mundo. Na mesma semana professor americano, que já recebeu o prêmio Nobel da economia, diz que houve pouco cuidado do Banco Central Americano na concessão de crédito muito facilitado gerando a bolha imobiliária, que já estourou, mas que promete novas explosões, e repercussões, nos próximos oito meses. Outro economista americano, o senhor Stiglitz, acusa o presidente daquele país, e seu ex-presidente do Banco Central, de gerarem a atual crise, com a facilitação irresponsável na obtenção de empréstimos e hipotecas. Com tudo isso não se nota ou vislumbra qualquer atitude no sentido de estancar as queimadas no Brasil, de saber quem está administrando os poços e as vendas do petróleo iraquiano, quem está ganhando com a exportação de madeira ilegal, como está a epidemia de dengue que já matou mais de uma centena de brasileiros e a quantas anda, se é que ainda pode andar, a CPI das Ongs em Brasília.
E, assim, vai ficando o cidadão em nossa sociedade. Como um expectador de uma partida de tênis. Resta-lhe olhar, quieto e silencioso, de um lado para o outro, as boladas trocadas por apenas dois jogadores. Felizmente, nossa raquete chamada voto poderá ser usada, de forma decisiva, nas eleições deste ano. Vamos bater uma bola?

CULTURA

CULTURA

Recebo comentário de meu amigo, o músico Marcelo Muniz, espantado com a notícia veiculada recentemente de que cantora, já milionária e muito conhecida, foi autorizada a captar dois milhões de reais para projeto próprio. Realmente, a concentração de recursos, para quem já os possui, é uma prática que prejudica os empreendedores culturais, que lutam diuturnamente por um mínimo para prover encantamento e beleza para nossa sociedade. As "pirâmides" artísticas continuam drenando recursos e esforços de nosso país, enquanto o cidadão espera por uma maior prioridade às expressões legítimas da nossa identidade cultural. Enquanto houver essa concentração de poder em poucos níveis e pessoas, nosso Brasil ficará assistindo o festival de descaminhos com os recursos que nós, cidadãos, recolhemos de nosso trabalho diário. Não precisamos olhar tão longe pois aqui, bem perto de nossas rotinas, privilégios são mantidos, espaços públicos não são devidamente conservados, artistas locais não recebem apoio essencial e empreendedores continuam fazendo milagres com muito pouco. Felizmente é ano eleitoral e algumas respostas a essa situação poderão ser dadas pelo voto.